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A revolução dos bichos

A revolução dos bichos é um livro do inglês George Orwell que conta a história de animais que se rebelam contra o dono da granja onde moram. A obra satiriza o stalinismo.

Capa do livro “A revolução dos bichos”, de George Orwell, publicado pela editora Principis.
Capa do livro A revolução dos bichos, de George Orwell, publicado pela editora Principis.[1]
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A revolução dos bichos é uma narrativa do escritor inglês George Orwell. A obra foi publicada, pela primeira vez, em 1945, e consiste em uma sátira, pois critica o stalinismo. Na história, os animais da Granja do Solar, na Inglaterra, inspirados pelas palavras do velho porco Major, expulsam o dono e tomam a granja para si.

Sobre a liderança dos porcos Bola-de-Neve, Napoleão e Garganta, os animais devem seguir sete mandamentos, que, no decorrer da narrativa, são alterados em benefício dos porcos. Bola-de-Neve é expulso da fazenda por Napoleão, o qual se torna um ditador que enriquece às custas do trabalho duro dos outros animais.

Leia também: 1984 — análise de outra famosa obra de George Orwell

Tópicos deste artigo

Resumo sobre A revolução dos bichos

  • A revolução dos bichos é uma narrativa do escritor inglês George Orwell.
  • A obra trata de questões associadas ao totalitarismo e faz uma sátira ao stalinismo.
  • Nela, o sr. Jones é dono da Granja do Solar, que fica na Inglaterra.
  • Após o discurso do velho porco Major, os animais da fazenda decidem fazer uma rebelião.
  • Eles expulsam Jones e tomam a granja, que passa a se chamar Granja dos Bichos.
  • Os líderes da revolução são os porcos Bola-de-Neve, Napoleão e Garganta.
  • Sete mandamentos são escritos na parede do celeiro como princípios do Animalismo.
  • Bola-de-Neve e Napoleão se desentendem, e, com a ajuda de alguns cães, Napoleão expulsa o inimigo.
  • Napoleão se torna um ditador; e Bola-de-Neve, um inimigo da granja, a quem são atribuídas coisas ruins.
  • Os animais trabalham feito escravos na construção de um moinho de vento, enquanto os porcos têm regalias.
  • Para atender aos interesses dos porcos, os mandamentos vão sendo alterados.
  • Ao final, os porcos começam a andar nas patas traseiras e passam a confraternizar com os humanos.

Análise da obra A revolução dos bichos

→ Personagens da obra A revolução dos bichos

  • Benjamim: burro.
  • Bola-de-Neve: porco.
  • Branca: cadela.
  • Cata-Vento: cão.
  • Frederick: dono da granja Pinchfield.
  • Garganta: porco.
  • Lulu: cadela.
  • Major: porco.
  • Maricota: cabra.
  • Mimosa: égua.
  • Mínimo: porco.
  • Moisés: corvo.
  • Napoleão: porco.
  • Pilkington: dono da granja Foxwood.
  • Quitéria: égua.
  • Sansão: cavalo.
  • Sr. Jones: dono da Granja do Solar.
  • Sr. Whymper: advogado.

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→ Tempo da obra A revolução dos bichos

A narrativa tem tempo cronológico. Já os fatos relatados não são situados no tempo, pois não há nenhuma indicação da época em que ocorrem. Porém, em função da crítica ao stalinismo presente na obra, é possível situar os acontecimentos na primeira metade do século XX.

→ Espaço da obra A revolução dos bichos

A ação se passa na Granja do Solar, na Inglaterra. Após a revolução, essa fazenda passa a se chamar Granja dos Bichos. A ação se passa também em um lugar chamado Willingdon, onde fica a taverna do Leão Vermelho.

→ Enredo da obra A revolução dos bichos

O velho Major, um porco premiado da Granja do Solar, tem um sonho muito estranho. Os animais da Granja do Solar se reúnem para ouvir seu discurso em prol dos animais e contrário aos humanos. Por fim, ele diz que sonhou com um mundo sem humanos. O Major também canta uma canção chamada “Bichos da Inglaterra”:

Bichos da Inglaterra e da Irlanda,
Daqui, dali, de acolá,
Escutai a alvissareira
Novidade que virá.
Mais hoje, mais amanhã,
O Tirano vem ao chão,
E os campos da Inglaterra
Só os bichos pisarão.
Não mais argolas nas ventas,
Dorsos livres dos arreios,
Freio e espora enferrujando
E relho em cantos alheios.
Riqueza incomensurável,
Terra boa, muito grão,
Trigo, cevada e aveia,
Pastagem, feno e feijão.
Lindos campos da Inglaterra,
Ribeiros com águas puras,
Brisas leves circulando,
Liberdade nas alturas.
Lutemos por esse dia
Mesmo que nos custe a vida.
Gansos, vacas e cavalos,
Todos unidos na lida.
Bichos da Inglaterra e da Irlanda,
Daqui, dali, de acolá,
Levai esta minha mensagem
E o futuro sorrirá.

