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Se pensarmos nos sais comuns, veremos que todos eles são sólidos em temperatura ambiente. Para se mencionar alguns exemplos, temos o cloreto de sódio (sal de cozinha), o bicarbonato de sódio (usado como fermento de bolos, como antiácido, em talcos, desodorantes e em extintores de espuma), o carbonato de cálcio (compõe o mármore, o calcário, a casca dos ovos, conchas e corais), entre outros. Todos sólidos e com pontos de fusão elevadíssimos (o do sal de cozinha é aproximadamente 800 ºC).
Antigamente, pensava-se que não seria possível existir alguma espécie química no estado líquido com características semelhantes às de um sal. Essa conclusão baseou-se no fato de que nesse estado físico as interações entre as espécies químicas que constituem a substância (íons, moléculas ou átomos) são mais fortes que as interações no estado gasoso e mais fracas que as interações no estado sólido. Quando a substância é formada por íons, ocorre uma força de atração muito forte entre suas moléculas e, por isso, elas costumam estar no estado sólido. Essa situação de balanço energético leva ao fato de que a grande maioria dos líquidos é formada por moléculas neutras.
No entanto, com estudos mais detalhados, descobriu-se que existem sim sais líquidos, que são mais bem classificados como líquidos iônicos, pois eles são formados por íons positivos e negativos, mas são diferentes do cátion sódio (Na+) e do ânion (Cℓ-) do cloreto de sódio. Sua nomenclatura é mais complexa. Só para citar um exemplo, temos: cátion 1-etil-3-metilmidazólio.
Estes líquidos iônicos contêm em pequena porcentagem algumas características do sal comum de cozinha.
Os líquidos iônicos podem ser formados misturando-se determinadas substâncias. Por exemplo, no final da década de 40, descobriu-se que quando o cloreto de alquilpiridínio e o tricloreto de alumínio eram misturados, formava-se um sistema iônico com baixa temperatura de fusão. Com o passar das décadas, outras descobertas foram sendo feitas e alguns exemplos mais recentes de líquidos iônicos são o tetrafluoroborato de 1-n-butil-3-metilimidazólio (BMI.BF4) e o hexafluorofosfato de 1-nbutil-3-metilimidazólio (BMI.PF6).
Os líquidos iônicos têm propriedades muito importantes, tais como a de dissolverem materiais tão diferentes, como plásticos ou rochas, e também podem substituir solventes químicos derivados do petróleo. Além disso, eles apresentam uma grande vantagem: eles não evaporam e, por isso, não poluem a atmosfera.
Em virtude dessas características, os líquidos iônicos vêm sendo cada vez mais utilizados em diferentes campos do conhecimento, como em baterias, em eletroquímica, como solventes para análise espectroscópica de compostos metálicos, solventes em catálise bifásica, solventes para extração líquido-líquido, como fase estacionária para cromatografia gasosa e como solventes e catalisadores ácidos para reações orgânicas.
Além disso, os cientistas descobriram que quando se misturam os líquidos iônicos com os sais tradicionais, obtém-se um sal com características muito próximas dos sais tradicionais, mas que estão no estado líquido.
Os cientistas acreditavam que não era possível passar os líquidos iônicos para o estado gasoso, porque as temperaturas necessárias para isso causariam a sua decomposição antes deles mudarem de estado de agregação. Com isso, processos como a destilação não seriam possíveis e não conseguiriam atingir um grau de pureza maior.
Porém, descobriu-se que isso pode ser feito sim para muitos líquidos iônicos, desde que se usem baixas pressões (vácuo). Desse modo, obtêm-se líquidos iônicos muito puros e que podem ser usados mais amplamente.
Por Jennifer Fogaça
Graduada em Química