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Guerra da Bósnia

A guerra da Bósnia fez parte do processo de desintegração da antiga Iugoslávia, ocorrido durante a década de 1990, e foi marcada pelos genocídios contra a população muçulmana.

Homem correndo para evitar os atiradores de elite que cercavam Sarajevo em 4 de abril de 1993.
Homem correndo para evitar os atiradores de elite que cercavam Sarajevo em 4 de abril de 1993. [1]
Crédito da Imagem: Shutterstock
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A Guerra da Bósnia foi um conflito que ocorreu entre 1992 e 1995 pela independência da Bósnia. Envolveu os três principais grupos étnicos que existiam na região: croatas, sérvios e bósnios. O saldo da guerra, além da destruição material, foi de milhares de mortos (as estimativas falam de 100.000 a 200.000 mortos). O conflito também ficou marcado pelo processo de limpeza étnica promovido pelas forças sérvio-bósnias contra a população bosníaca (bósnio-muçulmanos).

Tópicos deste artigo

Antecedentes da Guerra da Bósnia

A Iugoslávia, localizada na Península Balcânica, historicamente foi marcada pela multiplicidade de culturas e povos. Durante os séculos XVIII e XX, essa região foi dominada por grandes reinos, como o Austro-húngaro e o Turco-otomano. A presença estrangeira resultou no surgimento de movimentos de independência contra o domínio estrangeiro.

A Iugoslávia independente surgiu em 1929 e agrupou todos os povos da região sob um território e governo. O Reino da Iugoslávia foi brevemente fragmentando durante a Segunda Guerra Mundial, e uma nova Iugoslávia foi formada após 1945 sob a liderança de Josip Broz Tito. Tito lutou contra os nazistas na guerra como Partisan (tropas autônomas que lutavam contra a presença nazista) e foi presidente durante décadas. A nova Iugoslávia liderada por Tito agrupava seis países: Sérvia, Croácia, Eslovênia, Montenegro, Macedônia e Bósnia-Herzegovina. A liderança de Tito manteve a região unificada e coesa politicamente até sua morte em 1980.

Após a morte de Tito, a aparente harmonia que existia entre as diferentes etnias começou a ruir. Surgiram por toda a Iugoslávia, durante a década de 1980, grupos e lideranças políticas que defendiam um discurso nacionalista étnico e a independência de seus países. Entre essas lideranças políticas, podemos citar Franjo Tuđman (croata), Slobodan Milošević (sérvio) e Alija Izetbegović (bósnio).

O colapso da União Soviética e do bloco socialista em 1991 acabou sendo o fator definitivo que causou a fragmentação da Iugoslávia e a consolidação das hostilidades, pois a autoridade centralizada em Moscou atuava para conter movimentos de independência e os conflitos entre as diferentes etnias.

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Assim, Eslovênia e Croácia declararam sua independência em 1991, após realizarem referendos internos. Esses países foram atacados por forças iugoslavas formadas por sérvios e montenegrinos contrários à independência. Os casos esloveno e croata incentivaram outros movimentos de independência nos Bálcãs, inclusive o movimento bósnio.

A Bósnia era o caso mais complexo da Iugoslávia em virtude da sua diversidade étnica. “Em 1991, 44% dos 4,4 milhões de habitantes eram bósnio-muçulmanos, 31%, sérvios; e 17%, croatas”|1|. Assim, essa divisão étnica resultava em diferentes interesses das três partes: bósnio-muçulmanos defendiam a independência total da Bósnia sob a liderança da maioria étnica do país; sérvio-bósnios defendiam a separação dos territórios bósnios ocupados por sérvios para anexá-los à Sérvia; e croata-bósnios defendiam a anexação da Bósnia ao território croata. Nesse clima de tensão evidente, os primeiros ataques sérvios contra bósnios aconteceram no dia 5 de abril de 1992.

A Guerra da Bósnia

Prédio destruído pela artilharia sérvia que cercava Sarajevo no dia 20 de novembro de 1993 **
Prédio destruído pela artilharia sérvia que cercava Sarajevo no dia 20 de novembro de 1993. [2]

Uma vez iniciada a guerra, as forças paramilitares da Sérvia logo se impuseram sobre as desorganizadas forças bósnias. Assim, cerca de 70% do território bósnio foi ocupado por forças da Sérvia. As derrotas iniciais dos bósnio-muçulmanos ocorreram pela falta de armamento do seu exército:

A carência bélica era latente principalmente no campo da artilharia pesada. Havia estimativas que, enquanto o exército da Bósnia contava com apenas dois tanques e dois blindados, os sérvios tinham em seu arsenal trezentos tanques e trezentos blindados, além de oitocentas peças de artilharia e quarenta aeronaves, usadas em bombardeios|2|.

