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Uma das notícias que mais chamaram a atenção da população europeia em 2015 foi a declaração do governo grego, representado pelo presidente Alexis Tsipras, de que a Grécia não só não pagaria o seu saldo devedor aos credores com os quais contraiu dívidas, mas que, além disso, a Alemanha devia aos gregos um montante próximo de 278 bilhões de euros. Essa declaração chama a atenção porque parte de um juízo calcado no discurso da “reparação de erros históricos”.
A Alemanha deveria à Grécia tal valor, segundo o atual governo grego, em razão da invasão nazista operada no país em 1941, que ficou sob o jugo nazista até 1944. A despeito das implicações ideológicas que o discurso do governo grego traz consigo, o uso do passado europeu como argumento para o que transcorre no presente momento suscita um conhecimento razoável do episódio histórico em questão.
Sabemos que a Segunda Guerra Mundial começou, no continente europeu, em setembro de 1939, quando a Alemanha nazista invadiu a Polônia. Desde essa data, os ataques surpresas da máquina de guerra alemã, conhecidos como “blitzkrieg” (guerra-relâmpago), provocaram a destruição de muitas defesas de países, como a França, que também foi uma das primeiras a serem ocupadas. O caso da Grécia e de outros países situados na região dos Bálcãs tornou-se mais delicado na medida em que o interesse maior nessa região partia da Itália fascista, de Benito Mussolini, que estava mais próxima, geograficamente, dos Bálcãs e começou a atacar a Grécia em outubro de 1940.
No entanto, o exército grego surpreendeu as forças fascistas e conseguiu rechaçar os italianos e isolá-los para além das fronteiras da vizinha Albânia. A defesa do território e as baixas provocadas pelos gregos fizeram Mussolini recorrer ao auxílio da Alemanha. Como se sabe, Mussolini era aliado de Hitler e, para participar da gestão do vasto programa de expansão de ambos os países (Itália e Alemanha), era necessário resolver o problema nos Bálcãs.
O programa de ataque contra os gregos começou a ser executado pelos nazistas em 1941, mesmo ano em que houve a Operação Barbarossa contra os soviéticos. Os gregos tinham ao seu lado o apoio dos ingleses, entretanto, as forças alemãs eram superiores e conseguiram arrasar tanto as defesas gregas quanto o apoio britânico. Enquanto a parte continental era completamente ocupada pelos nazistas, a guerra prosseguia na ilha de Creta, como narra o historiador Norma Davies, em seu livro “A Europa em Guerra”:
“[...] A guarnição britânica, constituída sobretudo por forças Anzacs (australianos e neozelandeses), com um bom apoio nava, sentia-se segura. Porém, os Britânicos foram rapidamente derrotados pelas forças aerotransportadoras alemãs. A frota britânica sofreu depois graves perdas ao organizar uma evacuação sem cobertura aérea. Os Alemães consideraram que as baixas entre os seus paraquedistas tinham atingido um nível inaceitável, e puseram de parte o conceito de ataques aéreos em grande escala..” [1]
Com a conquista da Grécia e sua ocupação, os nazistas, com o auxílio dos italianos, passaram a dominar toda a Europa Ocidental, com exceção da Grã-Bretanha e de algumas porções onde ainda havia resistência. A Grécia permaneceu ocupada até o ano de 1944, quando houve as batalhas decisivas empreendidas pelos aliados com vistas à libertação da Europa. Entretanto, nos anos em que esteve ocupada, muitas calamidades ocorreram na Grécia. Cerca de 300 mil civis morreram de fome e outros tantos faleceram em decorrência de atrocidades, bombardeios etc.
NOTAS
[1] DAVIES, Norman. A Europa em Guerra. Trad. Patrícia Xavier. Lisboa: Edições 70, 2006. pp. 111-112.
Por Me. Cláudio Fernandes