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Questão Coimbrã

A Questão Coimbrã foi um debate literário ocorrido em Portugal entre 1865 e 1866. Foi marcada pela oposição entre os defensores do romantismo e os defensores do realismo.

Prédio da Universidade de Coimbra em texto sobre a Questão Coimbrã.
A maioria dos escritores envolvidos na Questão Coimbrã estava vinculada à Universidade de Coimbra.
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Questão Coimbrã é como ficou conhecido o conflito intelectual entre os defensores do romantismo e os defensores do realismo em Portugal. O debate ocorreu por meio dos jornais da época entre 1865 e 1866. Desse modo, os escritores envolvidos, a maioria vinculada à Universidade de Coimbra, expressaram opiniões em defesa de sua ideologia literária.

Leia também: Naturalismo — a corrente mais radical do movimento realista

Tópicos deste artigo

Resumo sobre Questão Coimbrã

  • Questão Coimbrã foi um debate intelectual ocorrido em Portugal entre 1865 e 1866.

  • A maioria dos escritores envolvidos esteve ligada à Universidade de Coimbra.

  • O debate marcou a oposição entre escritores românticos e escritores realistas.

  • Os principais envolvidos foram os autores Antero de Quental e António Feliciano de Castilho.

O que foi a Questão Coimbrã?

Questão Coimbrã é como ficou conhecido um famoso debate intelectual ocorrido entre escritores, a maioria deles vinculada à Universidade de Coimbra, em Portugal. Assim, entre 1865 e 1866, esteve em evidência, por meio dos jornais da época, uma discussão acalorada entre os defensores do romantismo em oposição aos defensores do realismo na literatura portuguesa.

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Contexto histórico da Questão Coimbrã

Desde 1861, Portugal vinha sendo comandado pelo moderado rei Luís I (1838-1889), conhecido como “o Popular”. Apesar dessa alcunha, seu governo sobreviveu a algumas revoltas militares, ocorridas, principalmente, devido ao aumento de impostos. O monarca era um homem culto, conciliador e defensor da ciência.

De forma geral, a Europa sofria transformações econômicas e sociais advindas da Revolução Industrial, já que o crescimento econômico acelerado estava acompanhado de desigualdade social. Nesse contexto, era gritante o contraste entre a rica burguesia e o miserável proletariado.

Diante disso, alguns artistas, escritores e intelectuais passaram a exprimir suas convicções políticas acerca da realidade de seu país. E tal postura se opunha fortemente à idealização romântica, vista pelos realistas como uma atitude conservadora, alienante e ultrapassada.

Veja também: Como está dividida a literatura portuguesa

Qual a origem da Questão Coimbrã?

A origem desse conflito intelectual está no início dos anos 1860. Os principais escritores que participaram desse debate foram os românticos António Feliciano de Castilho (1800-1875) e Manuel Pinheiro Chagas (1842-1895), e os realistas Antero de Quental (1842-1891) e Teófilo Braga (1843-1924).

No começo dessa década, jovens escritores, como Eça de Queiroz (1845-1900), começaram a ficar em evidência ao fazerem críticas à sociedade, à política, à economia, à ciência, às artes e à literatura da época. Mais tarde, esses escritores ficaram conhecidos como Geração de 70.

No entanto, o que desencadeou o conflito foi a publicação das obras Tempestades sonoras e Visões dos tempos, de Teófilo Braga, em 1864, e, principalmente, do livro Odes modernas, de Antero de Quental, em 1865. Assim, as duras críticas feitas a essas obras, por intelectuais defensores do romantismo, deram início à Questão Coimbrã.

Romantismo x realismo

ROMANTISMO

REALISMO

Linguagem subjetiva

Linguagem objetiva

Idealização

Não idealização

Valorização dos sentimentos

Valorização da razão

Enaltecimento dos costumes burgueses

Crítica aos costumes burgueses

Saiba mais: O primo Basílio — uma crítica à família burguesa na obra de Eça de Queiroz

Exercícios resolvidos sobre a Questão Coimbrã

Questão 1

O posfácio do livro Poema da mocidade, de Manuel Pinheiro Chagas, é uma carta do escritor António Feliciano de Castilho, ardoroso defensor do romantismo português, direcionada ao editor da obra em questão. Dessa imensa carta, destacamos seu post scriptum:

P.S. Queira v. sa dizer de antemão aos que discordarem das minhas opiniões, e o houverem de dizer pela imprensa, que o Virgílio me não dá licença para lhes responder. O que pensava e sentia expendi-o; lá brigar não brigo, que tenho mais que fazer.

CASTILHO, António Feliciano de. Carta do ilmo. e exmo. Sr. António Feliciano de Castilho ao editor. In: CHAGAS, Manuel Pinheiro. Poema da mocidade. Lisboa: Livraria de A. M. Pereira, 1865.

Na carta, Castilho critica jovens escritores como Antero de Quental. Como resposta a essas críticas, Quental publicou a carta Bom senso e bom gosto, dando início à Questão Coimbrã. No entanto, o post scriptum de Castilho

A) demonstra a humildade desse escritor romântico, aberto a ouvir opiniões contrárias.