O Major falece três dias depois. As palavras dele inspiram os porcos a organizarem uma rebelião cujos líderes são os porcos Bola-de-Neve, Napoleão e Garganta. Eles reúnem as ideias do Major em uma corrente de pensamento que chamam de Animalismo. Assim, enquanto Jones dorme à noite, os animais se reúnem para serem instruídos acerca dos princípios do Animalismo.

Ilustração representativa de uma fazenda, uma alusão ao livro “A revolução dos bichos”.
Em A revolução dos bichos, os animais se rebelam contra os opressores humanos.

Em uma ocasião em que Jones esquece de alimentar os animais, a rebelião ocorre, e os animais expulsam todos os humanos dali. Os porcos são os líderes e passam a comandar a vida na granja, a qual agora se chama Granja dos Bichos. Sobre a parede do fundo do celeiro, Bola-de-Neve escreve os princípios do Animalismo, em sete mandamentos:

  1. Qualquer coisa que ande sobre duas pernas é inimigo.
  2. O que andar sobre quatro pernas, ou tiver asas, é amigo.
  3. Nenhum animal usará roupa.
  4. Nenhum animal dormirá em cama.
  5. Nenhum animal beberá álcool.
  6. Nenhum animal matará outro animal.
  7. Todos os animais são iguais.

Os porcos ordenham as vacas, e os outros animais vão trabalhar na colheita de feno. Quando voltam, o leite desapareceu. A partir de então, os animais passam a trabalhar para o bem comum, com folga aos domingos. Nesse dia, toda semana, ocorre uma cerimônia com hasteamento da bandeira dos animais, os quais participam de uma reunião, durante a qual Bola-de-Neve e Napoleão nunca estão de acordo.

Logo os porcos começam a ter privilégios, tais como o leite e as maçãs, que não são distribuídos equitativamente, pois vão todos para os porcos. Tempos depois, Jones e outros homens decidem invadir e retomar a fazenda. São derrotados pelos animais e fogem. Tal acontecimento fica conhecido como a Batalha do Estábulo.

Bola-de-Neve cria um projeto para a construção de um moinho, mas Napoleão discorda desse empreendimento. Por ordem de Napoleão, nove cães atacam Bola-de-Neve, que consegue fugir. Assim, Napoleão assume o poder, sempre escoltado por seus violentos cães. Semanas depois, Napoleão decide que o moinho deve ser construído.

Os animais trabalham muito, como escravos. Napoleão decide comercializar com as granjas da vizinhança. Diante da dúvida e insegurança dos animais, Garganta sempre aparece para os convencer. Sob a liderança de Napoleão, os porcos se mudam para a casa-grande, onde viviam os humanos.

A égua Quitéria, pensando que tal atitude contraria os mandamentos, vai verificar no celeiro e descobre que estava enganada, pois o quarto mandamento diz que “Nenhum animal dormirá em cama com lençóis, alteração feita às escondidas pelos porcos. Quando o moinho é destruído, Napoleão põe a culpa em Bola-de-Neve, e ordena que retomem a construção do moinho.

Os animais passam por um inverno rigoroso, com pouca comida. Napoleão ordena que “as galinhas, que mal haviam começado a pôr, deveriam entregar-lhe os ovos, pois Napoleão assinara, por intermédio de Whymper, um contrato de fornecimento de quatrocentos ovos por semana”. A justificativa é que, assim, todos adquirirão cereais e farinha, “o bastante para manter a granja até que chegasse o verão e as condições do tempo melhorassem”.

Um boato se espalha pela granja, dizendo que Bola-de-Neve está indo à fazenda à noite, em segredo. Isso provoca terror nos animais, convencidos da maldade do porco. Assim, o ditador usa essa figura para perseguir seus opositores. Condena quatro porcos à morte, acusados de serem comparsas de Bola-de-Neve, os quais são estraçalhados pelos cães.

