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Literatura de cordel é uma manifestação cultural bastante popular na região Nordeste do Brasil. Os textos que compõem esse tipo de literatura apresentam caráter narrativo. Porém, são escritos em versos regulares. Tais textos são caracterizados por uma linguagem simples, satírica e regional. E são impressos em folhetos.
Leia também: Ariano Suassuna — um dos expoentes literários da cultura nordestina
Tópicos deste artigo
- 1 - Resumo sobre literatura de cordel
- 2 - Videoaula sobre literatura de cordel
- 3 - O que é literatura de cordel?
- 4 - Origem da literatura de cordel
- 5 - Quais são as características da literatura de cordel?
- 6 - Exemplos de literatura de cordel
- 7 - Principais cordelistas brasileiros
Resumo sobre literatura de cordel
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A literatura de cordel é um tipo de literatura que possui narrativas em verso regular, com temática nordestina.
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Originalmente, os folhetos desse tipo de literatura eram expostos em cordéis (cordas finas), daí o nome “literatura de cordel”.
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Os textos da literatura de cordel apresentam cunho satírico e características regionais.
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A estrutura dos textos da literatura de cordel é marcada por rimas, métrica e oração (enredo).
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Alguns dos principais cordelistas são Patativa do Assaré, Silvino Pirauá Lima, José Camelo de Melo Resende e Antônio Ferreira da Cruz.
Videoaula sobre literatura de cordel
O que é literatura de cordel?
A literatura de cordel é uma literatura composta por narrativas impressas em livretos ou folhetos. As histórias desse tipo de literatura apresentam caráter popular e folclórico. Elas são escritas em forma de versos e possuem uma estrutura caracterizada pela rima, métrica e oração (enredo). Tais textos são uma produção cultural típica do Nordeste brasileiro.
Origem da literatura de cordel
O cordel é uma corda fina que, no passado, servia para prender os textos escritos pelos poetas populares do Nordeste. Desse modo, suas obras eram expostas para venda em praça pública. Daí a origem do nome “literatura de cordel”, dado pelo pesquisador francês Raymond Cantel (1914-1986).
Apesar de ser uma tradição cultural muito associada ao Nordeste brasileiro, é sabido que no século XV, aproximadamente, já existia o chamado “cordel português”, com características distintas do que se produziria, mais tarde, no Brasil. Portanto, o “cordel português” parece ter inspirado o surgimento da literatura de cordel brasileira, que começou a ser impressa no final do século XIX.
Quais são as características da literatura de cordel?
A literatura de cordel apresenta narrativas de caráter popular, escritas em verso regular, com linguagem simples e, muitas vezes, coloquial. Por estar ligada ao Nordeste brasileiro, expressões típicas dessa região, bem como outras características regionais, são evidenciadas pelo narrador.
O cordel apresenta elementos satíricos, o que garante a popularidade dos folhetos. Assim, é um texto com humor e ironia. Trata de fatos do cotidiano nordestino, mas também traz acontecimentos históricos. De forma lúdica, valoriza a cultura nordestina e seu aspecto folclórico. Por fim, sua estrutura é composta por rima, métrica e oração (a história contada).
Exemplos de literatura de cordel
→ Desafio de Zé Duda, de Silvino Pirauá
O cordel Desafio de Zé Duda é da autoria de Silvino Pirauá e contém 16 páginas. Vamos ler alguns trechos:
Preste atenção, meu leitor
ao caso que vou contar
dum desafio intrincado
que custou em se acabar,
todos dois eram valentes
em saber desafiar.
[...]
Zé — Senhor Silvino é preciso
que uma pergunta lhe faça:
— Você mora no sertão
que anda fazendo na praça?
Terá vindo ao Recife
buscar a sua desgraça?
[...]
Z. — Me informaram que você
era exímio cantador,
que da arte que ora exerce
pretende ser professor
e que em ciência pratica
discute como um doutor.
[...]
S. — Muitas plantas botam flores,
e planta-se mais no jardim
o cravo, a rosa, a verbena
o crisântemo, o jasmim,
a violeta, a bonina,
a saudade e o alecrim.
[...]
Z. — Qual o metal que do ferro
está muito aproximado
por sua tenacidade
e que é muito apriciado,
do qual já tem a ciência
algum veneno tirado?
[...]
S. — Moram no mar os zoófitos,
são animais-vegetais,
destes conheço a esponja,
os pólipos e os corais,
tem bom sabor a cavala,
o charéu e outros mais.
[...]
→ História da máquina que faz o mundo rodar, de Antônio Ferreira da Cruz
Já História da máquina que faz o mundo rodar, de Antônio Ferreira da Cruz, possui 12 páginas. Vamos ler, a seguir, os seguintes fragmentos:
Morava na Paraíba
Lá nos confins do agreste
Um homem de pouca idade
Que tinha saber por peste
A ponto até de querer
Vencer o plano celeste.
