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O Cisma do Oriente ou Grande Cisma foi o conjunto de desentendimentos que aconteceram entre as igrejas sediadas em Roma e Constantinopla, entre 1053 e 1054. Essas divergências resultaram na excomunhão dos dois lados e são consideradas pelos historiadores como o evento que deu origem à ruptura entre Igreja Católica e Igreja Ortodoxa.
Os historiadores entendem que a separação foi a conclusão de um processo que se estendeu durante séculos e que teve origem nas diferenças culturais durante o desenvolvimento das igrejas de Roma e Constantinopla.
Tópicos deste artigo
- 1 - Resumo sobre Cisma do Oriente
- 2 - O que foi o Cisma do Oriente?
- 3 - Causas do Cisma do Oriente
- 4 - Como ocorreu o Cisma do Oriente?
- 5 - Consequências do Cisma do Oriente
Resumo sobre Cisma do Oriente
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O Cisma do Oriente foi o evento que oficializou a separação entre as igrejas de Roma e Constantinopla.
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Esse evento se passou em 1054, quando as autoridades religiosas dos dois lados se excomungaram.
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Com o Cisma do Oriente, passou a existir a Igreja Católica e a Igreja Ortodoxa.
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O Cisma do Oriente tem raízes nas diferenças culturais, nos diferentes interesses políticos e nas diferenças de doutrina entre as duas igrejas.
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As diferenças foram resultados das diferentes origens das duas igrejas, com a católica sendo latina e germânica e a ortodoxa sendo grega e oriental.
O que foi o Cisma do Oriente?
O Cisma do Oriente, também conhecido como Grande Cisma, foi o rompimento no interior da Igreja Cristã europeia, em 1054. Essa ruptura aconteceu quando os líderes das igrejas sediadas em Roma e Constantinopla se desentenderam e excomungaram um ao outro. Isso deu origem a duas novas instituições: a Igreja Católica Apostólica Romana e a Igreja Católica Apostólica Ortodoxa.
Causas do Cisma do Oriente
O rompimento nas relações entre as igrejas de Roma e Constantinopla teve raízes profundas e que se desenvolveram ao longo de séculos, com origem ainda nos tempos do Império Romano. As razões que explicam a ruptura entre as igrejas ocidental e oriental foram culturais, políticas e doutrinárias.
Primeiramente, é importante pontuar que as duas igrejas se desenvolveram ao longo dos séculos com diferentes tradições culturais. O cristianismo se consolidou na Europa a partir do Édito de Tessalônica, que o transformou na religião oficial do Império Romano. Antes disso, ele havia consolidado cinco importantes sedes entre os cristãos: Roma, Constantinopla, Antioquia, Jerusalém e Alexandria.
Com a divisão do Império Romano, o cristianismo foi sediado em Roma e Constantinopla, e quando o Império Romano do Ocidente se desagregou, as igrejas sediadas nesses locais se desenvolveram com base em influências culturais distintas. Enquanto a Igreja Romana se desenvolveu por influência latina e germânica, a Igreja de Constantinopla manteve-se baseada na tradição helenística (grega e oriental).
Essas diferenças culturais resultaram em divergências de doutrina entre as duas instituições e se estendiam de questões simples e até questões cruciais das doutrinas religiosas de cada lado. Uma dessas diferenças se dava sobre a questão do celibato dos sacerdotes, exigido na Igreja Romana, mas não na de Constantinopla.
A Igreja Ortodoxa não concordava com as ideias de infalibilidade do papa, de Trindade e de pecado original, parte da doutrina da Igreja Católica. Outros discordâncias doutrinárias entre os dois lados eram:
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Monofisismo: os ortodoxos acreditam que Jesus tem uma natureza única: a divina. Essa doutrina diverge da Igreja Católica, que defende a natureza humana e divina de Jesus.
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Iconoclastia: os ortodoxos defendem que as imagens devem ser veneradas, mas não adoradas, como acontece na Igreja Católica. Muitos bizantinos defendiam que as imagens de santos deveriam ser destruídas.
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Cesaropapismo: a Igreja Ortodoxa defende a ideia de que a instituição deve se sujeitar ao Estado. Sendo assim, o imperador bizantino, autoridade máxima no Império Bizantino, tinha o comando da igreja. Isso desagradava à Igreja Romana, que não desejava estar sujeita ao Estado.
