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Desde o desenvolvimento das primeiras civilizações, a agricultura vem passando por sucessivas transformações em suas formas, sobretudo com a evolução dos instrumentos e os diferentes usos de suas técnicas. São as técnicas que propiciam as diferenciações ao longo do espaço agrário e possibilitam a sua configuração e reconfiguração em diferentes formas com o passar do tempo.
Nesse sentido, existem os agrossistemas, também chamados de sistemas agrários, que são o conjunto de técnicas ou modelos agropecuários de produção responsável pela adoção dos procedimentos de plantio ou cultivo, em que são vistas as relações entre a agricultura e o espaço, além dos resultados da aplicação desses diferentes modelos.
Em termos classificatórios, existem três tipos de agrossistemas conforme as suas complexidades e o tipo de técnicas por eles empregado, são eles: os agrossistemas tradicionais, modernos e orgânicos.
Os agrossistemas tradicionais, como o próprio nome indica, compreendem as técnicas mais antigas e simplificadas do processo produtivo no campo. Eles caracterizam-se pela maior utilização da mão de obra assalariada ou associada e pela menor presença de aparatos científicos e tecnológicos.
Esses agrossistemas tradicionais costumam ser mais amplamente empregados em países subdesenvolvidos, bem como em parte dos emergentes. Como necessitam de uma grande quantidade média de trabalhadores, tendem a conter a migração campo-cidade (êxodo rural). Esse tipo de produção normalmente é voltado para a comercialização interna, por isso quase não há exportação. O foco maior é para produtos da chamada “cultura do pobre”, tais como arroz, feijão, entre outros.
Alguns tipos de agrossistemas tradicionais são as plantations, a agricultura itinerante, a mediterrânea e a de jardinagem. Com o avanço do processo de industrialização do campo, esses sistemas agrários estão perdendo força e importância, fator que se intensifica com a concentração de terras.
Os agrossistemas tradicionais utilizam técnicas mais rústicas, por isso apresentam maior empregabilidade
Os agrossistemas modernos são aqueles em que há o emprego de uma tecnologia mais avançada, com uma menor média de empregabilidade, haja vista que a maior parte da produção é mecanizada, com instrumentos capazes de substituir dezenas ou até centenas de trabalhadores. Esse tipo de agrossistema popularizou-se a partir da década de 1960, com a inauguração da chamada “Revolução Verde”, que se pautou na ampliação da produção através de técnicas avançadas na área da biotecnologia e da produção de equipamentos.
Em geral, os agrossistemas modernos utilizam-se, além das técnicas acima mencionadas, de ampla gama de fertilizantes, defensivos agrícolas, técnicas de correção do solo e, em alguns casos, de produtos modificados geneticamente, conhecidos como transgênicos.
Há sistemas produtivos que empregam uma avançada tecnologia, tanto na previsão de oscilações meteorológicas ou climáticas quanto, até mesmo, na implantação de controle sobre as espécies com a utilização dos Sistemas de Informações Geográficas (SIGs).
A grande questão dos agrossistemas modernos é o elevado custo de seus equipamentos e o processo de concentração de terras deles resultante. Afinal, são necessários amplos investimentos para uma produção modernizada, que também elevam os lucros e diminuem a quantidade de trabalhadores, que passam a residir nas cidades.
Outro fator é o ambiental, pois as áreas agricultáveis são ampliadas em detrimento da conservação das vegetações naturais, além da poluição dos rios e dos solos pelos agrotóxicos que escoam superficialmente com a irrigação e também em tempos de chuva. Um exemplo dessa dinâmica é o Cerrado brasileiro, que foi quase totalmente devastado em função da expansão do agronegócio que, graças às novas técnicas, passou a produzir em larga escala onde antes não havia solos propícios para tal.
Os agrossistemas modernos utilizam mais tecnologia e empregam menos
Por fim, temos os agrossistemas alternativos, que envolvem todas as técnicas de plantio pautadas na conservação e no uso sustentável do meio ambiente. Esses agrossistemas envolvem a agricultura orgânica, a ecológica e muitas outras técnicas, cujo objetivo principal é garantir a prática da sustentabilidade.
Além disso, os agrossistemas alternativos operam através da renúncia de produtos químicos que podem, eventualmente, afetar a qualidade dos produtos ou deixá-los menos saudáveis, tais como os agrotóxicos ou a alteração genética tal como ocorre nos transgênicos. Em vez disso, procura-se a utilização exclusiva de adubos orgânicos ou naturais, tais como o esterco e restos de outros vegetais, e são adotadas medidas de controle biológico de pragas.
Outro procedimento bastante importante para os agrossistemas alternativos é a policultura ou até a rotação de culturas, ou seja, em vez de cultivar apenas um tipo de vegetal para atender a objetivos puramente econômicos, busca-se a produção de várias espécies e até o intercalamento entre uma e outra.
Apesar de, em geral, os agrossistemas alternativos visarem basicamente à subsistência e serem mais empregados no cultivo de hortifrutigranjeiros, há investimentos governamentais em vários países, incluindo o Brasil, que fazem crescer o comércio de seus produtos. Em alguns nichos, produtos produzidos a partir da agricultura alternativa são mais valorizados e mais procurados pelos consumidores, o que vem gerando um crescimento econômico para o setor nos últimos anos.
Os agrossistemas alternativos visam à preservação e à produção de alimentos saudáveis
Atualmente, os três tipos de agrossistemas citados são amplamente empregados em todo o mundo, mas os agrossistemas modernos constituem a hegemonia. Suas técnicas são preferencialmente utilizadas sob o argumento de que somente elas podem ser capazes de abastecer toda a população mundial, muito embora outros fatores contribuam para a existência de problemas alimentares em várias partes do mundo.
Por Rodolfo Alves Pena
Graduado em Geografia