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Diferença entre ética e moral

Moral representa os hábitos e costumes de uma sociedade, enquanto ética é um comportamento moral individual racionalizado e uma espécie de filosofia da moral.

Ilustração de um homem com um anjo e um demônio nos ombros para representar a ideia de dilema moral.
Ética e moral são termos similares que tiveram significados idênticos no passado. Hoje as mesmas palavras designam coisas distintas.
Crédito da Imagem: shutterstock
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Para pensarmos nas diferenças entre ética e moral, devemos recorrer, primeiro, à raiz etimológica dessas palavras. Ética deriva da palavra grega êthos, que quer dizer “caráter”. Ela era utilizada para representar os modos de agir de uma pessoa, ou seja, suas ações e comportamentos. Uma variante de êthos era a palavra éthos, que significa “costume” e pode ser aplicada a uma sociedade. O termo latino que designa éthos é moris, de onde retiramos a palavra moral.

Basicamente, ética é o comportamento individual e refletido de uma pessoa com base em um código de ética ou de conduta que deve ter aplicabilidade geral. É chamado de ética o campo da Filosofia que se dedica a entender e a refletir as ações humanas (ações morais) e a classificá-las enquanto certas ou erradas. Por isso, podemos dizer que ética é uma espécie de “filosofia moral”. Moral é, por sua vez, o costume ou hábito de um povo, de uma sociedade, ou seja, de determinados povos em tempos determinados. A moral muda constantemente, pois os hábitos sociais são renovados periodicamente e de acordo com o local em que são observados.

Confira no nosso podcast: Ética x Moral

Tópicos deste artigo

O que é moral?

A moral é uma espécie de conjunto de hábitos e costumes de uma sociedade. A moral, em geral, faz-se de acordo com a cultura de um local em um determinado espaço de tempo. Normalmente, alguns elementos da sociedade influenciam-na, como a religião, o modo de vida da sociedade, o acesso que essa sociedade tem à informação e o uso que as pessoas de determinado recorte social fazem da informação. A moral, normalmente, é exposta sobre preceitos e, muitas vezes, expressa como normas de proibição e permissão.

É comum ouvirmos a frase “fulano atentou contra a moral e os bons costumes”, isso porque a moral é uma espécie de norma de conduta social que indica algo que é certo ou errado naquela sociedade. Devido ao caráter cultural e subjetivo da moral, algo que é permitido em uma determinada moral, pode ser proibido em outra. Apesar de várias normas morais repetirem-se, elas são, muitas vezes, diferentes porque as sociedades construíram diferentes modos de vida. Aquilo que uma sociedade convenciona como moralmente incorreto pode ser classificado como um tabu.

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→ Exemplos de moral

Como o comportamento moral é moldado social e culturalmente, ou seja, os tabus e as permissões morais vão sendo modelados de acordo com o desenvolvimento social dos povos. Nesse sentido, vários traços do comportamento humano modificam-se, pois são relativos. Alguns exemplos de moral podem ser encontrados nas seguintes relações:

  • Normas de conduta em relação ao sexo e à sexualidade

A moral, por sofrer influência da religião, pode tratar o sexo e a sexualidade de diferentes maneiras. Em sociedades politeístas antigas, como a grega e a romana, o celibato não era estimulado (ao menos para os homens) como o é nas sociedades ocidentais cristãs, que se formaram a partir do crescimento do cristianismo na Idade Média.

Como a religião cristã baseia-se nas ideias de pecado original e de que o afastamento dos pecados é necessário para a obtenção da graça divina, a moral incorporou a proibição do sexo fora do matrimônio como norma. Daí deriva o tabu quanto à prática de sexo que não seja uma prática reprodutiva e que não tenha obtido a benção divina.

A homossexualidade também é um tabu nas culturas judaico-cristãs e islâmicas por conta dos preceitos dessas religiões, mas, na Grécia Antiga, a homossexualidade era um elemento cultural comum da sociedade, baseado, inclusive, no alto teor patriarcal daqueles povos que tendia a colocar a mulher no simples lugar de fêmea reprodutora, incapaz de oferecer a plenitude espiritual a um homem.

Selo com a imagem de Frida Khalo, mulher que questionava as normas morais da sua época.
Frida Kahlo é um exemplo de mulher que lutou contra as injustiças de gênero de sua época, questionando normas morais da sociedade onde estava inserida.

Para saber mais sobre a Frida Kahlo, leia: Frida Kahlo.

  • Tratamento à mulher

O domínio dos homens nas relações sociais com as mulheres é antigo. O que chamamos, hoje, de patriarcado é a marca desse domínio, que, durante milênios (e até hoje), colocou a mulher em posição social inferior. Se pensarmos que, até a década de 1930, as mulheres não votavam na maioria das potências republicanas e que, ainda hoje, às mulheres são negados certos direitos básicos, como a liberdade de ir e vir e de se expressar, com base em preceitos morais, podemos tomar como exemplo de norma moral o tratamento dado às mulheres. Hoje a ética tem o dever de desmascarar e derrubar esse antigo domínio que subjuga e trata com inferioridade as mulheres.

