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O encilhamento foi um período de crise econômica no Brasil, entre 1889 e 1891, caracterizado por uma política financeira expansionista e especulativa que resultou em inflação descontrolada, desvalorização da moeda e colapso do mercado de ações. Ocorrendo logo após a Proclamação da República, em um contexto de transição política e econômica em que o Brasil buscava modernização e industrialização, o encilhamento visava estimular a criação de indústrias e fortalecer o novo regime. Para isso, foram adotadas medidas como a emissão descontrolada de moeda, facilitação do crédito e incentivos fiscais, que, contudo, resultaram em um ambiente propício à especulação financeira. As consequências foram desastrosas, com o colapso do mercado de ações, falências generalizadas, perda de confiança no sistema financeiro e agravamento das desigualdades sociais, impactando negativamente a economia e a política do país por anos.
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Tópicos deste artigo
- 1 - Resumo sobre o encilhamento
- 2 - O que foi o encilhamento?
- 3 - Contexto histórico do encilhamento
- 4 - Objetivos do encilhamento
- 5 - Medidas do encilhamento
- 6 - Consequências do encilhamento
- 7 - Exercícios resolvidos sobre o encilhamento
Resumo sobre o encilhamento
- A crise do encilhamento foi uma grave crise econômica no Brasil, entre 1889 e 1891, resultante de políticas de emissão descontrolada de moeda e especulação financeira, que levou à inflação, desvalorização da moeda e colapso do mercado de ações.
- O encilhamento ocorreu logo após a Proclamação da República, em um Brasil ainda predominantemente agrário, que buscava modernização e industrialização em meio a instabilidades políticas e econômicas e à recente abolição da escravatura.
- O encilhamento visava modernizar e industrializar a economia brasileira, estimulando a criação de novas indústrias e fortalecendo o regime republicano por meio de políticas de crédito fácil e emissão de moeda para impulsionar o crescimento econômico.
- As medidas do encilhamento incluíram a emissão descontrolada de moeda, a facilitação do crédito bancário, incentivos fiscais e a criação de bancos emissores, resultando em um ambiente propício à especulação financeira e à formação de uma bolha no mercado de ações.
- As consequências do encilhamento foram desastrosas, com inflação galopante, colapso do mercado de ações, falência de empresas, perda de confiança no sistema financeiro, agravamento das desigualdades sociais e um impacto negativo duradouro na economia e na política do Brasil.
O que foi o encilhamento?
O encilhamento foi um período conturbado da história econômica do Brasil, ocorrido entre 1889 e 1891, caracterizado por uma crise financeira e inflacionária intensa. Esse termo, originado do ambiente das corridas de cavalos, onde "encilhar" refere-se à preparação de um cavalo para a corrida, foi utilizado para descrever o contexto econômico daquela época, marcado por um ambiente de euforia financeira e especulação desenfreada. O fenômeno se desenvolveu durante o governo provisório do marechal Deodoro da Fonseca, logo após a Proclamação da República, e teve como principal idealizador o então ministro da Fazenda, Rui Barbosa.
O encilhamento representou um momento de tentativa de modernização e industrialização do país, mediante a adoção de uma política econômica expansionista. No entanto, em vez de alcançar os objetivos almejados, o período ficou marcado por uma série de problemas econômicos, como o aumento exorbitante da inflação, a desvalorização da moeda e a falência de inúmeras empresas, resultando em uma crise econômica que afetou diversas camadas da sociedade brasileira.
A política econômica do encilhamento foi caracterizada pela emissão descontrolada de moeda e pela facilitação do crédito bancário, o que resultou em um aumento significativo da circulação monetária no país. Esse ambiente favorável ao crédito fácil estimulou um ciclo especulativo, com a criação de inúmeras empresas fantasmas e uma bolha especulativa no mercado de ações. A economia brasileira, que já enfrentava dificuldades devido à transição do regime monárquico para o republicano, foi ainda mais pressionada por essas políticas, culminando em um colapso econômico.
Contexto histórico do encilhamento
O encilhamento ocorreu em um momento de profundas transformações no Brasil. A Proclamação da República, em 1889, representou uma ruptura significativa com o regime monárquico que havia governado o país desde a sua independência. A mudança de regime trouxe consigo a necessidade de reestruturação econômica, política e social do país, em meio a um contexto de incertezas e instabilidades.
A economia brasileira na época era predominantemente agrária, com grande dependência das exportações de café, principal produto da pauta de exportação. A abolição da escravatura, em 1888, também havia gerado transformações sociais e econômicas, com a necessidade de adaptação da economia ao trabalho livre. Nesse cenário, havia uma crescente demanda por modernização e industrialização, vista como essencial para o desenvolvimento econômico do país e para sua inserção no mercado internacional.
