O antissemitismo é a forma de preconceito contra povos semitas, principalmente os judeus, e foi manifestada por diversas vezes no decorrer da História.
Antissemitismo é o preconceito concentrado contra qualquer pessoa de origem semita, o que inclui preconceito contra árabes, assírios, judeus etc. O termo, no entanto, possui uma utilização muito mais vinculada ao preconceito (étnico, religioso ou cultural) cometido contra os judeus. Ao longo da História, o antissemitismo manifestou-se de diversas maneiras, impondo uma perseguição muito grande às populações judias.
As questões envolvendo a perseguição aos judeus variam de acordo com o contexto histórico. Muitos historiadores afirmam que tal perseguição durante o período medieval é entendida muito mais a partir de um aspecto religioso. O antissemitismo moderno surgiu basicamente no começo do século XIX no continente europeu, e suas causas estão relacionadas a questões políticas e econômicas.
A perseguição aos judeus é um fenômeno antigo e remonta ainda ao período do Império Romano. Por causa da perseguição dos romanos – dominadores da Palestina, os judeus fugiram da região e espalharam-se pelo mundo, estabelecendo-se principalmente na Europa.
No continente europeu, durante o período da Idade Média, essa perseguição estava muito relacionada a questões de ordem religiosa, por causa das diferenças entre os católicos e os judeus e pelo fato de estes serem vistos como os algozes de Jesus Cristo.
Assim, durante a Idade Média, os judeus, muitas vezes, tornavam-se bodes expiatórios para explicar determinados acontecimentos e, por isso, eram vítimas de perseguição. Um desses momentos foi a Peste Negra, surto de peste bubônica que atingiu a Europa no século XIV e dizimou um terço da população europeia. Os judeus foram acusados de ser os causadores da peste, e os historiadores relataram vários casos de ataques contra comunidades judias na Europa desse período.
Essa perseguição também se refletia de outras maneiras, com os judeus sendo proibidos de exercer determinados ofícios e ficando reclusos a trechos específicos das cidades onde moravam. Por fim, o antissemitismo presente na Europa durante o período medieval pode ser exemplificado pelo fato de que foram expulsos de diversos países. A Espanha expulsou os judeus em 1492, e Portugal, em 1497 |1|.
À medida que as nações modernas consolidavam-se, os judeus ocuparam-se de cargos e funções estatais importantes, e muitos, inclusive, atuavam fornecendo empréstimos para as nações europeias. Nesse período, aconteceu um processo de integração por meio do qual os judeus passaram a se assimilar aos locais onde estavam estabelecidos.
Essa integração aconteceu, em parte, pela importância dos judeus na consolidação do Estado Moderno, pois, além de assumirem postos na burocracia estatal, também eram responsáveis por empréstimos de dinheiro para os monarcas. A difusão de novos ideais baseados na defesa da razão também explicam essa maior integração do judeu na Europa, além do fato de muitos terem aceitado converter-se para o cristianismo.
Por causa dessa integração, muitos judeus abandonaram a sua religião (judaísmo) e passaram a se autoproclamar com a nacionalidade do local em que estavam inseridos. Tal processo de integração também foi acompanhado de inúmeras liberdades civis para os judeus. Esse quadro, no entanto, passou a se alterar durante o século XIX.
O que consideramos como o antissemitismo modernosurgiu no início do século XIX. A filósofa Hannah Arendt considera que a Prússia foi o ponto de partida |2|. O antissemitismo na Prússia começou logo após a conquista da região pelas tropas napoleônicas e está muito relacionado à derrocada da aristocracia prussiana e às transformações que aquela sociedade sofreu.
Isso aconteceu porque os conquistadores liderados por Napoleão Bonaparte procuraram abolir privilégios de classe na sociedade prussiana e realizaram um processo que visava a igualar a posição de todos os cidadãos. Com isso, parte dos judeus conquistaram direitos que não possuíam antes da chegada das tropas napoleônicas. Essas mudanças visavam à destruição dos privilégios da nobreza de forma a implantar no país o livre comércio. Esse processo resultou no desenvolvimento do antissemitismo na Prússia.
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Com essa onda antissemita se espalhando pela Europa, o discurso de ódio contra os judeus disseminou-se por diversas nações do continente. Hannah Arendt associa o fortalecimento do antissemitismo na Europa também com a perda de poder político dos judeus ao longo do século XIX.
