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Paulo Leminski

Paulo Leminski foi um poeta curitibano. Ele faz parte da Geração Mimeógrafo, vinculada à poesia marginal. Seu romance Catatau é uma obra experimental, satírica e filosófica.

Paulo Leminski, na foto de capa do livro O bandido que sabia latim, de Toninho Vaz, publicado pela editora Tordesilhas.[1]
Paulo Leminski, na foto de capa do livro O bandido que sabia latim, de Toninho Vaz, publicado pela editora Tordesilhas.[1]
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Paulo Leminski foi um poeta brasileiro. Ele nasceu em 24 de agosto de 1944, em Curitiba, no Paraná. Mais tarde, atuou como professor em curso pré-vestibular, se tornou faixa preta de judô, trabalhou em agências publicitárias, além de escrever para alguns periódicos, como a revista Veja.

O autor, que faleceu em 7 de junho de 1989, em Curitiba, é um dos principais nomes da poesia marginal dos anos 1970. Suas obras trabalham com perspectivas de multimídia, possuem caráter experimental e traços de humor. Um dos livros mais conhecidos do escritor é o romance experimental Catatau.

Leia também: Ana Cristina Cesar — outro nome da poesia marginal

Tópicos deste artigo

Resumo sobre Paulo Leminski

  • O autor brasileiro Paulo Leminski nasceu em 1944 e faleceu em 1989.

  • Além de escritor, também foi músico, professor e publicitário.

  • O poeta é um dos principais representantes da Geração Mimeógrafo.

  • Seus textos são marcados pelo experimentalismo e pela ironia.

  • Seu romance mais famoso é o livro experimental Catatau.

Biografia de Paulo Leminski

Paulo Leminski nasceu em 24 de agosto de 1944, em Curitiba, no Paraná. Filho de militar, morou em várias cidades do seu estado, além de São Paulo e Santa Catarina. Seu pai era polonês e branco; a mãe, brasileira e negra. Com 11 anos de idade, começou a estudar em um colégio católico, na cidade de Curitiba.

Por essa época, se tornou um apaixonado por arte e Literatura, além de gostar de estudar línguas. Com 13 anos, ingressou no Colégio São Bento, em regime de internato, na cidade de São Paulo. O poeta queria ser monge, mas logo descobriu a sua inaptidão para a vida religiosa. Então, no fim de 1958, voltou para Curitiba.

Na principal biblioteca pública dessa cidade, conheceu a jovem Neiva. Os dois se casaram em 1963. Nesse ano, o escritor conheceu os poetas concretistas Augusto de Campos (1931-), Haroldo de Campos (1929-2003) e Décio Pignatari (1927-2012), na Semana Nacional da Poesia de Vanguarda, na cidade de Belo Horizonte, em Minas Gerais. Assim, publicou poemas na revista concretista Invenção.

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Ingressou nas faculdades de Letras e Direito, mas não concluiu nenhum dos dois cursos. Nos anos 1960, deu aulas de História e Literatura no curso pré-vestibular Dr. Abreu, com grande sucesso. O autor, desde a adolescência, mostrava interesse na cultura oriental. Nessa mesma década, fez aulas de judô, chegando logo à faixa preta.

Foi em 1968 que conheceu a poetisa Alice Ruiz (1946-), com quem iniciou um relacionamento. Afinal, o poeta e a esposa Neiva tinham um relacionamento aberto. Ele se mudou para o Rio de Janeiro, em 1969. Ali, o poeta passou a trabalhar no jornal O Globo. Interessado em música, aprendeu a tocar violão.

Porém, não conseguiu se manter no Rio de Janeiro e voltou a viver em Curitiba, em 1971. Nessa época, mantinha com Ruiz uma relação estável. O autor então voltou a dar aulas, agora no curso pré-vestibular Dr. Bardhal. Também integrava a banda musical Duas Pauladas e Uma Pedrada, além de escrever para a revista Joy.

Em 1972, decidiu abandonar a carreira de professor e passou a trabalhar na agência publicitária Lema Publicidade. Já em 1975, na agência P.A.Z. Além de ser compositor, também publicou seu primeiro livro — Catatau —, em 1975. Porém, em 1979, perdeu o filho Miguel, com apenas dez anos de idade, que morreu devido a um câncer.

