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O terrorismo nutricional é um termo utilizado para descrever a categorização dos alimentos apenas por sua função nutricional e quantidade calórica. Difundida principalmente pela mídia e nas redes sociais, essa prática estimula um medo nas pessoas através dos alimentos, tornando o ato de comer culposo e estressante, além de incentivar a adoção de dietas restritivas. Ela pode levar ainda ao desenvolvimento de transtornos alimentares, tais como bulimia, anorexia e compulsão alimentar.
A busca por uma alimentação saudável está além dessa abordagem simplista. Os alimentos, além de fonte de nutrição, também possuem relevância social e cultural. Dessa forma, adotar uma alimentação balanceada envolve considerar o contexto individual de cada organismo e explorar o alimento como um todo, visando ao bem-estar físico e mental.
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Tópicos deste artigo
- 1 - Resumo sobre terrorismo nutricional
- 2 - O que é terrorismo nutricional?
- 3 - Exemplos de terrorismo nutricional e seus riscos
- 4 - Terrorismo nutricional x alimentação balanceada
- 5 - Quais as consequências do terrorismo nutricional para a saúde?
- 6 - Cuidados para evitar o terrorismo nutricional
Resumo sobre terrorismo nutricional
- O terrorismo nutricional busca explicar um fenômeno ligado ao medo gerado nas pessoas através do consumo de determinados alimentos, categorizados como vilões para a saúde.
- Essa categorização desconsidera fatores fisiológicos, genéticos, culturais, sociais e econômicos das pessoas.
- Exemplos de terrorismo nutricional incluem a demonização do ovo, do glúten, da gordura e do leite.
- O terrorismo nutricional pode estimular o desenvolvimento de transtornos alimentares.
- A busca por uma alimentação balanceada inclui considerar o alimento completo dentro do contexto de cada organismo.
- Analisar criticamente as informações relacionadas à alimentação nas redes sociais e na mídia, além de evitar a disseminação de informações falsas, ajuda a minimizar o impacto do terrorismo nutricional.
O que é terrorismo nutricional?
O conceito de terrorismo nutricional, explorado pelo pesquisador Gyorgy Scrinis nos anos 2000, tem por objetivo explicar o fenômeno que simplifica o alimentos unicamente de acordo com sua função nutricional e quantidade calórica, categorizando-o de maneira binária como: bom ou ruim, permitido ou proibido, saudável ou não saudável.
O terrorismo nutricional também está ligado à ideia de “nutricionismo” (contração de “reducionismo nutricional”), que busca focar a alimentação em um nutriente isolado, desconsiderando a interação com os demais e no alimento como um todo. A escolha do termo "terrorismo" está diretamente vinculada ao pânico disseminado entre a população em virtude da propagação de mitos relacionados aos alimentos e à definição arbitrária do que constitui uma dieta adequada, bem como pela disseminação de regimes alimentares restritivos.
Grande parte dessas informações é veiculada pela mídia e nas redes sociais, carecendo de qualquer embasamento científico e desconsiderando as singularidades sociais e biológicas dos indivíduos, as quais influenciam diretamente suas decisões alimentares. Além disso, essa prática negligencia o valor intrínseco dos alimentos como fonte de prazer e oportunidade de socialização, transformando o ato de comer em um ciclo de culpa e medo.
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Exemplos de terrorismo nutricional e seus riscos
Nas últimas décadas, vários alimentos foram e têm sido alvo do terrorismo nutricional.
Alguns dos principais exemplos são:
- O ovo, a gordura, os alimentos que contêm glúten, e o leite: ao eleger tais alimentos como “vilões”, a mídia também procura apresentar alternativas e possíveis substitutos, frequentemente não ideais, podendo resultar em sobrecarga para o organismo ou até mesmo subnutrição.
- A busca por um substituto da farinha de trigo: o glúten presente na farinha de trigo tem sido substituído por opções como a farinha de arroz, considerada uma alternativa mais saudável. No entanto, a farinha de arroz é tão refinada e processada quanto a farinha de trigo. Adicionalmente, essa opção é menos acessível à maioria da população.
- Dietas restritivas: além de apontar alimentos individuais como culpados, o movimento do terrorismo nutricional propaga dietas que restringem grupos alimentares ou eliminam refeições, frequentemente em busca de resultados de perda de peso a curto prazo. Entre as dietas restritivas mais comuns, incluem-se:
- Jejum intermitente: envolve alternar entre períodos de jejum e alimentação, seja por horas ou dias.
- Dieta cetogênica: caracterizada por um plano alimentar rico em gorduras e baixo em carboidratos.
- Dieta low carb: visa reduzir significativamente a ingestão de carboidratos, aumentando a proporção de proteínas e gorduras.
- Dieta paleolítica: baseada na premissa de consumir alimentos semelhantes aos disponíveis para nossos antepassados na Era Paleolítica, excluindo grãos, laticínios e alimentos industrializados do plano alimentar.
É importante destacar que essas abordagens podem ter implicações negativas na saúde e nunca devem ser adotadas sem as recomendações de profissionais de saúde qualificados, de forma consciente e informada.
