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O preconceito linguístico é a discriminação direcionada às formas de falar e escrever que não se adequam à variedade padrão. Parte das pessoas confunde falar na variedade “culta” com falar “correto” e diminuem ou ridicularizam as pessoas que desviam desse padrão. Além disso, outros preconceitos reforçam a discriminação aos modos de falar dos indivíduos; sendo assim, para combater o preconceito linguístico é necessário investir na educação e reduzir a desigualdade social. O combate a esse tipo de discriminação é fundamental pois pode acarretar consequências a nível pessoal e social nos falantes, como falta de emprego, isolamento social e redução da autoestima.
Leia também: O que são os vícios de linguagem?
Tópicos deste artigo
- 1 - Resumo sobre preconceito linguístico
- 2 - Videoaula sobre preconceito linguístico
- 3 - O que é preconceito linguístico?
- 4 - Causas do preconceito linguístico
- 5 - Quem sofre preconceito linguístico?
- 6 - Preconceito linguístico x variação linguística
- 7 - Norma culta e o preconceito linguístico
- 8 - Preconceito linguístico no Brasil
- 9 - Preconceito linguístico é crime?
- 10 - Como combater o preconceito linguístico
- 11 - Consequências do preconceito linguístico
Resumo sobre preconceito linguístico
- O preconceito linguístico é um tipo de discriminação direcionada à fala e/ou escrita das pessoas.
- As pessoas confundem norma-padrão com falar “correto” e por isso diminuem as variações linguísticas informais.
- O preconceito linguístico também é motivado ou ampliado por outros preconceitos, como contra classe social, nível de escolaridade, raça/etnia e naturalidade, por exemplo.
- Todo tipo de diminuição e chacota com a fala das pessoas é um tipo de preconceito linguístico.
- Existem diversas causas para a persistência do preconceito linguístico, como ensino tradicional da língua portuguesa e a desigualdade social do país.
- As pessoas que mais sofrem preconceito linguístico são aquelas que pertencem a grupos marginalizados social ou culturalmente.
- A variação linguística reconhece a diversidade de formas das línguas e combate a ideia do preconceito linguístico.
- As pessoas que são alvo de preconceito linguístico podem sofrer isolamento social, diminuição da autoestima, discriminação em vagas de emprego, entre outras consequências.
Videoaula sobre preconceito linguístico
O que é preconceito linguístico?
O preconceito linguístico é a discriminação direcionada a pessoas devido à sua forma de falar ou escrever. Apesar de existir uma língua padrão que é ensinada na escola, no uso da língua ocorrem diversas variações no modo falar das pessoas, motivadas por fatores variados. No entanto, por ainda existir um entendimento equivocado de que a gramática normativa está ensinando a “língua correta”, alguns indivíduos acabam inferiorizando outros por sua fala ou escrita desviar desse padrão.
O preconceito linguístico também pode estar associado a outros preconceitos, como discriminação de classe, raça, naturalidade, etc. Como historicamente alguns grupos foram marginalizados socialmente ou tiveram suas expressões culturais tidas como inferiores, as variações linguísticas, ou seja, as formas de falar desses grupos sociais podem ser discriminadas também por causa desses outros preconceitos.
→ Exemplos de preconceito linguístico

O preconceito linguístico pode se expressar tanto no contexto pessoal e cotidiano como em eventos formais e públicos. Todo tipo de diminuição ou chacota com alguém devido ao seu modo de se comunicar é uma manifestação, às vezes inconsciente, de preconceito linguístico. Assim, seguem alguns exemplos dessa discriminação:
- ridicularizar sotaques regionais em diálogos, redes sociais, filmes etc.;
- julgar a capacidade intelectual das pessoas devido à sua forma de falar;
- fazer chacota com alguém devido ao uso de alguma construção desvalorizada socialmente;
- “corrigir” alguém, em situações desnecessárias, por utilizar gírias ou outras expressões informais;
- valorizar ou desvalorizar os indivíduos somente por causa da sua forma de falar.
Causas do preconceito linguístico
O preconceito linguístico pode ocorrer por diferentes motivações, às vezes combinadas entre si, ou seja, em algumas situações há mais de uma discriminação envolvida no ato de preconceito linguístico. Algumas das causas do preconceito linguístico são:
- Entendimento de língua como gramática normativa: há um entendimento histórico de que uma língua é especificamente a sua norma-padrão, ou seja, ambos os termos (língua e norma-padrão) são compreendidos como sinônimos. No entanto, a língua é um sistema complexo e vivo que passa, naturalmente, por processos de mudança e diversificação. A norma-padrão é uma das variedades linguísticas de uma língua, o que a difere é seu prestígio social, pois geralmente ela é a forma utilizada pelas classes de maior influência social. Sendo assim, por mais que seja necessário dominar a norma-padrão para usufruir e acessar alguns espaços sociais – como o trabalho, por exemplo –, isso não a torna superior linguisticamente às outras variações que, igualmente, cumprem propósitos comunicativos.
