Califado é um estado governado por um califa, considerado um sucessor político-religioso de Maomé, profeta do islamismo. Existiu desde a morte de Maomé em 632 até 1924.
Você sabe o que é califado? Um califado é um estado governado por um califa, considerado um herdeiro direto do profeta Maomé pelos muçulmanos sunitas, que correspondem a cerca de 90% dos muçulmanos. O primeiro califado foi edificado logo após a morte de Maomé, quando seu sogro, Abu Bakr, foi eleito califa e continuou o processo de expansão do islamismo iniciado por Maomé. Com o tempo o critério hereditário passou a ser utilizado para nomeação de um novo califa. A partir desse momento diversas dinastias passaram a exercer esse tipo de governo. A última dinastia de califas foi a Otomana, que existiu entre o início do século XVI e o ano de 1924, quando a República da Turquia aboliu aquela. Na atualidade alguns grupos terroristas islâmicos, como o Estado Islâmico, reivindicam a criação de um novo califado.
Califado é um estado governado por um califa, considerado pelos muçulmanos sunitas um herdeiro direto do profeta Maomé.
A palavra califa significa algo próximo de “sucessor”. O califa, chefe do califado, era considerado um descendente de Maomé.
Alguns dos principais califas são: Abu Bakr, Umar ibn al-Khattab, Moáuia I, Umar II, Hisham, Al Mansur, Selim I e Abdul Mejide II.
Com a morte de Maomé em 632 d.C. houve uma reunião em que seu sogro Abu Bakr foi eleito o primeiro califa.
Um grupo de muçulmanos não aceitou a escolha de Abu, alegando que Ali, primo e genro de Maomé, era o verdadeiro sucessor do profeta.
Os defensores de Ali se tornaram os xiitas, grupo minoritário do islamismo.
O califado se expandiu rapidamente no primeiro século, conquistando regiões da Ásia, África e Europa.
Em 1453 os otomanos conquistaram Constantinopla, hoje a capital da Turquia, Istambul, e a tornaram a capital do Império Turco-Otomano.
Em 1924, após a proclamação de uma República na Turquia, o califado foi definitivamente abolido.
Em um califado, o califa ocupava o topo da pirâmide social, tendo o líder papel político, religioso e militar.
O califado foi importante para a expansão da fé islâmica e para o intercâmbio cultural.
Emirado e califado são termos que não devem ser confundidos. Um emirado era um território administrativo de um califado.
O Estado Islâmico é um grupo terrorista islâmico que foi fundado em 2003 como um califado.
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Quem são os califas?
Califado é um estado islâmico governado por um califa. A palavra “califa” significa “sucessor”, isso ocorre pois os califas eram considerados pelos muçulmanos sunitas os sucessores diretos de Maomé, profeta da religião islâmica.
Em um califado, os califas exerciam o papel de chefes de Estado, de governo e, algumas vezes, religiosos. Durante o Império Turco-Otomano o califa também era chamado de sultão.
→ Lista de califas
Nos mais de mil anos de califado centenas de califas ocuparam o posto. A seguir, uma lista com os principais califas da história.
Abu Bakr: Era um rico comerciante da região da atual Arábia Saudita e sogro de Maomé. Ele era uma das pessoas mais próximas de Maomé e financiou suas guerras utilizando para isso sua fortuna. Após a morte do profeta, Abu Bakr foi eleito o primeiro califa.
Umar ibn al-Khattab: Foi sucessor de Abu Bakr, durante seu governo o califado conquistou a região da Mesopotâmia, Egito, parte da Pérsia (atual Irã) e a cidade de Jerusalém.
Moáuia I: Foi o primeiro califa a instituir o califado dinástico, nomeando seu filho como seu sucessor. Ele foi o primeiro califa da dinastia Omíada.
Umar II: É considerado um dos principais califas, ocupando o cargo entre 717 e 720. Durante seu curto califado ele realizou grandes reformas, entre elas o estabelecimento da igualdade entre muçulmanos árabes e não árabes, medida que aumentou consideravelmente a força militar do califado. Umar II é considerado pelos muçulmanos um verdadeiro califa, pois é considerado pacífico, justo e piedoso.
Hisham: Considerado um sábio califa. Durante seu governo a educação foi estimulada em todo o califado e muitas escolas foram construídas. Ele também patrocinou diversos artistas e tradutores que transcreviam textos antigos de diversas civilizações.
Al Mansur: Foi califa da dinastia Abássida entre 754 e 775. Durante seu califado ele fundou a cidade de Bagdá, no Iraque. Esta se tornou a capital do califado.
Selim I: Foi califa do Império Turco-Otomano entre 1512 e 1520. Durante seu governo o califado se expandiu pelo Norte da África, crescendo cerca de 70%.
