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Volvismo é um modelo de organização da produção que surgiu na Suécia, na década de 1960. Recebeu esse nome por ter sido desenvolvido por um engenheiro da Volvo e implantado em três unidades da montadora entre 1970 e 1980.
Caracteriza-se pela conciliação entre os processos automatizados e manuais, organizando os trabalhadores em pequenos grupos, que possuem autonomia no seu interior para delegar as funções, de acordo com a competência. Os grupos atuam de forma que cada um deles tenha a capacidade de iniciar e concluir a montagem de um carro completo em poucas horas, havendo a alternância de funções periodicamente. Valorizam-se a qualificação da mão de obra e o treinamento profissional, uma vez que o trabalhador deve ser capaz de atuar em qualquer uma das etapas produtivas.
Leia também: Organização Internacional do Trabalho (OIT)
Tópicos deste artigo
- 1 - O que é volvismo?
- 2 - Características do volvismo
- 3 - Vantagens do volvismo
- 4 - Desvantagens do volvismo
- 5 - História do volvismo
- 6 - Quais as diferenças entre volvismo, fordismo, toyotismo e taylorismo?
- 7 - Exercícios resolvidos
O que é volvismo?
O volvismo é um modelo de produção que se originou em uma das fábricas da montadora de automóveis Volvo, na cidade de Kalmar, localizada na Suécia. Esse sistema surgiu entre as décadas de 1960 e 1970, quando já estavam em voga no mundo os modos de produção fordista, taylorista e toyotista.
Um dos principais aspectos do volvismo está na maneira como o trabalhador se encontra inserido na produção e a sua forma de atuação em todo o processo de montagem, que se baseia no elevado nível de qualificação profissional e em uma aprendizagem e treinamento contínuos, o que contribui para o maior aperfeiçoamento da mão de obra. Sua maior inovação com relação aos sistemas concorrentes consiste no fato de o trabalhador não estar sujeito ao ritmo de trabalho das máquinas, mas sim o contrário: o indivíduo, ou o grupo de trabalho, é quem determina de que forma se dará a sua realização.
O modelo da Volvo foi aplicado em caráter experimental em ao menos três unidades da montadora e trouxe frutos positivos durante um determinado período de tempo para a produção de uma maneira geral, aliando o trabalho dentro da fábrica com a organização dos trabalhadores fora dela. Ressalta-se, entretanto, que a sua implantação foi possível graças ao contexto socioeconômico e político do país de origem.
Características do volvismo
O volvismo pode ser definido como um modelo de organização e produção industrial do tipo flexível, associado à demanda de mercado. Conforme é amplamente descrito na literatura, o sistema desenvolvido no interior da empresa sueca procurava a atuação em harmonia com as organizações sindicais, demonstrando, assim, a maior valorização do trabalhador.
Quando falamos do diferente trato ao indivíduo no interior das unidades, não estamos dizendo que houve o abandono das novas técnicas de produção automatizadas e da informática. Pelo contrário, o volvismo procurava a harmonização dos dois modos de se produzir, colocando, no entanto, o indivíduo no centro da operação dos processos, ditando e controlando o ritmo de trabalho.
Todas essas decisões relativas ao processo de montagem eram realizadas de forma coletiva, uma vez que o trabalho era efetuado em pequenos grupos (6 a 8 pessoas), que atuavam de forma paralela e independente uns dos outros no que diz respeito à distribuição de tarefas. Não havia a hierarquização de trabalho no interior dessas unidades, e a atribuição das funções se dava de acordo com as competências|1|.
Cada um dos grupos era responsável pelo início e finalização da montagem de um veículo completo em um período que poderia durar duas horas ou se estender por até quatro horas. De acordo com Wood Jr. (1992), uma das exigências feitas pelos sindicados era a de que os ciclos de trabalho tivessem duração de 20 minutos, o que estava entre as demandas atendidas para a implantação do modelo à época.
No volvismo, a qualificação do profissional é muito valorizada e, por isso, os funcionários passam por processos de treinamento e aperfeiçoamento que os deixam aptos a atuar em todas as frentes produtivas. Dessa forma, o processo de montagem é dinâmico, havendo a alternância entre funcionários com relação às funções a serem exercidas no processo de montagem. Os grupos de trabalho dispõem ainda de salas próprias com computador, banheiro, cozinha e chuveiros.
