O crime do padre Amaro é um romance realista do escritor português Eça de Queirós. Ele foi publicado, pela primeira vez, em 1875, e faz uma dura crítica à Igreja Católica. Na história, quando o padre Amaro é transferido para a cidade de Leiria, ele se apaixona pela jovem Amélia e acaba destruindo a vida da moça.
Amélia é noiva do próspero João Eduardo, um rapaz pouco devoto. Ela é filha da S. Joaneira, a qual é amante do cônego Dias. Por intermédio do cônego, o padre Amaro vai morar na casa da S. Joaneira, onde se apaixona por Amélia. O amor é correspondido e acaba tendo um final trágico.
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Tópicos deste artigo
- 1 - Resumo sobre O crime do padre Amaro
- 2 - Análise da obra O crime do padre Amaro
- 3 - Características da obra O crime do padre Amaro
- 4 - Por que O crime do padre Amaro foi censurado?
- 5 - Contexto histórico da obra O crime do padre Amaro
- 6 - Filme sobre a obra O crime do padre Amaro
- 7 - Eça de Queirós, autor de O crime do padre Amaro
Resumo sobre O crime do padre Amaro
- O crime do padre Amaro é um romance do escritor português Eça de Queirós.
- Ele foi publicado, pela primeira vez, em 1875, e faz crítica à Igreja.
- A história se passa no século XIX, na cidade portuguesa de Leiria.
- A obra conta com um narrador onisciente em terceira pessoa.
- Pertencente ao realismo português, o livro apresenta objetividade e antirromantismo.
Análise da obra O crime do padre Amaro
→ Personagens da obra O crime do padre Amaro
- Abade da Cortegassa.
- Agostinho Brito: parente de Maria da Assunção.
- Agostinho Pinheiro: redator do Voz do Distrito.
- Amaro Vieira: padre e protagonista.
- Amélia: filha da S. Joaneira.
- Amparo: esposa do boticário.
- Ana Gansoso: beata.
- Antônia ou Totó: filha do sineiro.
- Artur Couceiro: cantor de modinhas.
- Augusta Caminha ou S. Joaneira: amante do cônego.
- Bárbara de Noronha: irmã do marquês.
- Borges: escrivão.
- Brito: padre.
- Cândida: esposa do doutor Godinho.
- Carlos: boticário.
- Carlota: “tecedeira de anjos”.
- Carvalhosa: chantre.
- Catarina: engomadeira.
- Conde de Ribamar: marido de Luísa.
- Correia: ministro.
- Cruz: cônego.
- Dias: cônego.
- Dionísia: ex-prostituta.
- Domingos: escrivão.
- Doutor Godinho: um dos criadores do jornal Voz do Distrito.
- Doutor Gouveia: médico.
- Escolástica: cozinheira de dona Josefa.
- Ferrão: abade.
- Freitas: procurador.
- Gertrudes: ama do abade.
- Gonçalves: tio de Amaro.
- Gouveia Ledesma: secretário-geral.
- Gustavo: tipógrafo.
- Joana: mãe de Amaro.
- João Eduardo: escrevente.
- Joaquina Gansoso: beata.
- Joli: cão de José Miguéis.
- Josefa Dias: irmã do cônego Dias.
- José Miguéis: padre.
- Libaninho: beato.
- Liset: padre.
- Luísa: filha da marquesa.
- Maria da Assunção: amiga da S. Joaneira.
- Maria Vicência: criada de padre Amaro.
- Marquesa de Alegros.
- Matias: sacristão.
- Mendes: coadjutor.
- Morgado: dono de terras.
- Natário: padre.
- Nunes Ferral: tabelião.
- Ruça: criada da S. Joaneira.
- Silvério: padre.
- Sra. Gonçalves: esposa de Gonçalves.
- Teresa: prima de Luísa.
- Tio Cegonha: mestre de piano.
- Tio Esguelhas: sineiro.
- Tio Osório: dono da casa de pasto.
- Valente: padre.
→ Tempo da obra O crime do padre Amaro
A narrativa, publicada, pela primeira vez, em 1875, tem tempo cronológico e relata fatos ocorridos na segunda metade do século XIX.
→ Espaço da obra O crime do padre Amaro
A ação principal se passa na cidade de Leiria, em Portugal, mas também ocorrem fatos em Carcavelos, Estrela e na vila de Vieira.
→ Enredo da obra O crime do padre Amaro
Com a morte do pároco José Miguéis, assumiu o seu lugar o jovem padre Amaro Vieira. O cônego Dias, que ficou muito feliz com a nomeação de Amaro, conseguiu um lugar para o jovem padre na casa da S. Joaneira, onde o recém-chegado conhece a bela Amélia. Amaro nascera na casa da marquesa de Alegros, onde o pai era um criado do marquês, e a mãe, da marquesa.