Dias depois, alguns animais se lembram do sexto mandamento, que dizia que nenhum animal deve matar outro animal; mas, ao verificarem, percebem que o mandamento diz: “Nenhum animal matará outro animal, sem motivo. Com a reconstrução do moinho, os animais trabalham ainda mais do que no ano anterior.

O porco Mínimo compõe o poema “O camarada Napoleão”:

Amigo dos orfãozinhos!
Fonte da felicidade!
Senhor do balde de lavagem! Oh, minh’alma arde
Em fogo quando te vejo
Assim, calmo e soberano,
Como o sol na imensidão,
Camarada Napoleão!
Tu és aquele que tudo dá, tudo
Quanto as pobres criaturas amam.
Duas barrigas cheias por dia, palha limpa onde rolar;
Os bichos todos, grandes, pequenos,
Dormem tranquilos, enquanto
Zelas tu por nós na solidão,
Camarada Napoleão!
Tivesse eu um leitão e,
Antes mesmo que atingisse
O tamanho de um barril ou garrafão,
Já teria aprendido a ser eternamente
Teu fiel e leal seguidor. E o primeiro
Guincho que daria meu leitão seria
“Camarada Napoleão!”.

Nessa altura, Napoleão realiza relações comerciais com os humanos, como o sr. Pilkington, porém não aceita fazer acordos com um tal de Frederick. Além disso, o moinho de vento fica pronto. E os animais ficam surpresos quando descobrem que Napoleão está vendendo madeira para Frederick, a quem o porco dizia odiar. Agora o ódio é direcionado a Pilkington.

Contudo, Frederick leva a madeira sem pagar. Traído, Napoleão tenta se reconciliar com Pilkington. Frederick e seus homens atacam a granja, e os animais se defendem. Napoleão pede a ajuda de Pilkington, que se recusa. Frederick destrói o moinho. Isso enfurece os animais, que, apesar de os inimigos estarem armados, atacam.

Alguns animais morrem, muitos ficam feridos, mas vencem a batalha. Dias depois, os porcos encontram, “na adega da casa-grande, uma caixa de uísque. Passara despercebida na época da ocupação”. Assim, os porcos se embebedam. Depois disso, outro mandamento é alterado, de forma que agora “Nenhum animal beberá álcool em excesso.

Os animais retomam a construção do moinho, mas o cavalo Sansão adoece a um mês de se aposentar. Assim, “Napoleão tomara conhecimento, abaladíssimo, do mal que sucedera a um dos trabalhadores mais leais da granja, e já estava cuidando de enviar Sansão para tratar-se no hospital em Willingdon”.

Ao transportarem Sansão, em “um carroção fechado, puxado por dois cavalos, com um letreiro no lado e um homem de chapéu-coco sentado na boleia”, Benjamim mostra aos outros animais o que está escrito no carroção: “Alfred Simmonds, matadouro de cavalos, fabricante de cola, Willingdon. Peles e farinha de ossos. Fornece para canis”.

Três dias depois, chega a notícia de que Sansão faleceu no hospital. Garganta, indignado com certo “boato idiota”, explica que a “carroça pertencera, antes, ao carniceiro, depois fora comprada pelo cirurgião veterinário, que ainda não apagara o letreiro”.

Os anos se passam, os porcos enriquecem, mas os outros animais permanecem pobres: “Geralmente andavam com fome, dormiam em camas de palha, bebiam água no açude e trabalhavam no campo; no inverno, sofriam com o frio; no verão, com as moscas”. E, certo dia, os animais ficam espantados ao verem que um “porco caminhava sobre as duas patas traseiras”.

Ilustração de um porco usando terno, uma alusão à obra “A revolução dos bichos”.
Em A revolução dos bichos, os porcos são corrompidos pelo poder.

É Garganta, que treina as ovelhas para dizer: “Quatro pernas bom, duas pernas melhor!”. Diferentemente do passado, em que as ovelhas insistiam em repetir: “Quatro pernas bom, duas pernas ruim”. Por fim, os sete mandamentos são apagados e substituídos por apenas um: “Todos os bichos são iguais, mas alguns bichos são mais iguais que outros”.

No final, os porcos passam a supervisionar a granja com chicotes nas patas, compram um aparelho de rádio, mandam instalar um telefone, assinam jornais e revistas. Napoleão confraterniza com seus vizinhos humanos e muda novamente o nome da granja para Granja do Solar.