Veja também: Vantagens e desvantagens da Terceira Revolução Industrial
Vantagens do volvismo
O volvismo conferia autonomia ao trabalhador individualmente e também aos grupos de trabalho, garantindo uma produção muito mais criativa e flexível|2|. Tratava-se de um ambiente de trabalho voltado ao bem-estar do indivíduo, bem equipado para atender às necessidades dos funcionários e com automatização do fornecimento de peças e materiais que seriam empregados durante a montagem dos veículos.
A valorização do trabalhador perpassa ainda por ciclos de trabalho mais curtos e pelo alto grau de dinamismo que o sistema grupal e de rodízio confere, além da sua qualificação incentivada pelo próprio sistema organizacional da empresa.
Do ponto de vista da produção, os treinamentos constantes do trabalhador permitem rápida adaptabilidade às variações qualitativas da demanda. O controle de qualidade do produto é realizado enquanto a produção acontece, durante as suas diversas etapas, otimizando assim o tempo e o próprio processo de montagem. Além disso, esse modelo foi desenvolvido para ser menos oneroso e também menos intensivo em capital.
Desvantagens do volvismo
Conforme destacamos no início, o volvismo foi pensado para um contexto socioeconômico específico, o da Suécia na década de 1970. Além disso, a elevada qualificação dos trabalhadores já era uma realidade à qual ele se adaptou e incorporou, o que facilitou a sua implantação em caráter experimental no país.
Pensando em outros contextos, o volvismo se torna um modelo com alto custo de implementação quando se leva em consideração tanto a qualificação da mão de obra exigida quanto a adaptação do ambiente fabril em locais onde outros sistemas de organização estão em voga. Por se tratar de uma transformação estrutural de ampla escala, exigiria tempo para a efetivação do processo e para a adequação de todas as normas.
Além disso, em locais onde há pouca oferta de mão de obra qualificada, a automatização de etapas do processo produtivo poderia levar ao desemprego. Por outro lado, a baixa oferta de mão de obra no geral pode dificultar a manutenção desse modelo, como ocorreu na Suécia.
História do volvismo
O volvismo surgiu na cidade de Kalmar, no sudeste da Suécia, no ano de 1960, em um momento que coincidiu com a ampliação das políticas trabalhistas no país, notadamente aquelas orientadas à atuação dos sindicatos e à obrigatoriedade de abertura de canal de diálogo entre empresas e trabalhadores com relação às transformações estruturais nas unidades fabris.
Entre as décadas de 1960 e 1970, a Suécia dispunha de um elevado número de pessoas empregadas e alto nível de qualificação profissional, o que dificultou novos processos de contratação pela montadora Volvo. Além disso, muitos jovens se mostravam insatisfeitos com sistemas organizacionais como o do taylorismo, que pressupunha a automação do processo produtivo e a menor autonomia do trabalhador.
A chegada de um novo chefe-executivo na Volvo levou à adoção de um modelo de produção e organização desenvolvido pelo engenheiro Emti Chavanmco, funcionário nos anos 1960. Nesse período, a Volvo era reconhecida como uma empresa inovadora em diversos aspectos, e o novo modelo produtivo organizacional passou a ser mais um deles. Durante as décadas de 1970 e 1980, o volvismo foi implantado nas fábricas instaladas em Kalmar (1974), Torslanda (1980/81) e Uddevalla (1989).
O volvismo foi muito bem recebido, principalmente pelos funcionários dessas unidades, mas entrou em decadência por fatores conjunturais externos e determinantes internos, que foram, principalmente, a crise do petróleo, o encarecimento de veículos, o que desestabilizou o setor, e a falta de mão de obra disponível aliada à baixa competitividade do produto da Volvo diante do mercado japonês de veículos.
Veja também: Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep)
Quais as diferenças entre volvismo, fordismo, toyotismo e taylorismo?
Com o avanço da Revolução Industrial, diversos modelos de organização industrial foram desenvolvidos com o propósito de otimizar o processo produtivo, sendo o primeiro deles o taylorismo, que surgiu no final do século XIX. Abaixo apontamos algumas das características de cada um deles a fim de estabelecer um comparativo e apontar suas principais diferenças.
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Taylorismo: grande nível de especialização produtiva, já que cada trabalhador exerce uma única função. O trabalho é repetitivo e alienante, sendo realizado de acordo com o tempo de cada indivíduo – em função disso, é preciso que haja a otimização desse tempo. Quem organiza e determina as funções é a gerência, sem autonomia do trabalhador. Ademais, o controle de qualidade do produto é realizado apenas ao final do processo.