Graças à marquesa, Amaro recebera uma boa educação. Ela decidira que ele deveria ser padre, mesmo que não tivesse vocação. Morta devido a uma apoplexia, a marquesa deixara em testamento uma quantia para que Amaro entrasse no seminário aos 15 anos de idade. Ao sair do seminário, ele se tornou pároco de Feirão.
Em seguida, conseguiu ser transferido para Leiria. Era comum que se reunissem o cônego Dias, as irmãs Gansoso, D. Maria da Assunção, entre outras pessoas, na casa da S. Joaneira para conversar, ouvir Amélia tocar ao piano e Artur Couceiro cantar modinhas. Nessas reuniões, Amaro começou a observar Amélia.
O primeiro amor de Amélia fora Agostinho, que a trocara por outra moça. Depois, ela se interessara por João Eduardo. Este pedira a permissão da S. Joaneira para se casar com Amélia. A mãe deixara a decisão para a moça. O casamento ocorreria quando ele conseguisse o cargo de amanuense do governo civil.
Porém Amélia se apaixonou pelo padre Amaro. O padre não gostava do noivo de Amélia. João Eduardo era pouco devoto. Amaro tinha ciúme ao ver Amélia em companhia do outro. E ficou perturbado ao descobrir que a S. Joaneira e o cônego Dias eram amantes. O padre Amaro experimentou um conflito entre o sacerdócio e o forte desejo que sentia por Amélia.
Amaro pediu ao cônego Dias para arrumar uma casa para ele, pois tinha intenção de sair da casa da S. Joaneira. Tal decisão ocorreu após o padre dar um apaixonado beijo no pescoço de Amélia. Depois da mudança, no entanto, Amaro passou a frequentar as reuniões festivas na casa da S. Joaneira.
João Eduardo, desde o início, percebera a simpatia da noiva pelo padre Amaro, mas pensava que era por questões religiosas, apesar de o instinto lhe fazer odiar o padre. Então, escreveu um escandaloso artigo para publicar no Voz do Distrito, no qual difamava, indiretamente, o cônego Dias e Amaro. O artigo foi publicado, mas sem identificar o autor.
Amaro acabou descobrindo que o artigo era de João Eduardo. De posse dessa informação, Amaro conseguiu que Amélia rompesse o noivado com João Eduardo. O rapaz se transformou em réu após dar um murro no ombro do padre, mas, a pedido de Amaro, o processo foi encerrado e João Eduardo foi solto.
Com a ajuda de uma mulher chamada Dionísia, Amaro passou a se encontrar com Amélia, na casa do sineiro tio Esguelhas, o qual morava com a “filha de quinze anos paralítica, desde pequena, das pernas”. O padre então achou uma desculpa para Amélia ir à casa do sineiro: ela devia visitar a “paralítica”, “consolá-la, entretê-la, fazer-lhe os dias menos amargos...” e lhe dar uma educação cristã.
Os amantes passaram a se encontrar em um quarto na casa do sineiro uma ou duas vezes por semana. Por intermédio de Totó (a filha do sineiro), o cônego Dias ficou sabendo dos encontros amorosos do padre com Amélia. O cônego, surpreso com a situação, ameaçou contar tudo para o vigário-geral.
Então Amaro expôs a hipocrisia do cônego ao dizer que sabia que ele era amante da S. Joaneira, e os dois concordaram em guardar segredo de ambas as situações. Entretanto, Amélia ficou grávida. Amaro foi pedir a ajuda do cônego, que sugeriu que Amélia deveria se casar imediatamente com João Eduardo.
No entanto, descobriram que o rapaz, provavelmente, tinha ido embora para o Brasil. A solução foi levar Amélia para a quinta da Ricoça, esperar a criança nascer e, segundo padre Amaro: “Naturalmente dá-lo [o fruto] a criar a alguma mulher, longe, lá pra Alcobaça ou para Pombal... A felicidade, padre-mestre, era que a criança nascesse morta!”.
Tiveram a ajuda da dona Josefa, irmã do cônego, a quem Amaro disse que Amélia estava grávida de um “homem casado que a seduzira”. João Eduardo voltou a circular pela cidade, não tinha ido para o Brasil, e viu o padre na Ricoça. Amaro decidiu procurar uma tal Carlota, a “tecedeira de anjos”, a qual daria um sumiço na criança. Assim que Amélia deu à luz, Dionísia entregou o menino para o padre, que o entregou para Carlota.
No entanto, Amélia não se recuperou e acabou morrendo. Após o choque de saber da morte de Amélia, Amaro correu até a casa da Carlota para buscar a criança. A mulher então disse que o menino havia morrido. No enterro de Amélia, compareceu João Eduardo, “de luvas pretas, carregado de luto, com as olheiras cavadas em dois sulcos negros, grossas lágrimas a correrem-lhe nas faces”. Amaro não compareceu, tinha ido embora da cidade.
→ Narrador da obra O crime do padre Amaro
O romance tem um narrador onisciente, o qual sabe detalhes da história de cada personagem, além de conhecer seus pensamentos mais íntimos.