No início da década de 1980, trabalhou na agência Múltipla. E fez sucesso não só como poeta, mas também como compositor. Em 1983, começou a fazer traduções. Nessa década, trabalhou no jornal Folha de S.Paulo e na Veja. Em 1986, passou a trabalhar na agência Exclam.

Porém, o poeta bebia muito, apesar de ter cirrose. No ano de 1987, ele e Alice Ruiz se separaram. O escritor se mudou para São Paulo, onde trabalhou na tevê Bandeirantes. Esse trabalho durou sete meses, e Leminski voltou para Curitiba em 1988. No ano seguinte, escreveu para o jornal Folha de Londrina. Ele morreu em 7 de junho de 1989, em Curitiba, devido à cirrose.

Características da obra de Paulo Leminski

Leminski é um poeta da Geração Mimeógrafo, associada a uma poesia marginal, já que seus autores não buscavam o aval de editoras. Esse escritor curitibano sofreu influências do Modernismo, do Concretismo e da cultura oriental. Seus textos, portanto, possuem as seguintes características:

  • traços concretistas;

  • técnica do haicai;

  • elementos de multimídia;

  • linguagem imagética;

  • temática do cotidiano;

  • linguagem não linear;

  • fragmentação;

  • neologismos;

  • coloquialismo;

  • caráter humorístico;

  • ironia;

  • ilogismo;

  • experimentalismo;

  • aspectos verbivocovisuais.

Leia também: Haicai — tipo de poema de origem japonesa que foi produzido por Paulo Leminski

Obras de Paulo Leminski

  • Catatau (1975) — romance.

  • Quarenta clics em Curitiba (1976) — poesia.

  • Polonaises (1980) — poesia.

  • Não fosse isso e era menos/ não fosse tanto e era quase (1980) — poesia.

  • Tripas (1980) — poesia.

  • Caprichos e relaxos (1983) — poesia.

  • Agora é que são elas (1984) — romance.

  • Um milhão de coisas (1985) — poesia.

  • Guerra dentro da gente (1986) — infantojuvenil.

  • Distraídos venceremos (1987) — poesia.

  • A lua foi ao cinema (1989) — infantojuvenil.

  • Vida (1990) — biografias.

  • La vie en close (1991) — poesia.

  • O ex-estranho (1996) — poesia.

  • Toda poesia (2013) — poesia.

Catatau

Capa do livro Catatau, de Paulo Leminski, publicado pela editora Iluminuras. [2]
Capa do livro Catatau, de Paulo Leminski, publicado pela editora Iluminuras. [2]

Primeiro e mais famoso romance de Paulo Leminski, Catatau começou a ser escrito pelo autor em 1967 e foi publicado, pela primeira vez, em 1975. Ele mostra a visita de René Descartes ao Nordeste do Brasil, como membro da expedição de Maurício de Nassau. Leminski coloca, como subtítulo do livro: “um romance-ideia”.

Isso porque a obra é experimental e não segue as normas do romance tradicional. Ela também apresenta caráter satírico e filosófico. É uma obra de ficção, apesar de trazer personagens históricos. Assim, o filósofo René Descartes chega ao Recife. Aliás, ele mesmo narra a história, que mistura filosofia com prosa poética.

A história se passa no século XVII. No Brasil, Descartes (no livro, Cartésio) usa uma droga nativa e entra em delírio. O protagonista espera a chegada de um tal Artischefski. A obra se centra nessa espera, que permite um longo fluxo de consciência de Cartésio, em que sobressai a ilogicidade.

