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Racionalismo

Racionalismo é uma vertente da teoria do conhecimento moderna que defende a natureza inata das ideias e que todo o conhecimento verdadeiro advém da racionalidade.

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O racionalismo foi uma corrente filosófica muito importante da Modernidade. Como concepção de conhecimento filosófico, o racionalismo começa a tomar corpo durante o Renascentismo, mas as suas primeiras origens podem remontar à filosofia grega, com as teses idealistas platônicas e a concepção do princípio da causalidade.

O racionalismo tem como principal objetivo teorizar o modo de conhecer dos seres humanos, não aceitando qualquer elemento empírico como fonte do conhecimento verdadeiro. Para os racionalistas, todas as ideias que temos têm origem na pura racionalidade, o que impõe também uma concepção inatista, isto é, de que as ideias têm origens inatas no ser humano, nascendo conosco em nosso intelecto e sendo usadas e descobertas pelas pessoas que fazem melhor uso da razão. São considerados filósofos racionalistas Descartes, Spinoza e Leibniz.

Veja mais: Filosofia Moderna: o período da história da filosofia em que se destacou o racionalismo

René Descartes, filósofo e matemático francês, é considerado o primeiro grande racionalista.
René Descartes, filósofo e matemático francês, é considerado o primeiro grande racionalista.

Tópicos deste artigo

Características do racionalismo

Como a epistemologia (vertente filosófica que investiga as teorias do conhecimento), o racionalismo afirma que todo o conhecimento humano advém da pura racionalidade e do intelecto. As experiências práticas, para os racionalistas, não têm valor cognitivo, podendo inclusive enganar-nos ao oferecer-nos impressões errôneas. Os racionalistas defendem que as ideias surgem da pura e simples capacidade racional e impulsionam o intelecto, formando os conhecimentos com base nas leis universais da razão.

O racionalismo admite a tese inatista, a qual defende que o conhecimento parte de impressões inatas que acompanham todos os seres humanos, os quais são dotados da capacidade racional desde o seu nascimento. A explicação para que uns tenham conhecimentos mais avançados que outros é fornecida pelo desenvolvimento das capacidades inatas via exercícios racionais, ou seja, algumas pessoas são mais inteligentes, habilidosas ou conhecem muito de determinado assunto porque se esforçaram e exercitaram o seu intelecto, descobrindo nele as ideias que sempre estiveram lá contidas.

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Para os racionalistas, a razão é composta por um conjunto de leis universais que forma todo o conhecimento racional, e tudo que está fora dele é conhecimento errado. Por se basear nesse conjunto de leis racionais, essa teoria epistemológica adota a dedução como principal método filosófico e encontra na matemática um amparo para a defesa de suas teorias. Filósofos racionalistas, como René Descartes e Gottfried Wilhelm Leibniz, eram também matemáticos.

Veja também: Diferenças entre o ser humano e os demais animais

Racionalismo e Renascimento

É no contexto do Renascimento que as ideias racionalistas começam a ganhar força na Europa. Defendendo um retorno aos ideais da Grécia Antiga e uma valorização do conhecimento humano, os renascentistas operaram uma significativa revolução cultural em sua época. Invenções do período, como a imprensa, impulsionaram também a vontade de conhecer.

A ciência começa a tornar-se mais específica e revela novas descobertas na passagem do Renascimento para a Modernidade, o que coloca no centro das discussões filosóficas a seguinte pergunta: como é possível o conhecimento? Esse questionamento, que surge no início da Modernidade por conta do desenvolvimento intelectual renascentista, faz surgir a epistemologia ou teoria do conhecimento, tendo como principais divisões, no decorrer desse período, o racionalismo e o empirismo.

Racionalismo e empirismo

Na Modernidade, o debate entre racionalistas e empiristas acirrou-se. Enquanto os empiristas afirmavam que todo o conhecimento humano advém da experiência e que as ideias somente surgem em nossa mente após as vivências, os racionalistas afirmam que o conhecimento humano verdadeiro é puramente intelectual e que as estruturas cognitivas funcionam separadamente das estruturas corpóreas, admitindo inclusive a existência das ideias inatas.

