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Caio Prado Júnior foi um escritor, historiador, político, sociólogo, economista, filósofo e editor de livros brasileiro. Considerado um dos principais pensadores sobre a formação da sociedade brasileira contemporânea, o polímata formou-se em Direito e dedicou-se a entender como o Brasil tornou-se o país que era no século XX.
Dono de uma vasta obra sociológica, econômica e historiográfica, o pensador atuou no meio político de seu país, sendo um dos articuladores da Revolução de 1930, foi livre-docente em Economia Política pela Universidade de São Paulo e fundou, junto a Arthur Neto, Maria José Dupré e Monteiro Lobato, a Editora Brasiliense. É considerado um dos grandes intérpretes do Brasil, junto a Gilberto Freyre, Sérgio Buarque de Holanda e Florestan Fernandes.
Tópicos deste artigo
- 1 - Biografia de Caio Prado Júnior
- 2 - Ideias e contribuições de Caio Prado Júnior
- 3 - Obras de Caio Prado Júnior
Biografia de Caio Prado Júnior
Caio Prado Júnior nasceu em 11 de fevereiro de 1907, em uma influente família de políticos paulistanos, ligados aos mais tradicionais meios sociais da época. Sua primeira formação foi orientada por um professor particular dos filhos da elite da época. Em 1918, o sociólogo ingressou no tradicional Colégio Jesuíta São Luís, em São Paulo, para a sua formação secundária. Em 1920, por problemas de saúde de um dos seus irmãos, a família morou em Eastbourn, na Inglaterra, onde o jovem pensador frequentou o Colégio Chelmsford Hall durante o ano. Ao regressarem para o Brasil, Prado retorna ao Colégio São Luís, onde concluiu os estudos básicos.
Em 1928, Prado obteve seu diploma de bacharelado em direito pela Faculdade de Direito do Largo do São Francisco, instituição mais tarde incorporada à Universidade de São Paulo (USP). Como estudante universitário, Prado estudou política e começou a aventurar-se pela escrita de artigos sobre política, direito e economia.
Ao formar-se, advogou por um tempo, mas não levou a advocacia como profissão para a sua vida. A época em que ele viveu sua juventude, décadas de 1920 e 1930, foi de grande efervescência política e cultural no Brasil. Também no ano de 1928, o então advogado entrou de vez na vida política, filiando-se ao Partido Democrático.
Em 1930, o pensador participou das articulações do golpe que levaria Getúlio Vargas à presidência e colocaria fim na chamada “Velha República” brasileira, ou República Oligárquica “Café com Leite”.
Nos anos seguintes, ele passou a compor a Aliança Nacional Libertadora (ANL), uma frente ampla de resistência contra o fascismo e contra a Ação Integralista Brasileira, um movimento de orientação fascista, ultraconservador e ultranacionalista que surgiu no Brasil em 1932. A ANL tinha orientação comunista marxista, foi fundada em 1934 como resposta à crescente onda conservadora no país, e Caio Prado chegou à frente por conta de sua filiação ao Partido Comunista Brasileiro, que ocorreu no início da década de 1930.
Em 1931, nasceu seu filho Caio Graco. Nesse mesmo ano, Prado afastou-se da república instaurada por Getúlio Vargas, muito decepcionado com os rumos que o país estava tomando. É nessa época que ele se filia de vez ao Partido Comunista Brasileiro e passa a fazer oposição ao regime ditatorial getulista, que mais tarde teve proximidades com o fascismo italiano e com o nazismo alemão.
Em 1933, Caio Prado viajou para a União Soviética, já comandada por Stálin. Nesse mesmo ano, ele publicou o seu primeiro livro, Evolução política do Brasil, e no ano seguinte, publicou o livro URSS – um novo mundo.
Em 1934, com a fundação da Universidade de São Paulo, Prado atuou como pesquisador na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, aproximando-se dos departamentos de História e Geografia da universidade, e participando da fundação da Associação de Geógrafos Brasileiros (AGB). Em 1935, o pensador tornou-se presidente da ANL, o que motivou a sua prisão política por dois anos. Em 1937 exilou-se na Europa, retornando ao Brasil em 1939.
