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A Noite dos Cristais é o nome que recebeu o pogrom organizado pelos nazistas contra os judeus na Alemanha Nazista nos dias 9 e 10 de novembro de 1938. Pogrom basicamente é um ataque organizado contra um determinado grupo de pessoas. Essa palavra é utilizada principalmente para se referir a ataques organizados contra judeus.
A Noite dos Cristais é um marco na história da Alemanha Nazista, pois foi um ato de violência organizado em alta escala e deu início ao aprisionamento em massa de judeus nos campos de concentração. Além disso, esse pogrom teve uma escala de violência até então inédita na Alemanha Nazista.
Antes disso, já haviam acontecido demonstrações de violência contra os judeus alemães, além de haver inúmeras leis que retiravam uma série de direitos dos judeus. A Noite dos Cristais, no entanto, alcançou um grau de violência inédito conforme perceberemos ao longo deste texto. O nome desse pogrom (Noite dos Cristais) faz menção à quantidade de cacos de vidros que se espalharam pelas ruas das cidades alemãs onde os ataques aconteceram.
Tópicos deste artigo
Por que aconteceu o pogrom contra os judeus?
A Noite dos Cristais aconteceu como uma represália por um atentado realizado por um estudante judeu em Paris. No dia 8 de novembro de 1938, um estudante judeu de 17 anos chamado Herschel Grynszpan realizou um atentado na embaixada alemã localizada em Paris. Nesse ataque, o diplomata Ernst vom Rath foi alvejado e faleceu horas depois.
O estudante atacou a embaixada com o objetivo de assassinar o embaixador da Alemanha na França porque seus pais – também judeus – foram expulsos da Alemanha. Esse episódio transformou-se rapidamente em propaganda antissemita nas mãos dos nazistas. Ataques contra judeus aconteceram espontaneamente em partes da Alemanha.
Adolf Hitler, líder da Alemanha Nazista, e Joseph Goebbels (ministro da propaganda) reuniram-se para decidir que ação seria tomada como resposta ao ataque que tinha acontecido em Paris. A decisão tomada pelos dois foi que as ações de violência contra os judeus na Alemanha deveriam ser reforçadas como forma de intimidar e coagir os judeus a abandonar o país.
A decisão foi comunicada aos membros do partido por Goebbels com uma ordem de que a violência contra os judeus deveria acontecer de maneira que desse a entender que não havia o envolvimento do governo alemão nos atos. As lideranças regionais do Partido Nazista foram informadas das ordens por telefone e as tropas de assalto (SA) foram mobilizadas.
As ordens passadas por Goebbels também davam instruções de como os ataques deveriam acontecer e sobre o que não deveria ser feito. As instruções afirmavam que saques não deveriam acontecer, judeus estrangeiros não deveriam ser atacados e foi recomendado que lojas judaicas não fossem incendiadas pelo risco de que propriedades de alemães fossem destruídas também.
As ordens de ataque foram repassadas às tropas de assalto, que naquele dia estavam em comemoração pelos 15 anos do Putsch da Cervejaria, o golpe que os nazistas tentaram realizar na Baviera. A maior parte das gangues que se mobilizaram para o ataque foram à paisana, já que o ataque deveria passar a impressão de não ter vinculação com o partido.
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Como aconteceu o ataque?
Os ataques contra os judeus na Noite dos Cristais começaram na noite do dia 9 e estenderam-se até o meio do dia 10 de novembro. Como mencionado, a Noite dos Cristais foi um ataque contra os judeus sem precedentes até aquele momento, pois alcançou uma violência inédita na Alemanha Nazista.
Os relatos recontam o frenesi dos ataques realizados contra as propriedades de judeus. Os primeiros alvos foram as sinagogas; depois, as lojas de judeus e, por fim, suas residências. Durante esses ataques, também foram relatados inúmeros casos de violência. Muitas das ordens foram desobedecidas, já que saques e incêndios foram frequentes durante toda a noite.
Um relato sobre a violência dos nazistas foi escrito por Richard J. Evans:
Em Esslingen, camisas-pardas vestidos de trajes civis e armados com machados e marretas invadiram o orfanato judaico entre meia-noite e uma hora da madrugada e destruíram tudo que podiam, jogando livros, símbolos religiosos e o que fosse inflamável em uma fogueira que acenderam no pátio. Um camisa-parda disse às crianças em prantos que, se não saíssem imediatamente, elas também seriam lançadas às chamas|1|.
Sinagogas foram incendiadas aos montes, lojas foram destruídas e saqueadas e famílias foram aterrorizadas. O ataque estendeu-se por parte do dia 10 de novembro. Muitos judeus fugiram de suas casas às pressas, e outros evitaram sair de casa no dia seguinte temendo que novos agressões acontecessem.
O saldo da destruição pode ser resumido em|2|:
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Mais de 1000 sinagogas destruídas;
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De 7,5 mil a 9 mil lojas destruídas;
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Número oficial de mortos foi de 91, mas especula-se que os mortos por conta desse pogrom tenham ultrapassado mil pessoas;
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Prejuízo material de 39 milhões de reichsmarks (moeda oficial alemã entre 1924 e 1948).
Outra consequência desse pogrom foi o aprisionamento em massa de judeus e seu envio para três campos de concentração: Dachau, Buchenwald e Sachsenhausen. Ao todo, foram presos 30 mil judeus pela polícia. A polícia alemã cumpria instruções de Hitler, que havia ordenado que o máximo possível de judeus fossem presos durante o pogrom.
|1| EVANS, Richard. J. Terceiro Reich no poder. São Paulo: Planeta, 2014, p. 657.
|2| Idem, p. 657-664.
*Créditos da imagem: Everett Historical e Shutterstock
Por Daniel Neves
Graduado em História