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Friedrich Nietzsche foi um pensador que nasceu em 1844, na Alemanha. Ele foi um profundo conhecedor da literatura romântica alemã de sua época, da literatura ocidental como um todo, particularmente da mítica da Grécia Clássica. Nomeado para uma cátedra em filologia clássica na Universidade de Basileia, na Suíça, tornou-se professor universitário com apenas 24 anos.
As suas principais ideias receberam muita influência da tragédia grega. Foi nesse tipo de literatura que Nietzsche se inspirou para criticar o racionalismo filosófico, a moralidade cristã e o niilismo existencial. Entre os principais conceitos da filosofia nietzschiana, destacamos “vontade de poder”, “transvaloração dos valores” e “super-homem” — este último anunciado por Zaratustra num dos seus livros mais famosos.
Friedrich Nietzsche dizia fazer filosofia como quem dá golpes com um martelo. O seu objetivo era destruir os ídolos da cultura ocidental. Segundo ele, a crença em mundos ideais reprime os instintos vitais mais essenciais do ser humano. A frase “Deus está morto!” é um dos seus pensamentos mais citados e menos compreendidos. Após viajar bastante e viver com uma saúde debilitada, Friedrich Nietzsche faleceu em Weimar, na Alemanha, com apenas 56 anos.
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Tópicos deste artigo
- 1 - Resumo sobre Friedrich Nietzsche
- 2 - Videoaula sobre Friedrich Nietzsche
- 3 - Biografia de Friedrich Nietzsche
- 4 - Pensamentos e ideias de Friedrich Nietzsche
- 5 - A crítica ao racionalismo e à verdade em Nietzsche
- 6 - Crítica à moralidade em Nietzsche: moral de escravos e moral de senhores
- 7 - Conceitos de Friedrich Nietzsche
- 8 - Friedrich Nietzsche e o niilismo
- 9 - Principais obras de Friedrich Nietzsche
- 10 - Frases de Friedrich Nietzsche
Resumo sobre Friedrich Nietzsche
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Friedrich Nietzsche é um dos críticos mais radicais da chamada “cultura clássica ocidental”.
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Nietzsche tornou-se professor de filologia clássica com apenas 24 anos na Universidade de Basileia.
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Ele tinha convicção de que o comprometimento com o racionalismo e com o cristianismo levou à repressão dos instintos vitais do ser humano e ao niilismo.
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Vontade de poder, transvaloração dos valores e super-homem são três conceitos fundamentais para a filosofia nietzschiana.
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Friedrich Nietzsche explorou o niilismo como um problema cultural e apresentou o niilismo ativo como uma alternativa para a questão.
Videoaula sobre Friedrich Nietzsche
Biografia de Friedrich Nietzsche
Friedrich Nietzsche nasceu em uma família luterana, em 1844, na Alemanha. Ele foi criado, ao lado da irmã, pela mãe e pelas tias. O seu pai, um pastor luterano, morreu quando tinha 36 anos. Nietzsche era apenas uma criança. Na adolescência, se afastou dos estudos em teologia começou a se interessar por filologia.
Os estudos universitários de Nietzsche concentram-se na Antiguidade Clássica e foram feitos em Bonn e, mais tarde, em Leipzig. Foi um profundo conhecedor da literatura romântica alemã de sua época, e também da literatura ocidental como um todo, particularmente da mítica da Grécia Clássica.
Em 1869, foi nomeado para uma cátedra em filologia clássica na Universidade de Basileia, na Suíça, tornando-se professor universitário com apenas 24 anos. Dez anos depois, por motivos de saúde, Nietzsche licenciou-se do cargo na universidade e começou a buscar um clima favorável, seja para a sua saúde, seja para o seu pensamento.
O local mais aprazível que encontrou foi Sils-Maria. Nesse vilarejo nas montanhas da Suíça, ele alugou o quarto de uma fazenda e passou oito verões respirando o que julgava ser o melhor ar da Europa. Foi nesse período que ele escreveu Humano, demasiado humano, A gaia ciência e Assim falou Zaratustra.
