PUBLICIDADE
Restinga é uma extensa faixa de depósitos arenosos que se dispõe paralelamente à linha de praia na zona costeira do Brasil e de vários outros países. Esses sedimentos foram depositados em função do avanço e recuo das águas dos oceanos durante o recente período geológico, o Quaternário, como resultado das mudanças no nível do mar no decorrer do tempo. As restingas são, ainda, importantes ecossistemas litorâneos que se desenvolvem sobre esse substrato frágil.
Importante para a preservação de outros ambientes como os manguezais, para a proteção das dunas e para fixação do solo, as restingas se encontram ameaçadas por problemas ambientais resultantes do avanço da urbanização, das mudanças climáticas e da intensificação da ação antrópica sobre o litoral.
Leia também: Falésias — paredões elevados e de declividade acentuada que se formam no litoral
Tópicos deste artigo
- 1 - Resumo sobre restinga
- 2 - Principais características da restinga
- 3 - Formação da restinga
- 4 - Qual a importância da restinga?
- 5 - Restinga no Brasil
- 6 - Impactos ambientais e conservação ambiental da restinga
- 7 - Exercícios resolvidos sobre restinga
Resumo sobre restinga
-
A restinga é uma extensa faixa de depósitos arenosos paralelos à linha de praia que se formaram pelas sucessivas alterações no nível do mar no período Quaternário.
-
É também um importante ecossistema litorâneo que se forma na transição entre o mar e o continente.
-
Desenvolve-se na zona costeira do Brasil e de diversos outros países.
-
A vegetação da restinga é bastante diversa, composta pelos estratos herbáceo, arbustivo e arbóreo. Está sujeita à influência da água do mar, dos ventos fortes e do relevo.
-
Possui solos arenosos com baixa capacidade de retenção de água.
-
A fauna das restingas é constituída por animais aquáticos, como os crustáceos, e terrestres.
-
São ecossistemas muito frágeis que são ameaçados pela intensificação das mudanças climáticas, pelo avanço da urbanização sobre a zona costeira e pelas atividades antrópicas de modo geral.
Principais características da restinga
Antes de estudarmos as principais características da restinga, é importante saber que existem diferentes definições e abordagens para esse conceito.
Na Geografia, a restinga pode ser compreendida pelo viés geológico e geomorfológico enquanto uma faixa de areia formada por meio de depósitos de sedimentos marinhos e fluviomarinhos que acontecem na planície litorânea. A restinga é, nesse sentido, uma feição bastante instável e frágil que se dispõe na forma de cordões de forma paralela à linha da costa.|1|
Sobre os solos arenosos da restinga pode se desenvolver uma cobertura vegetal muito diversa, o que dá origem a um ecossistema característico da zona litorânea. Esses ecossistemas, na ecologia, passam a ser identificados também como restinga.
→ Localização da restinga
A restinga é um ecossistema litorâneo que se desenvolve sobre a faixa de transição entre o mar e o interior do continente, isto é, entre ambientes úmidos e ambientes mais secos. A restinga, portanto, está localizada na zona costeira dos países e continentes. No território brasileiro, a restinga integra o bioma Mata Atlântica e está presente em maior escala nas regiões Nordeste e Sudeste.
→ Clima da restinga
Não existe um clima específico no qual a vegetação de restinga se desenvolve, tendo em vista que o fator mais importante para a sua ocorrência é o solo.
Pensando no caso da restinga brasileira, ela acontece nas áreas de clima tropical atlântico. Esse tipo climático é caracterizado pela elevada umidade do ar, grande incidência de ventos, volume pluviométrico que chega a 2.000 mm ao ano e temperaturas médias elevadas que variam entre 18 °C nos meses mais amenos e 26 °C nos meses mais quentes.
→ Vegetação e flora da restinga
A vegetação da restinga varia consideravelmente de acordo com a área, o que se deve à instabilidade desses ecossistemas. A incidência dos ventos, o relevo e a composição dos solos são fatores que exercem influência sobre o desenvolvimento das plantas na faixa litorânea. A distância com relação ao mar também é importante, tendo em vista que quanto mais próximo da água, mais sujeitos à ação da salinidade e das ondas estão o substrato e as espécies ali presentes.
A cobertura vegetal da restinga pode se apresentar nos estratos herbáceo, arbustivo e arbóreo.
-
Vegetação herbácea: chamada também de vegetação de praias e dunas, é formada por plantas rasteiras ou subarbustivas que apresentam até 1 metro de altura. A ação da água do mar é mais intensa sobre esse estrato.
-
Vegetação arbustiva ou “escrube”: formada por herbáceas, trepadeiras e plantas com altura entre 3 e 5 metros. Trata-se de arbustos com aspecto retorcido, que podem ou não formar moitas. Bromélias e orquídeas podem integrar a flora dessas áreas.