Terrorismo nutricional x alimentação balanceada
Em uma abordagem de alimentação balanceada, o intuito não é enxergar o alimento de maneira simplista, reduzindo-o a uma única fonte de nutriente ou rotulando-o como vilão. É fundamental considerar o contexto completo do alimento no âmbito do plano alimentar individual.
A busca por uma alimentação saudável abrange um conjunto de estratégias que nos guiam na tomada de decisões alimentares, visando ao bem-estar tanto físico quanto mental. Dessa forma, uma alimentação equilibrada não se limita somente à quantidade de nutrientes consumidos e suas funções no organismo, abrange também nosso prazer em comer, as lembranças afetivas e os aspectos culturais que permeiam nosso ambiente.
As dietas podem ser necessárias em determinadas situações e fazer parte de uma alimentação balanceada. Algumas são fundamentais para indivíduos com alergias específicas a determinados alimentos ou para regular funções no organismo que estejam desequilibradas. Entretanto, é importante que elas sejam adotadas sob a orientação de um profissional de saúde qualificado, como um nutricionista.
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Quais as consequências do terrorismo nutricional para a saúde?
O terrorismo nutricional pode levar a uma série de impactos negativos na relação das pessoas com os alimentos. Um dos mais evidentes é o desenvolvimento de transtornos alimentares, como a bulimia, a anorexia e a compulsão alimentar. Além disso, é comum que muitos passem a associar a ideia de “ser saudável” exclusivamente ao peso que se reflete na balança.
A adoção de dietas restritivas também pode desencadear efeitos adversos a longo prazo no organismo, como diabetes e doenças cardíacas, visto que priva o indivíduo da ingestão de todos os nutrientes necessários para manutenção da saúde.
Esse fenômeno também negligencia as dimensões sociais e culturais intrínsecas à alimentação. A alimentação desempenha um papel fundamental na cultura humana e é uma via para a socialização entre indivíduos. Nesse sentido, a maneira como nos relacionamos com os alimentos possui implicações não somente em nossa saúde física e mental, mas também em nossa interação na sociedade.
Os impactos decorrentes do terrorismo nutricional também desconsideram fatores econômicos. O ovo, por exemplo, uma proteína presente nos pratos da maioria da população brasileira, foi frequentemente alvo do terrorismo nutricional, culminando em sentimentos de culpa relacionados às escolhas alimentares. Esse fenômeno também elege alimentos da moda e substitutos “perfeitos” de outros, agregando um alto valor nutricional a eles. Muitas vezes, esses substitutos são caros e inacessíveis à maioria da população. Alguns exemplos incluem o sal rosa do Himalaia e o óleo de coco.
O terrorismo nutricional também pode ter impactos no tratamento de doenças, uma vez que elege alimentos que podem ajudar a curar certas enfermidades, como o câncer. Além de medicalizar os alimentos, essas informações são repassadas de forma sensacionalista e podem atrasar a adoção de técnicas médicas comprovadamente eficazes.
Cuidados para evitar o terrorismo nutricional
Para minimizar o impacto e a difusão do terrorismo nutricional e buscar uma relação saudável com a comida, é importante desenvolver uma abordagem crítica ao avaliar as informações sobre nutrição veiculadas tanto na mídia quanto nas redes sociais. Evitar a disseminação de conceitos ligados ao terrorismo nutricional também contribui para frear esse fenômeno.
Além disso, na busca por respostas, é fundamental procurar orientações de profissionais da saúde habilitados em relação às informações nutricionais (nutricionistas, por exemplo), a fim de evitar a adoção de dietas restritivas que possam acarretar consequências negativas para a saúde.
Também é importante estar consciente de que planos alimentares são desenvolvidos de acordo com as necessidades individuais. Dessa forma, uma dieta alimentar sugerida para uma pessoa não é necessariamente a melhor escolha para atender as demandas nutricionais de outra e, portanto, não deve ser adotada sem a avaliação de um profissional da saúde.
Fontes
BALDISSERA, O. Cuidado com o terrorismo nutricional. In: PósPucPRDigital. 2022. Disponível em: https://posdigital.pucpr.br/blog/terrorismo-nutricional.
BRASIL. Guia alimentar para a população brasileira. Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Atenção Básica. 2 ed. Brasília: Ministério da Saúde, 2014. 156 p.
JORNAL DA USP. Dietas restritivas causam prejuízo à saúde e ganho de peso em longo prazo. In: Jornal da USP. Disponível em: https://jornal.usp.br/ciencias/ciencias-da-saude/dietas-restritivas-causam-prejuizo-a-saude-e-ganho-de-peso-em-longo-prazo/.
SCRINIS, G. Nutricionismo: a ciência e a política do aconselhamento nutricional. Brasil: Editora Elefante, 2021. 468 p.
TERRORISMO Nutricional. Direção: Rafael Figueiredo. Produção: Christovão Paiva. Roteiro: Marcela Morato. Rio de Janeiro: Canal Saúde Fiocruz. 2017. 1 vídeo, MPEG-4, (26min53s), son., color. (Ligado em Saúde). Disponível em: https://www.arca.fiocruz.br/handle/icict/22827.