Notificações
Você não tem notificações no momento.
Novo canal do Brasil Escola no
WhatsApp!
Siga agora!
Whatsapp icon Whatsapp
Copy icon

Domingo Sangrento (1905)

Domingo Sangrento foi um acontecimento que se passou na Rússia em 1905, quando tropas do czar atacaram uma multidão que protestava pacificamente em São Petersburgo.

Monumento com quatro homens esculpidos
Monumento em homenagem às vítimas do Domingo Sangrento de 1905.[2]
Imprimir
Texto:
A+
A-
Ouça o texto abaixo!

PUBLICIDADE

O Domingo Sangrento ocorreu em 9 de janeiro de 1905 (de acordo com o calendário juliano) e foi um acontecimento em que tropas, a serviço do czar Nicolau II, abriram fogo contra uma multidão que protestava pacificamente nas ruas de São Petersburgo. A multidão era de apoiadores do czar que desejavam algumas melhorias no país, e estima-se que centenas de pessoas foram mortas.

Acesse também: Conheça a origem histórica da primeira dinastia russa – os Rurik

Tópicos deste artigo

Contexto da Rússia no começo do século XX

  • Czarismo

Nicolau II era o czar russo no começo do século XX.[1]
Nicolau II era o czar russo no começo do século XX.[1]

No começo do século XX, a Rússia era um grande império, um dos maiores do mundo, e era governada por uma monarquia conhecida como czarismo. Essa monarquia estava nas mãos da dinastia Romanov desde o começo do século XVII, e a Rússia era governada de maneira autocrática, com os monarcas não aceitando menos do que o poder absoluto no país.

Ainda no século XX, os Romanov tinham muita dificuldade para aceitar as transformações em curso no planeta e resistiam a todas as iniciativas modernas que tratavam da diminuição dos poderes dos monarcas. Assim, havia muita resistência em aderir e obedecer qualquer iniciativa que tratasse da subordinação do rei a iniciativas constitucionais e a órgãos, como o Legislativo.

O país não possuía nenhum órgão legislativo, assim como não havia nenhum partido político ou sindicato legalizado pelo governo russo. Conforme coloca o historiador Reginald E. Zelnik, os czares russos ainda tinham uma enorme desconfiança com associações cívicas que não estivessem sob estrita vigilância do governo|1|.

  • Economia

Além disso, a Rússia havia passado, desde o final do século XIX, por uma industrialização que desenvolveu consideravelmente a economia do país e criou polos industriais em cidades, como São Petersburgo, na época a capital do país. Ao mesmo tempo que se investiu no desenvolvimento industrial, foram adotadas políticas econômicas protecionistas que visavam a garantir uma balança comercial favorável.

O resultado foi que o governo russo estipulou determinados tributos que tinham como objetivo desincentivar a importação de produtos importantes, como maquinário. Isso afetou áreas importantes do país, como a agricultura, uma vez que dificultou que os produtores adquirissem itens importantes para o desenvolvimento agrícola russo. Isso prejudicou a agricultura russa e, em determinados momentos, gerou fome, como foi no ciclo entre 1891 e 1892, quando centenas de milhares de pessoas morreram de fome na Rússia.

  • Política

O autoritarismo dessa monarquia e o desenvolvimento econômico não acompanhado por melhoria na vida do povo criaram um cenário explosivo na Rússia. Esse cenário permitiu que partidos de esquerda, como o Partido Operário Social-Democrata Russo (POSDR), e o movimento operário ganhassem força.

O crescimento do movimento operário e dos partidos de esquerda contribuiu para uma aproximação de uma intelligentsia influenciada pelos ideais marxistas das classes populares, como operários e camponeses. O crescimento da esquerda russa também ficou marcado pelo surgimento de grupos radicalizados que atuavam por meio de ações terroristas.

Acesse também: Lenin, uma das figuras mais importantes da Rússia no século XX

O que foi o Domingo Sangrento

Com toda essa insatisfação com o regime de Nicolau II, é natural que, em algum momento, manifestações acontecessem contra o governo. Em dezembro de 1904, quatro trabalhadores operários foram demitidos de uma fábrica chamada Putilov. A demissão aconteceu porque eles exigiram que um feitor fosse punido, pois castigava seus subordinados severamente.

A situação levou algumas associações de trabalhadores locais a reunir-se para debaterem formas de apoiar os trabalhadores demitidos, e o consenso obtido foi o de convocar greve geral na cidade de São Petersburgo. O anúncio da greve foi realizado em 2 de janeiro de 1905, e logo trabalhadores operários de toda a cidade começaram a aderir à paralisação.

Uma assembleia de trabalhadores tentou, sem sucesso, negociar com o dono da fábrica Putilov para que ele voltasse atrás na decisão de demitir os quatro operários. Nesse contexto, o padre ortodoxo Gueorgui Gapon tomou uma postura de protagonismo. Ele liderava uma assembleia de trabalhadores que atuava na defesa da melhoria das condições de trabalho.

Os quatro trabalhadores demitidos faziam parte da assembleia liderada por Gapon, e ele decidiu convocar uma marcha para o dia 9 de janeiro. Até o momento, cerca de 100 mil trabalhadores tinham aderido à greve, e Gapon, enquanto padre ortodoxo, pensou em levar uma petição para o czar Nicolau II para que ele promovesse certas reformas.

