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O que é Modernidade?

O que é a Modernidade? Mais do que tudo, a Modernidade é fruto da construção do pensamento humano em relação aos fatos que se desenrolaram no decorrer da História.

René Descartes é considerado o pai do pensamento moderno
René Descartes é considerado o pai do pensamento moderno
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A modernidade é um período de tempo que se caracteriza pela realidade social, cultural e econômica vigente no mundo. Ao tratarmos da era moderna, pré-moderna ou ainda a pós-moderna, fazemos referência à ordem política, à organização de nações, à forma econômica que essas adotaram e inúmeras outras características. Entretanto, nessa trajetória que traçaremos aqui, o que nos importa é a trajetória do pensamento humano e o seu processo de construção. Para tanto, partiremos das reflexões de Zygmunt Bauman e de Max Weber para traçar uma linha que nos guie pelas mudanças do pensamento humano e sua conexão com a realidade histórica das pessoas que fizeram parte desse processo.

O que é a modernidade?

É comum escutarmos ou nos referirmos à nossa realidade como moderna. O termo já é tão naturalizado em nossa língua que passou a ter o mesmo contexto de contemporâneo — o que coexiste em um mesmo período de tempo. Mas você entende o que é ou a que nos referimos quando tratamos de modernidade?

Para respondermos a essa pergunta, temos que voltar em nossa história e entendermos primeiro como é possível determinar a passagem de um período de tempo para outro. É comumente entendido que os eventos que se iniciaram com a Revolução Francesa foram o ápice da superação do pensamento e das organizações sociais tradicionais que marcaram o período medieval. O rompimento com o pensamento escolástico, método de pensamento crítico ainda ligado aos preceitos da Igreja Católica, e o estabelecimento da razão como forma autônoma de construção de conhecimento, desligado de preceitos teológicos, foram alguns dos primeiros passos em direção à construção do pensamento moderno.

O desenrolar da Revolução Francesa teve como base a construção ideológica que convencionamos chamar de Iluminismo. O pensamento iluminista e os pensadores empiristas, que acreditavam que o conhecimento verdadeiro estava na experiência a partir dos sentidos, estabeleceram a razão e a ciência como a forma verdadeira de se conhecer o mundo. Esse pensamento racionalista inerente ao Iluminismo revirou toda a estrutura social da França, que era construída sobre pilares tradicionais fundamentalmente teológicos, o que abalou todos os pilares sociais e políticos do país em que o domínio monárquico absolutista se apoiava. A monarquia francesa e seu poder assegurado pela provisão divina foram derrubados diante do fortalecimento dos ideais igualitários e do racionalismo. Nesse momento, fortalecia-se o pressuposto de igualdade (em que nenhum homem estaria acima de outro, nem mesmo o Rei), que, mais adiante, seria o ponto de partida para os primeiros movimentos democráticos nas Américas.

René Descartes foi uma das figuras mais proeminentes desse período. Suas obras são vistas como fonte de inspiração e base de construção da filosofia moderna. Em sua principal obra, Discurso do método, Descartes apresenta o que foi chamado de método cartesiano, o ápice de sua filosofia, que estipulava o caminho a ser tomado para a construção do conhecimento cientifico: a evidência, a análise, a síntese e a enumeração.

O pensamento racional e o método cartesiano pavimentaram o caminho para os eventos que foram vistos como o ponto inicial da era moderna: a revolução industrial. A sociedade europeia passava por uma série de mudanças motivadas por grandes conflitos bélicos e ideológicos. As guerras napoleônicas estimularam a corrida armamentista, o que elevou a exigência por uma produção de bens materiais em maior escala. Os processos de cercamento, em que as terras de uso comunal passaram a ser privatizadas, empurraram os camponeses para os grandes centros urbanos. A ligação direta com a terra e o trabalho rural, pelo qual o camponês produzia seu sustento, foi cortada. As populações agrárias acumularam-se nas cidades e passaram a ter de vender sua força de trabalho nas grandes fábricas que se erguiam.

Nesse ponto, vemos que toda a estrutura social que havia existido até então se modificara. As relações entre indivíduos tornaram-se diferentes na medida em que sua realidade tornava-se distinta. Costumes que antes se justificavam em um mundo agrário e rural foram esquecidos ou se modificaram no meio urbano. Novos conflitos surgiram diante de uma nova configuração de relações trabalhistas e influenciados pelo capitalismo emergente, que foi o ponto principal da nova organização do mundo.

