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Revolução Haitiana

A Revolução Haitiana foi uma grande rebelião, liderada por escravos e ex-escravos, em São Domingos, atual Haiti, a partir de 1791.

Pintura de January Suchodolski na qual é retratada a Revolução Haitiana.
A Revolução Haitiana foi a única revolução da história na qual escravos e ex-escravos foram os líderes e se saíram vitoriosos.
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A Revolução Haitiana foi uma grande rebelião liderada por escravos e ex-escravos que ocorreu em São Domingos, atual Haiti, a partir de 1791. Foi a única revolução na qual escravos e ex-escravos foram os líderes e se saíram vitoriosos em toda a história humana.

O atual Haiti foi ocupado primeiramente por piratas e, a partir do século XVII, a França passou a colonizar a região com a produção de açúcar e café. No século XVIII, mais de 90% da população haitiana era composta por escravos e essa população era controlada por meio de extrema violência.

Quando a Revolução Francesa eclodiu na Europa, os ideais de liberdade, igualdade e fraternidade ecoaram entre os escravos de São Domingos, como o Haiti era chamado pelos franceses. A partir de 1791, iniciou-se a Revolução Haitiana, que envolveu, além da França, outras potências do período. Em 1803, os revolucionários venceram o exército napoleônico e, em 1804, São Domingos se tornou independente, passando a ser chamado de Haiti.

Leia também: Revolta dos Malês — a maior revolta de escravos da história brasileira

Tópicos deste artigo

Resumo sobre Revolução Haitiana

  • A Revolução Haitiana foi uma grande rebelião liderada por escravos e ex-escravos que ocorreu em São Domingos, atual Haiti, a partir de 1791.

  • Na Revolução Haitiana, escravos e ex-escravos se rebelaram contra o poder colonial da França e contra a escravidão.

  • O estopim da Revolução Haitiana foi uma cerimônia da religião vodu em que um líder religioso conclamou os escravos a lutarem contra a escravidão.

  • Inglaterra, Espanha, França e Estados Unidos participaram da Revolução Haitiana para garantir seus interesses na região.

  • Toussaint Louverture e Dessalines foram os principais líderes da Revolução Haitiana, e os dois foram escravos.

  • A Revolução Haitiana terminou em 1804 com a vitória dos revolucionários, a independência do Haiti e o fim da escravidão no país.

  • A Revolução Haitiana teve como principais consequências milhares de mortes e uma grande perda econômica.

  • A Revolução Haitiana também causou pavor na maior parte da elite escravocrata da América Latina.

Antecedentes históricos da Revolução Haitiana

A ilha onde atualmente se localiza o Haiti é povoada há mais de 7 mil anos. No século XV, viviam na ilha indígenas conhecidos como taínos. Em 1492 Cristóvão Colombo batizou a ilha de Hispaniola e construiu o primeiro povoamento europeu na América, o La Navidad. Em 1507 houve uma grande epidemia de varíola entre os taínos, e poucos anos depois todos os indígenas da ilha estavam mortos.

Os espanhóis se ocuparam em colonizar a parte oriental da Ilha Hispaniola, região da atual República Dominicana. O atual Haiti, que ficava na parte ocidental da Ilha Hispaniola, foi ocupado inicialmente por piratas e corsários, principalmente franceses. Esses “piratas do Caribe” atacavam navios espanhóis que passavam pela região rumo à Europa.

Os franceses passaram a chamar o Haiti de São Domingos e, a partir de 1625, iniciaram a colonização da região. Grandes plantations de cana-de-açúcar dominaram a paisagem. O café também passou a ser cultivado na área.

A partir desse momento, um grande número de escravos africanos foi levado para lá. Segundo o censo realizado pela França em 1788, viviam em São Domingos aproximadamente 25 mil europeus, 22 mil africanos livres e cerca de 700 mil escravos. Dessa forma, São Domingos tinha 93% da sua população formada por escravos, talvez a maior proporção já vista na história.

