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A Guerra da Coreia foi um conflito que aconteceu entre 1950 e 1953 entre a Coreia do Norte e a Coreia do Sul e iniciou-se quando as tropas norte-coreanas ultrapassaram a fronteira que separa as Coreias, dando início à invasão da Coreia do Sul. Essa guerra foi uma das primeiras manifestações da bipolarização que caracterizou o mundo no período da Guerra Fria.
Ao longo de seus anos de duração, a Guerra da Coreia foi responsável pela morte de mais de 2,5 milhões de pessoas e contou com a participação de tropas norte e sul-coreanas, tropas chinesas, americanas e uma modesta participação de soldados soviéticos. O final da guerra trouxe poucas mudanças de fronteira e manteve a divisão e a rivalidade das Coreias acesa por bastante tempo. Cabe o destaque que, apesar da forte rivalidade, houve recentemente gestos de aproximação realizados pelos dois governos.
Tópicos deste artigo
Coreia no século XX
A Guerra da Coreia foi resultado direto da divisão arbitrária daquela península por EUA e URSS durante a Conferência de Potsdam, em julho de 1945. No entanto, para entendermos melhor o contexto da divisão da península em 1945, é preciso recapitular alguns pontos da história coreana ao longo do século XX.
A Península da Coreia sofria com interferências estrangeiras desde o começo daquele século, pois, em 1910, a região foi oficialmente anexada ao território japonês a partir de um acordo que garantia a anexação daquele território ao Japão e permitia a ocupação da região por cidadãos japoneses.
Com isso, deu-se início à formação de colônias de japoneses na Coreia a partir da tomada das terras produtivas dos coreanos, além da exploração do trabalho dos coreanos por parte dos japoneses. A ocupação japonesa na Coreia tornou-se violenta, principalmente a partir da década de 1930, e casos de violência foram comuns, inclusive violência sexual contra coreanas.
Com a Segunda Guerra Mundial, os coreanos juntaram-se ao esforço de guerra realizado pelos americanos e passaram a lutar contra os invasores japoneses. Apesar disso, é importante pontuar que naturalmente houve colaboracionismo de parte da sociedade coreana com os japoneses, havendo até mesmo a adesão de coreanos ao exército japonês.
Quando os japoneses foram derrotados em agosto de 1945, a parte norte da Coreia encontrava-se ocupada pelas tropas soviéticas que haviam iniciado a luta contra os japoneses na Manchúria. Foi nesse contexto que americanos e soviéticos realizaram a divisão da península entre si, cada qual ocupando-a militarmente e desenvolvendo um regime alinhado aos seus interesses.
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O marco dessa divisão ficou conhecido como Paralelo 38 e determinou que a parte norte da península seria ocupada pelos soviéticos e que a parte sul seria ocupada pelos americanos. Obviamente, os coreanos não foram consultados em nenhum momento enquanto a divisão era estabelecida, e a divisão da península gerou muita insatisfação.
Eclosão da Guerra da Coreia
A partir da divisão da Península da Coreia, dois governos foram desenvolvidos em cada parte. Ao norte, estabeleceu-se o governo comunista de Kim Il-sung; ao sul, estabeleceu-se um governo capitalista governado por Syngman Rhee. As ocupações de soviéticos e americanos na península foram encerradas em 1948 e 1949, respectivamente.
O amplo contato dos norte-coreanos com os soviéticos garantiu-lhes importante suporte econômico e militar. Isso alimentou a ambição de Kim Il-sung de unificar toda a península sobre a sua liderança. Para que isso fosse possível, buscou o apoio dos soviéticos para organizar a invasão da Coreia do Sul.
Stalin (líder da União Soviética), a princípio, não apoiava a ideia de uma invasão da Coreia do Sul, pois não queria um conflito aberto com os Estados Unidos – um risco que a guerra poderia gerar. No entanto, a ocorrência da Revolução Chinesa e a ameça de que a China se tornasse uma nação mais influente na Ásia que a própria URSS fez com que os soviéticos mudassem de ideia. Mesmo assim, o apoio soviético para a Coreia do Norte foi mais em questões logísticas e de suprimentos do que propriamente militar.
Os chineses, a partir da pressão soviética, forneceram milhares de soldados do seu exército que lutaram na Guerra Civil Chinesa e garantiram a vitória dos comunistas chineses em 1949. Esses soldados, apesar de chineses, eram etnicamente descendentes de coreanos e engrossaram as linhas do exército norte-coreano.
A guerra eclodiu em 25 de junho de 1950, quando as tropas norte-coreanas iniciaram a invasão da Coreia do Sul. Rapidamente, seguiu-se uma reação internacional contra a ação dos norte-coreanos. A ONU, em 27 de junho de 1950, condenou a invasão e aprovou que uma coalização estrangeira fosse organizada para interferir no conflito em defesa da Coreia do Sul. Essa decisão partiu da Resolução 83 do Conselho de Segurança.
Fases da Guerra da Coreia
A partir da invasão da Coreia do Sul, a guerra pode ser dividida em três fases distintas. A primeira fase aconteceu entre junho e setembro de 1950. As forças norte-coreanas beneficiaram-se de seu maior poderio militar e quase conquistaram toda a península, isolando as tropas sul-coreanas ao Perímetro de Pusan.
A segunda fase foi caracterizada pelo predomínio das forças sul-coreanas com a entrada em massa do exército americano no conflito. Essa fase estendeu-se de setembro a outubro de 1950 e iniciou-se com a importante ação dos americanos na defesa do Perímetro de Pusan. As tropas americanas também foram importantes para a reconquista de território dos sul-coreanos, sobretudo a partir do desembarque de tropas em Inchon.
O avanço das tropas americanas e sul-coreanas sobre o território norte-coreano gerou uma resposta da China, que temia que as tropas americanas invadissem o seu território. A entrada da China na Guerra da Coreia deu início à terceira fase do conflito. Essa fase estendeu-se até 1953 e foi caracterizada pelo equilíbrio das forças.
A longa duração dessa fase, o grande desgaste causado pela guerra e as poucas movimentações no campo de batalha (as tropas estavam nas proximidades do Paralelo 38) resultaram na negociação de uma trégua em Panmunjom, que foi assinada oficialmente em 27 de julho de 1953. A trégua – apesar de ter sido negociada como algo temporário – colocou fim ao conflito.
Algumas mudanças de fronteira aconteceram, e foi estabelecida uma zona desmilitarizada na fronteira entre os dois países. A relação entre as Coreias permanece tensa até hoje, no entanto, observadores internacionais enxergam com otimismo as possibilidades de reaproximação das Coreias no futuro.
Por Daniel Neves
Graduado em História