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O governo de Floriano Peixoto foi o segundo governo do Brasil durante o período republicano, estendendo-se de 1891 a 1894, logo depois da renúncia de Deodoro da Fonseca da presidência. Os anos de governo de Floriano Peixoto ficaram marcados pelos acontecimentos relacionados à Revolta da Armada e à Revolução Federalista.
A repressão a esses dois movimentos de rebelião contra o governo deu para Floriano a alcunha de “marechal de ferro”. Além disso, o nome do presidente foi utilizado para homenagear a atual cidade de Florianópolis. O fim de seu governo deu-se com a transmissão do poder para Prudente de Morais, o primeiro presidente civil da história do Brasil.
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Tópicos deste artigo
- 1 - Contexto histórico do governo de Floriano Peixoto
- 2 - Política brasileira
- 3 - Revolta da Armada
- 4 - Revolução Federalista
- 5 - Fim do governo Floriano Peixoto
Contexto histórico do governo de Floriano Peixoto
O governo de Floriano Peixoto faz parte da Primeira República, aquele período da nossa história que se estendeu de 1889 até 1930. Entretanto, existe uma subdivisão criada pelos historiadores que inclui o governo de Floriano em uma fase chamada de República da Espada, que englobou os dois primeiros governos republicanos de nossa história, unindo-os pelo fato de ambos serem militares.
Essa fase é entendida pelos historiadores como a consolidação da república no Brasil, porque inúmeras transformações estavam acontecendo no campo político e elas não ocorreram de forma pacífica e os governos de Deodoro da Fonseca e de Floriano Peixoto são prova disso.
As disputas políticas eram muito fortes e havia conflito até entre aqueles que defendiam Deodoro e aqueles que defendiam Floriano. Uma demonstração dessa rivalidade entre “deodoristas” e “florianistas”, por exemplo, demonstra-se pela ação de Floriano de indicar novos presidentes de estados, quando assumiu como presidente. Era uma forma de enfraquecer o grupo deodorista.
A posse de Floriano Peixoto está diretamente relacionada com a renúncia de Deodoro da Fonseca da presidência em novembro de 1891. A crise entre o primeiro presidente e o Legislativo e a possibilidade de uma revolta levaram o militar a renunciar o seu cargo. Com isso, no dia 23 de novembro de 1891, Floriano Peixoto, o vice-presidente do Brasil, foi nomeado como presidente. Essa oficialização buscava colocar fim à crise política e social em vigor, e Floriano o fez na base da imposição e do autoritarismo.
Política brasileira
A disputa política nesse contexto era bastante conturbada, e inúmeros grupos colocavam-se contra o novo presidente do Brasil. Os deodoristas eram o maior grupo de oposição ao novo presidente, e a decisão de Floriano de substituir os presidentes de estado ia de encontro a esse fato. Até mesmo generais que eram contrários a Floriano sofreram represálias do presidente.
Alguns militares não estavam satisfeitos com a posse de Floriano e exigiam a realização de eleição presidencial. Eles redigiram um documento no dia 31 de março de 1892 demonstrando sua insatisfação com o governo e foram demitidos de seus cargos e aposentados compulsoriamente.
Floriano, por sua vez, contava com o apoio do Partido Republicano Paulista (PRP) e daqueles que acreditavam que a solução para o país era a imposição de um governo autoritário que consolidasse a república e colocasse os monarquistas sob controle. Do ponto de vista constitucional, a posse de Floriano era ilegal, porque a Constituição de 1891, em seu artigo 42, definia que se o cargo de presidente ficasse vago nos primeiros dois anos de governo, nova eleição deveria ser convocada. Mas por uma questão de conveniência visando à estabilização do país, os parlamentares ignoraram a lei.
Floriano tinha uma relação de proximidade com membros do Legislativo e isso fez com que os membros do Senado e da Câmara dos Deputados aprovassem a suspensão de seus trabalhos. Os políticos brasileiros, portanto, abriram mão de seu papel para que Floriano Peixoto pudesse governar o país de maneira centralizadora e autoritária.
Mesmo demonstrado ser abertamente autoritário e centralizador, Floriano Peixoto era bem-visto pela população da capital, Rio de Janeiro, por conta de sua ação para conter os efeitos do Encilhamento, a crise econômica que abateu o país durante a década de 1890. Ainda assim, nos meios políticos, a disputa era intensa e Floriano teve de lidar com diferentes grupos de oposição.
Leia também: Coluna Prestes - história de um importante movimento de oposição às oligarquias
Revolta da Armada
O quadro político caótico do país fez com que o país tomasse o caminho do conflito armado. Duas grandes revoltas aconteceram no governo de Floriano, e a primeira delas foi a Revolta da Armada, que aconteceu entre setembro de 1893 e março de 1894 na Marinha, um reduto monarquista.
Desde o começo da república, a Marinha demonstrava estar insatisfeita. No caso do governo de Floriano não foi diferente e resultou em uma segunda revolta da Marinha, conhecida como Revolta da Armada. Essa revolta foi liderada por importantes nomes da Marinha como Custódio de Melo e Eduardo Wandenkolk.
