Notificações
Você não tem notificações no momento.
Whatsapp icon Whatsapp
Copy icon

Metafísica de Aristóteles

A Metafísica é um conjunto de tratados aristotélicos que falam sobre conceitos como substância, forma, matéria e etiologia.

A Metafísica de Aristóteles foi o primeiro grande tratado metafísico sistemático do mundo antigo.
A Metafísica de Aristóteles foi o primeiro grande tratado metafísico sistemático do mundo antigo.
Crédito da Imagem: shutterstock
Imprimir
Texto:
A+
A-
Ouça o texto abaixo!

PUBLICIDADE

Metafísica é um conjunto de livros diferentes sobre o mesmo assunto escritos por Aristóteles. Andrônico de Rodes, um dos últimos discípulos do Liceu de Aristóteles, foi quem organizou e classificou esses escritos, dando a eles o nome pelo qual os conhecemos hoje. O quarto livro desses escritos traz, logo em seu início, as seguintes palavras:

“Existe uma ciência que considera o ser enquanto ser e as competências que lhe competem enquanto tal. Ela não se identifica com nenhuma das ciências particulares: de fato, nenhuma das outras ciências considera universalmente o ser enquanto ser, mas delimitando uma parte dele, cada uma estuda as características dessa parte.” |1|

Essa definição de Aristóteles pode ser uma primeira e mais geral elucidação do que é Metafísica: uma área da Filosofia ou, como ele chamou, uma ciência geral, uma espécie de ciência mestra ou ciência mãe de todas as ciências. Antes da classificação de Andrônico de Rodes, o próprio Aristóteles chamava os seus estudos de Metafísica de “Filosofia Primeira” por se tratar de um conjunto de conhecimentos independentes de qualquer atividade empírica e de qualquer experiência sensorial.

Não pare agora... Tem mais depois da publicidade ;)

Enquanto as áreas do conhecimento, divididas em suas especialidades, estudam apenas uma determinada especialidade, ou seja, uma parte do todo, a Metafísica seria responsável por estudar o todo. Podemos dizer, também de maneira geral, que a Filosofia é o estudo do ser enquanto ser, ou seja, é o estudo das relações de como as coisas são, como elas se organizam racionalmente para além da vontade humana e da existência material do mundo.

Apesar de Aristóteles ser considerado um pensador sistemático que ficou conhecido por classificar as áreas do conhecimento no mundo antigo, devemos reconhecer que existem relações entre tais áreas. Os estudos de Filosofia Primeira de Aristóteles relacionam-se, por diversas vezes, com a lógica aristotélica, que também é uma filosofia a priori ou um tipo de filosofia que independe da experiência sensível e da prática. Mais adiante, no livro quatro da Metafísica, Aristóteles diz que:

“é evidente, portanto, que a uma mesma ciência pertence o estudo do ser enquanto ser e das propriedades que a ele se referem, e que a mesma ciência deve estudar não só as substâncias, mas também suas propriedades, os contrários de que se falou, e também o anterior e posterior, o gênero e a espécie, o todo e a parte e as outras noções desse tipo.” |2|

Noções como gênero, espécie, partes e todo não só aparecem na Metafísica, mas também no livro Categorias, um pequeno tratado de lógica escrito por Aristóteles. O trecho da Metafísica citado acima também nos aponta para temas centrais da Filosofia Primeira, ou Metafísica, que se dedicariam ao entendimento da noção de substância, que seria uma espécie de conexão que encaixa os objetos do mundo em suas respectivas formas metafísicas.

Tópicos deste artigo

Teoria das quatro causas

A teoria das quatro causas baseia-se no princípio de causa e efeito, sendo, na verdade, o primeiro registro histórico desse princípio metafísico e lógico, que também pode ser chamado de princípio da causalidade. Segundo o princípio da causalidade, para tudo o que acontece no mundo (efeito), existe um evento anterior que teria dado origem a ele (causa), com exceção do que Aristóteles chamou de “causa não causada”, que abordaremos a seguir.

Segundo a Metafísica aristotélica, existem quatro causas fundamentais que explicam a origem de tudo o que conhecemos no mundo. São elas:

  1. Causa material: diz respeito à matéria da qual algo é feito, como o mármore em uma estátua de mármore, ou a madeira, em uma cadeira de madeira.

