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Você provavelmente já se deparou com uma situação em que as pessoas envolvidas esperavam um tipo de comportamento de sua parte tendo como base uma característica sua. De uma mulher, por exemplo, é geralmente esperado que se tenha o que chamamos de “sentimento maternal”, uma afinidade ou desejo natural em desempenhar o papel de mãe. De um homem, espera-se o papel do sujeito corajoso e destemido, de forma que a covardia e o medo são vistos como características impróprias e dignas de zombaria. Já de um policial, por sua vez, o papel de justo e combatente do crime é atribuído a ele naturalmente. Essas características associadas a uma posição social são o que chamamos de papéis sociais.
Os conceitos preconcebidos que utilizamos para nos posicionar no meio social geralmente são equivalentes ao papel social que supomos ter. Para entendermos melhor, voltemos ao exemplo do policial. Comumente, considera-se que um policial possui um conjunto de comportamentos comum a todos os policiais, sem se levar em consideração as perspectivas pessoais daquele sujeito específico. As responsabilidades atribuídas a esse grupo de profissionais e que, naturalmente, espera-se que sejam cumpridas, estão ligadas a certos valores, como a ideia de justiça e honra, que são automaticamente atribuídas aos indivíduos que assumem essa profissão.
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Perspectiva teórica sobre os papéis sociais
Os papéis sociais estão associados a várias outras características específicas de um sujeito. Os teóricos da Sociologia funcionalista, a escola de pensamento sociológico que entende que as sociedades são “sistemas orgânicos” em que as estruturas sociais trabalham em conjunto de forma a gerar estabilidade, entendem que os papéis sociais são fatos sociais.
Émile Durkheim (1858-1917), por exemplo, em sua obra “A Divisão do Trabalho Social”, ocupou-se em entender a especialização no trabalho, a fixação do sujeito em uma área específica do saber e a conformação com um determinado “papel social” e suas implicações na realidade social dos sujeitos. Nessa perspectiva, o sujeito cumpre o seu papel na medida em que colabora para a organização social ao desempenhar as funções esperadas por aqueles que se encaixam dentro de um grupo específico com atribuições previamente designadas.
Todavia, como já salientamos, os papéis sociais também estão ligados a pontos mais pessoais do indivíduo. Da mesma forma que esperamos um tipo de comportamento de um professor, também existem expectativas de comportamento baseadas em outros atributos do sujeito. Nessa visão, o indivíduo aprende quais são as expectativas que determinadas posições sociais possuem dentro de seu contexto cultural e passa a agir de acordo, cumprindo o papel que lhe foi designado.
O exemplo do sentimento maternal que toda mulher aparentemente deveria ter demonstra que certas atribuições de papéis moldam o comportamento dos indivíduos em sociedade. O sentimento maternal não é algo natural, isto é, nem todas as mulheres nascem com ele, pois existem mulheres que não se identificam com a imagem de mãe ou não possuem desejo algum em se tornarem mães. Dessa forma, podemos perceber que essa concepção de papéis fixos está errada. Os indivíduos não apenas assumem papéis sociais previamente concebidos e designados de acordo com posições sociais; ao contrário, os sujeitos são agentes que possuem liberdades individuais e são capazes de modificar, criar e negociar as funções que desempenham de acordo com suas particularidades.
Por Lucas Oliveira
Graduado em Sociologia