Ela iniciou-se quando canhões de embarcações da Marinha foram apontados para a capital do país. A cidade do Rio de Janeiro foi bombardeada durante semanas. A repressão governamental contou com o apoio da marinha norte-americana e fez com que os rebeldes precisassem abrir mão do cerco marítimo sobre a capital. A fuga dos rebelados levou-os ao Sul do Brasil, fazendo com que eles se juntassem a outra revolta em curso.
A Revolta da Armada foi utilizada como pretexto para reforçar práticas autoritárias por parte do presidente. O historiador Elio Chaves Flores afirma que o presidente suspendeu a liberdade de imprensa e as liberdades individuais durante a revolta. Opositores do presidente, como Rui Barbosa, precisaram exilar-se do país|1|.
Revolução Federalista
A Revolução Federalista, por sua vez, estendeu-se de 1893 até 1895 e foi resultado de disputas políticas travadas no interior do estado do Rio Grande do Sul. Desde que a república foi proclamada, grupos oligárquicos disputavam o controle do estado e esses grupos concentravam-se em dois partidos:
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Partido Republicano Rio-grandense, liderado por José de Castilhos;
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Partido Federalista, liderado por Gaspar Silveira Martins.
Essa disputa entre os dois partidos radicalizou-se ao ponto de os federalistas pegarem em armas e invadirem o Rio Grande do Sul (parte dessa tropa eram formadas por uruguaios), a partir de fevereiro de 1893. Os federalistas queriam a derrubada de Júlio de Castilhos, empossado como presidente do estado em janeiro.
Os líderes federalistas foram militarmente liderados por João Nunes da Silva Tavares e Guemercindo Tavares. Politicamente, o líder era o citado Gaspar Silveira Martins. As tropas federalistas que invadiram o Rio Grande do Sul, em fevereiro de 1893, era formada por cerca de três mil homens.
O presidente já tinha conhecimento de que a disputa política travada no Rio Grande do Sul era violenta e poderia resultar em uma guerra civil, então, ordenou o envio de tropas para defender Júlio de Castilhos. Na segunda metade de 1893, os federalistas conseguiram vencer muitas batalhas e, assim, eles conquistaram território.
O avanço dos federalistas permitiram que eles chegassem aos estados de Santa Catarina e Paraná e conquistassem a capital desses estados, Desterro e Curitiba, respectivamente. Os federalistas passaram a almejar a conquistar São Paulo, e o presidente de São Paulo passou a organizar as defesas do estado.
Os federalistas estiveram muito próximos de derrotar Floriano Peixoto e, em meados de 1894, passaram a contar com o reforço dos envolvidos com a Revolta da Armada. Entretanto, a partir de 1894, o poder dos federalistas começou a ruir por conta do desentendimento entre os grupos que lideravam o movimento.
O que unia todos os envolvidos com o movimento era a oposição contra Floriano de Peixoto e Júlio de Castilhos, mas existiam diferentes interesses no interior dos federalistas. Isso permitiu que os grupos castilhistas e florianistas pudessem recuperar espaço, e uma batalha travada em Lapa, no Paraná, foi um sintoma disso.
Após a derrota federalista no Paraná, os florianistas começaram a ganhar território. Uma forte resistência contra os federalistas formou-se no Sul e forçou esse grupo a recuar, fazendo muitos deles fugirem para a Argentina ou para o Uruguai. O avanço dos florianistas resultou em repressão violenta.
Um caso simbólico aconteceu durante a reconquista da cidade de Desterro, em Santa Catarina. Próximo à cidade, havia uma fortaleza na ilha de Anhatomirim e quando ela foi conquistada o comandante florianista mandou fuzilar 180 soldados federalistas que tinham sido capturados. A liberação de Desterro fez com que a cidade fosse homenageada em nome de seu libertador: Desterro passou a chamar-se Florianópolis.
A última derrota dos federalistas aconteceu em Santana do Livramento no que ficou conhecido como Combate do Campo Osório. Depois disso, os federalistas acabaram fugindo para os países vizinhos. Nesse momento, o presidente de Brasil já era Prudente de Morais, mas a recuperação dos castilhistas e florianistas, iniciada em 1894, ficou marcada como uma ação encabeçada pelo presidente.
A Revolução Federalista encerrou-se no começo de 1895 e ficou conhecida como uma das maiores e mais violentas guerras civis de nossa história. Estima-se que cerca de dez mil pessoas tenham morrido nesse conflito.
Acesse também: Guerra dos Farrapos – o movimento de oposição contra o governo brasileiro
Fim do governo Floriano Peixoto
Floriano Peixoto permaneceu na presidência até novembro de 1894. Embora contasse com o apoio dos paulistas, esse grupo de oligarcas começou a organizar a sucessão presidencial do país e escolheu Prudente de Morais para disputar a eleição daquele ano. O candidato paulista foi eleito com quase 90% dos votos. Floriano Peixoto transmitiu o poder contra a sua vontade, tanto que não chegou a comparecer na cerimônia de posse de Prudente de Morais.
Notas
|1| FLORES, Elio Chaves. A consolidação da República: rebeliões de ordem e progresso. In.: FERREIRA, Jorge e DELGADO, Lucilia de Almeida Neves (orgs.). O Brasil Republicano: o tempo do liberalismo oligárquico – da Proclamação da República à Revolução de 1930. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2018, p. 61.
Créditos da imagem
[1] Domínio público / Galeria dos Presidentes
Por Daniel Neves
Professor de História