A guerra também foi marcada pelo cerco de Sarajevo, capital da Bósnia, onde forças militares sérvias posicionaram-se nos morros que circundavam a cidade e passaram a bombardeá-la constantemente. O cerco também registrou o ataque de atiradores de elite (snipers) contra a população civil de Sarajevo.

Além do cerco à cidade de Sarajevo, houve a tentativa de limpeza étnica realizada por grupos militares a mando de Radovan Karadžić (presidente dos sérvio-bósnios) e Ratko Mladić (general das tropas sérvio-bósnias). As forças sérvio-bósnias realizaram genocídios em massa da população bosníaca. Um dos casos mais conhecidos foi o massacre de Srebrenica, evento em que forças sérvio-bósnias invadiram o campo de refugiados de Srebrenica e mataram mais de 8.000 bosníacos.

A partir de 1994, as tropas de Karadžić, até então vitoriosas, começaram a perder o conflito em decorrência da perda do apoio da Sérvia e do fortalecimento das forças bósnio-muçulmanas, que contavam com o apoio de outras nações muçulmanas. As derrotas forçaram Karadžić a aceitar um acordo de paz com bósnios e croatas em 1995. O acordo de paz ficou conhecido como Acordo de Dayton.

Após o conflito, Radovan Karadžić e Ratko Mladić passaram a ser procurados internacionalmente. Desaparecidos por mais uma década, ambos foram presos em 2008 e 2011, respectivamente. Foram julgados e condenados por crimes de guerra cometidos em Sarajevo, Srebenica e muitos outros locais da Bósnia.

A Bósnia-Herzegovina, pacificada, foi organizada em duas regiões: Federação da Bósnia e Herzegovina, sob controle de bosníacos e croatas, e a República Sérvia da Bósnia, sob controle dos sérvio-bósnios.

Notas

|1| SILVA, Gustavo. Da rosa ao pó: Histórias da Bósnia pós-genocídio. Rio de Janeiro: Tinta Negra Bazar Editorial, 2011, p.17.

|2| Idem, p.18.

Créditos de imagem

[1] Northfoto e Shutterstock

[2] Northfoto e Shutterstock

Escritor do artigo
Escrito por: Daniel Neves Silva Formado em História pela Universidade Estadual de Goiás (UEG) e especialista em História e Narrativas Audiovisuais pela Universidade Federal de Goiás (UFG). Atua como professor de História desde 2010.

Gostaria de fazer a referência deste texto em um trabalho escolar ou acadêmico? Veja:

SILVA, Daniel Neves. "Guerra da Bósnia"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/historiag/guerra-bosnia.htm. Acesso em 21 de novembro de 2024.

De estudante para estudante


Videoaulas


Lista de exercícios


Exercício 1

(Unesp - adaptado) A divisão territorial da ex-Iugoslávia originou seis novos países. Assinale a alternativa que contém o nome desses países.

a) República Tcheca, Eslovênia, Macedônia, Croácia, Sérvia, Montenegro.

b) Albânia, Macedônia, Bósnia, Croácia, Sérvia, Montenegro.

c) Romênia, Croácia, Eslovênia, Bósnia, Sérvia, Montenegro.

d) Bósnia, Macedônia, Croácia, Eslovênia, Sérvia, Montenegro.

e) Bulgária, Bósnia, Eslovênia, Macedônia, Sérvia, Montenegro.

Exercício 2

(UFV- adaptado) A prisão do ex-presidente iugoslavo Slobodan Milosevic, em junho de 2001, foi mais um capítulo dos intensos conflitos separatistas e étnicos que eclodiram na Europa durante a década de 90 do século XX, dentre os quais, podemos citar a Guerra da Bósnia. Um dos elementos que contribuíram para a emergência desses conflitos foi:

a) a intensificação do processo de repressão aos cultos religiosos por parte do governo central de Moscou.

b) a entrada da Iugoslávia na OTAN, contrariando os interesses militares do bloco socialista na Europa.

c) a formalização da União Europeia, contrariando interesses da Iugoslávia e da Sérvia.

d) o fim da URSS, ampliando a autonomia das antigas repúblicas que compunham o bloco socialista.

e) as disputas por terra entre colonos judeus e separatistas sérvios em território iugoslavo.