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Luís Gama foi uma importante personalidade negra do Brasil na segunda metade do século XIX. Foi jornalista e rábula (advogado sem formação) de destaque e usou suas posições para denunciar e combater o racismo, além de ter sido adepto do movimento abolicionista, ajudando a libertar mais de 500 negros escravizados ao longo de sua vida.
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Tópicos deste artigo
- 1 - Nascimento
- 2 - Luís Gama como escravizado
- 3 - Vida profissional
- 4 - Defensor do abolicionismo
- 5 - Morte
- 6 - Resumo
Nascimento
Luís Gonzaga Pinto da Gama nasceu na cidade de Salvador, em 21 de junho de 1830. Sabemos muito pouco da sua infância, e algumas das informações, segundo a maioria dos historiadores, podem ter sido mitificadas pelo próprio. Quanto a sua origem, sabemos que era filho de um homem branco e uma mulher negra.
Seu pai, do qual não sabemos o nome até hoje, era um fidalgo bastante rico que pertencia a uma das famílias mais tradicionais de Salvador. A mãe de Luís Gama supostamente era Luísa Mahin, uma mulher negra originária da Costa da Mina e que sobrevivia como quitandeira. Ela teria sido bastante envolvida com a Revolta dos Malês e com a Sabinada.
Luísa Mahin teria fugido para o Rio de Janeiro por conta da repressão instalada na Bahia depois da Sabinada. No Rio de Janeiro, ela teria desaparecido, e Luís Gama relatou que descobriu posteriormente que ela teria sido expulsa do Brasil por praticar rituais religiosos africanos. Luís Gama, então, foi criado pelo pai, que decidiu vendê-lo como escravo quando ele tinha 10 anos.
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Luís Gama como escravizado
Sua venda como escravo pelo próprio pai teria acontecido porque este tinha dívidas de jogo e precisava quitá-las. A escravização de Luís Gama era ilegal, mas, ainda assim, ele foi vendido e transportado de barco para o Rio de Janeiro. Na capital, ele teria trabalhado em uma loja de velas.
Depois ele foi revendido para um alferes, que o levou para o interior de São Paulo, até que, finalmente, ele foi revendido mais uma vez, indo morar em São Paulo e trabalhar em ofícios domésticos. Durante o seu cativeiro, ele aprendeu a ler por influência de um hóspede de seu “dono”. Depois disso, decidiu fugir e ir atrás das provas de sua liberdade.
Luís Gama conseguiu provar a sua liberdade, embora não saibamos como ele tenha feito isso. A partir daí, ele seguiu sua carreira profissional e foi um dos maiores intelectuais do Brasil na segunda metade do século XIX.
Lília Schwarcz, Flávio Gomes e Jaime Lauriano afirmam que a alfabetização de Luís Gama, além de uma influência daquele hóspede sobre ele, pode ter sido também resultado do contato que ele manteve com a leitura do Alcorão com os africanos muçulmanos em Salvador. Isso pode ter criado seu forte vínculo com a leitura|1|.
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Vida profissional
Depois de reconquistar sua liberdade, Luís Gama aderiu à Força Pública de São Paulo e alistou-se como praça. Isso aconteceu em 1848, e ele permaneceu na corporação até o ano de 1854, quando um ato de insubordinação forçou sua prisão e expulsão. Nesse período ele exerceu função de copista e chegou a trabalhar num gabinete de delegacia.
Em 1856 ele se tornou funcionário público, indo trabalhar na Secretária de Polícia, e tornou-se uma figura influente e bem relacionada. Seu trabalho com a escrita na polícia demonstrava a habilidade que ele tinha para esse ofício, e assim ele começou a produzir alguns textos, com seu único livro, Primeiras trovas burlescas de Getulino, publicado em 1859.
A partir da década de 1860, Luís Gama iniciou carreira como jornalista e tornou-se um dos grandes jornalistas da cidade de São Paulo. Ele trabalhou em vários jornais, como Diabo Coxo, Cabrião, Radical Paulistano, Correio Paulista e Polichinello. Publicou artigos e atuou também como tipógrafo.
Luís Gama era um defensor da república e um abolicionista radical, e usava de sua posição como jornalista para defender as causas em que acreditava. Atribui-se a ele a introdução do jornal satírico em São Paulo, e ele assinava muitos de seus artigos com pseudônimos. Entre as posições políticas de Gama, destacou-se o fato que ele se envolveu com a formação do Partido Republicano Paulista.
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Defensor do abolicionismo
Luís Gama foi um dos maiores abolicionistas do Brasil na segunda metade do século XIX e usou de suas posições e de sua influência para defender o fim da escravidão e auxiliar negros escravizados. Ele manifestava sua oposição à escravidão em seus artigos jornalísticos, participou de associações abolicionistas, e foi uma figura engajada.
A principal forma de atuação de Luís Gama se deu por meio de sua atuação como rábula, isto é, como advogado sem formação acadêmica. Ele chegou a frequentar aulas do curso de Direito, mas nunca se formou. Acredita-se que essas aulas mais o trabalho na delegacia tenham lhe dado o conhecimento necessário para que pudesse atuar.
Ele anunciava os seus serviços nos jornais de São Paulo, incluindo nos que ele escrevia, e teve muito sucesso na defesa de negros escravizados. Na Justiça, Luís Gama foi bem-sucedido em garantir a liberdade dessas pessoas ao demonstrar que a escravização delas era ilegal à luz de uma lei de 1831 que proibia o tráfico negreiro.
A Lei do Ventre Livre, aprovada em 1871, também reforçou a atuação de Gama, permitindo que ele conquistasse a liberdade de mais de 500 pessoas, segundo ele mesmo afirmou. Lília Schwarcz, Flávio Gomes e Jaime Lauriano afirmam que a atuação dele contra a escravidão rendeu-lhe inúmeros inimigos e uma série de ameaças de defensores dessa instituição|2|.
Morte
Luís Gama morreu relativamente novo, com apenas 52 anos, em 24 de agosto de 1882, por complicações causadas pela diabetes. Sua morte causou uma grande comoção, e fala-se que seu o funeral atraiu quatro mil pessoas, o que correspondia a uma considerável fatia da população de São Paulo, que, na época, tinha 40 mil habitantes.
Sobre a vida pessoal de Luís Gama, sabe-se muito pouco. O que se sabe é que ele se casou com uma mulher negra chamada Claudina Fortunato Sampaio e que, desse casamento, um filho chamado Benedito nasceu.
Resumo
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Luís Gama nasceu livre, em 1830, mas foi vendido pelo próprio pai como escravo.
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Reconquistou sua liberdade aos 17 anos, e iniciou carreira profissional como militar.
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Foi um jornalista e um rábula de grande sucesso em São Paulo.
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Foi um defensor da república e um abolicionista radical, tornando-se um dos grandes defensores da causa no Brasil.
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Faleceu, em 1882, por conta de complicações causadas pela diabetes.
|1| GOMES, Flávio dos Santos, LAURIANO, Jaime e SCHWARCZ, Lilia Moritz. Enciclopédia negra. São Paulo: Companhia das Letras, 2021. p. 340.
|2| Idem, p. 342.
Créditos da imagem
[1] Commons
Por Daniel Neves Silva
Professor de História