Em 1890, após levar uma vida viajante e com a saúde debilitada, Nietzsche sofreu uma crise da qual nunca mais se recuperou. Ele passou o resto de sua vida sob observação psiquiátrica e sob os cuidados da irmã até morrer, em 1900, em Weimar, na Alemanha.
Pensamentos e ideias de Friedrich Nietzsche
Os pensamentos e ideias defendidas por Friedrich Nietzsche receberam muita influência da tragédia grega. A tragédia é uma forma dramática de literatura, que surgiu em meados do século VI a.C. Ela é considerada o primeiro gênero teatral que surgiu no ocidente e era encenada nas festas realizadas em honra ao deus Dionísio, que é o deus responsável pelas forças vitais, pela sensibilidade humana, por aquelas forças mais profundas que alimentam a nossa existência. O espírito dionisíaco representa o que Nietzsche denomina vontade de poder.
Por outro lado, o deus Apolo representa o discurso da razão. Ele é o deus da ordem, o espírito da racionalidade e da lógica. Apolo contempla o pensamento matemático, enquanto Dionísio dá vazão às paixões humanas mais essenciais. Nietzsche tinha a convicção de que, se não fosse o comprometimento com o racionalismo, representado pelo deus Apolo, o espírito humano teria se desenvolvido de modo totalmente diferente, ou seja, sem reprimir a sua natureza dionisíaca.
No entanto, o que caracteriza a cultura ocidental foi ter escolhido cultuar o espírito apolíneo e reprimir o dionisíaco, como se o uso da razão e do pensamento lógico fossem os traços preponderantes do ser humano. Friedrich Nietzsche identificou aí o grande equívoco da cultura ocidental, a escolha que comprometeu todo o conhecimento e toda a moralidade construída posteriormente.
A crítica ao racionalismo e à verdade em Nietzsche
A origem do racionalismo está situada na Antiguidade. Sócrates, Platão e Aristóteles rompem com a visão mítica da realidade, justamente aquela representada nas tragédias gregas que inspiraram Nietzsche. Alguns dos seus principais representantes foram René Descartes e Immanuel Kant, para os quais as ações humanas deveriam ser orientadas pelo uso da razão.
O racionalismo guiou todo o pensamento grego e depois dominou a cultura ocidental. Nietzsche argumentou contra a crença de que, por meio da razão, se poderia atingir um conhecimento superior acerca da existência. As supostas verdades indubitáveis alcançadas pela razão são desmistificadas como simples ilusões. Para Nietzsche, nenhum conhecimento é objetivo o suficiente ao ponto justificar a exclusão das demais perspectivas.
Explicando melhor, Nietzsche considera a “verdade” e a “mentira” meras representações produzidas pela razão humana. Aquelas representações que, em um determinado contexto, atendessem a certas exigências, que tivessem utilidade e conveniência para um dado modo de vida, tenderiam a ser disseminadas como “verdadeiras”. Aquelas que, num dado contexto, se apresentassem como inúteis, inconvenientes ou perigosas para a manutenção de um certo modo de vida, teriam a sua disseminação vetada ou seriam “falsidades”.
Em vez de confiar na razão, Nietzsche adota o perspectivismo. Segundo ele não existe uma visão objetiva e universal da realidade, como o “ponto de vista de Deus” sobre o mundo, que incorporaria todas as perspectivas possíveis e não seria em si uma perspectiva. Em vez disso, todas as perspectivas são influenciadas pela posição do observador, seus valores e experiências.
Friedrich Nietzsche acredita na arte como uma forma de conhecer a realidade. Não que ela possa oferecer o que a razão não consegue: uma verdade absoluta. No entanto, ele defende que a arte seria capaz de interpretar a realidade acomodando a pluralidade de perspectivas subjetivas que existem sobre ela. E isto estaria de acordo com o critério da vida e a sua dinâmica.
