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A arte de falar bem, conhecida pelos gregos antigos como retórica (rhêtorikê), advém do conjunto de técnicas antigas que compunham a atividade política, filosófica e cultural da pólis. Arte, nesse sentido, é entendida como técnica e é sinônimo do modo de operar, modo de fazer, ou como fazer. Portanto, a retórica é o estudo e o ensinamento de um modo de falar bem, com eloquência, articulando as palavras de modo a convencer o interlocutor.
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Tópicos deste artigo
- 1 - O que é a arte da retórica?
- 2 - Estudos sobre retórica
- 3 - Retórica e oratória
- 4 - Retórica sofística e dialética
- 5 - Retórica para Aristóteles
O que é a arte da retórica?
A arte da retórica consiste na técnica de utilizar o bom emprego das palavras e da linguagem. Uma boa retórica é a capacidade de dispor, elencar e organizar bem as palavras a fim de passar uma mensagem de maneira clara ou de convencer alguém.
Se pensarmos em termos civilizatórios, a retórica faz parte de nossa constituição social desde os primórdios. A retórica é essencial para a prática política, para as negociações, para a formulação de tratados e para o estabelecimento de normas regimentais que regulamentam as nossas vidas.
Estudos sobre retórica
Pensando na Grécia Antiga, a retórica era um importante instrumento político, filosófico e jurídico. Na Idade Média, os escolásticos aprendiam, entre outras técnicas básicas, a retórica, que era instrumento para promover os debates filosóficos e teológicos. Nos dias atuais, a retórica permeia ainda o meio político, jurídico, religioso, além de fazer parte do mundo dos negócios e da publicidade. Em suma, a retórica é o meio pelo qual um emissor pode emitir uma fala e ser bem compreendido por seu receptor, além de que este pode ser convencido por aquele.
Os sofistas utilizavam-se amplamente da retórica para vencer os debates políticos na Grécia Antiga e ganhavam fama e dinheiro ao ensinar a sua arte aos jovens cidadãos atenienses. Porém, para os sofistas, o importante era o convencimento de um fato, mesmo que o fato não fosse verídico. Isso deixaria de lado a verdade e as essências das coisas, o que incomodou Sócrates e seu mais importante discípulo, Platão.
Para esses dois pensadores do período antropológico (período em que Filosofia investigava as questões humanas, isto é, a ética, a política e as técnicas) a eloquência perfeita sem a consideração das verdades essenciais não seria algo positivo, pois deixaria de lado o que realmente importaria: a realidade suprassensível. Aristóteles, por sua vez, associou a retórica diretamente à lógica como arte de designação dos significados por meio da interlocução de ideias expressas por palavras.
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Retórica e oratória
Os dois termos semelhantes não são, nos dias de hoje, idênticos. Enquanto retórica consiste na pura e simples arte de falar bem, oratória é a fala em público, para o público. Portanto, a oratória, enquanto tentativa de informar e convencer o público, tem relação íntima com a retórica.
A relação entre os dois termos foi, na Antiguidade, muito mais próxima, pois a palavra grega rhêtorikê foi traduzida para o latim pelo termo oratore. Nos dias atuais, os dois termos ganharam derivações que os diferenciam semanticamente.
Retórica sofística e dialética
O mais notório discípulo de Sócrates, Platão, formulou um processo baseado nas ideias de Parmênides chamado de dialética. A dialética é um processo lógico e dialógico, em que um interlocutor lança uma tese, o outro interlocutor lança uma tese oposta (antítese) e, a partir dessas ideias diferentes, é possível se chegar a uma síntese. Esse processo pode ocorrer pela retórica utilizada pelos interlocutores em debate, pois sem a exposição clara, precisa e convincente do que se quer dizer, a dialética não acontece.
Para os sofistas, não seria necessário um entendimento das essências das coisas para uma exposição plenamente dialética, pois apenas o convencimento proporcionado pela retórica bastaria para vencer um debate e convencer um interlocutor, bastando enquanto finalidade.
O sofista Protágoras, por exemplo, afirma que o homem é a medida de todas as coisas, ou seja, para a retórica sofística, quem faz a realidade é o ser humano, a depender de sua capacidade comunicativa. Como Platão escreve em Górgias, o que os sofistas fizeram foi “maquiar” as superfícies das coisas por meio das palavras para manipular a opinião alheia, visando apenas às aparências e não às essências.
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Retórica para Aristóteles
Aristóteles operou uma sistematização do conhecimento filosófico, até então, amplo e abrangente, não distinguindo muito bem as áreas do conhecimento contidas nele. Para o filósofo, a poética, a lógica e a retórica eram áreas do conhecimento que se relacionavam por estarem unidas pelo laço da linguagem.
A poética teria a função estética, de representar o belo mediante a linguagem e era empregada na epopeia, na tragédia e nos poemas. A lógica era um instrumento do conhecimento verdadeiro, essencial para o aprendizado correto e para o estabelecimento de sistemas filosóficos e de sistemas que, em geral, faziam sentido por respeitarem a forma lógica da linguagem.
A retórica entraria nesse âmbito por ser aquela responsável por elencar as palavras e os termos a fim de criar um sistema de representação linguística capaz de convencer aos interlocutores daquilo que se pretendia, sendo utilizada para a defesa, em tribunais, ou nas assembleias políticas, além das aulas no Liceu e nos debates filosóficos.
A retórica poderia, nesse sentido, ser utilizada para convencer um tribunal do júri a absolver um criminoso, o que era uma falha de sua época, pois os júris pareciam estar mais afeitos à eloquência e a traços do caráter que os réus aparentavam com suas palavras do que com a acusação em questão.
Isso porque a retórica, segundo Aristóteles, tem um poder criativo capaz de afastá-la dos fatos verídicos. No entanto, uma área sem a qual a retórica jamais pode ser praticada é a lógica, pois essa molda qualquer possibilidade de significado que a linguagem pode emitir.
Por Francisco Porfírio
Professor de Filosofia