Tradwife é o nome de um movimento que surgiu nas redes sociais por volta de 2020 e ganhou força nos últimos anos por meio de vídeos postados no TikTok e no Instagram por mulheres jovens que deixaram suas carreiras para se dedicarem exclusivamente ao cuidado do lar. Essas são as chamadas “esposas tradicionais” (traditional wives), que se assemelham em aspectos como as vestimentas, a forma como se apresentam e as atividades que mostram nas redes, como a preparação de refeições elaboradas.
A tendência recebe críticas por fazer alusão a um estilo de vida que era promovido como o ideal em meados do século XX, reforçando a estrutura patriarcal da sociedade e os papéis tradicionais de gênero que atribuem às mulheres as tarefas domésticas e o cuidado com a família e a aparência, enquanto o homem é o provedor do lar. Outro ponto levantado a respeito das tradwives é a sua relação com ideologias políticas conservadoras e ultraconservadoras que têm pautado as redes sociais e ganhado espaço em governos ao redor do mundo.
Leia também: Afinal, qual é o papel da mulher na sociedade?
Tópicos deste artigo
- 1 - Resumo sobre o movimento tradwife
- 2 - O que é o movimento tradwife?
- 3 - Quem são as tradwives?
- 4 - O que o movimento tradwife defende?
- 5 - Críticas ao movimento tradwife
- 6 - Papel da mulher na sociedade ao longo dos anos
Resumo sobre o movimento tradwife
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Tradwife é um movimento que defende um estilo de vida pautado pelos papéis tradicionais de gênero.
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Surgiu por volta de 2020 e se popularizou nos últimos anos por meio das redes sociais, principalmente no TikTok.
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As tradwives são mulheres jovens que abdicaram do mercado de trabalho para se dedicarem exclusivamente a cuidar da família e dos afazeres domésticos.
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Elas retratam trechos de sua vida e publicam vídeos curtos nas redes sociais mostrando como é a sua rotina. As tradwives acumulam centenas de milhares de seguidores.
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O termo tradwife faz referência à esposa que cuida dos filhos, da casa e do marido, sendo este o provedor do lar. O movimento defende, portanto, os papéis tradicionais de gênero.
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A tendência recebe críticas por evocar um modelo de vida que era propagado como sendo o ideal em meados do século XX, reafirmando a visão conservadora sobre o papel da mulher na sociedade e, por conseguinte, a manutenção de um sistema patriarcal.
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As críticas ao movimento das esposas tradicionais versam, também, sobre a sua relação com ideologias conservadoras e ultraconservadoras, que têm ganhado cada vez mais espaço nas redes sociais e na política.
O que é o movimento tradwife?
O movimento tradwife é um fenômeno que despontou nas redes sociais a partir de 2020 e ganhou força nos últimos anos por meio de postagens de mulheres que mostram, por meio de vídeos curtos, um estilo de vida tradicional. Esse movimento tem suscitado discussões acerca do papel da mulher na sociedade e dos estereótipos de gênero. Ele se popularizou notadamente nos Estados Unidos, por meio do TikTok e do Instagram, e gradualmente foi ganhando adeptas em todo o mundo.
Quem são as tradwives?
As tradwives são as esposas tradicionais, em tradução livre. São mulheres que abdicaram do mercado de trabalho para se dedicarem exclusivamente à sua família e ao seu lar, defendendo os papéis tradicionais de gênero. Elas ficaram populares por produzirem vídeos mostrando as suas rotinas aparentemente atarefadas, em que cuidam dos filhos ao mesmo tempo que organizam o lar e preparam refeições elaboradas. As tradwives têm, todas elas, um marido provedor do lar.
O movimento ganhou tração nas redes sociais justamente por conta da estética muito semelhante das tradwives com maior número de seguidores: sempre usando vestidos floridos ou combinações de blusas com saias, cabelo impecavelmente alinhado e maquiagem feita, mesmo enquanto realizam tarefas domésticas comuns. Os principais vídeos mostram essas mulheres cozinhando refeições grandes em diversas etapas, o que inclui a fabricação do próprio ingrediente (farinhas, manteigas, etc.) e a colheita de vegetais e ervas no jardim de suas casas.
Algumas das tradwives cozinham com os filhos pequenos no colo, passando uma imagem de mãe atarefada e, ao mesmo tempo, dedicada. Há aquelas que gravam vídeos descrevendo o estilo de vida tradicional e dando dicas para jovens mulheres que querem adotá-lo, abordando assuntos como a forma de se vestir, a importância do casamento, o papel do homem e da mulher na relação e noções de feminilidade a partir do seu ponto de vista.
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O que o movimento tradwife defende?
O movimento tradwife defende um estilo de vida pautado pelos papéis tradicionais de gênero que ditam que, enquanto os homens são os provedores do lar e devem trabalhar para garantir o sustento da família, as mulheres ficam em casa executando as tarefas domésticas e cuidando dos filhos e, também, da sua própria aparência. Por conseguinte, o casamento é uma instituição importante e defendida pelo movimento tradwife, sendo por meio dele que se realiza o estabelecimento dos papéis sociais de gênero.
Essa defesa é o que transparece nos vídeos produzidos pelas tradwives e que são assistidos diariamente por milhões de pessoas. No entanto, existem muitas análises críticas a respeito desse movimento que alertam para o fato de ele estar, ainda que indiretamente, atrelado a um viés ideológico ultraconservador que tem escalado nos últimos anos, estabelecendo um estilo de vida praticamente inalcançável para a maior parte da população do mundo atual (levando-se em conta recortes de classe) ao mesmo tempo que reafirma o sistema patriarcal e as suas instituições.