Abdul Mejide II: Seu califado durou de 1922 até 1924, e ele é considerado o último califa de fato. Durante seu califado um grande movimento laico na Turquia, influenciado por ideias tidas como ocidentais, foi vencedor em uma revolução e, em 1924, o califado foi abolido.
Origem e história do califado
Maomé criou o Estado de Medina, onde ele exerceu o papel de líder político e religioso. Maomé faleceu em 632 d.C. não deixando herdeiros com idade para governar. Maomé também não nomeou um herdeiro e não deixou nenhuma instrução para a escolha do novo líder do islamismo. Assim, com a morte de Maomé, iniciou-se uma disputa para decidir quem seria seu sucessor:
Um grupo de líderes se reuniu na cidade de Saqifah e lá escolheu o sogro de Maomé, Abu Bakr, como o primeiro califa. Esse grupo defendia que os califas deveriam ser eleitos sempre que um califa falecesse.
Outro grupo de maometanos defendiam que Maomé, em seus discursos e escritos, teria escolhido seu primo-genro como seu sucessor, Ali. Eles defendiam ainda que os califas deveriam ser da família de Maomé e que não deveriam ser eleitos.
A divisão em grupos e os conflitos foram as marcas do início do califado. Otomão, o terceiro califa, foi eleito e continuou a expansão do islamismo, completando a conquista da Pérsia e conquistando a ilha de Chipre.
Dois grupos passaram a fazer oposição a Otomão, um grupo era liderado por Ali, primo de Maomé, e outro era liderado por Aixa, terceira esposa de Maomé e, para muitos, sua esposa preferida. Vale lembrar que o islamismo continuou com a prática da poligamia, comum entre os povos da Península Arábica.
Otomão foi assassinado em 656, quando estava em sua casa. Após a morte do terceiro califa, teve início a Primeira Guerra Civil Islâmica, também conhecida como Primeira Fitna. Fitna era um processo no qual a escória era retirada dos metais fundidos, no sentido religioso; uma fitna era algo como uma guerra para retirar as impurezas do islã.
A Primeira Fitna terminou com um acordo que escolheu Ali ibne Abi Talibe como o califa de todos os muçulmanos. Vale lembrar que Ali já era o sucessor de Maomé para os xiitas, por ele ser primo do profeta e casado com sua filha, Fátima. A própria palavra xiita deriva de “Shi at Ali”, ou “apoiadores de Ali”.
Ali viveu durante muitos anos na mesma casa de Maomé, participou com ele de diversas batalhas e o acompanhou na Hégira, a fuga de Meca para Medina. Após um breve califado, marcado pelas guerras, Ali foi assassinado por uma espada envenenada enquanto orava em uma mesquita.
Ele teve dois filhos, Al-Hassan e Al-Hussein; o primeiro acabou sendo assassinado por veneno e o segundo foi morto em batalha. Nova disputa sucessória se abateu sobre o califado após o assassinato de Ali. Com a morte de Al-Hussein os xiitas não consideraram legítimos os próximos califas.
Essas disputas na escolha dos califas ocorreram até o califado de Moáuia I, que estabeleceu a hereditariedade como critério de escolha do novo califa. Essa medida diminuiu os conflitos entre os diversos grupos muçulmanos.
O Império Turco, comandado pela dinastia otomana, foi um dos maiores e mais duradouros da história. Mas a partir do século XIX ele entrou em crise e se desintegrou após a derrota turca na Primeira Guerra Mundial.
Em 29 de outubro de 1923 a Grande Assembleia Nacional turca proclamou uma república laica na Turquia. Em 3 de março de 1924 a Grande Assembleia Nacional turca aboliu o califado, e o califa e toda a sua família tiveram que deixar o país. Abdul Mejide II foi o último califa que teve real poder político e foi reconhecido internacionalmente.
Como funciona o califado?
Após os omíadas o califado passou a ser uma monarquia absolutista hereditária. Nela, o califa ocupava o topo da pirâmide social, sendo o líder político, religioso e militar.
Existia ainda o Majlis ash-Shura, uma espécie de conselho consultivo composto por nobres, líderes militares e religiosos. Esse conselho auxiliava o califa em suas decisões políticas, econômicas e militares. Também era responsável pela transição entre um califado e outro, após a morte do califa.
A Sharia foi o principal sistema jurídico adotado durante os califados. A Sharia possui disposições para diversos aspectos da vida cotidiana, como direito de família, criminal, de negócios e finanças. A forma como a Sharia foi aplicada variou de acordo com a região e a dinastia no poder, mas muitas vezes ela foi aplicada da forma mais radical, em que roubos eram punidos com amputação da mão ou o adultério com a pena de morte, por exemplo.