Características da obra O crime do padre Amaro
→ Estrutura da obra O crime do padre Amaro
O romance tem 25 capítulos.
→ Estilo literário da obra O crime do padre Amaro
A obra faz parte do realismo português. Por isso, apresenta caráter antirromântico, já que mostra a realidade como ela é, sem qualquer idealização. A linguagem é objetiva, com ausência de sentimentalismo. O romance faz crítica de costumes, análise psicológica e mostra a corrupção e a hipocrisia dos membros da Igreja do século XIX.
→ Foco narrativo da obra O crime do padre Amaro
A história é contada em terceira pessoa, pela perspectiva de um narrador onisciente, o qual não participa do relato.
Por que O crime do padre Amaro foi censurado?
Quando a obra foi publicada, a Igreja não viu com bons olhos o personagem “imoral” criado por Eça de Queirós. Segundo o pesquisador Diógenes Caliari Armani, “Eça de Queirós foi alvo de severas críticas por parte da igreja católica. Durante décadas, a leitura da obra foi terminantemente proibida em escolas brasileiras e portuguesas”.
De acordo com Carlos Reis, professor da Universidade de Coimbra:
A receção d’O Crime do Padre Amaro, tanto antes como depois da morte de Eça, atesta bem o caráter ao mesmo tempo inovador e subversivo da obra. Durante muito tempo, esta história de padres e de beatas (como diria o próprio Eça) perturbou a consciência moral de não poucos leitores; e a entrada d’O Crime do Padre Amaro no universo escolar foi muitas vezes retardada e até censurada, em particular durante o salazarismo, sob o signo de uma “moralidade” a que sobrava hipocrisia e a que faltava uma desassombrada lucidez.
Contexto histórico da obra O crime do padre Amaro
O realismo, estilo de época ao qual está associado o romance O crime do padre Amaro, está vinculado ao contexto histórico da Revolução Industrial. Nesse período da história europeia, a razão era bastante valorizada, responsável pelo surgimento de máquinas potentes, em prol da industrialização e do crescimento econômico.
Essa racionalidade também é responsável pelo caráter objetivo da obra e permite uma dura crítica aos membros da Igreja Católica. Apesar da evolução tecnológica e da valorização do pensamento científico, a Igreja ainda tinha grande poder em Portugal, principalmente no que concernia à influência moral. Daí o caráter subversivo do romance de Eça de Queirós.
Filme sobre a obra O crime do padre Amaro
O crime do padre Amaro |
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Direção |
Produção |
Ano |
Carlos Carrera |
México |
2002 |
Carlos Coelho da Silva |
Portugal |
2005 |
Eça de Queirós, autor de O crime do padre Amaro

Eça de Queirós é o autor de O crime do padre Amaro. O escritor português Eça de Queirós nasceu no dia 25 de novembro de 1845, em Póvoa do Varzim. Além de escrever vários livros, ele fez faculdade de Direito, em Coimbra, atuou como advogado e trabalhou como cônsul. Ele também escreveu para o jornal Gazeta de Portugal e dirigiu o jornal Distrito de Évora.
O romancista conheceu vários países, como Cuba, Canadá, Estados Unidos e Inglaterra. O autor também escreveu para o jornal Gazeta de Notícias, do Rio de Janeiro. E se tornou o mais famoso escritor português filiado ao realismo. Faleceu em 16 de agosto de 1900, em Paris. Para saber mais sobre Eça de Queirós, clique aqui.
Crédito de imagem
[1] Editora Record (reprodução)
Fontes
ABAURRE, Maria Luiza M.; PONTARA, Marcela. Literatura: tempos, leitores e leituras. 4. ed. São Paulo: Moderna, 2021.
ARMANI, Diógenes Caliari. A recepção de O crime do padre Amaro no Brasil do século XIX. Nau Literária, Porto Alegre, v. 8, n. 2, jul./ dez. 2012.
FUNDAÇÃO EÇA DE QUEIROZ. Cronologia interactiva. Disponível em: https://feq.pt/eca-de-queiroz/cronologia-interactiva/.
INSTITUTO DIPLOMÁTICO. Nomeação de Eça de Queiroz para cônsul da 1a classe em Havana a 16 de março de 1872. Disponível em: https://idi.mne.gov.pt/pt/arquivo-e-biblioteca/documentos-e-efemerides/nomeacao-de-eca-de-queiroz.
QUEIRÓS, Eça de. O crime do padre Amaro. 12. ed. São Paulo: Ática, 1998.
REIS, Carlos. Nota prévia. In: QUEIRÓS, Eça de. O crime do padre Amaro. Lisboa: Imprensa Nacional, 2022.
RODRIGUES, Ana Paula Fernandes. Eça de Queirós e as páginas desconhecidas do Distrito de Évora. 2008. Dissertação (Mestrado em Literatura e Cultura Portuguesas) – Universidade Aberta, Lisboa, 2008.