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Três homens negros estavam entre as principais personagens históricas atuantes no abolicionismo brasileiro. Eram eles: Luiz Gama, José do Patrocínio e André Rebouças.
Entre todas as nações do continente americano, o Brasil foi a última a dar fim ao regime escravista. Sabemos que isso aconteceu em 13 de maio de 1888, quando a Princesa Isabel, exercendo as funções de chefe de Estado no lugar de D. Pedro II (que estava fora do país), sancionou a Lei Imperial n. 3.353, conhecida como Lei Áurea. Sabemos também que a abolição, advinda com a Lei Áurea, foi fruto de uma constante luta travada por grupos abolicionistas de diversos matizes. Esses grupos tornaram-se muito ativos ao longo da segunda metade do século XIX e eram integrados por jornalistas, políticos, nobres (como a própria Princesa Isabel), advogados etc.
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Luiz Gama (1830-1882)
O baiano Luiz Gonzaga Pinto da Gama, nascido em 1830, era filho de pai branco, português, e de uma negra livre. Portanto, Gama nasceu livre. Sua mãe, Luiza Mahin, participou da célebre Revolta dos Malês, em Salvador, no ano de 1835. Luíza teve que fugir da Bahia, deixando o filho com o pai. O pai, por sua vez, teria, segundo alguns estudiosos da biografia de Gama, vendido o próprio filho como escravo aos 10 anos de idade – mesmo ele sendo livre.
Luiz Gama destacou-se no jornalismo e na advocacia
Luiz Gama permaneceu como escravo até os 17 anos de idade, quando conseguiu fugir dos domínios de seu senhor, tendo também conseguido um tempo depois comprovar que havia nascido livre. Em liberdade novamente, Gama alfabetizou-se e começou a estudar como autodidata, tornando-se jornalista e advogado. Foi justamente por meio do jornalismo e da advocacia que ele exerceu sua luta contra a escravidão.
Na década de 1860, Gama, que vivia na cidade de São Paulo, conheceu personalidades como o caricaturista Angelo Agostini e os diplomatas Ruy Barbosa e Joaquim Nabuco, frequentadores, à época, da Loja Maçônica América. Foi por meio dos membros dessa Loja que os ideais abolicionistas e republicanos ganharam volume no pensamento de Luiz Gama.
Como jornalista, Gama atuou em periódicos como O Diabo Coxo, nos quais defendia, de forma satírica, o fim da escravidão e criticava ferrenhamente a aristocracia rural do Império. Como advogado, defendeu, geralmente de graça, inúmeros escravos e negros libertos. Chegou a conseguir a alforria para mais de 500 negros cativos do Brasil. Contudo, Gama morreu em 1882, ante de ver a abolição concretizada.
José do Patrocínio (1853-1905)
O fluminense José Carlos do Patrocínio, nascido em Campos de Goytacazes, em 1853, era filho de um vigário com uma escrava (serva desse último) chamada Mina. Sua infância e adolescência foram exatamente o contrário do que viveu Luiz Gama. Patrocínio nasceu como escravo, mas foi criado como liberto. Seu pai, mesmo não tendo o assumido formalmente como filho, deu a ele a proteção necessária para que conseguisse instruir-se (educar-se formalmente) e iniciar-se no mundo do trabalho, começando por funções modestas.
Patrocínio ficou conhecido por sua defesa tanto do abolicionismo quanto do republicanismo
Migrando de Campos de Goytacazes para a cidade do Rio de Janeiro, Patrocínio conseguiu ingressar no curso de Farmácia, então ligado à Faculdade de Medicina da capital do Império. Foi nesse período da faculdade que entrou em contato com o chamado Clube Republicano, o qual também reunia jovens com ideias republicanas. Patrocínio não demorou muito para se articular com personalidades como Lopes Trovão, Quintino Bocaiuva e Pardal Mallet.
No ano de 1875, José do Patrocínio ficou conhecido por comandar, com Dermeval da Fonseca, o jornal satírico Os Ferrões, que, a exemplo de O Diabo Coxo, de Luiz Gama, também estava carregado de críticas e ironias contra a sociedade escravocrata. Foi por meio do jornalismo que Patrocínio conseguiu propagar suas opiniões tanto sobre escravidão quanto sobre o regime republicano. Em 1880, fundou, com outros abolicionistas de peso, como Joaquim Nabuco, a Sociedade Brasileira Contra a Escravidão.
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André Rebouças (1838-1898)
Assim com Luiz Gama, André Rebouças também era baiano e nasceu livre, no ano de 1838. Era filho de Antônio Pereira Rebouças, negro, filho de escrava alforriada e um alfaiate português, chegando a ser um destacado advogado e político do Império. André, por sua vez, recebeu uma grande formação intelectual e técnica. Era engenheiro e notabilizou-se nessa função por ter empreendido as seguintes obras: 1) resolução do problema do abastecimento de água no Rio de Janeiro; 2) desenvolvimento de um modelo de torpedo usado na Guerra do Paraguai; 3) construção de uma ferrovia que ligava o estado do Paraná ao Mato Grosso do Sul.
André Rebouças era engenheiro e possuía uma cultura vastíssima
André Rebouças também possuía uma cultura cosmopolita por ter conhecido de perto alguns países da Europa e do continente americano. Foi amigo do músico Carlos Gomes, autor da ópera romântica O Guarani, a quem forneceu ajuda financeira mais de uma vez. Foi também membro da Sociedade Brasileira Contra a Escravidão e de outros órgãos, como a Sociedade Abolicionista e a Sociedade Central de Imigração.
Além das críticas ao regime escravista, Rebouças preocupava-se com o destino que teriam os negros após a abolição, quando esta ocorresse. Era necessário um planejamento para a inserção dos libertos na economia e sociedade brasileira. Além disso, tal inserção deveria levar em conta a migração massiva de europeus para o Brasil na segunda metade do século XIX.
Por Me. Cláudio Fernandes