Essas diferenças de ordem doutrinária contribuíram para afastar profundamente as duas igrejas e os seus fiéis.
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Como ocorreu o Cisma do Oriente?
Muitos historiadores consideram que o evento que resultou no Cisma do Oriente foi um desentendimento travado pelos representantes das igrejas Católica e Ortodoxa em 1053 e 1054. Em 1053, uma ordem foi emitida para que as igrejas gregas (ortodoxas) do sul da Itália passassem a seguir o rito latino (católico).
Esse ato foi seguido por uma retaliação de Miguel Cerulário, patriarca da igreja de Constantinopla. Ele determinou o fechamento de todas as igrejas latinas nos territórios bizantinos e o ato gerou uma grande insatisfação nas autoridades católicas. O papa Leão IX enviou um legado papal para Constantinopla para resolver a situação.
O legado papal foi para Constantinopla para negociar diversos termos com as autoridades bizantinas. O papa Leão IX quis o apoio bizantino na luta contra os normandos no sul da Península Itálica e um compromisso da Igreja Ortodoxa em silenciar Leão de Ocrida, líder religioso ortodoxo que criticava os católicos por usarem pão ázimo na Eucaristia.
Houve também um desentendimento entre o papa Leão X e Miguel Cerulário a respeito da autoridade máxima da Igreja Cristã no mundo. Leão X advertiu as autoridades religiosas ortodoxas de que a Igreja de Roma tinha a primazia sobre o cristianismo. O patriarca Miguel Cerulário recusou-se a reconhecer tal preceito.
Em resposta a isso, o legado papal, Humbert de Moyenmoutier, anunciou a excomunhão de Miguel Cerulário em 1054. O ato do legado papal, no entanto, é entendido pelos historiadores como inválido, uma vez que sua autoridade havia sido finalizada com o falecimento de Leão IX. De toda forma, Miguel Cerulário, o patriarca, anunciou a excomunhão do papa.
Os historiadores consideram esse acontecimento o momento em que se consolidou o cisma e a separação entre as duas igrejas. Entretanto, muitos historiadores entendem que o evento não teve grande significância nas relações entre essas instituições.
No entendimento desses pesquisadores, não existiu um marco que separou as duas igrejas, pois consideram que esse afastamento foi progressivo e contínuo ao longo do tempo. Isso porque outros acontecimentos após o cisma contribuíram para aumentar o afastamento entre católicos e ortodoxos.
Consequências do Cisma do Oriente
Os historiadores entendem que o Cisma do Oriente contribuiu para aumentar o afastamento entre a Igreja Católica e a Igreja Ortodoxa. O entendimento é que o evento, além de ter confirmado essa separação, tornou quase impossível a reconciliação entre os dois lados da cristandade. Outros eventos históricos reafirmaram essa inimizade entre católicos e ortodoxos, como:
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Massacre dos Latinos (1182);
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Saque de Tessalônica (1185);
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Saque de Constantinopla durante a Quarta Cruzada (1204).
Tentativas de reconciliação foram realizadas, mas infrutíferas. As excomunhões só foram retiradas em 1966, e em 2016 houve um encontro do papa Francisco com Cirilo I.
Créditos da imagem
[1]YuG e Shutterstock
Fontes
NATIONAL GEOGRAPHIC SOCIETY. Jul 16, 1054 CE: Great Schism. Disponível em: https://education.nationalgeographic.org/resource/great-schism/
GOFF, Jacques Le; SCHIMIT, Jean-Claude. Dicionário analítico do Ocidente medieval. vol. 1, trad. Hilário Franco Júnior. São Paulo: Editora Unesp, 2017.
MONTFORT ASSOCIAÇÃO CULTURAL. Cisma do Oriente. Disponível em: https://www.montfort.org.br/bra/veritas/historia/melo_cisma_do_oriente/
KHOMIAKOV, Alexis. A Santa Igreja Ortodoxa. Disponível em: http://www.ecclesia.com.br/biblioteca/igreja_ortodoxa/a_igreja_ortodoxa_historia7.html