Notificações
Você não tem notificações no momento.
Novo canal do Brasil Escola no
WhatsApp!
Siga agora!
Whatsapp icon Whatsapp
Copy icon

Elementos da narrativa

Elementos da narrativa são responsáveis pela construção do enredo, das personagens, do espaço e do tempo em um texto predominantemente narrativo.

Livro aberto com uma nuvem e uma paisagem em alusão aos elementos da narrativa
Os elementos da narração são fatores essenciais na composição dos textos narrativos.
Imprimir
Texto:
A+
A-
Ouça o texto abaixo!

PUBLICIDADE

Os elementos da narrativa são formas que ajudam na sucessão de acontecimentos e ações (enredo), na apresentação e identificação dos agentes envolvidos na trama (personagens), na descrição espacial de onde ocorrem os fatos (espaço) e no reconhecimento do contexto da história (tempo). Todos esses elementos são apresentados e evidenciados por um narrador com base no seu ponto de vista (foco narrativo).

Leia também: Gênero narrativo — os textos que contam uma história e apresentam elementos específicos

Tópicos deste artigo

Resumo sobre os elementos da narrativa

  • Os cinco elementos da narrativa procuram estabelecer: o que acontece (o fato); quando acontece (o tempo); onde acontece (o cenário); como acontece (o enredo); e quem diz o que acontece (o narrador).

  • O enredo é o elemento responsável pela construção da história e é estruturado, em sua forma padrão, em apresentação, complicação, clímax e desfecho.

  • O narrador é aquele que atribui um foco narrativo, isto é, um ponto de vista. Ele pode ser um narrador em primeira pessoa ou em terceira pessoa.

  • O tempo é o momento em que a história ocorre. Esse momento pode ser cronológico ou psicológico.

  • O espaço é o local onde ocorre a narrativa. Assim como o tempo, ele tem uma composição física e outra psicológica.

Videoaula sobre os elementos da narrativa

Não pare agora... Tem mais depois da publicidade ;)

Quais são os cinco elementos da narrativa?

A narrativa apresenta como elementos básicos de sua composição: o fato (o que será narrado); o tempo (podendo ser cronológico ou psicológico); o cenário (o local onde o fato se deu); o enredo (a sequência de eventos); e o foco narrativo (a perspectiva da narração, o ponto de vista do narrador). Juntos, esses elementos procuram responder às seguintes perguntas dentro da narrativa:

  • O que aconteceu? (fato)

  • Quando aconteceu? (tempo)

  • Onde aconteceu? (cenário)

  • Como aconteceu? (enredo)

  • Quem diz (e como diz) o que aconteceu? (narrador)

A seguir, analisaremos cada um dos elementos da narrativa com seus respectivos desdobramentos.

  • Enredo

O enredo é o elemento responsável pela construção da sucessão de eventos, isto é, dos acontecimentos e fatos dentro do universo narrativo que compõe a história. O enredo possui uma estrutura padrão conhecida por:

  • Apresentação: ocorre a introdução de personagens, tempo e espaço da narrativa. Ela situa o leitor oferecendo as informações iniciais necessárias para o acompanhamento da história.

  • Complicação: consiste em um fato ou ação que muda os rumos da narrativa, apresentando um conflito.

  • Clímax: considerado o ponto alto da história, é mais evidente em tramas investigativas, em que é alcançado no momento de revelação dos criminosos, por exemplo. Em outras situações, o clímax pode funcionar de maneira mais sutil, mas ele é comum em histórias que apresentam reviravoltas.

  • Desfecho: pode ser caracterizado como a resolução o conflito. É possível também, em diversos casos, o desfecho apresentar uma interpretação aberta ou trazer uma amarração para uma continuidade da trama no futuro. Este último recurso é muito utilizado em trilogias ou obras com várias sequências.

Apesar de o enredo ter a estrutura padrão mencionada, é possível encontrar histórias que não seguem o modelo convencional. Há tramas que começam pelo desfecho e retornam à apresentação, e há também aquelas que subtraem alguns dos elementos. Quando o enredo não segue a estrutura padrão, ele é chamado de não linear.

Veja o exemplo a seguir da estrutura de um enredo:

Era uma vez uma agulha, que disse a um novelo de linha:

— Por que está você com esse ar, toda cheia de si, toda enrolada, para fingir que vale alguma coisa neste mundo?

— Deixe-me, senhora.

— Que a deixe? Que a deixe, por quê? Porque lhe digo que está com um ar insuportável? Repito que sim, e falarei sempre que me der na cabeça.