Críticas ao movimento tradwife
O movimento tradwife recebe críticas por motivos diversos que estão relacionados tanto com o conteúdo propriamente dito quanto com a simbologia das esposas tradicionais e o que elas representam na atual conjuntura social e política. Os vídeos das tradwives mais populares das redes sociais são criticados pelo fato de não transparecerem, de fato, a vida. O que vemos através das telas seriam, na verdade, personas que performam um estilo de vida considerado exemplar, de acordo com a ideologia e a visão de mundo daquelas mulheres e do meio social em que elas estão inseridas.
Os críticos do movimento tradwife analisam que essa tendência se baseia num estilo de vida que remete a um ideal norte-americano que era propagado em meados do século XX, sobretudo entre as décadas de 1950 e 1960, em que o ultraconservadorismo e os papéis tradicionais de gênero eram a norma: as mulheres deveriam se dedicar exclusivamente ao lar e ao cuidado pessoal, enquanto os homens seriam provedores e trabalhariam para sustentar a casa e a família.

Considerando unicamente a questão financeira, o atual estágio do capitalismo limita o perfil econômico das pessoas que podem, voluntariamente, abrir mão de um trabalho para se dedicarem exclusivamente ao lar. Portanto, o movimento tradwife tem um público específico e necessita ser entendido com base em um recorte de classe.
Analisando a estética e o modo de vida propriamente dito, as esposas tradicionais são mulheres que realizam os afazeres domésticos e atendem, sempre, aos anseios dos maridos. Assim, a tendência tradwife reforça antigos estereótipos e papéis de gênero que ditam que a mulher deve não somente ficar em casa como deve, também, servir ao homem. O movimento tradwife, nesse sentido, reforça o patriarcado e a estrutura machista da sociedade. Dentro desse sistema, a mulher se mantém dependente do homem em todos os sentidos, sobretudo financeiramente.
Algumas delas, em vídeos que discutem o movimento ao qual pertencem, dizem que o fato de escolherem esse estilo de vida faz parte das conquistas que o feminismo proporcionou às mulheres. Entretanto, muitas analistas descrevem o movimento tradwife como antifeminista. Nessa seara, as tradwives têm sido alvo de críticas também pelo alinhamento, intencional ou não, com uma ideologia política conservadora e mesmo ultraconservadora, considerando o período atual que é marcado pela ascensão da extrema direita em todo o mundo e, também, do movimento alt-right, que surgiu nos Estados Unidos e tem se propagado para outras regiões.
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Papel da mulher na sociedade ao longo dos anos
O papel da mulher na sociedade passou por profundas transformações no decorrer dos anos, com a ampliação da sua participação não somente no mercado de trabalho como também na educação, na ciência, na cultura, na política, nos negócios, na administração pública e em campos estratégicos de tomada de decisão. A aquisição gradual de direitos também faz parte desse processo, e se deu graças a diferentes grupos de mulheres que, ao longo da história, lutaram para a conquista de garantias fundamentais que antes eram acessadas apenas pelos homens.
Pode-se dizer que, desde a Antiguidade até a primeira metade do século XX, o papel da mulher era aquele que vimos discutindo até aqui: tradicional e centrado no desempenho de tarefas designadas por uma visão patriarcal da sociedade. Nele, a mulher se encontra em uma posição inferior à do homem, tratada com subserviência em muitos dos casos. Tal fato pode ser verificado por meio da revisão histórica que demonstra que a figura masculina sempre esteve à frente em decisões sociopolíticas e econômicas, além de assumir postos de trabalho diversos. À mulher ficavam delegadas as tarefas mais simples e o trabalho doméstico.
A igualdade foi um tema que permeou as discussões políticas a partir do século XVIII, e a igualdade de gênero e a maior inclusão na sociedade viraram tema de movimentos sociais da época. Esses movimentos ganharam maior força a partir das primeiras décadas do século XX, reivindicando direitos como o voto, o acesso à educação, o divórcio e o direito à propriedade, que não existia durante o casamento. Gradativamente, com diferentes ondas do movimento feminista, as mulheres foram conquistando direitos e assegurando maior espaço na sociedade.
A década de 1960 ficou marcada pela ampliação do acesso da mulher ao mercado de trabalho, o que foi inclusive observado na sociedade brasileira. Nesse mesmo período, muitas discussões foram levantadas acerca do papel da mulher e das diferentes formas de opressão às quais elas estavam sendo submetidas, desde aquela promovida por um sistema que privilegia o homem até a produzida no ínterim do sistema capitalista de produção. Desde então, várias conquistas foram feitas pelas mulheres para as suas semelhantes, como no campo da medicina e da saúde, assegurando autonomia sobre o seu próprio corpo, ao mesmo tempo que elas foram ganhando espaço em setores importantes da sociedade.
Embora o papel da mulher tenha mudado significativamente nos últimos séculos, a luta pela garantia de direitos fundamentais e pela igualdade de gênero ainda está longe de terminar. O fim da violência de gênero e o feminicídio, a igualdade no meio de trabalho, o fim das disparidades de salário, a ampliação das políticas de equidade são algumas das principais reivindicações atuais.
Fontes
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