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O cerco a Leningrado foi um dos episódios ocorridos com a invasão nazista na União Soviética, durante a Segunda Guerra Mundial. Leningrado era uma das maiores e mais importantes cidades soviéticas e foi cercada totalmente pelas tropas alemãs por quase 900 dias, fato que levou milhares de habitantes a morrer de fome. O cerco foi encerrado em janeiro de 1944.
Pacto germano-soviético e Operação Barbarossa
Durante as décadas de 1920 e 1930, Hitler manifestava o seu ódio contra o comunismo bolchevista da União Soviética. Além disso, esse líder nazista defendia a expansão territorial da Alemanha para o leste para formar o conhecido “espaço vital” (lebensraum), no qual os arianos fundariam o novo império alemão.
À medida que as tensões na Europa aumentavam ao final da década de 1930, a expectativa de que acontecesse um combate armado entre Alemanha e União Soviética crescia. Entretanto, para a surpresa mundial, poucos dias antes do início da guerra, Alemanha e União Soviética assinaram o Pacto germano-soviético, em que ambas as nações comprometiam-se a manter a paz caso se iniciasse uma guerra na Europa.
O acordo, porém, era visto pelas duas partes como uma estratégia temporária, e isso ficou evidenciado em 22 de junho de 1941, quando os alemães iniciaram a Operação Barbarossa. Essa operação mobilizou cerca de 3,6 milhões de soldados com o objetivo de conquistar a União Soviética.
Cerco a Leningrado
O primeiro momento da invasão nazista na União Soviética foi um reflexo do que até então acontecia na Segunda Guerra Mundial: vitórias avassaladoras dos exércitos alemães. Uma das razões deve-se, principalmente, à utilização da tática blitzkrieg, que consistia em ataques coordenados entre infantaria, blindados e aviação com o objetivo de quebrar as linhas adversárias. Além disso, deve ser levado em consideração o despreparo das tropas soviéticas na fase inicial do conflito.
O avanço alemão na União Soviética tinha três focos:
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A capital soviética, Moscou;
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Stalingrado e o controle das reservas naturais do Cáucaso;
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Controle das indústrias de Leningrado.
O cerco a Leningrado foi parte de um projeto nazista implantado em parte da guerra e buscava o extermínio pela fome das populações dominadas, conforme registra Max Hastings, em seu livro “O mundo em guerra 1939-1945”:
O professor Ernst Ziegelmeyer, do Instituto de Nutrição de Munique – um dos muitos cientistas que deram conselhos diabólicos aos nazistas –, foi consultado sobre os aspectos práticos [de impor a fome sobre Leningrado]. Ele concordou que não havia necessidade de uma batalha; seria impossível que os russos fornecessem aos seus cidadãos sitiados mais de 250 gramas de pão por dia, ração insuficiente para sustentar a vida humana por tempo prolongado|1|.
Percebe-se por esse relato que, desde o início, o cerco a Leningrado tinha como objetivo matar a população local pela fome. A cidade foi totalmente cercada pelos nazistas em 8 de setembro de 1941 e, logo nos primeiros bombardeios, os alemães destruíram os armazéns de alimento. Os relatos que se seguiram retratam o desespero da população para obter alimentos para sobreviver:
Para um número incalculável de cidadãos, a morte por inanição parecia inescapável: passou-se a ferver papel de parede para extrair sua cola e a cozinhar e mastigar o couro. Conforme o escorbuto se tornava endêmico, produzia-se um extrato de pinho a partir de agulhas de pinheiro para se obter vitamina C […]. Pombos desapareceram das praças, caçados como alimento, assim como corvos e gaivotas; depois ratazanas e animais de estimação|2|.
O frio típico da União Soviética foi outro elemento que tornou a experiência de Leningrado uma das mais chocantes da guerra. Apesar da dureza do cerco imposto, a cidade não caiu. Ao longo dos 900 dias, as tentativas alemãs de entrar nesse território foram rechaçadas e, em janeiro de 1944, as tropas soviéticas conseguiram abrir o cerco. O saldo da ação alemã, entretanto, foi de destruição e morte. Estima-se que cerca de 1,5 milhão de pessoas tenham morrido durante o cerco a Leningrado entre civis e militares.
|1| HASTINGS, Max. O mundo em guerra 1939-1945. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2012, p. 183-184.
|2| Idem, p.185.
Por Daniel Neves
Graduado em História