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A Primavera de Praga foi uma tentativa de promover uma reforma política na Checoslováquia em 1968. Foi encabeçada por Alexander Dubcek, primeiro-secretário do Partido Comunista da Checoslováquia na ocasião, e acompanhada de grande agitação social.
A população checoslovaca nutria uma grande insatisfação com o regime socialista e com o domínio soviético, desejando que reformas acontecessem para haver uma abertura política na Checoslováquia. O movimento não foi bem recebido pela União Soviética, que decidiu intervir na situação ao enviar milhares de soldados para ocupar no país, encerrando a Primavera de Praga.
Leia também: Totalitarismo — regime político baseado no controle da vida, no nacionalismo e no autoritarismo
Tópicos deste artigo
- 1 - Resumo sobre a Primavera de Praga
- 2 - Antecedentes históricos da Primavera de Praga
- 3 - Causas da Primavera de Praga
- 4 - O que aconteceu em Praga em 1968?
- 5 - O que a Primavera de Praga visava?
- 6 - Fim da Primavera de Praga
- 7 - Consequências da Primavera de Praga
Resumo sobre a Primavera de Praga
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A Primavera de Praga foi uma tentativa de reforma política proposta na Checoslováquia em 1968.
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Foi conduzida por Alexander Dubcek, líder de uma ala reformista do Partido Comunista da Checoslováquia.
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Havia uma forte insatisfação na população checoslovaca com o regime socialista e o domínio soviético sobre o bloco.
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As reformas defendidas propunham uma abertura democrática e econômica na Checoslováquia.
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Diversas camadas da sociedade abraçaram as reformas, protestando nas ruas.
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A União Soviética interveio na situação e enviou milhares de soldados para ocupar a Checoslováquia, finalizando a Primavera de Praga.
Antecedentes históricos da Primavera de Praga
O socialismo foi estabelecido na Checoslováquia ao final da Segunda Guerra Mundial, sendo consequência direta da ocupação do país pelas tropas soviéticas ao final desse conflito. Os soviéticos estabeleceram regimes socialistas nos locais que eles ocuparam, e esses regimes se baseavam inteiramente na forma como a União Soviética se organizava.
Sendo assim, o regime socialista na Checoslováquia tinha um sistema de partido único (o Partido Comunista da Checoslováquia), censura, uma economia planificada etc. Em geral, o sistema político checoslovaco se estruturou nos mesmos moldes da política soviética, tendo uma burocracia semelhante e se inspirando diretamente no modelo stalinista.
O regime socialista na Checoslováquia se estabeleceu muito por influência dos soviéticos, embora tivesse recebido grande apoio da população local quando implantado, na década de 1940. Esse sistema autoritário e burocrático construído com base no stalinismo entrou em forte decadência na década de 1950.
Isso porque a morte de Stalin deu início a uma onda reformista na União Soviética que buscou condenar ou alterar condutas relacionadas ao tempo de stalinismo. Além disso, havia uma forte insatisfação com as interferências soviéticas na política das nações do bloco europeu, e revoltas contra o regime soviético haviam acontecido na Hungria e na Polônia em 1956.
Além disso, a economia da Checoslováquia passava por um momento ruim, além de que havia denúncias de que o governante do país, Antonin Novotný, buscava endurecer o regime. Todo esse cenário gerou uma profunda insatisfação na sociedade checoslovaca, dando início a uma luta por mudanças.
Causas da Primavera de Praga
Dentre as causas da Primavera de Praga, podem ser destacadas:
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esgotamento do modelo político baseado na burocracia do socialismo soviético;
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insatisfação com o autoritarismo do regime checoslovaco;
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crise econômica que afetava a Checoslováquia;
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enfraquecimento da liderança de Antonin Novotný;
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fortalecimento de tendências reformistas que buscavam abrir a Checoslováquia e impor medidas liberalizantes no país.
O que aconteceu em Praga em 1968?
Os historiadores entendem que a Primavera de Praga se iniciou quando Alexander Dubcek assumiu o comando do país. A ascensão de Dubcek foi resultado da disputa política que havia no interior da política checoslovaca. A elite burocrata conservadora, rígida e alinhada com Moscou passou a sofrer com a concorrência de uma ala reformista.
Dubcek era uma figura tradicional do Partido Comunista da Checoslováquia, tendo uma forte ligação com o governo de Moscou. Em 1968, no entanto, foi eleito primeiro-secretário sob a defesa da necessidade de serem promovidas reformas na Checoslováquia. Dubcek defendia que fosse estabelecido um “socialismo com rosto humano”.
O reformismo defendido por Dubcek era fortemente apoiado pelos eslovacos, uma minoria étnica da Checoslováquia que se sentia marginalizada pelo governo de Praga e pelos intelectuais. Essa minoria encarava o regime socialista local com muita desilusão, pois acreditava que as promessas para o país não se cumpriram com os socialistas no poder.
As iniciativas reformistas de Alexander Dubcek foram apoiadas por grande parte da população checoslovaca, tomando as ruas do país. Essa insatisfação popular contra o regime socialista da Checoslováquia ganhou força de maneira considerável quando Dubcek acabou com a censura no país.
