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As guerras travadas no século XX, como as duas Guerras Mundiais, a Guerra das Coreias, a Guerra do Vietnã e a Guerra do Golfo, além da grande destruição, morticínio e reviravoltas políticas que desencadearam, apresentaram estratégias de guerra e desempenhos individuais durante as batalhas que raramente foram documentados antes nas guerras que as antecederam. Um dos maiores exemplos de destaque individual em uma guerra é o do finlandês Simo Häyhä (1905-2002), que lutou na resistência finlandesa à ocupação soviética em 1939, logo nos primeiros meses da Segunda Guerra Mundial. Häyhä é considerado o sniper mais letal da história, pois abateu, oficialmente, mais de 500 homens.
A fama desse combatente finlandês correu entre os membros do exército vermelho de Stalin sob a alcunha de “morte branca”. Häyhä camuflava-se na neve, vestindo-se todo de branco e cobrindo também o rosto com uma máscara de tecido branco. Para compreendermos melhor a história de Häyhä, é preciso recordar um pouco do contexto do ano de 1939.
O exército soviético invadiu a Finlândia em novembro de 1939, três meses após a invasão nazista da Polônia que dera início ao segundo conflito mundial. Nesse período, nazistas e comunistas mantinham um acordo de mútua cooperação em seus projetos expansionistas. Esse acordo foi firmado no Pacto Ribbentrop-Molotov, também conhecido como Pacto Germano-Soviético de não agressão. A missão da URSS era fazer um ataque rápido no extremo norte europeu e subjugar sem dificuldade os territórios de países como a Finlândia. Todavia, as forças soviéticas não estavam preparadas para a resistência finlandesa, como acentua o historiador Norman Davies em sua obra “A Europa em Guerra”:
[…] Quando, a 30 de novembro, as colunas soviéticas avançaram pesadamente, foram alvejadas por tropas finlandesas velozes, que se deslocavam sobre esquis, e por atiradores emboscados nas florestas cobertas de neve e nos pântanos gelados, diante da linha defensiva de Mannerheim. Os soviéticos sofreram baixas dez vezes superiores à dos finlandeses. Dezenas de milhares de soldados soviéticos renderam-se. E centenas de tanques foram apanhados em emboscadas antes sequer de dispararem. Apesar do bombardeamento de Helsinke, os finlandeses não estavam dispostos a submeter-se. Do ponto de vista soviético, este “milagre de Dezembro” representou uma humilhante catástrofe. [1]
A estrutura de “guerrilha” usada pelos finlandeses, com camuflagem, ataques repentinos e pelos flancos, formações irregulares etc., conseguiu empurrar o exército soviético para sucessivas ciladas. Foi nessa ambiência que a figura de Simon Häyhä transformou-se na “morte branca”. Simon provinha de uma família de camponeses e, assim sendo, ele tinha uma experiência muito forte com caçadas e, por consequência, com o manejo de rifles de longo alcance para atirar em alvos parados ou em movimento. Além disso, a “morte branca” também possuía experiência em técnicas de sobrevivência no inverno e na floresta, o que facilitou sua camuflagem e permanência em lugares inóspitos, próprios para emboscadas.
Um fator interessante a ser destacado é que Häyhä¨não usava rifles com mira telescópica (com lunetas), haja vista que ela poderia refletir a luz do sol e indicar sua posição ao exército inimigo. Ele preferia a mira comum, como a que usava para caçar. Em um período de aproximadamente 100 dias, a “morte branca” abateu cerca de 500 soldados soviéticos. O exército soviético chegou a pedir sua cabeça a prêmio, enviando divisões especiais para matá-lo, o que incluía também atiradores de elite russos. Um desses atiradores conseguiu ferir Häyhä no lado esquerdo do rosto, deformando irreversivelmente a sua face, mas Häyhä permaneceu vivo.
Até hoje Simon Häyhä é tido como um dos grande heróis europeus da Segunda Guerra e o maior herói da Finlândia.
NOTAS
[1] DAVIES, Norman. A Europa em Guerra. Lisboa: Edições 70, 2008. p. 99.
Por Me. Cláudio Fernandes