- Ensino tradicional de língua portuguesa: outro fator que contribui para a perpetuação do preconceito linguístico é o ensino de gramática normativa nas aulas de língua portuguesa. Embora venham ocorrendo modificações positivas nos livros didáticos e práticas pedagógicas, por muito tempo o ensino de língua centrava-se apenas no ensino da norma-padrão, ocultando a existência de outras variedades e favorecendo a ideia de que há somente uma forma correta de falar.
- Desigualdades sociais: o preconceito linguístico pode estar associado a outros preconceitos, como a discriminação regional, de classe, de raça e de escolaridade, por exemplo.
Quem sofre preconceito linguístico?
As pessoas que frequentemente são alvo de preconceito linguístico são:
- falantes de variedades linguísticas regionais que são socialmente estigmatizadas, como pessoas com sotaque interiorano;
- falantes que utilizam variedades linguísticas associadas a grupos sociais discriminados;
- falantes com menor grau de escolarização, cuja fala é frequentemente associada ao erro;
- demais falantes que utilizam variações informais estigmatizadas
Preconceito linguístico x variação linguística
- Preconceito linguístico: é a discriminação contra pessoas devido à sua forma de falar ou escrever, ou seja, a variação linguística utilizada, julgando-a como inferior em detrimento de uma norma-padrão considerada a “forma correta”.
- Variação linguística: refere-se ao entendimento de que uma língua apresenta diferentes formas de ser falada ou escrita e que essas mudanças são naturais, pois a língua é um organismo vivo que se modifica no tempo e nos espaços, logo não se deve discriminar as variedades linguísticas.
Para saber mais sobre variação linguística, clique aqui.
Norma culta e o preconceito linguístico
Devido à supervalorização da norma culta, muitas vezes ela embasa o preconceito linguístico. Isso porque a norma culta é a variedade padrão da língua, ela recebe esse nome pois é a variação de maior prestígio social e, por isso, é exigida nos contextos formais da sociedade e ensinada nas instituições de ensino. Em razão disso, muitos indivíduos ainda acreditam que essa é a única forma correta de se comunicar e praticam chacota ou inferiorização de outros sujeitos por não dominarem essa norma ou por utilizarem variações desprestigiadas socialmente.
Preconceito linguístico no Brasil
No Brasil, vários fatores contribuem para a perpetuação do preconceito linguístico. Um dos fatores é o fato de que ainda há uma perspectiva de que o português brasileiro é “errado” por não apresentar as mesmas variações linguísticas que Portugal. Nesse sentido, muitas pessoas desprezam variações regionais ou sociais, por exemplo, por se desviarem de regras do português europeu.
Outro aspecto relevante é a forte desigualdade social no país. Um dos aspectos que contribui para a falta de domínio da norma-padrão de alguns falantes é a falta de acesso a uma educação de qualidade. Isso mantém a desigualdade de letramento dos falantes e favorece a discriminação social, tanto no fator linguístico como no aspecto econômico.
Preconceito linguístico é crime?
Preconceito linguístico não é crime. Isso porque na legislação brasileira o preconceito linguístico não é tipificado como crime específico, portanto não pode ser considerado crime.
Como combater o preconceito linguístico
Algumas ações que podem ajudar a combater o preconceito linguístico na sociedade são:
- investir em uma educação linguística que valorize a diversidade, discutindo os processos de formação das variações linguísticas e as causas do preconceito linguístico;
- ampliar campanhas de conscientização sobre as consequências do preconceito linguístico;
- conscientizar a população sobre a diferença entre norma culta e forma certa de falar;
- combater piadas e falas vexatórias contra variações linguísticas regionais e sociais;
- estimular a representação respeitosa das variações linguísticas em mídias;
- investir na educação brasileira, principalmente na pública, para reduzir as desigualdades sociais e de acesso à educação.
Consequências do preconceito linguístico
O preconceito linguístico marginaliza e inferioriza as pessoas por causa da sua forma de falar, por isso suas consequências são a nível pessoal e coletivo:
- marginalização de algumas manifestações culturais;
- invisibilização de grupos sociais e suas variações linguísticas;
- dificuldade de acesso a oportunidades de emprego para alguns falantes;
- continuidade ou aumento da desigualdade social devido à falta de oportunidades para alguns falantes;
- diminuição da autoestima dos falantes de variedades linguísticas que não sejam a padrão;
- naturalização de chacotas, bullying e outros tipos de violências a falantes de variações marginalizadas;
- ensino de língua descontextualizado da realidade dos educandos;
- aprendizagem não significativa da língua.
Fonte
Bagno, M. Preconceito linguístico: o que é, como se faz? São Paulo: Editora Loyola, 2007).