Assim, houve diversas críticas da população à situação do país nas artes, as publicações em jornais e revistas se multiplicaram, eventos públicos e debates políticos promovidos por intelectuais ganharam força. Além disso, o ativismo e a mobilização de trabalhadores e o movimento estudantil em defesa do reformismo aumentaram no país.
Um dos símbolos do fortalecimento da causa reformista na Checoslováquia foi o Manifesto das 2000 Palavras, que defendeu reformas na Checoslováquia e fez profundas críticas aos burocratas de Moscou. Esse texto foi publicado em 27 de junho de 1968, na Gazeta Literária (Literárni Listy), sendo de autoria de Ludvík Vaculík.
Leia também: Maio de 1968 — o período de efervescência social que se iniciou a partir de protestos estudantis em Paris
O que a Primavera de Praga visava?
As reformas defendidas por Alexander Dubcek e apoiadas por grande parte da população da Checoslováquia tinham como objetivo promover uma abertura democrática no país, acabar com os resquícios do período stalinista, e garantir maior liberdade para a população. Além disso, a reforma procurava reduzir a influência soviética e introduzir a Checoslováquia no mercado capitalista, ainda que de maneira moderada. Por fim, vale destacar que o reformismo foi parte da luta dos eslovacos por maior protagonismo político na Checoslováquia.
A primeira mudança que Dubcek realizou foi a abolição da censura no país, o que fortaleceu as críticas ao regime Checoslovaco bem como a Primavera de Praga. Além disso, o governo de Dubcek tinha muitas propostas para reformar a Checoslováquia, e, entre as medidas vistas como necessárias para o país, estavam:
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estabelecer uma legislação que implantasse a liberdade de imprensa;
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garantir o direito de assembleia;
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permitir que novos partidos socialistas fossem fundados;
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garantir a autonomia dos sindicatos;
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reconhecer o direito de greve dos trabalhadores;
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estabelecer medidas que garantissem igualdade entre checos e eslovacos;
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liberdade de culto;
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liberdade para o campo das artes;
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liberdade para realização de pesquisas científicas.
As reformas de Dubcek, ainda, garantiam que o país se manteria em total parceria com o governo de Moscou e com o Pacto de Varsóvia (o tratado militar que existia entre as nações do bloco socialista). Na prática, as reformas de Dubcek propunham estabelecer um regime socialista com amplas liberdades, que aproximariam o país dos modelos ocidentais.
Fim da Primavera de Praga
O avanço da agitação social na Checoslováquia fez com que a União Soviética decidisse intervir na situação no país europeu. Os historiadores apontam que o temor de que os protestos na Checoslováquia se espalhassem por outros países do bloco socialista foi um fator determinante para que os soviéticos finalizassem a Primavera de Praga.
Além disso, as reformas defendidas na Primavera de Praga foram apoiadas por outros países do bloco socialista, como a Iugoslávia, Romênia e Hungria. Isso enfureceu o governo de Moscou e aumentou o temor de que os pedidos por reformas se espalhassem. Muitos alegam que a publicação do manifesto também foi crucial para que os soviéticos interviessem na Checoslováquia.
O fator crucial para determinar a intervenção foi a convocação do XIV Congresso Extraordinário do Partido Comunista da Checoslováquia, organizado no contexto da ampliação da agitação social e das demandas populares por reformas. Além disso, a inteligência soviética constatou que o resultado do congresso seria a derrubada de toda a burocracia leal a Moscou e a substituição dela por burocratas reformistas.
A União Soviética, então, percebeu que o movimento na Checoslováquia estava prestes a escapar de seu controle. Assim, na virada de 20 para 21 de agosto, milhares de soldados da União Soviética, Polônia, Hungria e Bulgária foram enviados para a Checoslováquia, tomando Praga (capital do país) e outras cidades importantes.
Estima-se que foram enviados cerca de 500 mil soldados para a Checoslováquia. A intervenção soviética foi impopular e gerou protestos pacíficos, mas conseguiu seus objetivos: Dubcek foi preso e a Primavera de Praga foi esmagada. O engajamento popular se manteve durante meses, e a agitação social só foi contida por meio de repressão do governo checoslovaco, agora nas mãos de Gustav Húsak. A situação na Checoslováquia foi normalizada em 1970.
Leia também: Declínio e colapso da União Soviética
Consequências da Primavera de Praga
Entre as consequências da Primavera de Praga, destacaram-se:
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a repressão soviética contra a população checoslovaca;
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a União Soviética aumentou o controle sobre as nações que formavam o bloco soviético;
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o enfraquecimento gradativo da burocracia soviética;
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o crescimento da insatisfação com o domínio soviético no bloco socialista;
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a reputação internacional da União Soviética foi enfraquecida;
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a Primavera de Praga gerou um enorme impacto cultural na Checoslováquia.
Fontes
GILBERT, Martin. A história do século XX. São Paulo: Planeta, 2016.
HOBSBAWM, Eric. Era dos extremos: o breve século XX 1914-1991. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.
LOGUERCIO, Edgardo. O significado histórico da Primavera de Praga. Disponível em: https://jornal.usp.br/artigos/o-significado-historico-da-primavera-de-praga/