→ Narrador da obra A revolução dos bichos

A obra tem narrador observador, já que ele apenas narra os acontecimentos e não parece conhecer as intenções ocultas dos personagens. Desse modo, a leitora e o leitor precisam perceber, por si mesmos, as intenções por trás da atitude dos porcos.

Características da obra A revolução dos bichos

→ Estrutura da obra A revolução dos bichos

A revolução dos bichos é uma novela ou pequeno romance dividido em 10 capítulos.

→ Estilo literário da obra A revolução dos bichos

A narrativa, publicada, pela primeira vez, em 1945, é uma obra pertencente ao modernismo inglês. O livro tem caráter alegórico, elementos satíricos, pessimismo e crítica sociopolítica.

Trechos da obra A revolução dos bichos

“Então, camaradas, qual é a natureza desta nossa vida? Enfrentemos a realidade: nossa vida é miserável, trabalhosa e curta. Nascemos, recebemos o mínimo alimento necessário para continuar respirando, e os que podem trabalhar são exigidos até a última parcela de suas forças; no instante em que nossa utilidade acaba, trucidam-nos com hedionda crueldade. Nenhum animal na Inglaterra sabe o que é felicidade ou lazer após completar um ano de vida. Nenhum animal na Inglaterra é livre. A vida do animal é feita de miséria e escravidão: essa é a verdade nua e crua.”

“O Homem é a única criatura que consome sem produzir. Não dá leite, não põe ovos, é fraco demais para puxar o arado, não corre o que dê para pegar uma lebre. Mesmo assim, é o senhor de todos os animais. Põe-nos a mourejar, dá-nos de volta o mínimo para evitar a inanição e fica com o restante. Nosso trabalho amanha o solo, nosso estrume o fertiliza, e no entanto nenhum de nós possui mais que a própria pele. [...]”

“Muito mais ainda lutaram os porcos para neutralizar as mentiras espalhadas por Moisés, o corvo doméstico. Moisés, mascote do sr. Jones, era um espião linguarudo, mas também de boa conversa. Afirmava a existência de uma região misteriosa, a Montanha de Açúcar-Cande, para onde iam os animais após a morte. Essa montanha ficava em algum lugar no céu, pouco acima das nuvens, segundo Moisés. Na Montanha de Açúcar-Cande, os sete dias da semana eram domingos, o ano inteiro era época de trevo, e as sebes davam torrões de açúcar e bolinhos de linhaça. Os bichos detestavam Moisés, porque vivia de histórias e não trabalhava, porém alguns acreditavam na Montanha de Açúcar-Cande, e os porcos travaram grandes discussões para convencê-los de que esse lugar não existia.”

“Os porcos revelaram que, nos últimos três meses, haviam aprendido a ler e a escrever, num velho livro de ortografia que pertencera aos filhos de Jones e fora jogado no lixo. Napoleão mandou buscar latas de tinta preta e tinta branca e marchou à frente até a porteira das cinco barras, que dava para a estrada principal. Então, Bola-de-Neve (que escrevia melhor) pegou o pincel entre as juntas da pata, cobriu de tinta o nome GRANJA DO SOLAR do travessão superior e, em seu lugar, escreveu GRANJA DOS BICHOS. Seria esse o nome da granja dali em diante. Depois disso, voltaram para as casas da granja; Bola-de-Neve e Napoleão mandaram buscar uma escada e fizeram-na encostar à parede do fundo do celeiro grande. Explicaram que, segundo os estudos que haviam feito nos últimos três meses, era possível resumir os princípios do Animalismo em Sete Mandamentos. Esses Sete Mandamentos seriam agora escritos na parede, constituindo a lei inalterável pela qual a Granja dos Bichos deveria reger sua vida para sempre.”

“Depois, Garganta percorreu a granja para tranquilizá-los. Assegurou-lhes que tal resolução contra o engajamento no comércio e o uso de dinheiro jamais fora aprovada, aliás nem sequer apresentada. Era pura imaginação, e provavelmente tinha origem em mentiras inventadas por Bola-de-Neve. Alguns bichos ainda estavam em dúvida, porém Garganta, astuto, perguntou: ‘Vocês estão certos de que não sonharam? Existe algum registro dessa resolução? Está escrita em algum lugar?’. E uma vez que realmente não existia nada assim escrito, os animais se convenceram do engano.”

