A Revolta dos Malês foi uma revolta de africanos escravizados que aconteceu em 1835, na cidade de Salvador, na Bahia. A cidade baiana tinha uma grande concentração de africanos escravizados que se rebelavam constantemente nas primeiras décadas do século XIX. No caso da Revolta dos Malês, cerca de 600 africanos escravizados se rebelaram na capital baiana.
Esses africanos escravizados eram de origem nagô e haussá, em sua grande maioria, sendo muitos deles muçulmanos. Seus objetivos eram, ao se voltarem contra a população (principalmente) branca de Salvador, libertarem-se da escravidão e garantirem sua liberdade religiosa. Foram derrotados e alguns dos líderes foram severamente punidos.
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Tópicos deste artigo
- 1 - Resumo sobre a Revolta dos Malês
- 2 - Videoaula sobre a Revolta dos Malês
- 3 - O que foi a Revolta dos Malês?
- 4 - Contexto histórico da Revolta dos Malês
- 5 - Motivos da Revolta dos Malês
- 6 - Objetivos da Revolta dos Malês
- 7 - Por que a Revolta dos Malês recebeu esse nome?
- 8 - Líderes e participantes da Revolta dos Malês
- 9 - Como ocorreu a Revolta dos Malês
- 10 - Fim da Revolta dos Malês
- 11 - Consequências da Revolta dos Malês
- 12 - Exercícios sobre a Revolta dos Malês
Resumo sobre a Revolta dos Malês
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A Revolta dos Malês foi uma revolta de africanos escravizados que aconteceu em Salvador, em 1835.
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É considerada a maior revolta de escravizados da história brasileira.
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Foi organizada por africanos escravizados nagôs e haussás, em grande parte, muçulmanos.
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Buscaram se livrar da escravidão, controlar a cidade de Salvador e garantir sua liberdade religiosa.
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Foram derrotados e alguns dos envolvidos foram severamente punidos.
Videoaula sobre a Revolta dos Malês
O que foi a Revolta dos Malês?
A Revolta dos Malês foi um levante de escravizados que aconteceu na cidade de Salvador, na Bahia, em 1835. Essa revolta ficou marcada na história brasileira como a maior revolta de escravizados de nossa história. Durante o evento, cerca de 600 escravizados marcharam nas ruas de Salvador em um ato de rebeldia contra a escravidão.
Os escravizados rebelados eram, em sua maioria, nagôs e haussás e adeptos do islamismo. Alguns deles acreditavam em religiões de matriz africana. Os rebelados buscaram conquistar o apoio de outros escravizados de Salvador, mas a revolta foi resumida a esse grupo de 600 pessoas. Seu objetivo principal era garantir a sua liberdade, e os historiadores entendem a revolta como um movimento de resistência à escravidão.
Contexto histórico da Revolta dos Malês
A Bahia do começo do século XIX ficou marcada por um grande número de revoltas de escravizados. A província também foi uma das que mais receberam africanos escravizados pelo tráfico negreiro. Desses, os dois principais grupos eram os nagôs (iorubás) e os haussás. A quantidade dessas revoltas está diretamente relacionada com o alto número de escravizados naquela região.
A grande presença de nagôs e haussás também contribuiu para isso, pois eram povos que tinham histórico recente de envolvimento com guerras. Assim, a Bahia da primeira metade do século XIX abrigou 30 revoltas de escravizados, sendo que metade dessas aconteceu na década de 1820.|1| Uma das primeiras agitações desse período foi a Revolta de 1807.
Esse levante foi descoberto, no mês de maio de 1807, antes de ser iniciado. Os escravizados que se organizaram tinham em seus planos a realização de ataques contra igrejas católicas e suas imagens e queriam instalar uma autoridade muçulmana no poder de Salvador. Depois, planejavam conquistar outros locais do Nordeste.
Inúmeras revoltas aconteceram nos anos seguintes, mas a história da resistência e das revoltas escravas ficou marcada pela Revolta do Malês, que aconteceu em Salvador, em 1835, e mobilizou 600 escravizados em busca de sua liberdade. O temor causado por essa insurreição ficou gravado no imaginário dos senhores, que temiam que uma nova ação desse tipo acontecesse no Brasil.