-
Vegetação arbórea: o estrato arbóreo das restingas é composto pelas florestas baixas e pelas florestas altas, com dossel entre 5 e 20 metros de altura, respectivamente. As florestas altas, principalmente, podem se formar sobre solos alagados. Essas formações estão mais afastadas da linha de praia e, diferentemente das anteriores, são caracterizadas pela presença de serrapilheira no solo e maior acúmulo de matéria orgânica. Bromélias, orquídeas, guanandi, içara e caixeta são algumas das plantas encontradas nesse estrato.
→ Fauna da restinga
A fauna da restinga, quando comparada a outros ecossistemas, é formada por um pequeno número de espécies. Além disso, há animais que são parte de outros ambientes, ou seja, a fauna presente na restinga também vive em outros domínios, como a Mata Atlântica e o Cerrado, no caso do território brasileiro.
Aves como andorinhas, papagaios-da-cara-roxa e corujas; animais marinhos, a exemplo dos crustáceos e das tartarugas; insetos; répteis; e mamíferos como a lontra e o mico-leão-da-cara-preta são os principais exemplares da fauna das restingas.
→ Solo da restinga
A restinga possui solo arenoso e pouco consolidado, o que confere grande fragilidade à sua estrutura e ao ambiente como um todo. Nas restingas brasileiras, o solo é composto predominantemente por areias quartzosas, que caracterizam as planícies litorâneas do país. Além da sua estrutura instável, esses solos apresentam baixíssima capacidade de retenção de água, e a formação de matéria orgânica é baixa ou nula. Por essa razão, trata-se de solos com baixa fertilidade química.
→ Hidrografia da restinga
As restingas são formas geomorfológicas e ecossistemas típicos do litoral. Assim sendo, são ambientes banhados pelos oceanos e que sofrem a interferência direta de fenômenos como as marés. Situada nas planícies costeiras, as restingas recebem a influência dos rios, riachos e demais cursos oriundos do continente e que deságuam no mar.
Formação da restinga
Considerando a restinga enquanto formação geológica, sua origem está associada aos movimentos de avanço e de recuo das águas do mar sobre o litoral em decorrência da variação no nível dos oceanos no recente período geológico. Esse processo foi o responsável pela deposição de sedimentos datados dos períodos Terciário e Quaternário na zona costeira, gerando grandes faixas paralelas à linha de praia. Sobre esses bancos de areia da planície litorânea e no interior, nos terraços litorâneos, é que se instala a vegetação de restinga.
Veja também: Lagunas — depressões que abrigam água doce, salobra ou salgada
Qual a importância da restinga?
O ecossistema da restinga abriga uma parcela importante da biodiversidade do litoral, servindo de habitat tanto para espécies marinhas quanto para espécies terrestres. Essa formação atua, ainda, como proteção de outros ecossistemas de transição, como os manguezais, contra o avanço das águas do mar. A restinga é importante também para a proteção das dunas presentes nesses ambientes, além de evitar o processo de erosão provocado pela água do mar e auxiliar na fixação dos sedimentos na zona costeira.|2|
Restinga no Brasil
A restinga está presente na zona costeira brasileira em associação com o bioma Mata Atlântica, que se estende desde a região Nordeste até o litoral Sul. Esse ecossistema pode ser encontrado principalmente nos estados de Alagoas, Sergipe, Bahia, Espírito Santo, Rio de Janeiro e São Paulo. Em uma escala muito menor, identifica-se a presença de restinga também no bioma amazônico, particularmente nos estados do Pará e do Amazonas.
Uma resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), de 2009, estabeleceu a definição ecológica da restinga, bem como a sua composição vegetal, que é aquela que estudamos aqui. Recentemente, um projeto de lei propõe a alteração no Código Florestal brasileiro para a classificação das restingas enquanto Áreas de Proteção Permanente (APP), devido ao fato de sua vegetação auxiliar na fixação das dunas e na estabilização dos mangues. Essa modificação representa a flexibilização na proteção desse ecossistema.
Impactos ambientais e conservação ambiental da restinga
Vários são os problemas que afetam a restinga. O avanço das áreas urbanizadas sobre a zona costeira, o descarte irregular do lixo, o manejo inadequado dos efluentes urbanos e industriais e a intensificação das atividades antrópicas são fatores que colocam em risco a manutenção de inúmeros ecossistemas litorâneos ao redor do mundo, como as restingas. Outro grande problema que afeta as restingas são as mudanças climáticas, que, por meio do derretimento das geleiras, têm provocado o aumento do nível dos oceanos de maneira gradual.
