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Quarto de despejo: diário de uma favelada

Quarto de despejo é um diário da escritora brasileira Carolina Maria de Jesus. O livro conta suas experiências como moradora da favela do Canindé, ocorridas entre 1955 e 1959.

Capa do livro “Quarto de despejo: diário de uma favelada”, de Carolina Maria de Jesus, publicado pela editora Ática.
Capa do livro Quarto de despejo: diário de uma favelada, de Carolina Maria de Jesus, publicado pela editora Ática. [1]
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Quarto de despejo: diário de uma favelada é um livro da autora mineira Carolina Maria de Jesus. Nesse diário, uma mulher negra, pobre, com dois anos de estudo formal, relata fatos ocorridos na favela do Canindé, em São Paulo, entre os anos de 1955 e 1959. A escritora faz reflexões sobre os acontecimentos e mostra a realidade social do Brasil de meados do século XX.

Leia também: Literatura negra — a produção literária cujo sujeito da escrita é o próprio negro

Tópicos deste artigo

Resumo sobre a obra Quarto de despejo

  • A escritora Carolina Maria de Jesus nasceu em 1914 e faleceu em 1977.

  • Quarto de despejo narra fatos ocorridos entre 1955 e 1959.

  • O livro é um diário e, por isso, apresenta cunho autobiográfico.

  • O diário mostra a realidade social dos moradores da favela do Canindé.

Videoaula: Análise literária da obra Quarto de despejo, de Carolina Maria de Jesus

Análise da obra Quarto de despejo

Personagens da obra Quarto de despejo

  • Alfredo: encarregado da luz

  • Antônio Lira: peixeiro

  • Arnaldo: vendeiro

  • Carolina Maria de Jesus: autora do diário

  • João José: filho de Carolina

  • José Carlos: filho de Carolina

  • Luiz: frei

  • Manoel: pretendente de Carolina

  • Orlando: encarregado da água

  • Raimundo: o cigano

  • Seu Eduardo: vendeiro

  • Vera Eunice: filha de Carolina

  • Vizinhos:

    • Adalberto

    • Alexandre

    • Alice

    • Amelia

    • Anália

    • Angelina Preta

    • Anselmo

    • Antônio Andrade

    • Antônio Nascimento

    • Aparecida

    • Binidita

    • Binidito

    • Cecília

    • Deolinda

    • Dirce

    • Ditinho

    • Domingas

    • Durvalino

    • Elvira

    • Fernanda

    • Florela

    • Florenciana

    • Francisca

    • Francisco

    • Geralda

    • Germano

    • Hélio

    • Ida

    • Iracema

    • Ireno Venâncio da Silva

    • Isaltina

    • Ismael

    • Ivone

    • João

    • Joaquim

    • José

    • Juana

    • Julião

    • Leila

    • Lino

    • Maria dos Anjos

    • Maria José ou Zefa

    • Mariana

    • Maria Puerta

    • Marli

    • Meiry

    • Nair Mathias

    • Nália

    • Neide

    • Nena

    • Nilton

    • Odete

    • Olga

    • Pitita

    • Policarpo

    • Ramiro

    • Rosa

    • Rosalina

    • Sebastiana

    • Silvia

    • Teresinha

    • Tomás

    • Valdemar

    • Vilma

    • Vitor

    • Zé Maria

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Tempo da obra Quarto de despejo

Os acontecimentos narrados no diário ocorrem nos anos de 1955 a 1959.

Espaço da obra Quarto de despejo

A ação ocorre na cidade de São Paulo, especificamente na favela do Canindé.

Alguns fatos narrados na obra Quarto de despejo

O diário começa com a menção ao aniversário da filha da autora: Vera Eunice. Carolina queria comprar um par de sapatos para ela, mas não tinha dinheiro. Então achou um no lixo: “lavei e remendei para ela calçar”. Para conseguir dinheiro, a autora precisa sair para catar papel.

Por isso, deixa os filhos em casa, com a recomendação de “brincar no quintal e não sair na rua, porque os pessimos vizinhos que eu tenho não dão socego aos meus filhos”. Algumas vizinhas parecem não gostar de Carolina e de seus filhos. A autora comenta também que sua vizinha Sílvia é constantemente espancada pelo esposo.

Diante disso, a escritora deseja mudar da favela, para que os filhos não tenham que presenciar coisas assim. Durante toda a obra, ela menciona questões políticas. Por exemplo, fala da preferência de uma das vizinhas por Jânio Quadros, enquanto Carolina prefere Ademar de Barros.