Pouco antes da Revolução Haitiana, o país produzia cerca de 60% de todo o café do mundo e 40% do açúcar consumido pela França no período. A ilha era uma das colônias mais rentáveis da França.

Os relatos do período destacam que a violência pela qual os senhores de São Domingos tratavam seus escravos era maior do que aquela que ocorria em outras regiões da América. Antes da Revolução Haitiana, ocorreram diversas revoltas escravas no Haiti, assim como existiam diversos quilombos nas regiões montanhosas.

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Causas da Revolução Haitiana

As principais causas da Revolução Haitiana apontadas pelos historiadores são a grande quantidade de escravos no Haiti e a violência por meio da qual essa população era tratada.

Outro fator responsável pela revolução no Haiti foi a Revolução Francesa (1789-1799). Em 1789 eclodiu a revolução em Paris e as notícias dos acontecimentos franceses chegavam rapidamente aos haitianos. As ideias de igualdade, liberdade e fraternidade ganharam força na ilha. Negros livres e escravos se apropriaram das ideias iluministas, passando a exigir o fim da escravidão, maior participação política e melhores condições de vida para a população negra.

Características da Revolução Haitiana

Obra do século XIX, produzida por um jornal francês, sobre a Revolução Haitiana.
A Revolução Haitiana foi marcada pela violência contra a população de origem europeia.

A Revolução Haitiana foi um fenômeno muito singular, pois foi a única vez na história que uma rebelião de escravos foi vencedora e promoveu a independência de um país e também foi marcada pela violência contra a população de origem europeia. Quase a totalidade da população europeia da ilha foi assassinada ou fugiu durante os anos de revolução. Relatos descrevem cenas de espancamentos, enforcamentos e decapitações praticados contra a população de origem europeia.

Durante a guerra, tropas inglesas, norte-americanas e espanholas participaram da Revolução Haitiana, mudando de lado durante o conflito, ora ajudando os rebeldes, ora lutando contra eles.

Como ocorreu a Revolução Haitiana?

O estopim da Revolução Haitiana ocorreu em 14 de agosto de 1971. Nesse dia foi realizada uma cerimônia da religião vodu no norte do Haiti, em Bois Caiman, e que foi liderada pelo sacerdote Dutty Boukman.

Durante a cerimônia, Boukman conclamou os presentes para que lutassem pela liberdade. Milhares de pessoas participavam da cerimônia e muitas delas passaram a atacar cidades e fazendas da região, libertando escravos. Em pouco tempo a região norte do país estava nas mãos dos revoltosos. Muitos escravos se vingaram da violência praticada pelos seus senhores, fugiram e se juntaram aos rebeldes.

Logo no início da insurreição Dutty Boukman foi morto em combate e Toussaint Louverture passou a ser o principal líder dos revolucionários. Louverture nasceu em 1743 e era escravo, mas foi libertado pouco antes da eclosão da revolução. Durante a guerra, ele se mostrou um grande estrategista militar e líder político. Atualmente ele é considerado o “Pai do Haiti”.

Toussaint Louverture, principal líder da Revolução Haitiana, em aquarela do início do século XIX.
Toussaint Louverture foi o principal líder da Revolução Haitiana. Atualmente ele é considerado o “Pai do Haiti”.

Em 1792 os rebeldes já dominavam um terço do território de São Domingos e eram apoiados por tropas espanholas e inglesas. Na França, em 1793, a Convenção Jacobina passou a discutir a abolição da escravidão para acabar com a revolta na América. Tropas francesas foram enviadas para o Haiti, assim como um novo governador, que aboliu temporariamente a escravidão no norte do país. Houve uma trégua entre rebeldes e franceses e as tropas de Toussaint passaram a combater as tropas espanholas baseadas na ilha.

Em 1794 a Convenção Jacobina aprovou a abolição da escravidão em todas as suas colônias e declarou todos os negros e pardos como cidadãos. Nesse momento, 30 mil ingleses atacaram colônias francesas no Caribe, e cerca de 10 mil deles ocuparam Porto Príncipe, capital do Haiti. As tropas britânicas foram atacadas diversas vezes por tropas de Toussaint Louverture, agora aliado dos franceses. A febre amarela também atingiu em cheio as tropas britânicas no Haiti e, em maio de 1798, os britânicos fizeram um acordo com Toussaint, deixando a ilha ainda nesse mês. 