Em 1942, ele publicou o livro que viria a ser o mais importante de sua obra, Formação do Brasil contemporâneo. Esse livro colocou-o no hall dos grandes intérpretes do Brasil, ao traçar a historiografia brasileira por meio de um viés materialista histórico, mas com um pensamento próprio e original do autor.
De volta ao Brasil, sua participação política tornou-se mais intensa, o que levou Prado a obter mais espaço dentro do Partido Comunista, apesar de a direção nacional do partido não permitir que o pensador ocupasse espaço demais. Em 1943, Caio Prado entra em sociedade com a escritora Maria José Dupré e com os escritores Monteiro Lobato e Arthur Neto na fundação da Editora Brasiliense, que existe até hoje.
Em 1945, Caio Prado foi eleito Deputado Estadual de São Paulo como suplente do PCB, e em 1947 foi eleito Deputado da Assembleia Constituinte do Estado. Apesar da eleição de Prado e de outros membros do PCB, após, um decreto do presidente Dutra cassou a inscrição do partido e colocou-o na ilegalidade, cassando então o mandato dos deputados eleitos, e entre eles estava o de Caio Prado Júnior.
O polímata brasileiro passou a dedicar-se mais ao mercado editorial, estando à frente da Editora Brasiliense após a morte de Monteiro Lobato, em 1948, e estando à frente da Gráfica Urupês, pertencente à editora, e da Revista Brasiliense. Em 1954, Prado participou do concurso para a cátedra de livre docência de economia política na Faculdade de Direito da USP com a tese Diretrizes para uma política econômica brasileira. O título de livre-docente foi conferido ao pensador, mas, por questões políticas, ele não pôde assumir o cargo. A tentativa de ingresso na carreira acadêmica continuou por parte de Prado, mas ele nunca conseguiu por ser filiado ao PCB.
Em 1964, a Revista Brasiliense foi fechada pelo governo ditatorial que se instalou em nosso país naquele ano. Caio Prado exilou-se no Chile e retornou ao Brasil. Após seu regresso, o historiador e sociólogo, já reconhecido como um dos maiores pensadores do Brasil, foi preso e condenado em 1970 por subversão por conta de uma entrevista que ele havia concedido ao Jornal da USP em 1968. Sua pena foi a máxima para o tipo de crime, seis anos e meio. Em 1971, ele conseguiu um habeas corpus após recorrer ao Supremo Tribunal Federal.
Caio Prado Júnior faleceu em São Paulo, aos 83 anos de idade, em 23 de novembro de 1990.
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Ideias e contribuições de Caio Prado Júnior
O pensador brasileiro é considerado um dos maiores intérpretes do Brasil. Intérpretes do Brasil são historiadores e sociólogos que, a partir do século XX, dedicaram-se a compreender a complexa formação histórica e social de nosso país.
Com uma leitura embasada pelo materialismo histórico dialético de Marx, Caio Prado realizou uma verdadeira revisão no curso histórico brasileiro, estabelecendo os pontos do período colonial que moldaram o Brasil contemporâneo. Apesar da influência das ideias de Marx, o pensamento do historiador e sociólogo é completamente original.
Ele operou um revisionismo histórico que centrava no trabalhador brasileiro o conjunto de fatos que moldaram a nossa sociedade. Para o pensador, era necessário operar uma revolução social amparada no preparo dos trabalhadores por meio da consciência de classe e de uma significativa melhora estrutural na condição geral do trabalho e dos trabalhadores.
Em vista dessa intenção de reorganizar o conhecimento historiográfico sobre o Brasil desde o período colonial com uma visão amparada pela dialética materialista, Caio Prado Júnior enxergou a continuidade e a sobreposição de efeitos de cada período de nossa história.
Isso significa dizer que o Brasil contemporâneo era reflexo do Brasil Imperial e do Brasil Colonial. O período imperial também era reflexo do período anterior, ou seja, o colonial. Dessa forma, o que vivenciamos no momento presente é um reflexo de vários acontecimentos históricos passados, não num sentido progressista, mas num sentido material direcionado pelo acaso.