“Subitamente, no início da primavera, descobriu-se um fato alarmante. Bola-de-Neve estava frequentando a granja à noite, em segredo! Os bichos ficaram tão preocupados que mal conseguiam dormir nos estábulos. Todas as noites, dizia-se, ele se esgueirava nas sombras e perpetrava um sem-número de maldades. Roubava milho, entornava baldes de leite, quebrava ovos, esmagava os viveiros de sementes e roía o córtex das árvores frutíferas. Sempre que algo errado aparecia, o culpado era Bola-de-Neve. Uma janela quebrada, um dreno entupido, e alguém com certeza diria que Bola-de-Neve viera à noite e fizera aquilo; quando se perdeu a chave do depósito, toda a granja se convenceu de que Bola-de-Neve a jogara no fundo do poço. Interessante foi continuarem a acreditar, mesmo depois que a chave perdida foi encontrada sob um saco de farinha. As vacas declaravam unânimes que Bola-de-Neve entrara em suas baias e as havia ordenhado durante o sono. Os ratos, por incomodarem muito durante o inverno, foram tachados de aliados de Bola-de-Neve.”

“As três galinhas que haviam liderado a tentativa de reação sobre os ovos aproximaram-se e declararam que Bola-de-Neve lhes aparecera em sonho, instigando-as a desobedecer às ordens de Napoleão. Também foram degoladas. Aí veio um ganso e confessou ter escondido seis espigas de milho durante a colheita do ano anterior, comendo-as depois, à noite. Uma ovelha confessou ter urinado no açude — por insistência, disse, de Bola-de-Neve —, e duas outras confessaram ter assassinado um velho bode, seguidor especialmente devotado de Napoleão, perseguindo-o em volta de uma fogueira quando ele, coitado, estava com um ataque de asma. Foram mortas ali mesmo. E assim prosseguiu a sessão de confissões e execuções, até haver um montão de cadáveres aos pés de Napoleão e um pesado cheiro de sangue no ar, coisa que não sucedia desde a expulsão de Jones.”

“Poucos dias mais tarde, quando já amainara o terror causado pelas execuções, alguns animais lembraram — ou julgaram lembrar — que o Sexto Mandamento rezava: ‘Nenhum animal matará outro animal’. Embora ninguém o mencionasse ao alcance dos ouvidos dos porcos ou dos cachorros, parecia-lhes que a matança ocorrida não se encaixava muito bem nisso. Quitéria pediu a Benjamim que lesse o Sexto Mandamento, e quando Benjamim, como sempre, respondeu que se recusava a tomar parte em tais assuntos, ela procurou Maricota, que leu para ela o Sexto Mandamento. Dizia: ‘Nenhum animal matará outro animal, sem motivo’. Sabe-se lá por quê, as duas últimas palavras haviam escapado à memória dos bichos. Mas eles viam agora que o Sexto Mandamento não fora violado; sim, pois evidentemente havia boas razões para matar os traidores que haviam se aliado a Bola-de-Neve.”

“Todas as relações com Foxwood foram cortadas, e Pilkington recebeu mensagens insultuosas. Os pombos tiveram ordens de [...] mudar o slogan de ‘Morte a Frederick’ para ‘Morte a Pilkington’. Ao mesmo tempo, Napoleão assegurou a todos que as histórias sobre o iminente ataque à Granja dos Bichos eram inteiramente falsas e que os boatos a respeito da crueldade de Frederick para com os animais eram muito exagerados. Todos esses boatos eram, provavelmente, coisa de Bola-de-Neve e seus agentes. Parecia, agora, que Bola-de-Neve na verdade não estava escondido na Granja Pinchfield; aliás, nunca estivera lá em toda a sua vida. Vivia — e cercado de muito luxo, sabiam agora — na Granja Foxwood, e era, além do mais, sustentado por Pilkington há muitos anos.”

“Mais ou menos nessa época, aconteceu um incidente que nenhum dos bichos pôde compreender. Certa noite, por volta de meia-noite, ouviu-se um ruído de queda no pátio, e os animais correram de suas baias para ver o que sucedera. Era noite de lua. Ao pé da parede do fundo do celeiro, na qual estavam escritos os Sete Mandamentos, encontraram uma escada quebrada em dois pedaços. Garganta, momentaneamente aturdido, jazia estatelado junto a ela, tendo ao lado uma lanterna, uma broxa e uma lata de tinta branca entornada. Os cachorros logo fizeram um círculo em torno de Garganta e escoltaram-no de volta à casa-grande, assim que ele conseguiu caminhar. Os bichos não faziam ideia do que significava aquilo, exceto Benjamim, que torceu o focinho com um ar de compreensão e pareceu entender o que se passara, mas nada disse.”