  2. Causa formal: é a forma que um determinado objeto ou ser possui. Essa causa também é, de certo modo, a sua definição conceitual, visto que uma cadeira deve possuir a forma de cadeira, e uma estátua de mármore representando um deus grego, como Dionísio, deve ter a forma daquele personagem.

  3. Causa final: como o próprio nome diz, essa causa diz respeito à finalidade ou à razão de existir de um determinado ser ou objeto. Pegando o exemplo da cadeira, a sua causa final é servir como assento.

  4. Causa eficiente: seria aquilo que deu origem a um determinado ser ou objeto, ou seja, a sua causa primeira. No caso da estátua de Dionísio, a causa eficiente seria o escultor. No caso da famosa tela Monalisa, a sua causa eficiente seria o pintor Leonardo da Vinci.

Primeiro motor imóvel

A noção de primeiro motor imóvel, ou, simplesmente, motor imóvel, é, em suma, a causa não causada da qual falamos no tópico anterior. O filósofo escolástico Tomás de Aquino relacionou esse conceito de motor imóvel à ideia de Deus judaico-cristã, pois esse primeiro motor seria uma causa primeira de todas as causas, ou a origem de tudo, que não teria sido originada por algo ou alguém. O conceito de motor imóvel aparece no livro XII da Metafísica de Aristóteles e foi concebido por meio de um raciocínio de regressão intelectual.

Aristóteles, pensando no princípio de causalidade e na experiência prática que nos faz entender que tudo o que acontece tem um início, opera uma regressão de pensamentos e constata que, se entendermos que para tudo no mundo existe uma causa anterior, deve haver um momento inicial onde não haveria mais causas anteriores ou, caso contrário, cairíamos em uma espécie de loop infinito. Esse momento inicial, que causa movimento, mas não é movimentado por alguém, é o primeiro motor imóvel, ou aquilo que dá impulso, mas não é impulsionado.

Essa noção é uma das mais importantes da Metafísica antiga por ter o peso de explicar a origem primeira de todo o universo por intermédio de um raciocínio filosófico.

Substância, forma, matéria, ato e potência

Ao se distanciar das teses idealistas platônicas e das teses imobilistas de Parmênides, Aristóteles defrontou-se com um problema filosófico: o pensador concebe a existência de formas (que seriam ideais) e da matéria, que seria mutável. Ambas, na teoria do conhecimento aristotélica, são verdadeiras e possuem validade, ao contrário da concepção platônica de conhecimento, que seria composto, em sua verdade, apenas pelas ideias ou formas. A substância seria o elo de encaixe entre a noção de forma e a noção de matéria, ou seja, substância é aquilo que permite à matéria adequar-se a determinada forma. Porém, ao assumir que as formas são imutáveis e a matéria é mutável, haveria um problema de adequação das matérias às suas respectivas formas ou conceitos. Para resolver isso, Aristóteles introduziu a noção de distinção entre ato e potência.

Segundo o filósofo, todos os seres e objetos materiais existem em duas formas, uma atual e uma em potencial. Ato seria a forma atual, aquilo que a matéria é agora, e potência seria uma forma especial que a matéria guarda dentro de si, isto é, um “vir a ser” ou um “poder vir a ser”. Toda matéria atual pode transformar-se em suas potências. Quando um determinado ser transforma-se em sua potência, pode-se dizer que ele se atualizou, ou seja, transformou-se em uma nova matéria em ato.

Para exemplificar esse raciocínio, podemos tomar emprestada a ideia de que uma semente existe enquanto semente, ou seja, é semente em ato, mas ela também guarda uma potência dentro de si: a possibilidade de se tornar uma planta. Quando a semente brota e cresce, ela se atualiza, tomando uma nova forma e transformando a sua matéria.

|1| ARISTÓTELES. Metafísica. 2ª ed. tradução, introdução e comentários de Giovanni Reale. São Paulo: Edições Loyola, 2002, p. 131.

|2| _______ Metafísica. 2ª ed. tradução, introdução e comentários de Giovanni Reale. São Paulo: Edições Loyola, 2002, p. 141.

Por Francisco Porfírio
Professor de Filosofia

Escritor do artigo
Escrito por: Francisco Porfírio Escritor oficial Brasil Escola

Gostaria de fazer a referência deste texto em um trabalho escolar ou acadêmico? Veja:

PORFíRIO, Francisco. "Metafísica de Aristóteles"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/filosofia/metafisica-aristoteles.htm. Acesso em 19 de abril de 2024.

De estudante para estudante


Videoaulas