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Os Lusíadas, de Luís de Camões, é o livro mais famoso da literatura portuguesa e fala das conquistas lusitanas até a chegada de Vasco da Gama à Índia. Assim, o narrador da epopeia demonstra seu amor e veneração ao rei de Portugal, D. Sebastião, e ao povo lusitano. Mas também defende a fé cristã e a expansão do império português.
Pertencente ao classicismo português, a obra possui uma visão antropocêntrica, ou seja, valoriza a razão e as conquistas humanas. Porém, traz elementos do semipaganismo ao reverenciar a cultura greco-romana e, ao mesmo tempo, a fé cristã. Essa epopeia é dividida em dez cantos, com versos decassílabos de caráter narrativo e heroico.
Leia também: Mensagem — análise de outro grande clássico da literatura portuguesa
Tópicos deste artigo
- 1 - Resumo da obra Os Lusíadas
- 2 - Características da obra Os Lusíadas
- 3 - Estrutura da obra Os Lusíadas
- 4 - Estilo literário da obra Os Lusíadas
- 5 - Análise da obra Os Lusíadas
- 6 - Importância de Os Lusíadas
- 7 - Contexto histórico de Os Lusíadas
- 8 - Luís de Camões
Resumo da obra Os Lusíadas
Os marinheiros portugueses estão em alto mar e são comandados pelo heroico Vasco da Gama. Eles querem chegar até a Índia, mas, antes, chegam à ilha de Moçambique. Acabam travando uma batalha com os mouros. Depois, navegam até a ilha de Mombaça, cujo rei parece amigo.
No entanto, Mercúrio, em sonho, adverte Gama sobre os planos do rei de Mombaça, que planeja uma cilada contra os portugueses. O herói dá ordens aos marinheiros para içarem velas e fugirem. Em seguida, os heroicos portugueses aportam no Reino Melinde, cujo rei os recebe cordialmente.
Vasco da Gama então conta para esse rei a história do povo lusitano, traça a genealogia dos monarcas portugueses e aproveita para “louvar dos meus a glória”. Fala do casamento entre “Anrique” (Henrique), um conde filho de um “Rei de Hungria”, com Teresa, filha do “Rei Castelhano” D. Afonso, casal que ganhou as terras hoje conhecidas como Portugal.
O primeiro rei português teve um filho, o príncipe Afonso, que levava o nome do avô espanhol. Mais tarde, o jovem se tornou rei e empreendeu uma guerra vitoriosa contra os mouros. Sancho I sucedeu ao pai. Depois Afonso II, ambos reis gloriosos. Porém, o próximo rei, Sancho II, é descrito pelo narrador como “manso e descuidado”.
A dinastia vai sendo mencionada por Vasco da Gama, com detalhes e façanhas de cada reinado, como o dos reis D. Dinis, Fernando e Manuel, por exemplo. Por fim, ele conta as próprias aventuras até desembarcar ali e receber a hospitalidade do rei de Melinde. Terminada a narrativa, Gama continua viagem e atinge os “mares da Índia”.
Porém, ainda precisa enfrentar a fúria do mar. E chega finalmente ao destino sonhado: a Índia. Lá, são recebidos com festa. No entanto, o narrador revela que o propósito dos mouros era “deter ali os descobridores/ Da Índia tanto tempo que viessem/ De Meca as naus, que as suas desfizessem”.
Gama fica sabendo da intenção dos mouros e parte rumo a Portugal, levando pimenta, noz, cravo e uma rota para a Índia. Antes de chegarem às terras lusitanas, os conquistadores param em uma ilha e são premiados pelos deuses com o amor de belas e sedutoras ninfas.
Características da obra Os Lusíadas
Os Lusíadas é um poema épico. Portanto, apresenta as seguintes características:
-
caráter narrativo;
-
presença de um herói;
-
fatos heroicos;
-
obstáculos a serem vencidos pelo protagonista;
-
missão a ser cumprida pelo herói;
-
menção a deuses ou seres mitológicos;
-
acontecimentos extraordinários;
-
enaltecimento da tradição (no caso, a portuguesa);
-
versos decassílabos.