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A modernidade construiu-se em meio aos conflitos ideológicos da razão objetiva instrumental, utilizada como ferramenta de abordagem de questões do pensamento humano e de sua realidade. Assim, o pensamento tradicional, ligado ao pensamento teológico e religioso, foi progressivamente abandonado. Max Weber referiu-se a esse fenômeno como o processo de “desencantamento do mundo, no qual o sujeito moderno passou a despir-se de costumes e crenças baseados em tradições aprendidas que se apoiavam nos pilares fixos das religiões. Explicações e questionamentos baseados na utilização da razão instrumental quebraram noções preconcebidas e ancoradas no núcleo religioso.

A desordem inicial que o mundo moderno encontrou com o abandono dos princípios religiosos que sustentavam costumes e organizações sociais foi a força motriz para o que o sociólogo Zygmunt Bauman defendeu ser uma das principais características da modernidade: a busca pela ordem. Essa busca já havia sido anunciada por Thomas Hobbes, ainda no século XVII, com a descrição do poder que um Estado soberano deveria ter como controlador de seus súditos e responsável pelo reforço da ordem, especificando aquilo que era aceitável ou o que era repulsivo.

Todavia. foi apenas nos séculos XIX e XX que esse fenômeno tomou as dimensões que vemos hoje. A era moderna, diante dos conflitos cada vez mais globais, foi marcada pela segregação de classes, indivíduos e, principalmente, de nações. Bauman explica que:

Classificar consiste nos atos de incluir e excluir. Cada ato nomeador divide o mundo em dois: entidades que respondem ao nome e todo o resto que não. Certas entidades podem ser incluídas numa classe — tornar-se uma classe — apenas na medida em que outras entidades são excluídas, deixadas de fora. (BAUMAN – 1999)*

Os Estados modernos, tais como os conhecemos, foram formados a partir dessa lógica de exclusão e inclusão. A busca pela ordem, determinando o que nos é comum e o que não é, tomou forma na segregação estamental de territórios dos países que temos hoje espalhados pelo mundo e espalhou-se por todos os redutos das sociedades modernas. Os conflitos entre ideias socialmente aceitas e tudo o que é diferente foram a marca das sociedades modernas.

O ato nomeador a que Bauman se refere é o princípio da determinação de uma ordem. Ao excluirmos o que não faz parte de uma organização, estabelecemos simultaneamente o que faz parte dela. Como exemplo mais claro, temos as fronteiras de países que delimitam de forma precisa a extensão de um território e ainda servem como uma barreira invisível para os “estrangeiros” ou aqueles que não fazem parte dessa ordem. De maneira particular, essa separação fortaleceu-se de forma colossal durante o século XX e as guerras de escala global que se seguiram, como a Primeira e a Segunda Guerra Mundial.

O estabelecimento da ordem foi seguido pela busca pelo progresso, outra característica marcante da era moderna. Nesse sentido, as guerras foram responsáveis pelo avanço tecnológico vertiginoso do último século. A corrida armamentista dos países envolvidos levou ao desenvolvimento de novas tecnologias que mudaram novamente a nossa percepção de mundo.

Diante dessa enorme trajetória que nos esforçamos para cobrir, podemos contemplar o tamanho da complexidade dos caminhos pelos quais o pensamento humano e nossas organizações sociais passaram e ainda passam. Entender os processos históricos permite-nos entender a origem da realidade em que vivemos. O mundo moderno ainda se reinventa e, assim como todos os períodos que vieram antes, chegará o momento derradeiro de sua conclusão. Resta-nos perguntar: já estamos nesse momento de ruptura?

*Referência: BAUMAN, Zygmunt; Modernidade e ambivalência / tradução Marcus Penchel. — Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1999


Por Lucas Oliveira
Graduado em Sociologia

Escritor do artigo
Escrito por: Lucas de Oliveira Rodrigues Escritor oficial Brasil Escola

Gostaria de fazer a referência deste texto em um trabalho escolar ou acadêmico? Veja:

RODRIGUES, Lucas de Oliveira. "O que é Modernidade?"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/sociologia/o-que-modernidade.htm. Acesso em 19 de março de 2024.

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