Assim, as estruturas de poder foram preservadas, e estudar a história brasileira para Caio Prado Júnior deve ser entendido como um passo para mudar a sociedade, transformá-la e distribuir o poder entre as camadas populares, o que ocasionaria em uma sociedade mais justa e igualitária. No fundo, o que Prado Júnior enxergou é que a visão econômica sempre predominou sobre o cenário brasileiro, o que resultou na formação de um país tão desigual.
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Sentido da colonização
A nova leitura de Caio Prado Júnior encontra na colonização brasileira as bases para a formação do Brasil contemporâneo, enxergando de um modo diferente a relação entre a América e a Europa. O homem branco europeu, segundo Prado, não tinha aptidão para viver e trabalhar nos trópicos, logo, os colonizadores buscaram na escravidão a mão de obra para atuar aqui. Assim, desenvolveu-se um modelo de exploração colonial escravista.
Além disso, o próprio modelo de colonização é ímpar e tem direta relação com a formação do Brasil contemporâneo: na visão de Caio Prado, a colonização brasileira foi baseada na exploração, e não na povoação (como ocorreu nos Estados Unidos). Hoje, essa leitura dualista (exploração ou povoação) está um pouco ultrapassada, pois o modelo de colonização brasileiro assentou-se nessas duas motivações.
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Obras de Caio Prado Júnior
O historiador, sociólogo, filósofo e escritor brasileiro Caio Prado Júnior escreveu e publicou mais de 17 livros, além de artigos científicos, artigos jornalísticos, críticas e crônicas. Suas obras mais importantes ou mais difundidas estão descritas a seguir:
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Formação do Brasil contemporâneo: publicado em 1942, esse é o mais complexo e completo estudo desenvolvido pelo polímata brasileiro. No livro, Prado desenvolve com maestria sua interpretação do Brasil à luz de um processo de revisionismo histórico que busca compreender a formação atual do país por via de uma “busca de sentido” que vai além do que se pensava. O sentido está no longo processo histórico que se iniciou na colonização e desembocou no que o Brasil tornou-se econômica e politicamente no século XX.
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História econômica do Brasil: embasado no método materialista histórico dialético, o livro busca reconstruir a formação da economia brasileira desde o período colonial até o mundo pós-guerra. Para Caio Prado, o Brasil viveu o que o autor chamou de “velha economia”, ou seja, um modelo pré-capitalista, até o fim da Segunda Guerra Mundial. A grande virada do modelo econômico que fez com que o país entrasse de vez no sistema capitalista contemporâneo deu-se apenas com a tardia industrialização brasileira, massificada apenas no fim da segunda metade do século XX.
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URSS – um novo mundo: é o primeiro livro publicado por Caio Prado Júnior e consolidou-se com base em um estudo de campo do pensador na União Soviética stalinista. Prado Júnior dedicou-se a defender, nesse livro, o socialismo soviético (então em um modelo stalinista) como forma revolucionária necessária para alcançar-se um novo mundo, com maior igualdade e justiça social. Essa obra foi também uma das mais criticadas e controversas do autor por conta de seu alinhamento com o marxismo totalitário da União Soviética governada por Stálin.
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O que é liberdade: esse livro está na coleção Primeiros Passos, e, assim como a maior parte da obra de Prado Júnior, foi publicado pela Editora Brasiliense, de sua propriedade. Essa coleção visa fornecer ao leitor leigo uma base para entender assuntos complexos, portanto, é um livro de fácil leitura que explica o sentido filosófico e sociológico da liberdade ao longo dos tempos.
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O que é filosofia: também pertencente à coleção Primeiros Passos, esse livro reconstrói para leigos o sentido da palavra filosofia desde os seus primórdios na Grécia Antiga, apresentando de forma simples o significado dessa tão complexa área do conhecimento.
Crédito das imagens
[1] Editora Brasiliense (Reprodução)
Por Francisco Porfírio
Professor de Sociologia