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Na década de 1950, o modelo socialista imperava no leste europeu graças à forte intervenção fomentada pelos representantes soviéticos e locais do stalinismo. Em tese, tal situação definia a instalação de governos interessados em proteger o interesse das classes trabalhadoras de cada um dessas zonas de influência. No entanto, o próprio regime de aspiração popular fora questionado nas ruas de Budapeste, em 1956, durante a famosa Revolução Húngara.
O início desse levante acontece em 28 de junho de 1956, quando os poloneses se mobilizaram reivindicando a realização de eleições livres, melhores condições de vida e a retirada do exército soviético. Os soviéticos, por sua vez, demonstrando a faceta totalitária de seu regime, abriram fogo contra os rebeldes deixando um total de cinquenta mortos e feridos. Ao observar tais acontecimentos, os húngaros, semelhantemente insatisfeitos, viriam a protestar contra domínio socialista no país.
Esgotados com os governos de Enrö Gero e Matias Rakosi e sofrendo com índices econômicos cada vez mais alarmantes, os húngaros colocavam em cheque esse modelo político centrado na influência castradora dos soviéticos. De tal modo, indo contra os pressupostos centralizadores de Lênin e Trotski, a população organizava espontaneamente sua experiência revolucionária ao tomarem as ruas de Budapeste em protesto, na noite de 23 de outubro de 1956.
Já naquele instante, a troca de tiros entre as autoridades oficiais e a população insatisfeita promoveu a instalação de um clima muito delicado. Na Praça dos Heróis, a derrubada da estatua de Stálin demonstrava que a população estava disposta a lutar por uma configuração política mais direta e representativa. No dia seguinte, os tanques T-34 e a força de seis mil soldados russos sitiaram a capital da Hungria. Ao mesmo tempo, jovens húngaros mostravam sua resistência com o uso de bombas caseiras.
Mesmo com a imediata troca de governo, os conflitos se intensificaram e os conselhos de trabalhadores reforçavam seu interesse na adoção de um regime pautado pela força da autogestão. Com o passar dos dias, mais de 500 soldados soviéticos foram executados e vários tanques T-34, destruídos pela resistência popular. Logo em seguida, o coronel Pal Maléter, ministro da Defesa, reforçava a ação popular ao se colocar contra aos interesses oficiais que anteriormente representava.
Observando a dimensão que a revolta tomava, o governo soviético resolveu organizar uma trégua com a retirada das tropas do Exército Vermelho da Hungria. Logo em seguida, uma violenta ação realizou a desarticulação do movimento popular e a imposição de Janos Kadar, traidor do movimento revolucionário, no poder. No dia 4 de novembro de 1956, uma nova força soviética – composta por mais tanques, soldados e aviões – realizou uma grande destruição pelas ruas de Budapeste.
A aniquilação dos populares resultou na promoção de um conflito que se estendeu por três semanas contra uma leva de revoltosos armados de forma precária. Segundo algumas estimativas sobre o episódio, os soviéticos teriam ceifado vinte e cinco mil vidas e realizado a deportação de 15 mil opositores. Mesmo com a derrota, o evento expunha claramente as fissuras e desmandos que rondavam a feição centralizadora do socialismo soviético.
Por Rainer Sousa
Graduado em História