Leia também: Gênero épico — gênero que narra ações nobres praticadas por heróis
Estrutura da obra Os Lusíadas
Os Lusíadas é dividido em dez cantos e apresenta a seguinte estrutura épica:
-
proposição ou prólogo;
-
invocação a uma divindade;
-
dedicatória;
-
relato das aventuras de Vasco da Gama;
-
conclusão ou epílogo.
Estilo literário da obra Os Lusíadas
O poema épico Os Lusíadas é a principal obra do classicismo português, estilo de época que apresenta as seguintes características:
-
visão antropocêntrica;
-
semipaganismo;
-
valorização dos temas da Antiguidade;
-
equilíbrio e simplicidade;
-
bucolismo;
-
idealização do amor;
-
idealização da mulher;
-
rigor formal.
Análise da obra Os Lusíadas
Escrito em versos decassílabos, Os Lusíadas enaltece a nação portuguesa e mostra como esse povo, representado pelos seus heróis conquistadores, é corajoso e audaz:
As armas e os Barões assinalados
Que da Ocidental praia Lusitana
Por mares nunca de antes navegados
Passaram ainda além da Taprobana,
Em perigos e guerras esforçados
Mais do que prometia a força humana,
E entre gente remota edificaram
Novo Reino, que tanto sublimaram;
[...]
Desse modo, o narrador relata as conquistas dos reis portugueses, que “foram dilatando/ A Fé, o Império, e as terras viciosas/ De África e de Ásia andaram devastando”. Porém, antes, ele segue a convenção epopeica e, no canto I, pede inspiração ou invoca as tágides, que seriam as ninfas do rio Tejo, em Portugal:
Dai-me agora um som alto e sublimado,
Um estilo grandíloco e corrente,
Por que de vossas águas Febo ordene
Que não tenham enveja às de Hipocrene.
Além disso, o narrador dedica seus versos a D. Sebastião (1554-1578), rei de Portugal. Em alguns momentos da obra, ele também se dirige ao monarca como seu interlocutor. Para tornar a saga portuguesa ainda mais sublime, mostra que os lusos são protegidos pelos deuses do Olimpo, em clara referência à cultura greco-latina, como mostram estas palavras de Júpiter:
— “Eternos moradores do luzente,
Estelífero Polo e claro Assento:
Se do grande valor da forte gente
De Luso não perdeis o pensamento,
Deveis de ter sabido claramente
Como é dos Fados grandes certo intento
Que por ela se esqueçam os humanos
De Assírios, Persas, Gregos e Romanos.
[...]
Assim, no prólogo, o narrador apresenta o herói da epopeia, ou seja, Vasco da Gama (1469-1524):
Vasco da Gama, o forte Capitão,
Que a tamanhas empresas se oferece,
De soberbo e de altivo coração,
A quem Fortuna sempre favorece,
Pera se aqui deter não vê razão,
Que inabitada a terra lhe parece.
Por diante passar determinava,
Mas não lhe sucedeu como cuidava.
O capitão e os lusitanos são cristãos invencíveis e travam guerra contra os mouros, que tentam enganar os portugueses. A frota encontra terras onde os heróis vivem aventuras e perigosos, até chegar finalmente à Índia, que é o objetivo desde o começo. O narrador da obra é observador, ou seja, não é onisciente, pois necessita da ajuda dos deuses para narrar:
Agora tu, Calíope, me ensina
O que contou ao Rei o ilustre Gama;
Inspira imortal canto e voz divina
Neste peito mortal, que tanto te ama.
Assi o claro inventor da Medicina,
De quem Orfeu pariste, ó linda Dama,
Nunca por Dafne, Clície ou Leucotoe,
Te negue o amor devido, como soe.