Foi nesse contexto que Rui Barbosa, então ministro da Fazenda, implementou as políticas econômicas que deram origem ao encilhamento. Influenciado pelas ideias liberais e pela experiência de países como os Estados Unidos, Rui Barbosa acreditava que a expansão da oferta monetária e o estímulo ao crédito poderiam impulsionar a industrialização do país. A política adotada visava criar condições para o desenvolvimento de uma economia moderna e industrializada, capaz de competir no mercado global e reduzir a dependência da exportação de produtos primários.
No entanto, o contexto internacional também influenciou os rumos do encilhamento. A economia global passava por um período de instabilidade, com crises financeiras em vários países, o que afetou diretamente o Brasil. Além disso, a falta de infraestrutura e de um mercado consumidor interno robusto dificultava a implementação de um processo de industrialização nos moldes desejados. A fragilidade das instituições financeiras e a ausência de um marco regulatório eficaz para o mercado de capitais também contribuíram para a criação de um ambiente propício à especulação desenfreada e à crise subsequente.
O Visconde de Ouro Preto, Afonso Celso de Assis Figueiredo, foi o último presidente do Conselho de Ministros do Brasil Imperial, e sua gestão coincidiu com a implementação de políticas econômicas que agravaram a crise do encilhamento. Ao assumir o cargo em 1889, Ouro Preto deu continuidade às políticas monetárias expansionistas iniciadas por Rui Barbosa, que incentivaram a emissão de papel-moeda sem lastro adequado e facilitaram o crédito, levando a uma bolha especulativa no mercado de ações e à eventual falência de muitas empresas. A crise financeira resultante foi um dos fatores que desestabilizaram o governo e contribuíram para a Proclamação da República no mesmo ano.
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Objetivos do encilhamento
Os principais objetivos do encilhamento giravam em torno da modernização econômica e da industrialização do Brasil. Rui Barbosa, como ministro da Fazenda, tinha a visão de transformar a economia brasileira, que era predominantemente agrícola, em uma economia industrializada e diversificada. Para alcançar esse objetivo, foi implementada uma política econômica expansionista, baseada na emissão de moeda e na facilitação do crédito bancário.
Um dos objetivos centrais do encilhamento era estimular a criação de novas indústrias no país. A ideia era que, com mais dinheiro em circulação e maior acesso ao crédito, empreendedores pudessem investir em novos negócios e na expansão de indústrias já existentes. A industrialização era vista como uma forma de fortalecer a economia nacional, reduzir a dependência das exportações agrícolas e inserir o Brasil no contexto das economias modernas.
Outro objetivo importante era a estabilização da economia em um momento de transição política. A recente proclamação da República havia gerado incertezas econômicas, e o governo precisava encontrar maneiras de estabilizar a situação e fortalecer o novo regime. Ao promover o crescimento econômico por meio do estímulo à indústria e ao crédito, o governo pretendia criar uma base econômica sólida para sustentar o novo regime republicano.
Além disso, havia a intenção de aumentar a arrecadação fiscal. Com a expansão das atividades econômicas e a criação de novas empresas, o governo esperava aumentar sua base de arrecadação, o que era essencial para financiar as operações do novo governo e para investir em infraestrutura e outros setores estratégicos.
No entanto, esses objetivos foram comprometidos por uma série de fatores, incluindo a falta de regulamentação adequada, o ambiente especulativo e a falta de uma base econômica sólida que pudesse sustentar o crescimento pretendido. O resultado foi um ambiente de instabilidade econômica que acabou levando à crise do encilhamento.
Medidas do encilhamento
Para atingir os objetivos propostos, Rui Barbosa implementou uma série de medidas econômicas que caracterizaram o período do encilhamento. A principal delas foi a política de emissão de moeda. O governo autorizou a emissão de grande quantidade de papel-moeda, sem lastro suficiente em reservas de ouro, com o objetivo de aumentar a oferta de dinheiro em circulação e facilitar o acesso ao crédito.
Outra medida significativa foi a flexibilização das condições para a criação de novos bancos. O governo incentivou a criação de bancos emissores, que tinham a permissão para emitir sua própria moeda. Essa medida visava aumentar ainda mais a oferta de crédito, facilitando o financiamento de novas indústrias e negócios.
Além disso, foram criadas condições favoráveis para a criação de empresas por meio da simplificação dos processos de registro e da facilitação do acesso ao capital. Isso resultou em uma explosão de novas empresas, muitas das quais eram de caráter especulativo, sem um plano de negócios viável ou uma base econômica sólida. Muitas dessas empresas foram criadas apenas para se aproveitar da facilidade de obtenção de crédito e da especulação no mercado de ações.
As medidas também incluíram incentivos fiscais e subsídios para determinadas atividades econômicas, especialmente aquelas relacionadas à industrialização. O governo buscava criar um ambiente favorável para o desenvolvimento industrial, com a esperança de que isso levaria ao crescimento econômico sustentado.
