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A Guerra do Afeganistão foi um conflito travado entre a União Soviética e as forças rebeldes afegãs conhecidas como mujahidin. Esse confronto começou em 1979, quando o exército soviético invadiu o Afeganistão, e se prolongou por dez anos. No decorrer desse período, milhares de soldados soviéticos lutaram e morreram no Afeganistão (15 mil ao todo) e foram gastos milhões, gerando um profundo impacto na economia da União Soviética.
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Antecedentes
Durante grande parte do século XX, o Afeganistão foi um importante parceiro da União Soviética, mesmo durante seu período monarquista. Os soviéticos tinham um papel muito significativo na economia afegã, fornecendo ajuda humanitária, além de auxiliar com armamentos, treinamento militar e no desenvolvimento de infraestrutura.
A década de 1970, contudo, abalou a estabilidade da parceria entre afegãos e soviéticos – A começar por um golpe de Estado que derrubou a monarquia afegã em 1973 e levou Mohammed Daoud Khan à presidência do país. No entanto, durante seu governo, as relações com o Partido Democrático do Povo Afegão (PDPA) tornaram-se ruins, o que levou os comunistas do PDPA a organizar um golpe contra o presidente.
Esse golpe ficou conhecido como Revolução de Saur e ocorreu em abril de 1978. Com isso, Daoud Khan foi destituído do poder e executado. Os comunistas atacaram o palácio presidencial, e 18 membros da família do presidente foram assassinados, segundo os historiadores. Assim, Nur Muhammad Taraki tomou o poder no Afeganistão.
Após assumir a presidência, o governo de Taraki iniciou uma série de reformas, de modo a implementar uma agenda comunista no país. Assim, foi iniciada uma reforma agrária, bem como introduzido o ensino laico e permitida a entrada de mulheres nos quadros políticos do Afeganistão.
Essas mudanças repercutiram de maneira muito negativa, sobretudo no interior, dominado por grandes proprietários e grupos conservadores que viam nas medidas em curso uma ameaça ao Islamismo. A insatisfação tornou-se uma rebelião quando esses grupos pegaram em armas e começaram a se rebelar contra o governo.
O comando de Taraki foi abalado por um racha interno no PDPA que levou um dissidente a organizar um golpe (o terceiro só na década de 1970) para derrubá-lo do poder. Com esse novo golpe, Hafizullah Amin transformou-se no presidente do Afeganistão, mas entrou em desgaste com o maior aliado do país: a União Soviética. Veremos a seguir as razões.
Ocupação do Afeganistão
A gestão de Amin gerou a insatisfação na União Soviética por dois motivos: 1º) o governo soviético começou a desconfiar da possibilidade de aproximação dos afegãos com os Estados Unidos; 2º) os soviéticos estavam irritados com a incapacidade de Amin de controlar os mujahidin, que atuavam no interior.
Assim, em dezembro de 1979, os soviéticos iniciaram a invasão do Afeganistão para destituir Amin do poder e colocar um presidente que tivesse a sua confiança. Até o começo daquele ano, as lideranças soviéticas demonstravam não estar interessadas nessa invasão, por causa do grande desgaste que isso geraria.
Tal ocupação foi organizada inicialmente com 8.500 homens invadindo o país. O ataque resultou na morte de Amin – e, assim, Babrak Karmal assumiu o poder. A ocupação do Afeganistão fez com que os mujahidin convocassem uma jihad (guerra santa) contra os soviéticos, dando início a uma luta que se estendeu por dez anos.
Os mujahidin, que atuavam no interior do Afeganistão, operavam com táticas de guerrilha. Os que lutavam no norte do país aproveitavam a geografia da região e se escondiam em meio à cadeia montanhosa. Durante os anos da Guerra do Afeganistão, esses grupos também contaram com o apoio dos Estados Unidos no fornecimento de armas e treinamento militar.
Existe uma divergência entre os historiadores a respeito das verdadeiras intenções da participação americana nesse conflito e apoio aos mujahidin. Parte dos estudiosos defende a ideia de que os americanos apoiavam os rebeldes afegãos para forçar a retirada imediata dos soviéticos. Já outros afirmam que a estratégia era apoiar os rebeldes para garantir a continuidade da guerra e aumentar o desgaste sobre a economia soviética.
De toda forma, é do conhecimento dos historiadores que existia um grupo interno na CIA que impunha dificuldades e barreiras aos soviéticos, quando foram iniciadas negociações pela retirada das tropas. Esse grupo ficou conhecido como bleeders e ampliava esforços no sentido de barrar as negociações diplomáticas, exatamente para garantir o prolongamento do conflito. O interesse americano em desgastar a economia soviética fazia parte da estratégia do país por conta da Guerra Fria.
Os soviéticos começaram a organizar esforços para retirar suas tropas do Afeganistão a partir da virada de 1985 para 1986. Isso aconteceu porque a guerra era extremamente impopular na União Soviética e, além disso, o impacto dela sobre a economia nacional era muito grande. As negociações foram realizadas durante o governo de Mikhail Gorbachev, que anunciou em 1988 a retirada total das tropas.
As últimas unidades do exército soviético retiraram-se do território afegão no dia 15 de fevereiro de 1989. Os soviéticos, no entanto, seguiram com o apoio financeiro até janeiro de 1992, com o intuito de que o governo do Afeganistão não fosse derrubado pelos rebeldes.
Com a saída das tropas soviéticas, o combate contra os rebeldes foi entregue à responsabilidade do governo afegão, liderado por Mohammad Najibullah. Esse governo se sustentou enquanto recebia o auxílio econômico da União Soviética, mas, uma vez cessado o apoio, não foi capaz de conter a força dos mujahidin. Ainda em 1992, Najibullah foi destituído do poder.
Para a União Soviética, a guerra foi um grande fracasso, pois, além de não conseguir derrotar os mujahidin, o impacto sobre sua economia foi gigantesco. Estima-se que os soviéticos gastaram aproximadamente 2,6 bilhões de dólares ao longo dos dez anos da Guerra do Afeganistão. Os altos gastos com o conflito estão diretamente relacionados à forte crise que atingiu a economia soviética no final da década de 1980.
No caso do Afeganistão, a instabilidade e destruição causadas por anos de guerra levaram à morte mais de um milhão de cidadãos. Além disso, o apoio financeiro e militar americano para os rebeldes fundamentalistas do país teve uma consequência futura grave. Dos islamistas afegãos surgiram dois dos maiores grupos fundamentalistas islâmicos da atualidade: a Al-Qaeda e o Talibã.
*Créditos da imagem: Andrii Zhezhera e Shutterstock
Por Daniel Neves
Graduado em História