A autora deixa claro para os vizinhos que tem a intenção de “escrever um livro referente a favela”. Sílvia então pede para ela tirar seu nome do livro e a chama de “vagabunda”. No mais, o dia a dia da autora se resume em buscar água, catar papel ou buscar outras formas de ganhar dinheiro, lavar roupa no rio, fazer comida para os filhos, quando tem o que cozinhar.

Em 02 de maio de 1958, Carolina recebe “intimação para comparecer as 8 horas da noite na Delegacia do 12”, por causa de seu filho José Carlos, que tem apenas nove anos. Como ela se esquece de ir à delegacia, recebe uma nova intimação. Ela comparece no dia 10 de maio. No entanto, o tenente se mostra amável e “interessou-se pela educação dos meus filhos”. Ela não deixa claro o motivo da intimação.

O tema recorrente no diário é a fome. A escritora diz: “O Brasil precisa ser dirigido por uma pessoa que já passou fome. A fome tambem é professora”. No entanto, não são todas as vizinhas que implicam com a família da autora, algumas são gentis e a ajudam quando podem.

A escritora fala de um tal de Julião, um adolescente que foi preso várias vezes e que, às vezes, espanca o pai. Ela acha que o ambiente da favela acaba corrompendo as crianças, que são “diamantes que transformam em chumbo”, “objetos que estavam na sala de visita e foram para o quarto de despejo”.

Um tal senhor Manoel manifesta seu desejo de se casar com ela, porém ela não o quer, pois está na “maturidade”. Além disso, segundo a autora, “um homem não há de gostar de uma mulher que não pode passar sem ler”. No mais, são narradas várias brigas na favela, principalmente entre casais.

Ela conta que “escrevia peças e apresentava aos diretores de circos”. E eles respondiam: “É pena você ser preta”. Nesse ponto, a escritora manifesta seu orgulho, ao escrever: “Esquecendo eles que eu adoro a minha pele negra, e o meu cabelo rustico”. Enquanto mostra seu cotidiano, a autora faz críticas a certas atitudes de seus vizinhos.

Ela reflete sobre a realidade da favela e do país, e, diante das maldades que certas pessoas da favela cometem contra seus vizinhos, a autora se pergunta: “Porque será que o pobre não tem dó do outro pobre?”. Às vezes, políticos e também religiosos vão à favela: os políticos, para angariar votos; os religiosos, para conseguir mais fiéis ou fazer caridade.

A escritora tem sempre um pensamento crítico e diz que ela fica “[...] pensando nas palavras do Frei Luiz que nos diz para sermos humildes. Penso: se o Frei Luiz fosse casado e tivesse filhos e ganhase salario minimo, ai eu queria ver se o Frei Luiz era humilde”. E mais: “Se o Frei visse os seus filhos comendo generos deteriorados, comidos pelos corvos e ratos, havia de revoltar-se, porque a revolta surge das agruras”.

Com a chegada de “nortistas” à favela, as brigas aumentam, os “nortistas” sempre tiram uma peixeira na hora da briga. A realidade da favela do Canindé é de miséria, fome, falta de recursos básicos e muita violência. Mas, ao nomear os moradores da favela e registrar seus nomes no diário, Carolina Maria de Jesus os tira da invisibilidade social.

Além de papel, Carolina cata latas e ferro e os vendia para conseguir algum dinheiro e sobreviver, alimentar os filhos. Em certa ocasião, um padre vai à favela para “dizer missa” e “disse aos favelados que eles precisam ter filhos”. O padre teria falado às mulheres dali que “quando precisar de pão podem ir buscar na igreja”.

A autora declara em seu diário: “Para o senhor vigario, os filhos de pobres criam só com pão. Não vestem e não calçam”. Mais tarde, ela conhece um homem a quem ela chama de “cigano” (Raimundo) e começa a ter sentimentos por ele: “O cigano está perturbando-me. [...] Eu tenho a impressão que eu sou um pé de sapato e que só agora é que encontrei o outro pé”. Contudo, logo ela descobre que ele não é um bom homem e se afasta.

No dia 29 de abril de 1959, ela diz não estar disposta: “O que me entristece é o suicidio do senhor Tomás”. Segundo ela, ele se matou “porque cansou de sofrer com o custo da vida”; porém ela continua a viver. E, depois da decepção com o cigano, percebe que gosta do senhor Manoel, “porque a nossa amizade é igual uma raiz que segura uma planta na terra”.

