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Florestan Fernandes foi um sociólogo, antropólogo, escritor, político e professor brasileiro. De origem humilde, o intelectual brasileiro trilhou os primeiros 20 anos de sua carreira na Universidade de São Paulo até o ano em que foi exilado por conta da promulgação do AI-5. Fernandes dedicou-se, no início de sua carreira, ao estudo etnológico dos índios tupinambá. Após a década de 1950, o sociólogo passou a estudar os resquícios da escravidão, o racismo e a difícil inserção da população negra na sociedade altamente dominada por pessoas brancas.
Leia também: Paulo Freire: grande nome da educação brasileira que também foi perseguido e exilado
Tópicos deste artigo
- 1 - Biografia de Florestan Fernandes
- 2 - Ideias de Florestan Fernandes
- 3 - A revolução burguesa no Brasil: ensaio de interpretação sociológica
Biografia de Florestan Fernandes
Florestan Fernandes nasceu na cidade de São Paulo, em 22 de julho de 1920. Sua mãe era imigrante portuguesa e teve apenas Florestan como filho. Sua madrinha ajudou em sua criação, despertando no jovem o interesse pelos estudos e pela leitura. Parte da sua infância e de sua juventude aconteceu nos cortiços das periferias de São Paulo, o que o colocou em contato direto com a sua origem.
No terceiro ano do curso primário, que hoje equivale ao Ensino Fundamental, Florestan abandonou os estudos e foi trabalhar para ajudar a mãe. Trabalhou como engraxate, em um restaurante e em uma padaria. Com 17 anos, o jovem voltou a estudar, fazendo uma espécie de curso de normalização extensivo, no qual concluiu o equivalente a sete anos de estudo em três anos.
Em 1941, com 21 anos de idade, Florestan Fernandes começou o seu bacharelado em ciências sociais na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, da Universidade de São Paulo (USP). Em 1943 ele obteve a graduação, e em 1944 obteve a licenciatura em ciências sociais. Entre 1944 e 1946, o sociólogo cursou o mestrado em antropologia pela Escola Livre de Sociologia e Política, instituição vinculada à Universidade de São Paulo, iniciando sua pesquisa etnográfica sobre os índios tupinambá.
Em 1945 ingressou como professor no Ensino Superior, sendo professor assistente do professor Fernando Azevedo, seu orientador de mestrado e doutorado, na USP. Na mesma época, filiou-se ao extinto Partido Socialista Revolucionário (PSR). Em 1947, Florestan defendeu sua dissertação de mestrado intitulada A organização social dos tupinambá. Em 1951 o sociólogo defendeu sua tese de doutorado, na USP, intitulada A função social da guerra na sociedade tupinambá.
Em 1953, Florestan Fernandes tornou-se professor titular interino da USP, ocupando a cadeira do sociólogo francês Roger Bastide. Em 1964, Fernandes tornou-se livre docente da mesma faculdade em que se formou, com a defesa da tese intitulada A inserção do negro na sociedade de classes.
Em 1964 foi preso por conta de sua atuação política e docente quando estourou o golpe militar brasileiro. Em 1969, foi novamente preso, teve seu cargo público cassado e foi exilado, indo viver no Canadá e nos Estados Unidos, tendo lecionado em diversas universidades no exterior. Em 1972, Fernandes voltou ao Brasil. Em 1977, ele foi professor convidado na Universidade de Yale, e no mesmo ano voltou novamente ao Brasil porque foi contratado como professor titular pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, a PUC-SP.
Entre 1987 e 1994, Florestan Fernandes exerceu dois mandatos como deputado federal eleito pelo Partido dos Trabalhadores (PT). Sua atuação política deu-se a favor da redução da desigualdade social no Brasil e da melhoria da educação pública. Florestan Fernandes participou das primeiras discussões e da formulação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira (LDB), que foi promulgada em 1996 e registrada como Lei 9.394/96.
Em 1994, Florestan Fernandes precisou ser submetido a um transplante de fígado e não obteve sucesso, falecendo em 10 de Agosto de 1995, aos 75 anos de idade.
Ideias de Florestan Fernandes
Florestan Fernandes foi um estudioso das relações étnico-raciais no Brasil, tendo estudado primeiro os índios tupinambá e depois os negros, sempre na perspectiva da dificuldade da integração democrática desses povos não brancos na cultura brasileira branca. Em um Brasil que visava a industrialização e a modernidade, e que havia deixado para trás o colonialismo e a escravidão, fazia-se necessário buscar um modo de compreender a exclusão social e as estruturas que permitem a exclusão, sobretudo de pobres e negros, para buscar algum modo de alcançar essa situação.
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Desigualdade social: Florestan Fernandes viveu a desigualdade contra os pobres e moradores da periferia. O sociólogo chegou a contar que, mesmo com a influência de sua madrinha, os empregos que conseguiu quando jovem eram estigmatizados e nada melhor era oferecido a quem morava nos guetos de São Paulo. Havia uma desconfiança daquela gente. A desigualdade social marcou a sua infância, e, na sua visão, superar essa desigualdade era a única possibilidade da nossa sociedade progredir moralmente.
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Educação: o único modo de conseguir-se uma sociedade justa e livre da desigualdade social era, segundo Fernandes, por meio da educação pública e de qualidade. Fernandes foi amigo e colega profissional do também sociólogo e antropólogo Darcy Ribeiro. Juntos, os dois elaboraram projetos de valorização da educação básica e contribuíram com a formulação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira.
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Democracia: defensor de um ensino democrático, de uma democracia das relações sociais e do acesso aos serviços básicos garantidos a todos os cidadãos, Fernandes era um democrata. Sobretudo foi defensor de relações democráticas entre negros e brancos no Brasil. A teoria de Gilberto Freyre de convívio harmonioso entre negros e brancos no Brasil, chamada por Fernandes de “mito da democracia racial”, nunca existiu em um país como o Brasil, que não conseguiu incluir o negro em sua sociedade capitalista.
Veja também: Cotas raciais – medidas que visam à democratização da educação superior pública
A revolução burguesa no Brasil: ensaio de interpretação sociológica
Esse livro de Florestan Fernandes foi publicado em 1975 e lança uma tese que vai na contramão de muitas teorias sociológicas existentes até então. Seu autor defende a existência de uma revolução burguesa no Brasil, um país dominado por outros países no processo colonial. Era um pensamento comum na sociologia que as revoluções burguesas somente teriam ocorrido nos países em que dominavam as relações coloniais e imperialistas.
Nessa obra, a identidade social do Brasil formou-se com base em um conjunto de relações entre dominantes e dominados e na evolução do capitalismo brasileiro. Os grandes problemas encontrados no Brasil são, para Fernandes, os grandes problemas do capitalismo: a exclusão, a desigualdade social, a exploração da burguesia sobre o proletariado e as consequências do racismo.
A formação social do Brasil era a de um povo feito de subalterno no processo capitalista, sendo que o capitalismo aqui não se desenvolveu do mesmo modo como o foi na Europa e nos Estados Unidos. Para Fernandes, era necessário entender essa complexa cadeia estrutural para compreender a formação sociológica brasileira.
Crédito de imagem
[1] Domínio público / Acervo Arquivo Nacional
Por Francisco Porfírio
Professor de Sociologia