PUBLICIDADE
Xenófanes de Cólofon (ou Colofão) foi um dos principais filósofos pré-socráticos pertencentes à Escola Eleata. Sendo um pensador errante, passou grande parte de sua vida vagando pelas imediações do Mar Mediterrâneo e propôs uma cosmologia que ao mesmo tempo em que se colocava como Filosofia, criticava temas dogmáticos da religião politeísta grega.
Leia mais: Conheça esta doutrina filosófica criada na Inglaterra
Tópicos deste artigo
- 1 - Vida
- 2 - Pré-socráticos
- 3 - Cosmologia
- 4 - Teoria de Xenófanes
- 5 - Arché
- 6 - Parmênides, Zenão e Heráclito
Vida
Xenófanes nasceu na cidade jônica de Cólofon em 570 a.C. Sua cidade natal pertence atualmente ao território turco. O pensador tornou-se um rapsodo, que era uma espécie de recitador de poemas que saía pelas cidades cantando os versos sem o acompanhamento de instrumentos. A maior parte da vida de Xenófanes foi errante, sem estabelecimento fixo por muito tempo, vagando sempre por cidades gregas próximas ao Mar Mediterrâneo.
Tendo vivido mais de noventa anos, o filósofo estabeleceu-se, durante certo tempo, na Cidade de Eleia, onde formou, junto a Parmênides e Zenão, o que os historiadores da filosofia chamam hoje de Escola Eleática, no contexto da Filosofia Pré-socrática.
Pré-socráticos
Assim como outros filósofos que viveram antes de Sócrates (pensador que marca um ponto central na Filosofia Grega Antiga), Xenófanes não só viveu antes, mas também desenvolveu uma produção filosófica parecida com a de outros pensadores, como Parmênides, Heráclito, Pitágoras e Tales.
Os primeiros filósofos que começaram a desenvolver as suas teorias a partir de Tales de Mileto buscavam estabelecer uma possível origem racional para o Universo a partir de um movimento de observação da natureza. Tal trabalho ficou conhecido pelo termo cosmologia. Para saber mais sobre os pré-socráticos, leia Pré-socráticos: ideias, objetivos e filósofos.
Cosmologia
A cosmologia dos pré-socráticos visava a estabelecer uma provável origem racional para todo o Universo, evitando cair nas fabulações das narrativas mitológicas. Os mitos gregos forneciam respostas para a pergunta acerca da origem do Universo que remetem às cosmogonias, que eram histórias que apresentavam a gênese do Universo embasada em histórias sobre deuses e titãs. A cosmologia dos pré-socráticos tentava ir além, apresentando teorias mais plausíveis e racionalmente elaboradas.
Cada um dos filósofos pré-socráticos observou e especulou sobre a possível origem de tudo, tendo apresentado cada um sua tese. Para Xenófanes, a origem estaria na unidade que compõe todo o Universo, tese que se liga com a sua concepção teológica, como veremos a seguir. Para saber sobre o assunto, leia Cosmologia: significado e relação com a Filosofia.
Teoria de Xenófanes
Xenófanes era contra o antropomorfismo da religião grega. Os gregos antigos concebiam os seus deuses como figuras humanas. Não somente nos atributos físicos, a caracterização psicológica das divindades gregas também era essencialmente humana: eles sentiam e comportavam-se como humanos, demonstrando ciúmes, ira, inveja e desejo de vingança. Xenófanes apontava que essa vontade de espelhar nos deuses as próprias características era natural, mas estava errada.
Outro ponto que Xenófanes criticava na religião grega, e que está diretamente relacionado à sua filosofia cosmológica, é o politeísmo: o filósofo acreditava que não poderia haver uma multiplicidade de deuses componentes do Universo, pois esse era uno. A unidade era o princípio e o fim de tudo, somente na unidade é que haveria uma concepção estritamente plausível para se falar em geração. A ideia de um deus único, imortal e imutável era, então, o princípio de tudo.
Arché
Para Xenófanes, o princípio de tudo estaria na unidade e na imutabilidade. Se concebêssemos os seres como essencialmente mutáveis, não poderia haver, segundo o pensador, uma unidade restauradora e criadora de tudo.
A unidade restauradora e criadora era a sua concepção divina: um ser uno e imutável, que teria criado tudo e acompanhado todas as transformações. A partir dessa ideia, era possível pensar que as mudanças eram apenas aparências e que tudo, no fim, estaria impregnado de apenas uma essência que definiria todas as existências correlatas.
Diferente dos outros pré-socráticos e concordando com os demais eleatas, Xenófanes não apresentou um elemento sólido como o princípio de tudo. Ele concebeu que a origem era, justamente, a permanência e a unidade contida em um deus uno e imutável. Por isso, algumas vertentes de estudo histórico da Filosofia preferem não classificar Xenófanes como um filósofo pré-socrático, mas como um reformador da Filosofia Antiga.
Acesse também: Saiba mais sobre Voltaire: um brilhante polemista
Parmênides, Zenão e Heráclito
A Escola Eleata é composta por Parmênides, Zenão e Xenófanes. Parmênides identificou o Universo como um todo imutável. A mudança era apenas resultado dos enganosos sentidos humanos. Zenão, seu discípulo, formulou paradoxos para provar que as teses de seu mestre estavam corretas, como os paradoxos de Aquiles e o paradoxo do arqueiro. Xenófanes parece completar o trabalho desses dois filósofos, sendo que a sua ideia de imutabilidade se expressa pela unidade divina e infinita de Deus.
Já Heráclito, filósofo jônico anterior aos pensadores da Escola Eleata, acredita que o movimento é a essência e o princípio de toda a composição universal. O fluxo heraclitiano do Universo estaria em tudo o que existe, e o elemento gerador de tudo (arché) era o fogo, pois esse garante a mutabilidade e o movimento de tudo o que existe.
Por Francisco Porfírio
Professor de Filosofia