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A Guerra da Bósnia foi um conflito que ocorreu entre 1992 e 1995 pela independência da Bósnia. Envolveu os três principais grupos étnicos que existiam na região: croatas, sérvios e bósnios. O saldo da guerra, além da destruição material, foi de milhares de mortos (as estimativas falam de 100.000 a 200.000 mortos). O conflito também ficou marcado pelo processo de limpeza étnica promovido pelas forças sérvio-bósnias contra a população bosníaca (bósnio-muçulmanos).
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Antecedentes da Guerra da Bósnia
A Iugoslávia, localizada na Península Balcânica, historicamente foi marcada pela multiplicidade de culturas e povos. Durante os séculos XVIII e XX, essa região foi dominada por grandes reinos, como o Austro-húngaro e o Turco-otomano. A presença estrangeira resultou no surgimento de movimentos de independência contra o domínio estrangeiro.
A Iugoslávia independente surgiu em 1929 e agrupou todos os povos da região sob um território e governo. O Reino da Iugoslávia foi brevemente fragmentando durante a Segunda Guerra Mundial, e uma nova Iugoslávia foi formada após 1945 sob a liderança de Josip Broz Tito. Tito lutou contra os nazistas na guerra como Partisan (tropas autônomas que lutavam contra a presença nazista) e foi presidente durante décadas. A nova Iugoslávia liderada por Tito agrupava seis países: Sérvia, Croácia, Eslovênia, Montenegro, Macedônia e Bósnia-Herzegovina. A liderança de Tito manteve a região unificada e coesa politicamente até sua morte em 1980.
Após a morte de Tito, a aparente harmonia que existia entre as diferentes etnias começou a ruir. Surgiram por toda a Iugoslávia, durante a década de 1980, grupos e lideranças políticas que defendiam um discurso nacionalista étnico e a independência de seus países. Entre essas lideranças políticas, podemos citar Franjo Tuđman (croata), Slobodan Milošević (sérvio) e Alija Izetbegović (bósnio).
O colapso da União Soviética e do bloco socialista em 1991 acabou sendo o fator definitivo que causou a fragmentação da Iugoslávia e a consolidação das hostilidades, pois a autoridade centralizada em Moscou atuava para conter movimentos de independência e os conflitos entre as diferentes etnias.
Assim, Eslovênia e Croácia declararam sua independência em 1991, após realizarem referendos internos. Esses países foram atacados por forças iugoslavas formadas por sérvios e montenegrinos contrários à independência. Os casos esloveno e croata incentivaram outros movimentos de independência nos Bálcãs, inclusive o movimento bósnio.
A Bósnia era o caso mais complexo da Iugoslávia em virtude da sua diversidade étnica. “Em 1991, 44% dos 4,4 milhões de habitantes eram bósnio-muçulmanos, 31%, sérvios; e 17%, croatas”|1|. Assim, essa divisão étnica resultava em diferentes interesses das três partes: bósnio-muçulmanos defendiam a independência total da Bósnia sob a liderança da maioria étnica do país; sérvio-bósnios defendiam a separação dos territórios bósnios ocupados por sérvios para anexá-los à Sérvia; e croata-bósnios defendiam a anexação da Bósnia ao território croata. Nesse clima de tensão evidente, os primeiros ataques sérvios contra bósnios aconteceram no dia 5 de abril de 1992.
A Guerra da Bósnia
Uma vez iniciada a guerra, as forças paramilitares da Sérvia logo se impuseram sobre as desorganizadas forças bósnias. Assim, cerca de 70% do território bósnio foi ocupado por forças da Sérvia. As derrotas iniciais dos bósnio-muçulmanos ocorreram pela falta de armamento do seu exército:
A carência bélica era latente principalmente no campo da artilharia pesada. Havia estimativas que, enquanto o exército da Bósnia contava com apenas dois tanques e dois blindados, os sérvios tinham em seu arsenal trezentos tanques e trezentos blindados, além de oitocentas peças de artilharia e quarenta aeronaves, usadas em bombardeios|2|.
A guerra também foi marcada pelo cerco de Sarajevo, capital da Bósnia, onde forças militares sérvias posicionaram-se nos morros que circundavam a cidade e passaram a bombardeá-la constantemente. O cerco também registrou o ataque de atiradores de elite (snipers) contra a população civil de Sarajevo.
Além do cerco à cidade de Sarajevo, houve a tentativa de limpeza étnica realizada por grupos militares a mando de Radovan Karadžić (presidente dos sérvio-bósnios) e Ratko Mladić (general das tropas sérvio-bósnias). As forças sérvio-bósnias realizaram genocídios em massa da população bosníaca. Um dos casos mais conhecidos foi o massacre de Srebrenica, evento em que forças sérvio-bósnias invadiram o campo de refugiados de Srebrenica e mataram mais de 8.000 bosníacos.
A partir de 1994, as tropas de Karadžić, até então vitoriosas, começaram a perder o conflito em decorrência da perda do apoio da Sérvia e do fortalecimento das forças bósnio-muçulmanas, que contavam com o apoio de outras nações muçulmanas. As derrotas forçaram Karadžić a aceitar um acordo de paz com bósnios e croatas em 1995. O acordo de paz ficou conhecido como Acordo de Dayton.
Após o conflito, Radovan Karadžić e Ratko Mladić passaram a ser procurados internacionalmente. Desaparecidos por mais uma década, ambos foram presos em 2008 e 2011, respectivamente. Foram julgados e condenados por crimes de guerra cometidos em Sarajevo, Srebenica e muitos outros locais da Bósnia.
A Bósnia-Herzegovina, pacificada, foi organizada em duas regiões: Federação da Bósnia e Herzegovina, sob controle de bosníacos e croatas, e a República Sérvia da Bósnia, sob controle dos sérvio-bósnios.
Notas
|1| SILVA, Gustavo. Da rosa ao pó: Histórias da Bósnia pós-genocídio. Rio de Janeiro: Tinta Negra Bazar Editorial, 2011, p.17.
|2| Idem, p.18.
Créditos de imagem
[1] Northfoto e Shutterstock
[2] Northfoto e Shutterstock