Em 1801, Toussaint outorgou uma Constituição para o Haiti na qual ele se declarou governante vitalício do país — este com bastante autonomia frente à França. Napoleão Bonaparte considerou esse fato separatismo e enviou tropas para combater o grupo de Toussaint. O objetivo de Napoleão era o de manter o Haiti como colônia francesa, além de manter a escravidão no país. As tropas chegaram em fevereiro de 1802 e os combates se iniciaram novamente.

Toussaint ordenou que seus soldados utilizassem a técnica da terra arrasada com os franceses, destruindo suas vilas e cidades e recuando em seguida. A ação pretendia que os franceses se distanciassem do litoral, dificultando o recebimento de suprimentos e reforços. Toussaint acabou sendo preso pelos franceses quando estava em uma fazenda no norte do Haiti e foi enviado para a França, onde acabou morrendo na prisão em 1803. A morte de Toussaint uniu as tropas haitianas, que continuaram a lutar contra os franceses.

As tropas da França foram lideradas pelo General Leclerc, cunhado de Napoleão. Durante a guerra as tropas francesas agiram com extrema violência, chegando inclusive a assassinar rebeldes nos porões dos navios, queimando enxofre e produzindo gases tóxicos, semelhantemente a uma câmara de gás da Segunda Guerra Mundial.

Dessalines, também um ex-escravo, tornou-se o principal líder dos revolucionários haitianos após a morte de Toussaint. Em 1803 as tropas de Dessalines infligiu diversas baixas às tropas francesas, assim como a febre amarela também causou. Ainda em 1803 Napoleão centrou suas forças em seus inimigos europeus, sobretudo os ingleses.

No final de 1803 as tropas francesas deixaram São Domingos e, em 1 de janeiro de 1804, o país se tornou independente e passou a utilizar o antigo nome indígena da ilha, Haiti. Dessalines se tornou o primeiro governante do país e a escravidão foi proibida em todas as suas formas no novo país.

Quais foram as conquistas da Revolução Haitiana?

A primeira conquista da Revolução Haitiana foi a vitória do Haiti sobre o exército mais poderoso da época, o exército napoleônico. Além disso, a Revolução Haitiana foi a primeira e única revolução na qual os escravos lideraram o processo de independência.

Outra conquista da revolução foi a abolição da escravidão. Em 1776, por exemplo, os Estados Unidos iniciaram sua luta contra a Inglaterra, que terminou com sua independência. Mas, após a independência, a escravidão continuou nos Estados Unidos. O Haiti foi um marco na luta contra a escravidão, sendo o primeiro país onde houve abolição em todo o mundo.

Veja também: Como foi o processo de independência dos Estados Unidos?

Consequências da Revolução Haitiana

A principal consequência da Revolução Haitiana foram as perdas humanas. Como em todos os conflitos, os números variam, mas a maioria dos historiadores aponta entre 100 mil e 200 mil mortos entre as tropas haitianas e entre 50 mil e 100 mil as mortes entre as tropas francesas e inglesas.

Além da perda humana, houve grande perda econômica. Boa parte da economia do país, baseada no cultivo da cana-de-açúcar e do café, estava destruída após a independência. Os portos do país também estavam destruídos e o comércio exterior, antes totalmente dependente da França, não existia mais.

Após a independência, Dessalines gastou boa parte dos recursos do país para a sua militarização, pois ele acreditava que a França tentaria reconquistar o país outra vez. Cerca de 10% da população masculina do Haiti fazia parte do exército na década de 1810. Grandes fortalezas foram construídas no litoral e a população foi remanejada para o interior do país.