Assim, em 04 de junho de 1959, ela declara: “Dormi com ele. E a noite foi deliciosa”. A essa altura, a autora já tinha dado entrevista ao repórter do Cruzeiro, e a reportagem sai no dia 10. Já estava combinada também a publicação de seu livro. A vida de Carolina Maria de Jesus começa a mudar, agora para melhor. Ela começa a ficar conhecida, sai também no Diário da Noite.

A autora escreve em seu diário: “Eu estou tão alegre! Parece que a minha vida estava suja e agora estão lavando”, porém ainda não tem dinheiro, continua passando por dificuldades. Assim, em 31 de dezembro desse ano, ela deseja “que 1960 seja melhor do que 1959”. Encerra o diário, em 1º de janeiro de 1960, com estas palavras: “Levantei as 5 horas e fui carregar agua”.

Narrador da obra Quarto de despejo

O livro é narrado por Carolina Maria de Jesus, autora do diário e, portanto, personagem principal da obra.

Características da obra Quarto de despejo

Quarto de despejo tem a estrutura de um diário. Assim, a narrativa tem início em 15 de julho de 1955 e término em 1º de janeiro de 1960. A obra não possui características de um estilo de época específico, apesar de ter sido produzida durante o modernismo ou pós-modernismo brasileiro.

O livro possui caráter autobiográfico e dá protagonismo a uma voz feminina, isto é, da escritora. Por meio de um olhar crítico, ela denuncia a realidade social de seu tempo. A linguagem é coloquial e poética, com toques de ironia. Desse modo, a autora mostra elementos de seu trágico cotidiano por meio de um corajoso e emocionante testemunho.

Veja também: Diário de Anne Frank — escrito no contexto da Segunda Guerra Mundial

Contexto histórico da obra Quarto de despejo

O diário de Carolina Maria de Jesus relata fatos ocorridos durante o governo de Juscelino Kubitschek (1902-1976) principalmente. Ele assumiu a presidência em 31 de janeiro de 1956 e terminou seu mandato em 31 de janeiro de 1961. Foi um governo desenvolvimentista, que trazia como lema: “Cinquenta anos em cinco”.

Apesar disso, a miséria dos “favelados”, mostrada no diário da autora, indica que o plano de metas do governo não conseguiu eliminar a pobreza e a fome do país. JK promoveu grande industrialização do Sudeste, que se tornou destino da migração nordestina. Além disso, ele foi responsável pela construção de Brasília.

Vida de Carolina Maria de Jesus

Carolina Maria de Jesus nasceu em 14 de março de 1914, na cidade mineira de Sacramento. Foi alfabetizada nessa cidade, mas frequentou a escola somente por dois anos em toda a sua vida. Já adulta, em 1937, a escritora se mudou para a cidade de São Paulo. Em 1948, passou a viver na favela do Canindé.

A escritora Carolina Maria de Jesus assinando seu livro, “Quarto de despejo”, em 1960.
A escritora Carolina Maria de Jesus assinando seu livro, Quarto de despejo, em 1960. [2]

Mãe solo de três filhos, precisava catar papel para sobreviver. Apesar das dificuldades e da fome, mantinha o hábito de ler, além de escrever o seu diário. Quando, em 1958, conheceu o jornalista Audálio Dantas (1929-2018), teve fragmentos de seu diário publicado no jornal Folha da Noite.

Dois anos depois, em 1960, ocorreu a publicação de seu famoso livro. Com Quarto de despejo, a autora conheceu o sucesso e pôde, finalmente, deixar a favela. Faleceu em 13 de fevereiro de 1977, em Parelheiros. Atualmente, as obras de Carolina Maria de Jesus são objeto de estudo acadêmico.

Videoaula sobre Carolina Maria de Jesus

Créditos de imagem

[1] Coletivo Leitor / Editora Ática (reprodução)

[2] Arquivo Nacional / Wikimedia Commons (reprodução)

 

Por Warley Souza
Professor de Literatura

Escritor do artigo
Escrito por: Warley Souza Professor de Português e Literatura, com licenciatura e mestrado em Letras pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

Gostaria de fazer a referência deste texto em um trabalho escolar ou acadêmico? Veja:

SOUZA, Warley. "Quarto de despejo: diário de uma favelada"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/literatura/quarto-de-despejo-diario-de-uma-favelada.htm. Acesso em 27 de abril de 2024.

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