René Descartes foi um dos principais racionalistas modernos. Sua obra foi objeto de contestação e tentativas de refutação por parte do empirista Locke, em seu livro Ensaio sobre o entendimento humano. Outro empirista britânico, David Hume, escreve outro livro com título similar, que foi traduzido para o português como Ensaio sobre o entendimento humano ou como Investigação acerca do conhecimento humano, que parece uma tradução mais adequada.

Mais tarde, o racionalista alemão Gottfried Wilhelm Leibniz escreve outro texto defendendo o racionalismo, em que ele critica a posição de Descartes, tenta refutar os empiristas britânicos e funda uma teoria do conhecimento chamada de monadologia.

A solução para o longo embate entre empiristas e racionalistas parece ser oferecida por Immanuel Kant, representante do Iluminismo alemão, que funda uma teoria do conhecimento duplamente fundamentada em elementos racionalistas e empiristas.

Veja também: René Descartes e a dúvida hiperbólica

Filósofos racionalistas

Como é tradição na história da filosofia, diversas ideias diferentes foram apresentadas pelos racionalistas, criando um ciclo de teorias e refutações entre eles. A seguir estão listados os principais filósofos racionalistas e suas ideias:

  • Baruch de Spinoza

Spinoza foi um filósofo racionalista que questionou a existência de Deus, o que levou à sua expulsão de Amsterdã.
Spinoza foi um filósofo racionalista que questionou a existência de Deus, o que levou à sua expulsão de Amsterdã.

Spinoza era filho de uma família de origem portuguesa, mas que vivia na Holanda. Também de origem judaica, o pensador holandês, dedicado ao estudo de filosofia e teologia desde jovem, desenvolveu teses acerca da existência de Deus que chocaram a comunidade judaica holandesa e renderam a sua expulsão de Amsterdã.

Sua concepção racionalista defendia a separação da matéria, do intelecto e da racionalidade, com base naquilo que ele chamou imanente e transcendente. O seu problema com as autoridades judaicas deu-se porque ele afirmou que Deus era imanente, estando, portanto, presente materialmente na natureza. O pensador escreveu, entre outros livros: Princípios da filosofia cartesiana, Tratado da emenda do intelecto (sua principal obra racionalista), e Tratado teológico político.

  • René Descartes

Autor de Discurso do método e de Meditações filosóficas, o filósofo e matemático francês pode ser considerado o primeiro grande racionalista. Sua defesa do racionalismo é tão grande, que o cogito cartesiano admite como conhecimento primeiro e mais bem fundamentado: o reconhecimento da existência com base no ato de pensar e não na vivência.

  • Gottfried Wilhelm Leibniz

Leibniz criou a teoria das mônadas para explicar a origem do conhecimento racional.
Leibniz criou a teoria das mônadas para explicar a origem do conhecimento racional.

O filósofo e matemático alemão foi um prodígio nos estudos, tendo defendido a sua tese de doutorado aos 20 anos e trabalhado durante boa parte de sua vida como diplomata. Leibniz fundamenta o conhecimento universal na racionalidade por meio do que ele chamou de mônadas. As mônadas seriam entidades separadas e fragmentadas que se juntavam (como os átomos) para dar origem ao conhecimento racional.

A existência das mônadas é, para o filósofo, apenas conceitual. Elas são somente um recurso a que Leibniz recorreu para explicar a origem do conhecimento. Seus estudos avançados em matemática permitiram-no desenvolver o cálculo infinitesimal. Entre seus livros, podemos destacar: Teodiceia e Monadologia.


Por Francisco Porfírio
Professor de Filosofia

Escritor do artigo
Escrito por: Francisco Porfírio Escritor oficial Brasil Escola

Gostaria de fazer a referência deste texto em um trabalho escolar ou acadêmico? Veja:

PORFíRIO, Francisco. "Racionalismo"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/filosofia/racionalismo.htm. Acesso em 02 de novembro de 2024.

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