A narrativa que Vasco da Gama faz ao rei de Melinde tem o objetivo de mostrar a grandeza de Portugal. É um país comandado, historicamente, por bravos conquistadores cristãos. Dessa forma, o sentimento de nacionalidade está em destaque, e, com a narrativa de Gama, o povo português é levado a ter orgulho de suas origens:
“Julgas agora, Rei, se houve no mundo
Gentes que tais caminhos cometessem?
Crês tu que tanto Eneias e o facundo
Ulisses pelo mundo se estendessem?
Ousou algum a ver do mar profundo,
Por mais versos que dele se escrevessem,
Do que eu vi, a poder d’esforço e de arte,
E do que inda hei-de ver, a oitava parte?
[...]
No epílogo, os conquistadores voltam para Portugal, e o narrador termina a obra com elogios ao rei português:
Ou fazendo que, mais que a de Medusa,
A vista vossa tema o monte Atlante,
Ou rompendo nos campos de Ampelusa
Os muros de Marrocos e Trudante,
A minha já estimada e leda Musa
Fico que em todo o mundo de vós cante,
De sorte que Alexandro em vós se veja,
Sem à dita de Aquiles ter enveja.
Os Lusíadas, portanto, é uma narrativa histórica, já que os personagens da obra fazem parte da história de Portugal. Mas também apresenta elementos fictícios, seres mitológicos e uma grande idealização da Coroa portuguesa e do povo lusitano. Como em qualquer epopeia, os heróis precisam vencer obstáculos — nesse caso, os perigos do mar e o ataque dos mouros. Tudo para cumprir a grande missão: encontrar um caminho para a Índia e, assim, expandir os territórios e a fé do monarca português.
Importância de Os Lusíadas
Com Os Lusíadas, Camões engrandece a nação portuguesa por meio de uma epopeia, tipo de texto considerado superior em sua época. A obra, possui, portanto, uma relevância nacionalista e histórica, além de dar valor e protagonismo à língua portuguesa. Assim, se torna não somente um símbolo literário, mas também político.
Os Lusíadas foi durante séculos e é até hoje revisitado por escritores e intelectuais no mundo inteiro. Isso fez com que a obra sobrevivesse até os nossos dias e comprovasse o seu caráter clássico e, portanto, universal, ao tratar de temáticas como amor e nacionalismo. Desse modo, se tornou o maior símbolo da literatura portuguesa.
Leia também: Cinco poemas de literatura portuguesa
Contexto histórico de Os Lusíadas
A obra de Camões foi produzida no contexto do Renascimento, período compreendido entre os séculos XIV e XVII, que marcou o fim da Idade Média, do feudalismo e do caráter predominantemente teocêntrico da cultura europeia. Ocorreu, assim, uma revalorização da cultura grega e romana da Antiguidade.
Portanto, o mundo ocidental estava diante de uma nova visão filosófica, artística e política, inspirada nos valores da Antiguidade clássica. Além disso, Portugal, com suas caravelas, passou a conquistar novas terras a partir do final do século XV. Desse modo, no século XVI, esse país se mostrava uma nação economicamente próspera.
Luís de Camões
Luís Vaz de Camões nasceu no ano de 1524 ou 1525, na cidade portuguesa de Lisboa. No entanto, pouco se sabe sobre a vida do escritor. Ele era sobrinho do frade D. Bento de Camões, chanceler da Universidade de Coimbra, onde, possivelmente, o poeta estudou Filosofia e Literatura.
Lutou como soldado em Ceuta, onde perdeu o olho direito. Morou em Goa, na Índia, a partir de 1553, onde teria iniciado a escrita de seu livro Os Lusíadas. Também foi provedor-mor de defuntos e ausentes em Macau. Publicou Os Lusíadas em 1572, com relativo sucesso. Porém, morreu pobre em 10 de junho de 1580, em Lisboa.
Créditos da imagem
[1] astarik / Shuttertock
Por Warley Souza
Professor de Literatura