— Que cabeça, senhora? A senhora não é alfinete, é agulha. Agulha não tem cabeça. Que lhe importa o meu ar? Cada qual tem o ar que Deus lhe deu. Importe-se com a sua vida e deixe a dos outros.

— Mas você é orgulhosa.

— Decerto que sou.

— Mas por quê?

— É boa! Porque coso. Então os vestidos e enfeites de nossa ama, quem é que os cose, senão eu?

— Você? Esta agora é melhor. Você é que os cose? Você ignora que quem os cose sou eu, e muito eu?

— Você fura o pano, nada mais; eu é que coso, prendo um pedaço ao outro, dou feição aos babados...

— Sim, mas que vale isso? Eu é que furo o pano, vou adiante, puxando por você, que vem atrás, obedecendo ao que eu faço e mando...

— Também os batedores vão adiante do imperador.

— Você é imperador?

— Não digo isso. Mas a verdade é que você faz um papel subalterno, indo adiante; vai só mostrando o caminho, vai fazendo o trabalho obscuro e ínfimo. Eu é que prendo, ligo, ajunto...

(...)

Em “Um apólogo” (Machado de Assis), a sentença inicial “era uma vez uma agulha, que disse a um novelo de linha” já indica alguns elementos do enredo: o tempo (o “era” faz referência a um momento distante) e as personagens (o novelo e a agulha). O conflito se dá no incômodo que a agulha tem diante da função e importância que se atribui ao novelo de linha.

Leia também: Autor e narrador — quais as diferenças?

  • Narrador

Em um texto narrativo, o narrador é um dos elementos mais importantes da narrativa. É por meio dele que o leitor tem contato com os acontecimentos, familiariza-se com a ambientação e cria laços de proximidade ou distanciamento com as personagens. O narrador é o responsável por estabelecer o foco narrativo, isto é, o ponto de vista ou ângulo pelo qual o leitor terá acesso à história.

Assim, o narrador pode ser em primeira ou terceira pessoa. O narrador em primeira pessoa pode ser personagem protagonista ou personagem testemunha. O primeiro está no centro dos acontecimentos do enredo. Já o segundo é um coadjuvante e narra os feitos e acontecimentos de outro (protagonista).

O narrador em terceira pessoa pode ser observador, onisciente neutro e onisciente intruso. O chamado narrador observador está do lado de fora, mas possui algumas informações privilegiadas sobre a história. Já os narradores oniscientes (neutro e intruso) conseguem expor sentimentos e pensamentos das personagens. A diferença entre eles é que o primeiro, o onisciente neutro, não interfere com opiniões e juízo de valor, enquanto tal prática é recorrente no segundo, o onisciente intruso.

Algum tempo hesitei se devia abrir estas memórias pelo princípio ou pelo fim, isto é, se poria em primeiro lugar o meu nascimento ou a minha morte. Suposto o uso vulgar seja começar pelo nascimento, duas considerações me levaram a adotar diferente método: a primeira é que eu não sou propriamente um autor defunto, mas um defunto autor, para quem a campa foi outro berço; a segunda é que o escrito ficaria assim mais galante e mais novo. Moisés, que também contou a sua morte, não a pôs no intróito, mas no cabo; diferença radical entre este livro e o Pentateuco. Dito isto, expirei às duas horas da tarde de uma sexta-feira do mês de agosto de 1869, na minha bela chácara de Catumbi. Tinha uns sessenta e quatro anos, rijos e prósperos, era solteiro, possuía cerca de trezentos contos e fui acompanhado ao cemitério por onze amigos.

O trecho apresentado pertence à obra Memórias Póstumas de Brás Cubas, na qual temos uma história sendo contada por um narrador em primeira pessoa e personagem. No texto é possível encontrarmos as marcas de uso da primeira pessoa nos verbos. Além disso, o narrador dá indícios de que a narrativa começará por sua morte. A ordenação e a organização, bem como as visões sobre as demais personagens, dão-se sob uma ótica: a visão de um narrador personagem já falecido. Para aprofundar seus estudos sobre os tipos de narrador, leia: Tipos de narrador.

  • Tempo

O tempo é o momento em que a história acontece. Sendo assim, ele pode se dar de duas formas: cronológica ou psicológica. Sobre a primeira, pode se tratar do século em que a narrativa ocorre (século XVII), do ano (1990), do dia (6 de abril) ou mesmo das horas ou minutos (às 17 horas). Já o tempo psicológico pode se passar na cabeça da personagem quando, por exemplo, ela faz referência ou se recorda de algum acontecimento de sua vida.