Confira nosso podcast: Racionalismo e modernidade
Crítica à moralidade em Nietzsche: moral de escravos e moral de senhores
Nietzsche frequentemente se referia à moralidade ocidental como uma "moralidade de rebanho" ou "moralidade escrava". Ele argumentava que essa moralidade era uma criação das classes mais fracas e oprimidas, que projetavam seus próprios valores de submissão e obediência a um Deus e uma moralidade transcendental. Isso, segundo Nietzsche, resultou em uma moralidade que promovia a conformidade e a negação da individualidade.
Por outro lado, Nietzsche denominou moral de senhores a moralidade positiva. Ela explora os limites para além do bem e do mal. A moral de senhores é feita de valores que conservam a vida e enaltecem os seus instintos fundamentais. Essa moral é fundada na capacidade de criação e invenção e o seu resultado é a alegria. A moral de senhores está a serviço da superação. O indivíduo que consegue isso atingiu o super-homem ou além-do-homem. Ele é capaz de reavaliar os valores, desprezar os que o diminuem e criar outros que estejam comprometidos com a sua vida.
O super-homem é o tipo de pessoa que faz a transvaloração dos valores. Ou seja, em vez de seguir o rebanho, o super-homem enaltece o valor da vida terrena e do indivíduo ativo, criativo e que vive a própria vida de modo original e afirmativo. Enfim, após criticar a moralidade tradicional Nietzsche propôs uma ética mais afirmativa, que abraçasse a complexidade da natureza humana e encorajasse a expressão da vontade de poder de forma criativa e autêntica. Para saber mais sobre a crítica de Nietzsche à moral cristã, clique aqui.
Conceitos de Friedrich Nietzsche
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Vontade de poder: é uma força motriz fundamental da natureza humana. Todas as ações humanas e naturais são a busca pela realização da vontade de poder. Essa não é apenas uma busca de poder sobre os outros, mas também sobre si mesmo, a autossuperação.
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Transvaloração dos valores: Nietzsche criticou a moral tradicional e os sistemas de valores, como o cristianismo, e propôs uma revisão radical desses valores. Nietzsche insistiu que o modo de ver o mundo associado à moral de “rebanho” seria uma perspectiva inferior à perspectiva do “senhor”, própria daquele a que chama de super-homem. Por isso, Nietzsche defendeu a necessidade de os indivíduos questionarem e reavaliarem seus valores pessoais e morais, buscando nova ética que fosse mais alinhada com a vontade de poder.
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Amor fati: esse conceito de "amor fati" é uma expressão em latim que pode ser traduzida como "amor ao destino" ou "amor ao que é necessário". Friedrich Nietzsche a utilizou algumas vezes para representar a ideia de que alguém deve aceitar e abraçar completamente tudo o que acontece em sua vida, seja bom ou ruim, como parte inalterável do destino. Isso implica que, em vez de resistir ou se lamentar sobre as situações que não podemos controlar, devemos abraçá-las com paixão e aceitação, vendo cada evento como parte essencial de nossa jornada.
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Super-homem (Übermensch): o conceito do super-homem representa a ideia de um ser humano que vai além das limitações da moralidade tradicional e das normas sociais. O super-homem é capaz de fazer a transvaloração dos valores, isto é, de criar seus próprios valores e viver de acordo com sua vontade de poder, em vez de se conformar às convenções estabelecidas.
Friedrich Nietzsche e o niilismo
O niilismo significa a desvalorização e a consequente morte dos valores tradicionais. A dissolução dos princípios e critérios até então absolutos. O niilista rejeita a existência de Deus, da imortalidade da alma, da objetividade da moral, da autoridade da razão, da possibilidade de conhecimento, de um propósito para a vida ou do final feliz da história humana.
Friedrich Nietzsche explorou o niilismo como um problema cultural. Ele viu o fenômeno como uma consequência inevitável do declínio do cristianismo e da ascensão do racionalismo na cultura ocidental. Ele argumentava que, à medida que as pessoas abandonavam as crenças religiosas tradicionais, enfrentariam um vazio existencial e moral.