“O antissemitismo alcançou o seu clímax quando os judeus haviam, de modo análogo, perdido as funções públicas e a influência, e quando nada lhes restava senão sua riqueza.” |3|
Essa situação fez com que diversas teorias conspiracionistas envolvendo os judeus fossem espalhadas pela Europa. Surgiram políticos e partidos que tinham no discurso antissemita um de seus motes, e tornou-se comum a realização de pogroms – ataques concentrados contra comunidades judias, principalmente no Império Russo.
Nazismo e antissemitismo
O crescimento do antissemitismo nos quadros políticos e na sociedade europeia teve o seu ápice com o surgimento do Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães ou, simplesmente, Partido Nazista. Um dos elementos centrais do nazismo era o antissemitismo, e Adolf Hitler conseguiu com seu discurso mobilizar uma nação contra os judeus.
O que começou como um discurso tornou-se prática de terror quando os nazistas assumiram o poder na Alemanha, em 1933. Esse quadro agravou-se a partir de 1935, conforme o registro de Richard J. Evans:
As ações antissemitas executadas na primavera e verão de 1935 tomaram muitas formas. Em maio houve […] numerosos boicotes a lojas judaicas organizadas por camisas-pardas e SS, com frequência acompanhadas de violência. Foi por essa época também que placas com dizeres antissemitas foram colocadas na beira da estrada e nos limites de muitas cidades e aldeias |4|.
No mesmo ano (1935), foram decretadas leis antissemitas pelo governo alemão, as quais ficaram conhecidas como Leis de Nuremberg. Essas leis excluíam os direitos de cidadania dos judeus, proibindo-os de se casar com alemães (ditos arianos). A partir dessas leis, a perseguição aos judeus consolidou-se na sociedade alemã, tanto na vida pública quanto na privada.
Noite dos Cristais
Outra demonstração do antissemitismo dos nazistas ocorreu no que ficou conhecido como Noite dos Cristais, que aconteceu na virada do dia 9 para 10 de novembro de 1938. Nesse evento, milhares de membros da SS e civis organizaram um grande ataque (pogrom) contra os judeus na Alemanha.
Casas, lojas e todo tipo de prédio habitado por judeus foram invadidos e vandalizados – os judeus presentes nesses locais foram agredidos, e seus bens foram saqueados. Richard Evans aponta que pelo menos 7.500 lojas judias foram totalmente destruídas |5|. O nome “Noite dos Cristais” deve-se à quantidade de cacos de vidros que ficaram espalhados à medida que os locais iam sendo destruídos.
A História nos diz aonde essa perseguição e terror extremos contra os judeus na Alemanha levou: ao Holocausto ou, na terminologia utilizada pelos próprios judeus, Shoá. O Holocausto foi a política de extermínio promovida pelos nazistas durante os anos da Segunda Guerra Mundial. Os nazistas deram ao programa de extermínio dos judeus o nome de “Solução Final”.
O holocausto dos judeus na Europa aconteceu a partir de diferentes etapas: reclusão dos judeus em guetos, campanhas de fuzilamento promovidas pela Einsatzgruppen e aglomeração dos judeus nos campos de concentração. Existiam campos de trabalho forçado e campos de extermínio, entre os quais o mais conhecido foi Auschwitz-Birkenau, responsável pela morte de 1,2 milhão de pessoas. Ao todo, seis milhões de judeus foram mortos pelos nazistas.
Notas
|1| ŠIMIK, Radek. Os judeus na sociedade portuguesa dos séculos XIV e XV. Para acessar, clique aqui.
|2| ARENDT, Hannah. Origens do totalitarismo. São Paulo: Companhia das Letras, 2012, p. 59.
|3| Idem, p. 27.
|4| EVANS, Richard J. O Terceiro Reich no poder. São Paulo: Planeta, 2014, p. 608.
|5| Idem, p. 657.
Por Daniel Neves
Graduado em História
Escrito por: Daniel Neves Silva Formado em História pela Universidade Estadual de Goiás (UEG) e especialista em História e Narrativas Audiovisuais pela Universidade Federal de Goiás (UFG). Atua como professor de História desde 2010.
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SILVA, Daniel Neves.
"O que é antissemitismo?"; Brasil Escola.
Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/o-que-e/historia/o-que-e-antissemitismo.htm. Acesso em 21 de novembro
de 2024.