  • A escolha pelo certo e pelo errado ou pelo bem e pelo mal

Foto de Nietzsche, um crítico da moral cristã e da filosofia moral.
Nietzsche foi um crítico da moral cristã e da filosofia moral.

Nos livros Genealogia da moral e Além do bem e do mal, o filósofo alemão Friedrich Nietzsche tenta desconstruir a imagem que a nossa sociedade tem dos valores morais, afirmando que essa visão está demasiadamente entorpecida pela moral cristã. Segundo o filósofo, a gênese dos valores morais tem data certa de nascimento, apesar de parecerem algo que sempre foi dado ou esteve aí.

O filósofo também fala do peso da escolha, por uma ou outra ação, que pode implicar o bem ou o mal, mas faz questão de deixar claro que esse peso moral, que é considerado correto hoje, nem sempre foi aceito ou valorizado pela sociedade. Segundo Nietzsche, os valores morais vigentes na Modernidade enfraquecem e desvalorizam o que há de mais fortalecedor no ser humano, a sua natureza animal.

Leia também: A crítica de Nietzsche à moral cristã

O que é ética?

Ética é o que diz respeito à ação quando ela é refletida, pensada. A ética preocupa-se com o certo e com o errado, mas não é um conjunto simples de normas de conduta como a moral. Ela promove um estilo de ação que procura refletir sobre o melhor modo de agir que não abale a vida em sociedade e não desrespeite a individualidade dos outros.

Em Ética prática, o filósofo australiano Peter Singer destaca e refuta quatro pontos que ele considera que não se aplicam à ética, apesar das pessoas, insistentemente, considerarem tais pontos características do que seria a ética.

  1. Não é um conjunto de normas em relação ao sexo: isso cabe à moral, pois a primeira é uma questão individual que, se afeta a sociedade, diz respeito a uma má conduta do indivíduo e não ao sexo em si. Singer diz que os mesmos problemas de má conduta de um indivíduo em relação ao sexo podem ser aplicados ao ato de dirigir um carro. Se ele é responsável e, com suas atitudes sexuais, atinge apenas a si mesmo, ele não está agindo fora do que a ética prediz, do mesmo modo que uma direção segura e responsável não afetaria a sociedade.

  2. Não é uma bela abstração teórica e inexequível na prática: pensar que a ética é utópica, porque a maioria das pessoas não age de acordo com ela, é falso. Se a ética não for aplicável na prática, não há o porquê de ela existir.

  3. Não faz sentido apenas quando em contexto religioso: a ética é uma prática reflexiva que deve nortear as ações cotidianas dos indivíduos, tanto em contextos religiosos quanto fora deles.

  4. Não é relativa: ao contrário da moral, que é subjetiva, a ética tenta expressar um conjunto de práticas que devem ser consideradas corretas por toda a sociedade. Apesar de haver um contexto de ação individual, o indivíduo ético deve procurar fazer o que é o correto, e isso não é um traço subjetivo e individual mas está dentro de um contexto.

A ética é, portanto, a reflexão moral acerca da ação. É a ética que vai garantir às ações das pessoas a correção moral, sendo que, muitas vezes, uma ação moralmente ética pode não se enquadrar na moral de uma determinada sociedade.

Por exemplo, se, em um país que segue a lei islâmica, uma mulher comete adultério, ela pode ser condenada à morte por apedrejamento. Isso faz parte da moral daquela sociedade, mas não é eticamente correto. Se, em uma situação hipotética, alguém salva uma mulher prestes a morrer daquela maneira, essa pessoa está atentando contra a moral, mas está agindo certo, de acordo com a ética.

Leia também: Bioética: o que é, origem, princípios e importância

Exemplos de ética

  • Respeitar as leis que sejam justas;

  • Procurar agir com justiça;

  • Não se apropriar, indevidamente, do que não é seu;

  • Não prejudicar os outros;

  • Respeitar o convívio social.

Fontes

GALLO, Sílvio. Filosofia: experiência do pensamento. Volume único: Conecte Live. São Paulo: Saraiva 2018.

NIETZCHE, Friedrich. Além do Bem e do Mal: prelúdio a uma filosofia do futuro. Tradução de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 2012.

NIETZCHE, Friedrich. Genealogia da Moral: uma polêmica. Tradução de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 2013.

SINGER, Peter. Ética prática. Tradução de Jefferson Luiz Camargo. 3. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2012.

 

Por Francisco Porfírio
Professor de Filosofia

Escritor do artigo
Escrito por: Francisco Porfírio Escritor oficial Brasil Escola

Gostaria de fazer a referência deste texto em um trabalho escolar ou acadêmico? Veja:

PORFíRIO, Francisco. "Diferença entre ética e moral"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/filosofia/diferenca-entre-etica-moral.htm. Acesso em 13 de novembro de 2024.

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