No século VIII se iniciou a Revolução Agrícola Muçulmana, quando novas tecnologias e novas espécies cultivadas aumentaram drasticamente a produção, levando à Era de Ouro do Islamismo. Durante esse período, que durou até o século XIII, a posse da terra passou a ser permitida para qualquer muçulmano, independentemente de gênero, origem étnica ou data de conversão ao islã.
Para alguns economistas o capitalismo mercantil surgiu, de fato, no califado dos omíadas, quando uma espécie de livre mercado ocorreu e o dinar foi a moeda utilizada em um amplo território.
Durante os séculos de califado diversas dinastias de califas governaram, muitas vezes entrando em conflito umas com as outras pelo poder. Entre as principais dinastias de califas temos:
a Omíada (661-750), que governou a partir de Damasco, no atual Líbano;
a Abássida (750-1258), cuja capital foi Bagdá, no atual Iraque;
a Omíada (929-1031), do califado de Córdoba, na Espanha;
a Otomana (1453-1924), que governou a partir da atual Turquia.
Importante: Em alguns momentos existiram mais de um califado, como no período do califado de abássidas e dos omíadas, cada um com seu próprio território.
Importância do califado
A primeira grande importância do califado foi a expansão da fé islâmica. O califado reuniu poder militar e econômico, o que permitiu que a fé islâmica se expandisse rapidamente por diversos continentes. O califado também manteve a unidade política do islamismo e, de certa forma, a unidade religiosa.
Os califados também foram importantes para o intercâmbio cultural. Como os califados eram geralmente um império multiétnico, diversas culturas eram compartilhadas, assim como diversos conhecimentos e tecnologias. Esse intercâmbio, em conjunto com a prosperidade econômica, permitiu o desenvolvimento da álgebra, da química (alquimia), da astronomia, medicina, entre diversas outras áreas.
Diferenças entre emirado e califado
Um emir é um líder militar e político de uma província ou, atualmente, de um país. Durante o califado o califa era o governante máximo e, nas províncias, o poder era exercido pelo “amir al-umara”, uma espécie de governador que obedecia somente ao próprio califa. Dessa forma um emirado era um território administrativo de um califado, semelhante a uma unidade da federação do Brasil atual.
Hoje alguns países do Oriente Médio se intitulam emirados, como os Emirados Árabes Unidos, o Catar, o Kuwait e o Bahrein. Os Emirados Árabes, por exemplo, são uma confederação composta por sete emirados, cada um deles contando com o seu governante, o emir.
Estado Islâmico e o califado
O Estado Islâmico do Iraque e do Levante foi fundado em 2003, como um califado. Abu Bakr al Baghdadi foi nomeado pelos membros do Estado Islâmico como califa de todos os muçulmanos.
No seu auge, dominou uma região entre a Síria e o Iraque do tamanho aproximado do Reino Unido. Nessas regiões controladas pelo EI a Sharia foi aplicada de forma radical, assassinando grupos não islâmicos, homossexuais, entre diversos outros.
Na visão do Estado Islâmico todos os povos muçulmanos deveriam se submeter à autoridade de Abu Bakr al Baghdadi, o novo califa. Regiões como Portugal, Espanha e Grécia deveriam ser conquistadas e integradas ao califado por serem, na visão do Estado Islâmico, historicamente muçulmanas.
Em outubro de 2019 o governo norte-americano anunciou a morte de Abu Bakr al Baghdadi em uma operação das forças dos Estados Unidos. Ao se ver cercado pelas tropas, Baghdadi teria explodido um cinto de explosivos que carregava, matando também seus dois filhos, ainda crianças.
Outros califas foram nomeados pelo Estado Islâmico, e todos eles foram rapidamente mortos pelas tropas estadunidenses. Saiba mais detalhes sobre o Estado Islâmico clicando aqui.
GORDON, Matthew. Conhecendo o islamismo: origens, crenças, práticas, textos sagrados, lugares sagrados. Editora Vozes, São Paulo, 2009.
ROGERSON, Barnaby. O profeta Maomé. Editora Record, Rio de Janeiro, 2008.
QUATAERT, Donald. Império otomano: das origens ao século XXI. Edições 70, São Paulo, 2008.
Escrito por: Jair Messias Ferreira Junior Pós-graduado em História pela Unicamp e professor da Educação Básica há mais de 20 anos. Também é formador de professores e produtor de materiais didáticos há mais de 10 anos.
Gostaria de fazer a referência deste texto em um trabalho escolar ou acadêmico? Veja:
JUNIOR, Jair Messias Ferreira.
"O que é califado?"; Brasil Escola.
Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/o-que-e/historia/o-que-e-califado.htm. Acesso em 14 de novembro
de 2024.