Em 1825, o rei francês Carlos X enviou uma poderosa frota para o Haiti, exigindo indenizações por causa da Revolução Haitiana. Para evitar a guerra, o governo haitiano assinou um tratado no qual se comprometeu a pagar 150 milhões de francos-ouro. O Haiti pagou sua dívida para a França até 1947, quando o Tesouro haitiano faliu. Muitos historiadores apontam a indenização paga à França como um dos principais motivos de o Haiti ser o país mais pobre das Américas na atualidade.

Outra consequência da Revolução Haitiana foi o de se tornar uma esperança para milhões de escravos em toda a América, servindo como fonte de inspiração para estes conquistarem sua liberdade. Por outro lado, a Revolução Haitiana provocou pânico entre as elites escravocratas de toda a América. No Brasil, a revolução foi citada diversas vezes no Senado e na Câmara, mostrando que era grande o medo de que os escravos fizessem uma revolução por aqui. Muitos utilizaram o discurso de que era necessário fazer a abolição da escravidão antes que os escravos o fizessem pelas próprias mãos e de forma violenta.

Exercícios resolvidos sobre a Revolução Haitiana

Questão 1

(Fuvest)

“Neste território não poderá haver escravos. A servidão foi abolida para sempre. Todos os homens nascem, vivem e morrem livres...”

“Todo homem, qualquer que seja sua cor, pode ser admitido em qualquer emprego”.

Artigos 3 e 4 da Constituição do Haiti, assinada por Toussaint Louverture, 1801.

Lendo o texto acima e associando-o ao processo de independência das Américas espanhola e francesa, é possível concluir que:

A) como no Haiti, em todos os demais movimentos houve uma preocupação dominante com as aspirações populares.

B) a independência do Haiti foi um caso especial nas Américas, pois foi liderada por negros e mulatos.

C) na mesma década da independência do Haiti, as demais colônias do Caribe alcançaram a libertação.

D) o movimento de independência do Haiti foi inspirado pelo modelo dos Estados Unidos.

E) a independência do Haiti foi concedida por Napoleão Bonaparte, com base nos princípios liberais.

Resolução:

Alternativa B.

A Revolução Haitiana foi um caso à parte do que ocorreu no restante da América. Foi o único processo de independência liderados por escravos e libertos.

Questão 2

(UFRGS) Considere as afirmações abaixo sobre a história do Haiti nos séculos XIX e XX.

I. A Guerra de Independência do Haiti iniciou como uma ampla rebelião de escravos cujas consequências foram a abolição da escravidão e a emancipação do país do domínio colonial francês.

II. Os franceses exigiram uma compensação financeira em razão da abolição da escravidão e da independência, que só terminou de ser paga em meados do século XX.

III. O país enfrentou, em janeiro de 2010, um terremoto devastador que custou a vida de mais de cem mil haitianos e forçou outros milhares à emigração, inclusive para o Brasil.

Quais estão corretas?

A) Apenas I.

B) Apenas II.

C) Apenas III.

D) Apenas I e II.

E) I, II e III.

Resolução:

Alternativa E.

I. O processo de independência do Haiti se iniciou como uma rebelião contra a escravidão.

II. Após a independência, o Haiti foi obrigado a pagar pesadas indenizações para a França até 1947.

III. Em 2010 o Haiti sofreu com um terremoto que matou mais de 300 mil haitianos. Devido à devastação do terremoto, muitos haitianos migraram para outros países, como o Brasil.

Fontes

MOREL, Marco. A Revolução do Haiti e o Brasil escravista. Editora Paco, Jundiaí, 2017.

TEIXEIRA FILHO, Afonso. Jacobinos negros - Toussaint Louverture e a Revolução Haitiana. Boitempo Editorial, São Paulo, 2000.

Escritor do artigo
Escrito por: Jair Messias Ferreira Junior Pós-graduado em História pela Unicamp e professor da Educação Básica há mais de 20 anos. Também é formador de professores e produtor de materiais didáticos há mais de 10 anos.

Gostaria de fazer a referência deste texto em um trabalho escolar ou acadêmico? Veja:

JUNIOR, Jair Messias Ferreira. "Revolução Haitiana"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/historia-da-america/revolucao-haitiana.htm. Acesso em 27 de abril de 2024.

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