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O cerco de Budapeste iniciou-se na virada de 1944 para 1945 e foi um dos capítulos da marcha do Exército Vermelho em direção à vitória sobre a Alemanha Nazista. A batalha pela capital da Hungria aconteceu paralelamente a outros cenários da Segunda Guerra, como a Batalha das Ardenas e a ofensiva soviética na Polônia, no entanto, essa batalha evidenciou a brutalidade dos combates da guerra ao arrasar completamente Budapeste. Além disso, esse episódio é considerado um prelúdio de toda a destruição que caiu sobre Berlim meses depois.
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Contexto: a guerra em 1945
O cerco a Budapeste aconteceu no momento em que o exército alemão sofria as maiores perdas. O historiador Max Hastings afirma que, nos primeiros meses de 1945, o exército alemão sofreu cerca de 1,2 milhão de mortes, além de aproximadamente 250 mil civis mortos no conflito contra as tropas Aliadas (Reino Unido, EUA e URSS)|1|.
Adolf Hitler e a cúpula nazista instigavam os soldados e a população alemã a resistirem até a última gota de sangue contra o avanço dos aliados, principalmente dos soviéticos. No entanto, apesar de demonstrações ocasionais de bravura, muitos sabiam que a guerra estava perdida. Max Hastings afirma ainda que os sacrifícios realizados pelos alemães em 1945 “não tinha[m] propósito algum senão satisfazer o compromisso de autoimolação assumido pelos líderes nazistas”|2|.
Desde o final de 1942, os exércitos alemães sofriam derrotas sucessivas e, no começo do cerco a Budapeste, os alemães viram o exército soviético avançar sobre a Polônia, Hungria e Bálcãs (na verdade, no início de 1945, parte considerável dos Bálcãs já havia sido libertada pelo Exército Vermelho).
Para ter-se uma dimensão da quantidade de soldados mobilizados pelo Exército Vermelho, o historiador Antony Beevor diz que “do Báltico [norte da Europa] ao Adriático [sul da Europa], o Exército Vermelho mobilizou 6,7 milhões de homens”|3|. Desse volume gigantesco de soldados, cerca de 500 mil foram mobilizados para conquistar a cidade de Budapeste.
Cerco à cidade de Budapeste
Pouco antes do cerco a Budapeste consolidar-se, Hitler havia sido advertido pelo chefe maior do Exército, Heinz Guderian, de que uma grande ofensiva soviética aconteceria sobre todo o leste. Hitler foi taxativo a respeito da resistência na Hungria e, em Budapeste, proferiu ordens proibindo qualquer tipo de retirada. Isso porque esse país possuía o último campo de petróleo controlado pelos nazistas, decorrendo daí sua importância.
A população da cidade de Budapeste estava aparentemente alheia ao perigo iminente que se aproximava e mantinha grande agitação na cidade até pouco antes de o cerco ser iniciado. O cerco soviético contra a cidade de Budapeste oficialmente começou em 26 de dezembro de 1944. A resistência nazista resumia-se à cerca de 50 mil soldados alemães e 45 mil soldados húngaros. Os soldados húngaros eram as tropas da milícia fascista Cruz Flechada, que controlava a Hungria e era aliada dos alemães.
O ataque soviético contra Budapeste foi iniciado com uma pesada carga de bombardeios (uma característica recorrente no final da guerra). O historiador Hastings afirma que cerca de mil canhões soviéticos atacavam Budapeste durante dez horas, todos os dias, em ataques alternados com o uso da aviação|4|.
No início desse ataque, milhares de civis tentaram fugir da cidade, porém, já era tarde. O que restou aos cidadãos de Budapeste foi amontoarem-se nos porões para protegerem-se dos bombardeios. O ataque soviético também precipitou uma grande fome sobre a cidade por causa da falta de alimentos e água. Além disso, em geral, os suprimentos enviados de paraquedas pelos alemães caíam em locais errados.
À medida que os combates aconteciam, as milícias do Cruz Flechada organizaram-se e realizaram grandes pogroms contra a população judia que ainda morava em Budapeste (cerca de 50 mil judeus viviam em Budapeste). Pogrom é uma expressão utilizada para definir um ataque violento e localizado contra determinado grupo étnico e religioso. As milícias organizavam-se e espancavam as vítimas até ficarem inconscientes e, em seguida, executavam-nas.
Carnificina soviética
Após dias de ofensivas, os soviéticos iniciaram um ataque contra a margem oeste de Budapeste (a cidade é dividida pelo rio Danúbio). A ofensiva final, iniciada em 17 de janeiro de 1945, conquistou a cidade oficialmente em 11 de fevereiro de 1945, quando tropas húngaras renderam tropas alemãs e obrigaram-nas a render-se.
Pouco antes disso, milhares de soldados alemães tentaram fugir de Budapeste. No entanto, essa tentativa de fuga havia sido prevista pelos oficiais soviéticos, e grande parte dos que fugiam foi morta em ações de franco-atiradores e bombardeios. Hastings estima que somente 700 dos quase 45 mil soldados alemães conseguiram fugir e sobreviver|5|. O restante foi morto ou aprisionado pelos soviéticos.
Assim que Budapeste foi conquistada, o exército soviético iniciou um grande saque à cidade. Milhares de cidadãos tiveram seus bens roubados e milhares de mulheres foram estupradas (essas cenas repetiram-se em outros locais conquistados pelos soviéticos). A violência disseminada pelos soldados da URSS, após a conquista de Budapeste, levou membros do Partido Comunista Húngaro a reclamarem formalmente a Moscou.
Apesar das reclamações, Stalin via no saque e no estupro um espólio de guerra merecido para compensar o esforço dos soldados. O historiador Antony Beevor estima que cerca de 10% das mulheres de Budapeste foram estupradas e ressalta que há estimativas (as quais ele considera exageradas) que afirmam que 70% das mulheres dessa cidade húngara foram estupradas|6|.
O saldo da destruição foi gigantesco. Os relatos afirmam que incêndios arderam durante dias em diferentes partes de Budapeste. Além disso, milhares de corpos humanos e de cavalos ficaram espalhados pela cidade. A respeito da quantidade de mortos, Hastings afirma:
A captura de Budapeste custou aos russos cerca de oitenta mil mortos e 250 mil feridos. Trinta e oito mil civis morreram no cerco; dezenas de milhares foram deportados à União Soviética para realizar trabalhos forçados, muitos dos quais jamais voltaram. As forças alemãs e húngaras perderam cerca de quarenta mil homens, enquanto 63 mil foram aprisionados|7|.
|1| HASTINGS, Max. Inferno: o mundo em guerra 1939-1945. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2012, p. 619.
|2| Idem, p. 619.
|3| BEEVOR, Antony. A Segunda Guerra Mundial. Rio de Janeiro: Record, 2015, p. 749.
|4| HASTINGS, Max. Inferno: o mundo em guerra 1939-1945. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2012, p. 622.
|5| Idem, p. 626.
|6| BEEVOR, Antony. A Segunda Guerra Mundial. Rio de Janeiro: Record, 2015, p. 756.
|7| HASTINGS, Max. Inferno: o mundo em guerra 1939-1945. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2012, p. 627.
*Créditos da imagem: Milleflore Images e Shutterstock
Por Daniel Neves
Graduado em História