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Látex

Látex é uma seiva leitosa, de coloração branca, utilizada para confecção da borracha natural.

Demonstração da extração do látex em uma seringueira.
Demonstração da extração do látex em uma seringueira.
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O látex é um líquido branco e de aspecto leitoso, mas que quimicamente se caracteriza como uma dispersão coloidal aquosa de partículas poliméricas. Seu principal constituinte é o cis-1,4-isopreno. Do látex é feita a borracha natural, a qual pode ser aplicada em diversos produtos, desde a área médica até brinquedos.

O látex é comercialmente extraído da Hevea brasiliensis, a seringueira, nativa da Floresta Amazônica. Porém, atualmente, grande parte da produção vem da Ásia e da África Ocidental. Além do látex natural, também é possível produzir, em laboratório, o látex sintético, via reações de polimerização. O látex, entretanto, está associado a problemas de alergia, o que é uma preocupação médica significativa nos dias atuais.

Leia também: Afinal, o que são polímeros?

Tópicos deste artigo

Resumo sobre o látex

  • O látex é uma dispersão coloidal aquosa de partículas poliméricas.
  • Apresenta-se como uma seiva leitosa branca, extraída de algumas árvores por meio de incisões no tronco.
  • Do látex é produzida a borracha natural, por meio de processos de beneficiamento.
  • Além do látex natural, existe o látex sintético, produzido via reações químicas de polimerização em emulsão.
  • A principal árvore de que se extrai o látex é a Hevea brasiliensis, nativa da Floresta Amazônica.
  • Embora o Brasil já tenha tido protagonismo, os principais produtores de látex do mundo se encontram na Ásia e na África Ocidental.
  • O látex está associado a algumas alergias tanto por contato quanto respiratórias, sendo esse um problema médico de interesse.
  • Os produtos do látex possuem diversas aplicações, como em instrumentos e insumos médicos, peças automotivas, brinquedos, preservativos, chupetas, entre outros.

O que é látex?

O látex é uma dispersão coloidal aquosa de partículas poliméricas, geralmente esféricas. Convém lembrar que uma dispersão coloidal é entendida quando uma substância sólida, líquida ou gasosa, por meio de partículas de dimensão entre 1 μm (10−6 m) e 1 nm (10−9 m), está dispersa em uma outra substância (a qual também pode ser sólida, líquida ou gasosa).

Quando se trata da dispersão de partículas sólidas em um meio líquido, estamos diante de um sol ou um gel, portanto o látex é um hidrossol. Por vezes, é comum utilizar o termo “borracha natural” como sinônimo para látex.

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Características do látex

O látex se apresenta naturalmente como um líquido branco, de aspecto leitoso, às vezes de coloração amarelada. Do ponto de vista químico, trata-se de um polímero de cis-1,4-isopreno cujo monômero possui fórmula molecular C5H8.

A composição do látex fresco, recém-extraído, pode apresentar composição variável:

  • Sólidos totais: 36,0 %.
  • Borracha seca: 33,0 %.
  • Substâncias proteicas: 1,5 %.
  • Substâncias resinosas: 1,0-2,5 %.
  • Açúcares: 1,0 %.
  • Cinzas (sais minerais, entre outros): <1,0 %.
  • Água: completando a composição.

As proteínas presentes são, em geral, responsáveis pelo aparecimento de maus odores e ocorrência de alergias. Ao ser colhido na natureza, micro-organismos se aproveitam da presença de carboidratos, proteínas e sais minerais para se desenvolverem no soro do látex, tornando-o perecível (instável). Por isso, de 8 a 10 horas após colheita, ele coagula espontaneamente em um processo conhecido como coacervação, onde ocorre a passagem do látex do estado líquido para o estado sólido. Um agente comum para evitar a coacervação do látex é a amônia, NH3.

Leia também: Plástico PET — características, vantagens e desvantagens desse polímero

Tipos de látex

Basicamente existem dois tipos majoritários de látex: o natural (de fonte vegetal) e o sintético (obtido via síntese química).

O látex natural possui desvantagens em relação ao sintético, como a grande variação na sua composição química. Os sintéticos, por apresentarem uma composição mais bem definida, podem ter sua produção mais bem controlada, trazendo mais regularidade no processo. O látex sintético também apresenta maior estabilidade, maior molhabilidade e demora mais para secar.

Contudo, em termos de propriedades mecânicas (como resistência à tração, rasgo, etc.), os vulcanizados de látices sintéticos são bem inferiores aos vulcanizados de látices naturais.