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Motivos da Revolta dos Malês
O século XIX ficou marcado como o momento auge da escravidão no Brasil, uma vez que a quantidade de africanos escravizados trazidos ao Brasil nesse período cresceu exponencialmente. A cidade de Salvador era um dos grandes centros que recebiam africanos escravizados, sendo que, naquele contexto, grande parte dos enviados para lá eram haussás e nagôs (iorubás), como mencionado.
As revoltas de escravizados eram comuns na Bahia e demonstravam a insatisfação dessas pessoas com a exploração e as violências que elas sofriam. Os participantes da Revolta dos Malês eram, em grande parte, muçulmanos e adeptos de religiões tradicionais da África, e, no Brasil, eles viam sua religiosidade ser reprimida pela cultura predominante da Igreja Católica.
Sendo assim, muitos historiadores entendem que a Revolta dos Malês foi, antes de tudo, uma reação contra a escravidão, um movimento de luta pela liberdade e contra a opressão e violência que os escravizados sofriam, e dentro desse aspecto estava a luta pela liberdade religiosa.
Objetivos da Revolta dos Malês
Entre os objetivos dos africanos escravizados que se rebelaram durante a Revolta dos Malês, estavam:
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tomar o controle da cidade de Salvador, colocando-a sob domínio dos africanos;
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abolir a escravidão nos territórios que fossem dominados;
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combater o catolicismo para permitir que pudessem praticar suas religiões;
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reprimir a população da cidade de Salvador, sobretudo a parcela branca da cidade.
Por que a Revolta dos Malês recebeu esse nome?
A revolta levou esse nome porque os escravizados que participaram dela eram comumente conhecidos como “malês”. O termo “malê” é oriundo de “imalê”, do iorubá e que significa “muçulmano”. O termo “malê” foi bastante utilizado em nosso país para mencionar os africanos escravizados de grupos como os haussás e nagôs.
Líderes e participantes da Revolta dos Malês
A Revolta dos Malês teve oito líderes, cuja maioria era nagô. A listagem dos nomes dos líderes foi apresentada pelo historiador João José Reis, a saber:
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Ahuna;
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Pacífico Licutan;
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Sule ou Nicobé;
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Dassalu ou Damalu;
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Gustar;
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Manoel Calafete (liberto);
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Luís Sanim; e
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Elesbão do Carmo ou Dandará.
Como ocorreu a Revolta dos Malês
A Revolta do Malês aconteceu em Salvador e passou-se na madrugada do dia 25 de janeiro de 1835. Naquela época, a capital era uma das principais cidades escravistas do Brasil e tinha apenas 22% de sua população formada por brancos livres. Os escravizados africanos (e seus descendentes) eram 40% da população total da cidade que, na época, era de 65 mil habitantes.|2|
Foi nesse cenário que se deu a maior revolta de escravos do Brasil. Os participantes da Revolta dos Malês foram, na sua maioria, nagôs, mas sabe-se também que o levante contou com a participação de africanos haussás e tapas (conhecidos também como nupes). A maioria dos envolvidos era muçulmana, mas muitos também eram adeptos de religiões de matriz africana. O envolvimento dos muçulmanos foi algo marcante nesse acontecimento e evidenciou o papel da religião na luta por transformação social.
A revolta contou com a participação de 600 africanos escravizados, e os líderes dela combinaram para que ela acontecesse no final do Ramadã, mês sagrado para os muçulmanos. A revolta ficou marcada exatamente para o dia de Lailat al-Qadr, a festa da Noite da Glória — momento em que o Corão foi revelado para Muhammad (Maomé), o profeta do islamismo.
Os participantes da Revolta dos Malês eram todos africanos, e existem evidências que apontam que, se vitoriosos, os rebeldes pretendiam voltar-se contra toda a população nascida no Brasil. Os envolvidos também eram majoritariamente urbanos, e pouquíssimos da lavoura participaram da revolta, sendo eles do Recôncavo Baiano (arredores de Salvador).