Contudo, a falta de controle e regulamentação das atividades financeiras criou um ambiente propício para a especulação desenfreada. A ausência de um sistema bancário robusto e a inexperiência das instituições financeiras recém-criadas contribuíram para a fragilidade do sistema econômico. O mercado de ações, em particular, tornou-se um centro de especulação, com a valorização artificial de ações de empresas que muitas vezes não tinham qualquer atividade produtiva real.
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Consequências do encilhamento
As consequências do encilhamento foram desastrosas para a economia brasileira. A política de emissão descontrolada de moeda levou a uma inflação galopante, que corroeu o poder de compra da população e desestabilizou a economia. A desvalorização da moeda resultou em uma perda de confiança no sistema financeiro, agravando ainda mais a crise.
O colapso do mercado de ações foi outra consequência importante. A bolha especulativa criada durante o encilhamento estourou, levando à falência de inúmeras empresas, muitas das quais eram meramente especulativas. O colapso do mercado acionário afetou tanto pequenos quanto grandes investidores, resultando em uma perda generalizada de riqueza e na retração do crédito.
A crise financeira resultante também teve consequências sociais graves. O aumento da inflação e a desvalorização da moeda afetaram de maneira significativa o poder aquisitivo da população, especialmente das camadas mais pobres. A instabilidade econômica gerou desemprego e exacerbou as desigualdades sociais, criando um ambiente de insatisfação e incerteza.
No âmbito político, o encilhamento minou a confiança no governo republicano recém-estabelecido. As políticas desastrosas implementadas durante o período foram vistas como um fracasso, e a imagem de Rui Barbosa foi seriamente abalada. A crise do encilhamento contribuiu para o aumento das tensões políticas e sociais, que culminaram em movimentos de contestação ao governo e à nova ordem republicana.
Além disso, as consequências do encilhamento perduraram por anos. A crise financeira e a instabilidade econômica geradas pelo período dificultaram os esforços subsequentes de modernização e industrialização do país. A falta de confiança nas instituições financeiras e no mercado de capitais afetou negativamente o desenvolvimento econômico do Brasil, retardando o progresso que se esperava alcançar com as medidas iniciais.
Exercícios resolvidos sobre o encilhamento
1. Durante o final do século XIX, o Brasil passava por transformações políticas e econômicas significativas, especialmente após a Proclamação da República em 1889. Considerando o contexto e os desdobramentos do encilhamento, qual foi a principal consequência negativa desse período para a economia brasileira?
a) A rápida industrialização do país, que resultou na superprodução de bens manufaturados.
b) O fortalecimento da economia agrícola em detrimento da industrialização planejada.
c) A formação de uma bolha especulativa que culminou no colapso do mercado de ações.
d) O aumento da exportação de café, o que gerou um crescimento econômico sustentável.
e) A consolidação do sistema bancário, que estabilizou a moeda brasileira.
Resposta correta: c) O encilhamento gerou um ambiente de especulação financeira desenfreada, resultando na formação de uma bolha especulativa. Essa bolha estourou, levando ao colapso do mercado de ações e à falência de inúmeras empresas, o que contribuiu para uma grave crise econômica no Brasil.
2. A transição do Brasil de uma monarquia para uma república, no final do século XIX, trouxe consigo grandes desafios para a nova ordem política e econômica do país. Um dos episódios mais marcantes desse período foi o encilhamento. Diante das políticas adotadas durante o encilhamento, qual fator contribuiu diretamente para a crise econômica que se instaurou no Brasil?
a) A proibição de investimentos estrangeiros na economia brasileira.
b) O aumento do controle estatal sobre o mercado financeiro, limitando o crédito.
c) A emissão excessiva de papel-moeda sem lastro em reservas de ouro, que gerou inflação.
d) A retração do mercado agrícola devido à falta de incentivos governamentais.
e) A criação de um sistema bancário sólido que evitou a especulação financeira.
Resposta correta: c) A política de emissão excessiva de moeda, sem o devido lastro em ouro, foi um dos principais fatores que levaram à inflação descontrolada durante o encilhamento, resultando em uma crise econômica e na desvalorização da moeda brasileira.
Fontes
BEZERRA, Lohana Monaco; ARAÚJO, Victor Leonardo de; MATTOS, Fernando Augusto Mansor de. Para além das reformas monetárias: contribuições ao debate sobre a crise do encilhamento. Geosul, Florianópolis, v. 35, n. 75, p. 69-90, 2020. Disponível em: https://periodicos.ufsc.br/index.php/geosul/article/view/1982-5153.2020v35n75p69.
OLIVEIRA, Pedro Paulo Rocha Guerra. A crise do encilhamento e seus reflexos no Brasil: um estudo de caso. 2021. Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado em Ciência Política) — Universidade de Brasília, Brasília, 2021. Disponível em: https://bdm.unb.br/handle/10483/31106.