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O termo “Operação Valquíria” (em alemão: Operation Walqüre) acabou popularizando-se como sinônimo de um plano para assassinar o líder do nazismo, Adolf Hitler, como se fosse uma operação elaborada estritamente com esse objetivo. Na verdade, a “Operação Valquíria” foi preparada pelo próprio exército alemão (Wehmarcht) em 1941, com o conhecimento e a aprovação do próprio Hitler, e tinha outro objetivo. Mas como o nome da operação ficou associado a um dos muitos planos de atentados contra a vida de Hitler? Para responder a isso, é necessário que saibamos o que foi a Widerstand, isto é, a Resistência Alemã.
Tópicos deste artigo
- 1 - A Widerstand e a conspiração contra Hitler
- 2 - A subversão da Operation Walqüre pela Resistência Alemã
- 3 - Execução do plano em 20 de julho de 1944 pelo coronel Staunffenberg
A Widerstand e a conspiração contra Hitler
A ascensão de Hitler ao poder na Alemanha, em 1933, de início, agradou e mobilizou em seu favor grande parte da elite civil e militar do país. Entretanto, quanto mais poder foi sendo dado ao Führer, quanto mais explícita ficou a sua inclinação ao totalitarismo, cuja expressão podia ser vista na manipulação das massas (por meio dos símbolos do partido, paradas militares, propaganda etc.) e na perseguição inicial aos judeus, algumas pessoas – inclusive militares – passaram a ver com maus olhos o caminho que o III Reich trilhava.
Quando teve início a Segunda Guerra, os reais projetos de Hitler e seus oficiais próximos, como Göring e Himmler – esse último comandante da unidade paramilitar do Partido Nazista, a SS – começaram a aparecer. Entre esses projetos, estava a construção dos campos de concentração no Leste europeu. Diante dessa realidade, aqueles que se opunham ao caminho que o nazismo trilhava organizaram a chamada Widerstand, ou Resistência Alemã. Essa organização tinha caráter secreto e conspiratório, sendo seu objetivo maior assassinar o Führer e negociar o fim da guerra com as lideranças dos países aliados.
Entre os membros da Resistência Alemã, estava um grupo de militares de patente alta, com grande influência sobre os postos mais baixos do exército. Esses militares possuíam características nacionalistas aristocráticas e estavam mais alinhados ao passado guilhermino, do II Reich, do que com a democracia de massas moldada pelo totalitarismo do III Reich de Hitler. Entre os principais conspiradores, estavam os generais Henning von Tresckow e Friedrich Olbricht, que articularam o plano de um atentado a bomba para matar Adolf Hitler em julho de 1944, o mesmo mês em que foi posto em ação o Dia D por parte dos aliados.
A subversão da Operation Walqüre pela Resistência Alemã
Mas o plano não consistia apenas em matar o Führer. Era preciso também ter o apoio militar de oficiais e soldados que fossem fiéis à Resistência. Isso porque, quando Hitler estivesse morto, a Resistência precisaria tomar de assalto o poder na Alemanha. Para tanto, Tresckow e Olbricht começaram a sabotar a chamada Operação Valquíria, um plano para contenção de uma eventual revolta dos trabalhadores forçados estrangeiros. Os generais da resistência passaram a arregimentar membros do Exército de Recompletamento (reservistas) que estavam preparados para a Operação Valquíria para se prepararem, secretamente, para tomar o poder quando Hitler fosse morto. Foi por isso que esse plano para matar Hitler ficou associado ao nome da referida operação.
Quanto à ação do atentato, os membros da Resistência acordaram em designar o coronel Claus Schenk Graf von Stauffenberg para realizá-la.
Execução do plano em 20 de julho de 1944 pelo coronel Staunffenberg
Staunffenberg foi um dos mais destacados oficiais do exército alemão nos anos iniciais da Segunda Guerra, mas muito rapidamente o seu louvor pelo III Reich caiu por terra, já que passou a ver de perto as atrocidades cometidas pelo regime. Mas por que, entre os membros da Resistência, apenas ele poderia realizar o atentado a bomba contra Hitler? Porque ele era o único que tinha trânsito no Wolfsschanze (a “Toca do Lobo”, em alemão), o quartel-general nazista.
Em 1942, Stauffenberg atingiu o posto de oficial do Estado Maior da 10ª Divisão de Tanques na África. Sua missão era proteger o destacamento do marechal Rommel, que comandava a Afrika Korps, as forças do exército alemão no Norte africano. Em 7 de abril de 1943, Stauffenberg perdeu um olho e uma mão na Tunísia e, após sua recuperação, foi nomeado chefe de gabinete do coronel-general Friedrich Fromm, em virtude de sua experiência em estratégia. Esse posto lhe dava o acesso às reuniões na “Toca do Lobo”. A “Toca do Lobo” era um complexo de fortificações que ficava na Prússia Oriental (hoje território polonês), muito bem protegido contra quaisquer ataques externos. A única forma de fazer um atentado contra Hitler era, portanto, de dentro.
Stauffenberg levou consigo para o quartel-general uma porção de explosivo plástico com fusíveis acionados para detonarem em poucos minutos. Ele sabia que seria chamado à sala de conferências por Hitler, onde se deliberava sobre as questões de estratégia. Chegando de manhã à “Toca do Lobo”, foi para um quarto, preparou duas bombas com o explosivo, mas só conseguiu colocar uma delas dentro de uma maleta, antes de um oficial bater à sua porta e dizer que o Führer reclamava a sua presença.
Como narra o historiador Antony Beevor:
Após responder às perguntas que lhe foram feitas sobre o Exército de Recompletamento, ele empurrou a maleta com apenas uma bomba preparada por baixo da pesada mesa onde Hitler estava sentado. Saiu discretamente quando todos à volta da mesa se debruçaram sobre os mapas. Ele estava saindo de carro quando a bomba explodiu. [1]
Certo de que Hitler estava morto após a explosão, Stauffenberg pegou um voo para Berlim a fim de articular-se novamente com os líderes da Resistência. Mas, incrivelmente, apesar dos graves danos que a explosão provocou na sala de conferências da “Toca do Lobo”, Hitler saiu apenas com alguns arranhões. As suspeitas logo recaíram sobre Stauffenberg, que deixara a sala minutos antes da explosão. No dia seguinte, 21 de julho, o coronel, os dois generais envolvidos na subversão da “Operação Valquíria” e quase todos os oficiais a eles relacionados ou que levantavam alguma suspeita de integrar a Resistência foram sumariamente fuzilados.
NOTAS
[1] BEEVOR, Antony. A Segunda Guerra Mundial. Trad. Cristina Cavalcanti. Rio de Janeiro: Record, 2015. p. 672.
**Créditos: Shutterstock / Igor Golovniov
Por Me. Cláudio Fernandes