Nietzsche estava preocupado com o impacto disso na sociedade e diagnosticou duas formas principais de niilismo: o passivo e o ativo. O niilismo passivo envolve a resignação diante do vazio e a aceitação da ausência de valores. O niilismo ativo, por outro lado, é uma reação à falta de valores tradicionais e pode levar à busca de novos valores e significados.
Para Nietzsche, a superação do niilismo era uma tarefa vital. Ele acreditava que as pessoas deveriam criar seus próprios valores e significados, em vez de se apegarem às crenças e valores tradicionais que se tornaram obsoletos.
Uma das principais propostas de Nietzsche para superar o niilismo era a transvaloração dos valores. Isso implicava em questionar e reavaliar todos os sistemas de valores e moralidade, de modo a criar novos valores que estivessem mais alinhados com a afirmação da vontade de poder de cada um.
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Principais obras de Friedrich Nietzsche
Dentre as principais obras se destacam:
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A origem da tragédia (1872);
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O nascimento da filosofia na época trágica dos gregos (1874);
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Humano, demasiado humano (1876-80);
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A gaia ciência (1882);
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Assim falou Zaratustra (1883);
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A genealogia da moral (1887);
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Além do bem e do mal (1889);
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O crepúsculo dos ídolos (1889).
Frases de Friedrich Nietzsche
Nietzsche é conhecido, entre outras coisas, por suas frases impactantes e provocativas que capturam sua filosofia única e perspectiva sobre a vida. Selecionamos algumas frases e pensamentos para você conferir e ampliar o seu repertório cultural.
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“Não ouvimos o barulho dos coveiros a enterrar Deus? Não sentimos o cheiro da putrefação divina? — também os deuses apodrecem! Deus está morto! Deus continua morto! E nós o matamos!”
NIETZSCHE, F. A gaia ciência. Aforismo 125.
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“Da escola de guerra da vida — O que não me mata me fortalece.”
NIETZSCHE, F. Crepúsculo dos ídolos.
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“Instinto de rebanho. Onde quer que nos deparemos com uma moral, encontramos uma avaliação e hierarquização dos impulsos e atos humanos. Tais avaliações e hierarquizações sempre constituem expressões da necessidade de uma comunidade, de um rebanho. Com a moral o indivíduo é levado a ser função do rebanho e a se conferir valor apenas enquanto função.”
NIETZSCHE, F. A gaia ciência. Aforismo 116.
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“Sua virtude é a saúde de sua alma. [...] Depende do seu objetivo, do seu horizonte, de suas forças, de seus impulsos, seus erros e, sobretudo, dos ideais e fantasias de sua alma, determinar o que deve significar saúde também para o seu corpo.”
NIETZSCHE, F. A gaia ciência. Aforismo 120.
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“Quero cada vez mais aprender a ver como belo aquilo que é necessário nas coisas. Amor fati [amor ao destino]: seja este, doravante, o meu amor! Não quero fazer guerra ao que é feio. Não quero acusar, não quero nem mesmo acusar os acusadores. Que minha única negação seja desviar o olhar! E, tudo somado e em suma: quero ser, algum dia, apenas alguém que diz Sim!”
Nietzsche, A gaia ciência. Aforismo 276.
Fontes
BARROS, Tiago. Nietzsche: criação artística e crítica ao conhecimento racional. In: CABRAL, Alexandre; SAMPAIO, Juliana Lira e outros (orgs). Filosofia: um panorama histórico-temático. Rio de Janeiro: Maud X, 2013.
DORTIER, Jean-François (dir.). Dicionário de ciências humanas. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2010.
MARCONDES, Danilo. As origens: o surgimento da filosofia na Grécia antiga. In:______. Iniciação à história da filosofia dos pré-socráticos a Wittgenstein. 13.ed. Rio de Janeiro: Zahar, 2008.
MAUTNER, Thomas. Dicionário de filosofia. Lisboa: Edições 70, 2010.