“De certa maneira, era como se a granja tivesse ficado rica sem que nenhum animal houvesse enriquecido — exceto, é claro, os porcos e os cachorros. Talvez isso acontecesse por existirem ali tantos porcos e tantos cachorros. Não que esses animais não trabalhassem, à sua moda. Garganta nunca se cansava de explicar que havia um trabalho insano na ação de supervisionar e organizar a granja. Grande parte desse trabalho era de natureza tal que estava além da ignorância dos bichos. Tentando explicar, Garganta dizia que os porcos despendiam diariamente enormes esforços com coisas misteriosas chamadas ‘arquivos’, ‘relatórios’, ‘minutas’ e ‘memos’. Grandes folhas de papel que precisavam ser miudamente cobertas com escritos e logo depois queimadas no forno. Era tudo da mais alta importância para o bem-estar da granja, dizia. A verdade é que nem os porcos nem os cachorros produziam um só grama de alimento com seu trabalho; e havia um bocado deles, com o apetite sempre em forma.”

“Doze vozes gritavam, cheias de ódio, e eram todas iguais. Não havia dúvida, agora, quanto ao que sucedera à fisionomia dos porcos. As criaturas de fora olhavam de um porco para um homem, de um homem para um porco e de um porco para um homem outra vez; mas já era impossível distinguir quem era homem, quem era porco.”

Contexto histórico de A revolução dos bichos

O livro foi produzido durante a Segunda Guerra Mundial e trata de questões associadas ao totalitarismo. Ele faz uma sátira ao regime totalitarista da União Soviética, portanto, critica o stalinismo. Josef Stalin (1878-1953) governou a União Soviética entre 1927 e 1953, um governo marcado pela perseguição aos opositores do ditador e pela censura.

George Orwell, autor de A revolução dos bichos

Fotografia de George Orwell, o escritor de “A revolução dos bichos”.
George Orwell é o escritor de A revolução dos bichos.

George Orwell nasceu em 25 de junho de 1903, em Motihari, na Índia. Nos seus primeiros meses de vida, ele e sua família, de nacionalidade inglesa, se mudaram para a Inglaterra. Ele estudou na St. Cyprian’s School e também no Colégio Eton. Mais tarde, trabalhou na Polícia Imperial Indiana, na Birmânia, por cerca de cinco anos.

Em 1937, participou da Guerra Civil Espanhola durante seis meses. Durante a Segunda Guerra Mundial, não foi convocado devido a uma doença pulmonar. O escritor trabalhou na BBC e foi editor da revista de esquerda Tribune. Além de A revolução dos bichos, seu outro grande sucesso é o romance 1984. O autor faleceu em 21 de janeiro de 1950, em Londres.

Para saber mais sobre George Orwell, clique aqui.

Crédito de imagem

[1] Editora Principis / Grupo Ciranda Cultural (reprodução)

Fontes

BBC. History: George Orwell (1903-1950). Disponível em: http://www.bbc.co.uk/history/historic_figures/orwell_george.shtml.

ORWELL, George. A revolução dos bichos. Tradução de Heitor Aquino Ferreira. São Paulo: Companhia das Letras, 2007.

OXFORD DICTIONARY OF NATIONAL BIOGRAPHY. Blair, Eric Arthur [pseud. George Orwell]. Disponível em: https://www.oxforddnb.com/view/10.1093/ref:odnb/9780198614128.001.0001/odnb-9780198614128-e-31915.

ROSA, Janis Caroline Boiko da. Antitotalitarismo, antifascismo e socialismo na produção literária e jornalística de George Orwell (1920-1950). 2020. Dissertação (Mestrado em História) – Faculdade de Ciências Humanas, Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2020.

SILVA, Daniel Neves. Stalinismo. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/historiag/governo-stalin.htm.

THE ORWELL FOUNDATION. About George Orwell. Disponível em: https://www.orwellfoundation.com/the-orwell-foundation/about/about-george-orwell/.

THE ORWELL FOUNDATION. Biography. Disponível em: https://www.orwellfoundation.com/the-orwell-foundation/orwell/biography/.

Escritor do artigo
Escrito por: Warley Souza Professor de Português e Literatura, com licenciatura e mestrado em Letras pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

Gostaria de fazer a referência deste texto em um trabalho escolar ou acadêmico? Veja:

SOUZA, Warley. "A revolução dos bichos"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/literatura/a-revolucao-dos-bichos.htm. Acesso em 12 de abril de 2025.

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