Fim da Revolta dos Malês
A Revolta dos Malês eclodiu abruptamente na madrugada do dia 25 de janeiro, porque a trama havia sido denunciada e todo o planejamento ruiu depois disso. A revolta tinha sido planejada pelos escravizados urbanos, que se aproveitaram da maior liberdade de locomoção que tinham em relação aos que trabalhavam na lavoura.
Como mencionado, a revolta teve um forte envolvimento com o islamismo, e isso ficou perceptível porque os africanos que se rebelaram estavam usando um abadá branco, traje típico dos muçulmanos. Além disso, muitos deles usavam amuletos com passagens do Corão escritas em árabe. Eles acreditavam que esses amuletos protegeriam seus corpos.
Os combates espalharam-se horas a fio pelas ruas de Salvador e resultaram na morte de 70 dos africanos envolvidos e em nove mortes nas forças que lutaram contra os rebeldes. A última batalha deu-se em um local de Salvador chamado Água de Meninos. Muitos dos africanos, encurralados, procuraram fugir pelo mar e acabaram afogados. A Revolta dos Malês, portanto, fracassou.
Consequências da Revolta dos Malês
As punições contra os envolvidos foram severas e alcançaram até os libertos que não se envolveram com a dita revolta. Os punidos sofreram com a prisão, o açoite, a deportação e a execução. Ao todo, quatro deles foram condenados à morte: Jorge da Cruz Barbosa (Ajahi), Pedro, Gonçalo e Joaquim. Esses quatro foram executados por fuzilamento.
A intentona contribuiu para aumentar a repressão sobre a população de escravizados e libertos em Salvador. Uma lei aprovada naquele ano determinava que todos os africanos e descendentes suspeitos de envolverem-se com revoltas escravas seriam deportados para o continente africano. Existem estatísticas que apontam que houve a deportação de milhares de negros para a África.
Essa rigidez aconteceu porque os escravocratas temiam que uma rebelião de escravos nos moldes da Revolução Haitiana acontecesse no Brasil. Conforme pontuou João José Reis, “o Haiti penetrou, como um pesadelo, as casas senhoriais, os palácios governamentais e mesmo os clubes rebeldes brancos”.|2|
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Exercícios sobre a Revolta dos Malês
Questão 01
A Revolta dos Malês aconteceu em qual período da história brasileira:
a) Colonização
b) Primeiro Reinado
c) Período Regencial
d) Segundo Reinado
e) Primeira República
Resposta: Letra C
A Revolta dos Malês aconteceu em 1835, portanto, durante o Período Regencial de nossa história.
Questão 02
A Revolta dos Malês reforçou um grande temor nas elites brasileiras de que uma revolução ocorrida em outro país acontecesse aqui. Estamos falando da revolução de qual país:
a) Estados Unidos
b) Haiti
c) França
d) Inglaterra
e) Rússia
Resposta: Letra B
A Revolta dos Malês, enquanto uma revolta de escravos, reforçou o que ficou conhecido em nosso país como haitianismo, isto é, o temor das elites econômicas e escravocratas de que uma revolta de escravos se iniciasse e tomasse grandes proporções, assim como havia sido no Haiti no final do século XVIII.
Notas
|1| REIS, João José. A Revolta dos Malês em 1835. Disponível em: http://educacao3.salvador.ba.gov.br/adm/wp-content/uploads/2015/05/a-revolta-dos-males.pdf
|2| REIS, João José. Nos achamos em campo a tratar da liberdade: a resistência negra no Brasil oitocentista. In.: MOTA, Carlos Guilherme (org.). Viagem incompleta: a experiência brasileira. São Paulo: Senac, 1999. p. 249.
Fontes
REIS, João José. Revoltas Escravas. In.: SCHWARCZ, Lilia Moritz e GOMES, Flávio (org.). Dicionário da escravidão e liberdade. São Paulo: Companhia das Letras, 2018.
REIS, João José. Nos achamos em campo a tratar da liberdade: a resistência negra no Brasil oitocentista. In.: MOTA, Carlos Guilherme (org.). Viagem incompleta: a experiência brasileira. São Paulo: Senac, 1999.
REIS, João José. A Revolta dos Malês em 1835. Disponível em: http://educacao3.salvador.ba.gov.br/adm/wp-content/uploads/2015/05/a-revolta-dos-males.pdf