[...]
Vendo que era impossível
Ao céu poder subir
Ficou com a pretensão
De tudo o mais descobrir
Começou andar no mundo
E até a ladrões perseguir.
[...]
No sonho ele fez a conta
Da soma que precisava,
Meteu-se a tirar dinheiro,
Até nas feiras andava,
Toda espécie de esmoler,
Na dita máquina jogava...
[...]
Quando um diz: ele não faz,
Já outro fica zangado
Dizendo: assim como Cristo
Morreu e foi ressuscitado
Ele também faz a máquina
E meu dinheiro é lucrado.
[...]
Depois que ele subiu
Ficou o povo olhando,
Cantando Serena Estrela,
E o tempo foi se passando,
Ainda hoje não voltou,
Mas, o povo está esperando...
[...]
Agora peço desculpas
Da minha publicidade,
Que a máquina mova o mundo
Não creio que seja verdade,
Afinal para o futuro,
Se verá a realidade!...
Veja também: Jorge de Lima — outro autor brasileiro com obras marcadas pelo regionalismo
Principais cordelistas brasileiros
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Silvino Pirauá Lima (1848-1913)
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Leandro Gomes de Barros (1865-1918)
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João Melchíades Ferreira da Silva (1869-1933)
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Antônio Ferreira da Cruz (1876-1965)
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João Martins de Athayde (1880-1959)
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Francisco das Chagas Batista (1882-1930)
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José Camelo de Melo Resende (1885-1964)
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José Pacheco (1890-1954)
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João Ferreira de Lima (1902-1973)
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Severino Milanês da Silva (1906-1967)
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José Soares (1914-1981)
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Manuel d’Almeida Filho (1914-1995)
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Francisco Sales Arêda (1916-2005)
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Manuel Pereira Sobrinho (1918-1995)
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Rodolfo Coelho Cavalcante (1919-1987)
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Minelvino Francisco Silva (1926-1999)
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Raimundo Santa Helena (1926-2018)
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Expedito Sebastião da Silva (1928-1997)
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Manoel Monteiro da Silva (1937-2014)
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Gonçalo Ferreira da Silva (1937-2022)
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William José Gomes Pinto (1953-)
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Manoel de Santa Maria
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Severino Horta
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Joel do Carmo Ferreira
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João Batista Melo
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Val Tabosa
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Diosman Avelino
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Jailton Pereira
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Zé Guri
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Paulo Pereira
Fontes
ABREU, M. “Então se forma a história bonita” — relações entre folhetos de cordel e literatura erudita. Horizontes Antropológicos, Porto Alegre, v. 10, n. 22, p. 199-218, 2004. Disponível em: https://www.scielo.br/j/ha/a/QL9WD98KHC5wQFZY7CZ6LMK/?format=pdf&lang=pt.
CRUZ, A. F. História da máquina que faz o mundo rodar. Fundação Casa de Rui Barbosa, [s.d.]. Disponível em: http://antigo.casaruibarbosa.gov.br/cordel/AntonioFerrreira/antonioFerreira_acervo.html.
FERREIRA, M. S. A rima na escola, o verso na história: um estudo sobre a criação poética e a afirmação étnico-social entre jovens de uma escola pública de São Paulo. 2010. 171 f. Dissertação (Mestrado em Educação) – Universidade de São Paulo, São Paulo, 2010. Disponível em: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/48/48134/tde-30082010-102212/pt-br.php.
MELO, J. R.; SILVA, A.; GALVÃO, A. M. O. O que dizem cordelistas sobre o gênero discursivo que produzem? Uma análise a partir de reflexões metalinguísticas sobre aspectos composicionais do cordel. Alfa, São Paulo, v. 64, 2020. Disponível em: https://periodicos.fclar.unesp.br/alfa/article/view/12861.
MELO, R. A. Do rapa ao registro: a literatura de cordel como patrimônio cultural do Brasil. Revista do Instituto de Estudos Brasileiros, n. 72, p. 245-261, 2019. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/rieb/article/view/157060.
MENESES, U. T. B. A literatura de cordel como patrimônio cultural. Revista do Instituto de Estudos Brasileiros, n. 72, p. 225-244, 2019. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/rieb/article/view/157058.
PIRAUÁ, S. Desafio de Zé Duda. Fundação Casa de Rui Barbosa, [s.d.]. Disponível em: http://antigo.casaruibarbosa.gov.br/cordel/SilvinoPiraua/silvinoPiraua_acervo.html.
Por Warley Souza
Professor de Literatura