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Fordismo: o trabalho é também especializado, mas sua realização se dá por meio de linhas de montagem – quem dita o tempo não é o trabalhador, e sim a máquina e as esteiras de rolagem. Assim como o taylorismo, a produção deve ser realizada no menor tempo possível para que haja menores gastos, objetivando assim a ampliação dos lucros. A qualidade do produto é auferida ao fim do processo.
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Toyotismo: produção baseada no modelo just in time, sem a formação de estoques e respondendo à demanda conforme ela acontece. Não há a especialização produtiva, visto que o trabalhador pode exercer mais de uma função. O trabalho pode ser realizado em conjunto, e o trabalhador possui mais autonomia do que nos modelos anteriores. O controle de qualidade acontece concomitantemente à produção.
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Volvismo: modelo de produção baseado no trabalho coletivo, organizado em pequenos grupos de pessoas, que delegam entre si as suas funções. Os trabalhadores dispõem de elevado grau de autonomia. São importantes a qualificação do profissional e o treinamento constante oferecido pela empresa, uma vez que o trabalhador poderá atuar em qualquer etapa da produção – não há especialização. Combina a automação com o processo produtivo, e não há linhas de montagem: os grupos atuam em paralelo, e cada um deles produz a mercadoria do início ao fim. O controle de qualidade é feito durante cada etapa produtiva.
Exercícios resolvidos
Questão 1 - “Um armazém de materiais, no centro da fábrica, alimenta seis oficinas de montagem totalmente independentes. A capacidade de produção é de 40.000 carros por ano, para um único turno de trabalho. A planta combina centralização e automação do sistema de manuseio de materiais, com a utilização de mão de obra altamente especializada num sistema totalmente informatizado e de tecnologia flexível. A organização do trabalho é baseada em grupos. Os operários foram transformados de montadores de partes em construtores de veículos. Assim, cada grupo consegue montar um carro completo num ciclo de duas horas.”
(WOOD JR., Thomaz. Fordismo, toyotismo e volvismo: os caminhos da indústria em busca do tempo perdido. Revista de Administração de Empresas, São Paulo, 32(4): 6-18, 1992.)
O trecho acima descreve a organização interna de uma fábrica de acordo com um modelo de produção desenvolvido na segunda metade do século XX. Aponte, dentre as alternativas abaixo, qual é esse sistema.
A) Toyotismo.
B) Volvismo.
C) Fordismo.
D) Taylorismo.
Resolução
Alternativa B. O excerto pormenoriza a organização de uma das fábricas da Volvo abertas na década de 1970.
Questão 2 - O volvismo é um modelo de organização da produção industrial que surgiu na Suécia, na década de 1960. Sua implantação se deu em caráter experimental em fábricas da Volvo, entre 1970 e 1980, e esse modelo foi bastante aceito pelos trabalhadores em especial. Leia as alternativas abaixo e assinale qual delas não traz uma característica desse sistema.
A) Garante autonomia aos trabalhadores e é, por isso, classificado como um modelo que aguça a criatividade.
B) Prevê a organização dos profissionais em pequenos grupos.
C) A produção acontece por meio de uma linha de montagem, que dita o ritmo dos trabalhadores.
D) Valoriza a qualificação da mão de obra e promove treinamentos para o aperfeiçoamento profissional.
Resolução
Alternativa C. A linha de montagem é característica do fordismo. No volvismo, quem estabelece o ritmo do trabalho é o próprio trabalhador.
Notas
|1| NUNES, Rogério da Silva; CAIXETA, Douglas Rafael Almeida; AZEVEDO, Paola; CAROBREZ, Bruno Gonçalves. A experiência sócio-técnica no ambiente de produção: uma discussão acerca do volvismo. Rev. Adm. UFSM, Santa Maria, v. 2, n. 2, p. 235-249, maio/ago. 2009. Disponível em: . Acesso em 05 jun. 2021.
|2| WOOD JR., Thomaz. Fordismo, toyotismo e volvismo: os caminhos da indústria em busca do tempo perdido. Revista de Administração de Empresas, São Paulo, 32(4), p. 6-18, 1992. Disponível em: . Acesso em 05 jun. 2021.
Crédito da imagem
[1] bibiphoto / Shutterstock
Por Paloma Guitarrara
Professora de Geografia