A fragilidade das restingas potencializa os efeitos dos problemas ambientais sobre o ecossistema, o que reforça a necessidade de conservá-los. Muitas áreas de restinga foram transformadas em parques nacionais no Brasil, o que significa dizer que elas se tornaram áreas de proteção integral sob administração de órgãos federais.
Considerando esses aspectos, algumas das medidas necessárias para se conservar as restingas no Brasil e no mundo são as seguintes:
-
ampliação das áreas de conservação na faixa litorânea;
-
conscientização da população para não danificar os solos e a vegetação dessas áreas;
-
descarte do lixo em locais apropriados;
-
elaboração de políticas de proteção e recuperação dos ecossistemas do litoral.
Exercícios resolvidos sobre restinga
Questão 1
(Unicamp)
As restingas podem ser definidas como depósitos arenosos produzidos por processos de dinâmica costeira atual (fortes correntes de deriva litorânea, podendo interagir com correntes de maré e fluxos fluviais), formando feições alongadas, paralelas ou transversais à linha da costa. Podem apresentar retrabalhamentos locais associados a processos eólicos e fluviais. Quando estáveis, as restingas dão forma às “planícies de restinga”, com desenvolvimento de vegetação herbácea e arbustiva e até arbórea. As restingas são áreas sujeitas a processos erosivos desencadeados, entre outros fatores, pela dinâmica da circulação costeira, pela elevação do nível relativo do mar e pela urbanização.
(Adaptado de Célia Regina G. Souza e outros. Restinga: conceitos e emprego do termo no Brasil e implicações na legislação ambiental. São Paulo: Instituto Geológico, 2008.)
É correto afirmar que as restingas existentes ao longo da faixa litorânea brasileira são áreas:
A) pouco sobrecarregadas dos ecossistemas costeiros, devido ao modo como ocorreu a ocupação humana, com o processo de urbanização.
B) onde a cobertura vegetal ocorre em mosaicos, encontrando-se em praias, cordões arenosos, dunas, depressões, serras e planaltos, sem apresentar diferenças fisionômicas importantes.
C) suscetíveis à erosão costeira causada, entre outros fatores, por amplas zonas de transporte de sedimentos, elevação do nível relativo do mar e urbanização acelerada.
D) onde o solo arenoso não apresenta dificuldade para a retenção de água e o acesso a nutrientes necessários ao desenvolvimento da cobertura vegetal herbácea em praias e dunas.
Resolução:
Alternativa C.
As restingas estão sujeitas à erosão costeira pela ação constante da água do mar, cujo nível tem aumentado por problemas como as mudanças climáticas e pelas atividades antrópicas, como a urbanização acelerada.
Questão 2
(Ufal) As restingas são feições de relevo observadas em diversos locais do planeta, independentemente, inclusive, da latitude. No estado de Alagoas, muitas restingas são observadas. São relevos ditos “azonais”.
O que pode ser dito a respeito das restingas?
1) As restingas são falhas geológicas que se observam em áreas costeiras que foram preenchidas por sedimentos fluviais; um exemplo típico é a lagoa do Mundaú.
2) As restingas são formações sedimentares arenosas costeiras, de origem recente na escala geológica do tempo, que às vezes assumem a forma de planícies e barras.
3) As restingas constituem ecossistemas costeiros determinados, sobretudo, pelas características dos solos e pela influência marinha; são ambientes ecologicamente frágeis.
4) A vegetação estabelecida sobre as restingas deve ser preservada, pois se constitui em um impedimento para que os ventos remobilizem dunas comumente existentes sobre elas.
5) As restingas são formas de relevo resultantes de dobramentos ocorridos nos terrenos sedimentares em áreas costeiras e que receberam fortes alterações humanas.
Estão corretas:
A) 1 e 2 apenas
B) 2 e 5 apenas
C) 1, 2 e 3 apenas
D) 2, 3 e 4 apenas
E) 1, 2, 3, 4 e 5.
Resolução:
Alternativa D.
Os itens 1 e 5 estão incorretos pelas seguintes razões:
1) As restingas não são falhas geológicas preenchidas. Elas são, na realidade, depósitos sedimentares que se formaram pelo avanço e recuo do mar.
5) As restingas se formam sobre a planície litorânea, não havendo correlação com os dobramentos, que dão origem ao relevo montanhoso.
Notas
|1| SANTOS, A. R. Verbete: restinga. CPRM – Serviço Geológico do Brasil. Glossário Geológico. CPRM, 15 jul. 2018. Disponível aqui.
|2| IEMA. No Dia Estadual da Floresta de Restinga, Iema ressalta a importância da preservação do bioma. IEMA – Instituto de Meio Ambiente e Recursos Hídricos, 28 abr. 2021. Disponível aqui.
Créditos de imagem
[1] Halley Pacheco de Oliveira / Wikimedia Commons (reprodução)
Por Paloma Guitarrara
Professora de Geografia