Leminski cria novas palavras e ironiza os clássicos, em trabalho cuidadoso com a linguagem. Também valoriza a linguagem coloquial. O romance apresenta apenas um longo parágrafo, iniciado com letra minúscula. A seguir, um fragmento dessa obra experimental:

[...] Unhas e lentes dum mecanismo de passarinhos operam desde milagres até metamorfoses. Omito. Pandorgas da China apreciam os elementos das intempéries. Um dia, a selva desmorona em cima de Mauritstadt e a afunda na lama e no calor. Vai em cima. Deu-lhe um golpe no calcanhar, mas como não contra Aquiles, para sofrer como os burros ferrados que escoiceiam as fechaduras como se fossem cascavéis descansando o cotovelo, aí consagrou o resto. Não, esse pensamento, não, ainda credo num treco. Claro que já não creio no que penso, o olho que emite uma lágrima faz seu ninho nos tornozelos dos crocodilos beira Nilo. Duvido se existo, quem sou eu se este tamanduá existe? Da verdade não sai tamanduá, verdade trás, quero dizer: não se pensa, olhar lentes supra o sumo do pensar! Dá para ouvir o cúmulo das excelências falarem num búzio contigo, baixinho, que as escalas vão queimar sua última oitava, de tal forma que ao dizer teu nome, silêncio o faz. […] |1|

Poemas de Paulo Leminski

O poema “aviso aos náufragos”, do livro Distraídos venceremos, é metalinguístico, pois se refere à página em que está escrito. Diz o eu lírico que tal página “não nasceu para ser lida”. Então, ele passa a enumerar as coisas para as quais ela nasceu. Dessa forma, ela acaba cumprindo as funções indicadas pelo eu lírico, pois, ao mencionar tais coisas, elas passam a fazer parte da página:

Esta página, por exemplo,

não nasceu para ser lida.

Nasceu para ser pálida,

um mero plágio da Ilíada,

alguma coisa que cala,

folha que volta pro galho,

muito depois de caída.

Nasceu para ser praia,

quem sabe Andrômeda, Antártida,

Himalaia, sílaba sentida,

nasceu para ser última

a que não nasceu ainda.

Palavras trazidas de longe

pelas águas do Nilo,

um dia, esta página, papiro,

vai ter que ser traduzida,

para o símbolo, para o sânscrito,

para todos os dialetos da Índia,

vai ter que dizer bom-dia

ao que só se diz ao pé do ouvido,

vai ter que ser a brusca pedra

onde alguém deixou cair o vidro.

Não é assim que é a vida?

“distâncias mínimas”, do mesmo livro, utiliza recursos linguísticos que reproduzem o eco, de forma a caracterizar o que o eu lírico chama de “texto morcego”. Além disso, alguns “ecos” estão relacionados a características das coisas ecoadas.

Por exemplo, “eco” a “antigo” (mas também há a ideia de que o eco é antiantigo, contrário ao antigo) e “parede” a “rede”. A parede parece ser verde, já que o “grito” bate nela e volta com essa cor. Por fim, a voz poética diz que “ouvir é ver”, como acontece com o morcego que “se guia por ecos”:

um texto morcego

se guia por ecos

um texto texto cego

um eco anti anti anti antigo

um grito na parede rede rede

volta verde verde verde

com mim com com consigo

ouvir é ver se se se se se

ou se se me lhe te sigo?

Frases de Paulo Leminski

A seguir, vamos ler algumas frases de Paulo Leminski, retiradas de seu livro Quarenta clics em Curitiba. Portanto, fizemos uma adaptação e transformamos seus versos em prosa:

“Uma vida é curta para mais de um sonho.”

“Será preciso explicar o sorriso da Mona Lisa para que você acredite em mim quando digo que o tempo passa?”

“Quem me dera um mapa de tesouro que me leve a um velho baú cheio de mapas do tesouro.”

“Só mesmo um velho para descobrir, detrás de uma pedra, toda a primavera.”

“Quem é vivo aparece sempre no momento errado para dizer presente onde não foi chamado.”

Nota

|1| LEMINSKI, Paulo. Catatau. São Paulo: Iluminuras, 2010.

Créditos das imagens

[1] Editora Tordesilhas (reprodução)

[2] Editora Iluminuras (reprodução)

 

Por Warley Souza
Professor de Literatura

Escritor do artigo
Escrito por: Warley Souza Professor de Português e Literatura, com licenciatura e mestrado em Letras pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

Gostaria de fazer a referência deste texto em um trabalho escolar ou acadêmico? Veja:

SOUZA, Warley. "Paulo Leminski"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/literatura/paulo-leminski.htm. Acesso em 18 de dezembro de 2024.

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