O látex natural apresenta polímeros de cis-1,4-isopreno, enquanto os látex sintético pode ter composição química variada. Os principais tipos de látex sintético são os feitos de estireno e butadieno (SBR), estireno-butadieno-ácido carboxílico (XSBR), estireno-butadieno-vinil piridina (PSBR), acrilonitrila-butadieno (Nitrílico, NBR) e de cloropeno (policloropreno).

Obtenção do látex

O látex natural é principalmente extraído da Hevea brasiliensis, popularmente conhecida como seringueira, uma espécie tropical e originária da Floresta Amazônica cujo tronco possui cerca de 60 centímetros de diâmetro e pode chegar a até 30 metros de altura.

Seringueiras preparadas para a extração do látex.
Seringueiras preparadas para a extração do látex.

O látex está distribuído nos vasos laticíferos, distribuídos no floema. A extração se inicia por meio da sangria, que se trata de uma incisão no tronco da árvore, seccionando-se os vasos latíferos. Para evitar a coacervação, como já mencionado, são colocados alguns agentes, como a amônia.

Para que adquira as características comerciais desejáveis, o látex deve passar por processos de beneficiamento, como a filtração e a concentração. Na concentração, o teor de borracha seca é elevado até níveis maiores (na faixa de 60%), tornando o produto mais propício a ser utilizado como matéria-prima e, assim, com propriedades mais satisfatórias para a exploração comercial.

Após o beneficiamento, o látex natural forma um gel resistente ao gelificar, com secagem rápida, conferindo aos produtos finais excelentes propriedades mecânicas.

Os látices sintéticos, produzidos em laboratório, são obtidos via reações de polimerização em emulsão (Emulsão é a dispersão de gotículas de um líquido em outro líquido.).

Aplicações do látex

O látex é o constituinte da borracha. A partir da vulcanização, o látex pode dar origem a uma borracha mais resistente tanto térmica quanto mecanicamente, além de mais elástica. Sendo assim, o látex natural pode ser empregado em diversos produtos que façam uso da borracha, como:

  • pneus,
  • contraceptivos,
  • balões,
  • luvas de limpeza doméstica,
  • luvas de procedimento,
  • luvas cirúrgicas, além de chupetas, bicos de mamadeiras, câmaras de pneus e bolas, peças automotivas, entre outros diversos usos.

a borracha sintética também pode ser misturada à borracha natural para a confecção de pneus, visto que apresenta maior elasticidade e maior resistência ao envelhecimento e à abrasão. Porém, ela também pode ser usada na fabricação de gomas de mascar, na indústria têxtil (confecção de fibras, por exemplo), em vedantes, adesivos, espuma, laminado de espuma, na mistura do asfalto para pavimentação, entre outros usos.

Caixa com luvas cirúrgicas, um produto resultante da aplicação do látex.
Luvas cirúrgicas são produzidas com látex.

Precauções com o látex

Um dos problemas associados ao látex (em luvas) e de grande preocupação médica é a alergia. Os primeiros episódios ocorreram em 1979, tendo o problema se intensificado nas décadas de 1980 e 1990, trazendo assim muita discussão sobre.

Percebeu-se que os grupos de trabalhadores da saúde, da indústria da borracha, pacientes que passaram por diversas cirurgias e crianças com extrofia da bexiga e mielodisplasia eram os mais suscetíveis à sensibilidade ao látex. O problema é decorrente do contato direto da pele, membranas mucosas e trato respiratório com os alérgenos. Estima-se que mais de 15 milhões de pessoas sofram com alergia ao látex.

Atualmente, entende-se que tal alergia é decorrente de proteínas presentes na composição do látex. Até mesmo o pó de amido de milho adicionado em luvas de procedimento pode ser um risco, uma vez que, ao colocar e retirar as luvas, a poeira do amido de milho pode fazer com que a pessoa fique em contato com a proteína do látex, já que esta se liga ao amido de milho.

As reações possíveis que podem ocorrer por conta do contato com luvas de látex são:

  • Dermatite de contato irritativa: embora não seja uma manifestação alérgica, ocorre por conta de lesões nas células epidérmicas. A constante higienização das mãos e a não retirada adequada do sanitizante e o pó de amido de milho são causadores dos efeitos irritantes. Além disso, as luvas intensificam o efeito, já que criam um ambiente mais aquecido e úmido, que permite a entrada dos irritantes. O pó de amido de milho, aliás, atua como um abrasivo. Essa dermatite pode ocorrer tanto com luvas de borracha natural quanto sintética, por conta da presença de produtos químicos, excesso de uso de biocidas ou problemas na fabricação.
  • Urticária: é uma das reações alérgicas mais relatadas, por exemplo, em profissionais da área da saúde e, por vezes, é confundida como um caso de irritação por conta de pó de luva ou higienização das mãos.
  • Rinite, conjuntivite e asma: podem ocorrer por conta da inalação de pó de amido de milho contido nas luvas, os quais se dispersam na hora de colocá-las ou retirá-las.
  • Dermatite de contato alérgica: ocorre após a utilização de luvas de látex. É decorrente da presença de produtos químicos adicionados durante o processo de fabricação da borracha, os quais não estão originalmente na composição da borracha natural, como tiurames, carbamatos, mercaptobenzotiazol (MBT) e fenilenodiamina.
  • Anafilaxia: pode ocorrer pelo contato com diversos produtos à base de látex, não só do campo médico, mas também balões de brinquedo, preservativos, diafragmas e outros utensílios de borracha. Em procedimentos médicos, como cirurgias, procedimentos ginecológicos ou obstétricos, ou odontológicos, também é possível ocorrer. Dado o risco de vida, deve ser identificado imediatamente. Entre os principais sintomas estão obstrução das vias áreas, colapso cardiovascular, hipotensão ou angioedema generalizado.

História do látex

A palavra “látex” deriva da palavra leite em espanhol, em referência a sua aparência: uma seiva leitosa e branca sintetizada por células laticíferas da árvore e então extraída por incisões em seu tronco. Itens e artefatos de látex já eram utilizados na antiga Mesoamérica desde o começo dos anos 1600 a.C., extraídos da árvore Castilla elastica, misturado com o suco da videira glória-da-manhã (Ipomoea alba) para garantir maior qualidade ao material. De fato mais de 2000 árvores podem produzir o látex, mas, atualmente, a principal fonte de extração é a Hevea brasiliensis, nativa da Floresta Amazônica.

Tendo esse nome e origem em nosso território, é notório que o Brasil é um grande produtor mundial de látex. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estastística (IBGE), em 2022, o Brasil produziu 416 964 toneladas de borracha. Contudo, nosso país está longe de ser o maior produtor de borracha, local que ocupou até meados do século passado. Isso porque, em 1876, sementes brasileiras foram contrabandeadas para a Inglaterra. Sendo assim, hoje, boa parte da produção está na Ásia, com destaque para Malásia, Ceilão, Singapura, Índia (antigas colônias inglesas) e Tailândia, assim como na África Ocidental.

Foi na Inglaterra, em 1770, que o látex seco recebeu o nome de borracha (do inglês rubber), pois tinha a capacidade de apagar marcas de lápis (em inglês to rub out). Em 1840, Charles Goodyear e Nathaniel Hayward foram os responsáveis pela descoberta e desenvolvimento do processo de vulcanização, o qual trouxe mais elasticidade e estabilidade mecânica e térmica para os produtos de borracha natural, os quais foram, logo mais, utilizados na confecção de produtos médicos, especialmente luvas cirúrgicas, introduzidas na década de 1880. A partir daí, os produtos de borracha começaram a se popularizar, como na confecção de brinquedos, catéteres, preservativos, torniquetes, chupetas, entre outros.

Fontes

RAULF, M. The Latex Story. History of Allergy. p. 248-255. vol. 100. Karger: Basel, Suíça: Karger, 2014.

PIEROZAN, N. J. Fabricação de Artefatos de Látex. Dossiê Técnico. SENAI-RS: Porto Alegre, 2007.

WISNIEWSKI, A. Látex e Borracha. Faculdade de Ciências Agrárias do Pará: Belém, 1983.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Produção de Borracha. IBGE. Disponível em: . Acesso em 21 jan. 2024.

GAWCHICK, S. M. Latex Allergy. Mount Sinai Journal of Medicine. v. 78, n. 5. p. 759-772, 2011.

FITCH, R. M. Polymer Colloids. Academic Press: Cambridge, EUA, 1997

CROP LIFE BRASIL. Tudo sobre o Látex: da seringueira até a borracha natural. Crop Life Brasil. 07 abr. 2023. Disponível em: . Acesso em 21 jan. 2024.

Escritor do artigo
Escrito por: Stéfano Araújo Novais Stéfano Araújo Novais, além de pai da Celina, é também professor de Química da rede privada de ensino do Rio de Janeiro. É bacharel em Química Industrial pela Universidade Federal Fluminense (UFF) e mestre em Química pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Gostaria de fazer a referência deste texto em um trabalho escolar ou acadêmico? Veja:

NOVAIS, Stéfano Araújo. "Látex"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/quimica/latex.htm. Acesso em 27 de abril de 2024.

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