B) demonstra a disposição desse escritor romântico em debater com os novos escritores.

C) demonstra que esse escritor romântico não tinha intenção de participar de um debate.

D) demonstra a intenção desse escritor romântico em participar da Questão Coimbrã.

E) demonstra o respeito desse escritor romântico pelas ideias dos escritores realistas.

Resolução:

Alternativa C

O post scriptum de Castilho deixa claro que se aqueles que discordarem de suas opiniões forem à imprensa para publicar opiniões contrárias à dele, ele não vai responder a elas, pois, para ele, isso seria uma perda de tempo.

Questão 2

Leia, a seguir, um fragmento do texto mais famoso publicado durante o debate literário conhecido como Questão Coimbrã. Bom senso e bom gosto, de Antero de Quental, é uma carta direcionada a António Feliciano de Castilho, o principal defensor do romantismo português:

[...]. O que se ataca na escola de Coimbra (talvez mesmo V. Exa o ignore, porque há malévolos inocentes e inconscientes), o que se ataca não é uma opinião literária menos provada, uma concepção poética mais atrevida, um estilo ou uma ideia. Isso é o pretexto, apenas. Mas a guerra faz-se à independência irreverente de escritores, que entendem fazer por si o seu caminho, sem pedirem licença aos mestres, mas consultando só o seu trabalho e a sua consciência. A guerra faz-se ao escândalo inaudito duma literatura desaforada, que cuidou poder correr mundo sem o selo e o visto da chancelaria dos grão-mestres oficiais. A guerra faz-se à impiedade destes hereges das letras, que se revoltam contra a autoridade dos papas e pontífices, porque, ao que parece, ainda a luz de cima lhes não escreveu nas frontes o sinal da infalibilidade. Faz-se contra quem entende pensar por si e ser só responsável por seus atos e palavras...

Agora quem move estes ridículos combates de frases é a vaidade ferida dos mestres e dos pontífices; é o espírito de rotina violentamente incomodado por mãos rudes e inconvenientes; é a banalidade que quer dormir sossegada no seu leito de ninharias; é a vulgaridade que cuida que a forçam — nós só lhe queremos puxar as orelhas!

Isto, resumido em poucas palavras, quer dizer: combatem-se os hereges da escola de Coimbra por causa do negro crime de sua dignidade, do atrevimento de sua retidão moral, do atentado de sua probidade literária, da impudência e miséria de serem independentes e pensarem por suas cabeças. E combatem-se por faltarem às virtudes de respeito humilde às vaidades onipotentes, de submissão estúpida, de baixeza e pequenez moral e intelectual.

[...]

QUENTAL, Antero de. Bom senso e bom gosto. Coimbra: Imprensa da Universidade, 1865.

Com base nesse fragmento, é possível perceber que a Questão Coimbrã:

A) ultrapassou o campo do debate literário, abrindo espaço para ataques de cunho pessoal.

B) esteve restrita ao campo literário, não permitindo nenhuma ofensa de cunho pessoal.

C) mostrou a reverência dos jovens realistas diante da experiência dos velhos românticos.

D) mostrou a reverência dos velhos românticos diante da evidente inovação realista.

E) ultrapassou o campo do debate literário, expondo detalhes da intimidade dos escritores.

Resolução:

Alternativa A

No fragmento da questão, é possível perceber o tom agressivo de Antero de Quental, ao defender que os jovens realistas são criticados por serem independentes e não se curvarem aos supostos “mestres”. Como a carta é direcionada a Castilho, fica evidente a acusação de que tal escritor romântico é “malévolo”, “vaidoso”, “fútil”, “vulgar”. Dessa forma, a pessoa de Castilho está também sob ataque e não só o romantismo representado por ele.

Fontes

BRITO, Rômulo de Jesus Farias. “Questão Coimbrã”: a problematização sobre Portugal através de uma polêmica literária pela Geração de 70 (1865-1866). Oficina do Historiador, Porto Alegre, v. 8, n. 2, p. 154-173, jul./ dez. 2015.

CHAGAS, Manuel Pinheiro. Poema da mocidade. Lisboa: Livraria de A. M. Pereira, 1865.

D. LUÍS (1838-1889). In: INFOPÉDIA. Disponível em: https://www.infopedia.pt/apoio/artigos/$d.-luis-(1838-1889).

QUENTAL, Antero de. Bom senso e bom gosto. Coimbra: Imprensa da Universidade, 1865.

QUESTÃO COIMBRÃ. In: INFOPÉDIA. Disponível em: https://www.infopedia.pt/apoio/artigos/$questao-coimbra.  

Escritor do artigo
Escrito por: Warley Souza Professor de Português e Literatura, com licenciatura e mestrado em Letras pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

Gostaria de fazer a referência deste texto em um trabalho escolar ou acadêmico? Veja:

SOUZA, Warley. "Questão Coimbrã"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/literatura/questao-coimbra.htm. Acesso em 26 de dezembro de 2024.

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