Ele olhou naquele momento para o dominó. Sem pensar, comprou. Dez reais. Não estava caro. No caminho para a casa, tentou entender o porquê dessa aquisição. Ele não joga dominó, não sabe nem como funciona isso. Porém, naquele mesmo momento, ao atravessar a rua, ele se viu criança, ele e seu pai, jogando dominó em uma praça. Coincidentemente, visualizou uma praça à sua frente. Não havia ninguém jogando dominó. Apenas adolescentes andando de skate.

No trecho, temos duas temporizações distintas. A primeira, cronológica, é marcada por um agora em que a personagem compra um dominó e atravessa a rua. Em seguida, uma memória transforma o agora da personagem em um tempo psicológico, remetendo à infância e a quando ela costumava interagir com o seu progenitor nas partidas de dominó.

  • Personagens

As personagens são os indivíduos inseridos na narrativa e responsáveis por darem seguimento aos acontecimentos, sendo afetados diretamente por eles. Assim, elas podem ser divididas em principal ou secundária.

As personagens principais participam ativamente da narrativa. Elas podem ser subdivididas em protagonistas ou antagonistas. A protagonista é aquela cujos acontecimentos que a envolvem correspondem ao foco da narrativa. A antagonista rivaliza com a protagonista. Geralmente possuem visões de mundo distintas e conflituosas e são colocadas em embate constante na narrativa.

As personagens secundárias têm uma importância, mas pouco participam ou não participam diretamente do conflito. Elas podem ter importância no andamento da narrativa ou apenas atuar na composição do cenário.

Hércules desceu junto de seu guia até o litoral. O homem, sem dizer uma palavra, apenas apontou para o mar escurecido e cheio de névoa que o semideus mal conseguia ver. Lá de longe vinha um barco, era Caronte. Faltava apenas uma missão, derrotar Cérbero, o guardião do Hades. O filho de Zeus entrou no barco. Tudo ocorreu em silêncio. Caronte nada dizia e o guia já havia retornado ao seu caminho.

No trecho acima, Hércules é o personagem principal. O protagonista conduz a sequência de acontecimentos do enredo que trata dos 12 trabalhos de Hércules. O último deles é derrotar Cérbero, o cão de três cabeças que habita o Hades. Para chegar ao submundo, ele precisa de um guia para levá-lo ao barco de Caronte, que, enfim, o levará ao Hades. Caronte e o guia são personagens secundários, mas que assumem uma importância porque, sem eles, Hércules não chega ao seu destino.

  • Espaço

O espaço corresponde ao “onde” da narrativa. Ele pode ser físico, isto é, um país, uma cidade, uma casa, um quarto etc., ou mesmo psicológico. Sobre este último, ele se passa na cabeça da personagem, portanto, não é materializável. Autores modernos como Clarice Lispector e William Faulkner fizeram uso recorrente do espaço psicológico.

Ela estava sozinha em casa. Deitada no sofá. O gato debruçado sobre a mesa brincava com a sombra do lustre que balançava. E ela continua ali, na sua casa. Os olhos se fechavam e o sono vinha. O gato continuava fazendo movimentos graças ao lustre que balançava, talvez, por conta do vento forte que vinha da janela. Ela, por um momento, achou ter aberto os olhos. Leve engano. Conseguia ver exatamente onde estava. Em uma pequena casa, no interior. Uma casa de campo provavelmente. Pessoas, possivelmente familiares, conversavam deitados à rede e crianças corriam ao redor da casa. Era a casa que ela gostaria de estar. Os olhos se abrem e o gato não estava mais brincando com o lustre…

Na cena, temos um exemplo de uma composição espacial física e psicológica. O espaço físico é a sua casa onde a personagem se encontra deitada, porém há um outro espaço, o psicológico, que se refere à outra casa, que ela visualiza em sua cabeça, provavelmente remetendo à certa nostalgia.

Escritor do artigo
Escrito por: Rafael Camargo de Oliveira Escritor oficial Brasil Escola

Gostaria de fazer a referência deste texto em um trabalho escolar ou acadêmico? Veja:

OLIVEIRA, Rafael Camargo de. "Elementos da narrativa"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/redacao/elementos-da-narrativa.htm. Acesso em 01 de novembro de 2024.

De estudante para estudante


Videoaulas