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A Química realizou descobertas ao longo dos anos que contribuíram grandemente para o aumento da produção agrícola. Um exemplo é a descoberta da síntese da amônia, que levou à produção de adubos químicos nitrogenados. Para saber mais sobre o uso de adubos em plantações e lavouras você poderá ler o texto “Adubos Orgânicos e Inorgânicos”.
Toda essa evolução química garantiu a possibilidade de produzir alimentos suficientes para toda a população do planeta. Mesmo assim, um problema que ainda persiste é a fome.
Isso ocorre primeiramente em razão da desigual distribuição de renda. Como você pode ver nas imagens abaixo, em determinados lugares o alimento produzido é desperdiçado, sendo jogado nos lixos; já em outros, como na África, há fome e miséria.
Desigualdade social: vegetais desperdiçados e crianças entendendo suas mãos no campo de refugiados de Dadaab, Somália, em 15 de agosto de 2011*
Esse desperdício é também consequência do tipo de transporte, armazenamento e venda. Além disso, o modelo de desenvolvimento adotado na maioria dos países, a chamada “sociedade de consumo”, leva as indústrias e fábricas a extrair o máximo de recursos do planeta para acumular riquezas e satisfazer o consumismo exagerado.
Os modelos agrícolas adotados, também privilegiam poucos em detrimento de muitos, e até mesmo nas áreas rurais, lugar onde se deveriam produzir alimentos, muitas pessoas vivem abaixo da linha da pobreza ganhando menos de um dólar por dia.
Isso ocorre porque as políticas nacionais e internacionais privilegiam um modelo agrícola com alta especialização, menor diversidade e maior uso de produtos químicos. Dá-se preferência ao cultivo intensivo de monoculturas, com uso excessivo de fertilizantes e agrotóxicos que acabam por poluir o solo, as águas e provocar graves alterações no ecossistema e na saúde da população. No texto “Poluição das águas por rejeitos da agricultura” traz mais detalhes sobre como ocorre esse tipo de poluição.
Além disso, a monocultura traz outro problema, muitas vezes é necessário realizar queimadas nas plantações, o que emite grandes quantidades de gases estufa.
Esses dois problemas: pobreza e degradação ambiental, são temas centrais da Rio +20, a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável. Esse evento buscará contribuir para uma mudança nessa forma de modelo até então estabelecida, substituindo-o por um modelo de desenvolvimento sustentável, no qual se atende às necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de as futuras gerações também satisfazerem suas necessidades.
Pensando no aspecto da agricultura e alimentação, no próprio evento os cardápios foram elaborados de modo a contemplar os princípios da gastronomia inclusiva, oferecendo alimentos orgânicos e da agricultura familiar. Além disso, o Comitê Nacional de Organização do evento elaborou o documento “Diretrizes de Sustentabilidade para as Empresas de Alimentação”, que orienta sobre as boas práticas sustentáveis no setor.
A agricultura familiar também será bastante difundia nesse evento. Veja um trecho do Documento de Contribuição Brasileira à Conferência Rio+20:
“A Rio+20 deverá tratar com particular atenção o papel da agricultura familiar, que, na maioria dos países em desenvolvimento, é responsável por grande parte da ocupação no setor rural e da produção agrícola. A agricultura familiar favorece o emprego de práticas produtivas mais equilibradas, como a diversificação de cultivos, o menor uso de insumos industriais, o uso sustentável dos recursos genéticos e a agroecologia. A agricultura familiar pode constituir exemplo da prática do desenvolvimento sustentável quando for ambientalmente adequada, economicamente viável, socialmente justa e culturalmente apropriada.” (Documento de Contribuição Brasileira à Conferência Rio+20, p. 16, 2011)
Um projeto bastante interessante divulgado nesse evento é a Agricultura Urbana, que visa à produção de alimentos, a reciclagem de lixo e a promoção da educação ambiental.
Para tornar a agricultura sustentável, podem-se tomar também algumas iniciativas, tais como:
- Rodízio de culturas:quando os nutrientes do solo se tornam insuficientes para certa lavoura, planta-se outra espécie e, assim, diminui-se o uso de fertilizantes;
- Utilização de inseticidas biológicos: Podem-se usar espécies de bactérias ou insetos que combatem as pragas, sem trazer prejuízos para o meio ambiente;
- Optar por adubos naturais.
Inclusive, o Brasil criou em 2010 o Programa Agricultura de Baixo Carbono (ABC) que fornece subsídios e financiamentos para incentivar produtores rurais a tomar medidas que diminuam a emissão de gases estufa, contribuindo para minimizar o aquecimento global. Entre as iniciativas do programa estão:
- O plantio direto na palha;
- A recuperação de áreas degradadas;
- A integração lavoura-pecuária-floresta;
- O tratamento de resíduos animais.
A questão ambiental e a erradicação da pobreza precisam, porém, ir além de apenas adequar o desenvolvimento a uma nova situação do planeta. Santos e Mól, em seu livro “Química e Sociedade”, de 2005, trazem algumas políticas que precisam ser adotadas para que os interesses da manutenção da vida estejam acima dos interesses econômicos, e para que o desenvolvimento não aumente as diferenças sociais, tais como:
- Novas políticas que eliminem práticas internacionais que prejudicam os países menos desenvolvidos;
- Que incentivem o uso de técnicas agroecológicas;
- Que desincentivem as práticas poluidoras;
- Que transfira os subsídios para a agricultura ecológica;
- Que assegurem às mulheres direitos iguais de trabalho agrícola;
- Que incentivem novas pesquisas para a agricultura ecológica.
*Créditos da imagem: Homeros e Shutterstock.com.