A petição não era radical e pedia melhorias para os trabalhadores, como melhores salários e uma jornada de trabalho de oito horas, além de pedir por mais liberdade de expressão na Rússia. Não era um texto revolucionário e tinha um tom de lealdade para com Nicolau II e a monarquia czarista.

Não pare agora... Tem mais depois da publicidade ;)

Nicolau II não estava em São Petersburgo no dia da passeata de Gapon e também não havia autorizado o recebimento da petição. A multidão liderada pelo padre seguia pacífica pelas ruas de São Petersburgo e foi até as portas do Palácio de Inverno, casa do czar. As pessoas na passeata carregavam imagens do czar e de santos e cantavam canções patrióticas.

Durante a passeata, enquanto a multidão aproximava-se do Palácio de Inverno, as tropas russas abriram fogo contra a população. A violência das tropas russas espalhou-se pelas ruas da cidade e resultou na morte de, pelo menos, 130 pessoas, embora existam estimativas que falam de até 5 mil mortes. Gapon, o idealizador da marcha, conseguiu escapar com vida e escondeu-se. A maioria dos historiadores acredita que a violência cometida no dia 9 de janeiro foi proposital e premeditada.

Acesse também: História da cidade de São Petersburgo

Consequências do Domingo Sangrento

A violência do regime de Nicolau II contra a população chocou a sociedade russa. A visão razoavelmente positiva que se tinha do imperador foi convertida em ressentimento e raiva, e o czar passou a ser conhecido como Nicolau, o Sangrento. A indignação da população com a violência no Domingo Sangrento espalhou protestos pelo país.

A insatisfação com Nicolau II após o Domingo Sangrento serviu de estopim para a Revolução de 1905, um movimento que se iniciou espontaneamente na Rússia e que deu grande força para os grupos revolucionários no interior do país. A Revolução de 1905 permitiu que alguma abertura política acontecesse e abriu o caminho para que os bolcheviques tomassem o poder alguns anos depois.

O Domingo Sangrento marcou o início do fim do império russo, da monarquia czarista e da dinastia Romanov.

Guerra Russo-Japonesa

Encontro entre autoridades russas e japonesas para debater os termos do fim da Guerra Russo-Japonesa, em 1905.[1]
Encontro entre autoridades russas e japonesas para debater os termos do fim da Guerra Russo-Japonesa, em 1905.[1]

O contexto da Rússia em 1905 não pode deixar de abordar a Guerra Russo-Japonesa. Esse conflito foi resultado do choque de interesses entre Rússia e Japão no Extremo Oriente, em especial, na ocupação da Manchúria, no nordeste da China. Em um contexto de corrida imperialista, a Rússia viu a China como local perfeito para expansão dos seus interesses econômicos.

Acontece que a China era palco de disputas para muitas potências, e a zona de interesse dos russos era também de interesse do Japão, país que tinha passado por uma grande modernização na segunda metade do século XIX e buscava colocar-se como potência imperialista na Ásia.

O choque de interesses levou a debates diplomáticos entre as duas nações, e o Japão ofereceu meios para resolver-se, por meio diálogo, as diferenças entre as duas nações. O czar Nicolau II rejeitou qualquer possibilidade de acordo com o Japão porque havia sido advertido de que uma pequena guerra contra esse país poderia reforçar o nacionalismo da população russa e frear a insatisfação que havia com seu governo.

O Japão era encarado como um adversário incapaz de lutar contra a Rússia e esperava-se uma vitória rápida. O resultado foi totalmente o oposto. O Japão tinha um exército modernizado e preparado e logo acumulou vitórias quando a guerra iniciou-se. Formalmente a guerra começou com um ataque surpresa do Japão, em 9 de fevereiro de 1904.

A guerra foi desastrosa para a Rússia, e fala-se que o país pode ter perdido até 120 mil pessoas com esse conflito. Para além das mortes, a guerra ampliou as insatisfações com o governo: a nobreza seguia descontente com a industrialização; o povo passava fome e exigia aumentos salariais e redução na carga de trabalho; a intelligentsia russa, por sua vez, exigia maior abertura política. A monarquia estava pressionada por todos os lados e logo teria seu fim.

Notas

|1| ZELNIK, Reginald E. A Rússia revolucionária (1890-1914). In.: FREEZE, Gregory L. (org.). História da Rússia. Lisboa: Edições 70, 2017. p. 260.

Créditos das imagens

[1] Everett Collection e Shutterstock

[2] Hunter82 e Shutterstock

 

Por Daniel Neves
Professor de História

Escritor do artigo
Escrito por: Daniel Neves Silva Formado em História pela Universidade Estadual de Goiás (UEG) e especialista em História e Narrativas Audiovisuais pela Universidade Federal de Goiás (UFG). Atua como professor de História desde 2010.

Gostaria de fazer a referência deste texto em um trabalho escolar ou acadêmico? Veja:

SILVA, Daniel Neves. "Domingo Sangrento (1905)"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/guerras/o-domingo-sangrento-russo.htm. Acesso em 12 de novembro de 2024.

De estudante para estudante