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O machismo é um sistema de crenças que promove a suposta superioridade masculina e tenta justificar a desigualdade de poder entre os gêneros, perpetuando a subordinação das mulheres por meio de normas culturais e sociais enraizadas nas instituições e estruturas sociais.
Esse fenômeno se manifesta de diversas formas, como machismo estrutural, cultural e institucional, e é mantido por práticas sociais que favorecem a hegemonia masculina.
As causas do machismo são complexas, resultantes de fatores históricos, culturais e sociais, e são reforçadas pela repetição de normas de gênero que moldam as crenças da sociedade.
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Tópicos deste artigo
- 1 - Resumo sobre machismo
- 2 - O que é machismo?
- 3 - Tipos de machismo
- 4 - Quais são as causas do machismo?
- 5 - Formas de machismo
- 6 - Mulheres podem ser machistas?
- 7 - Como o machismo afeta os homens?
- 8 - A sociedade patriarcal
- 9 - Machismo x sexismo x misoginia
- 10 - Diferenças entre machismo e feminismo
- 11 - Consequências do machismo
- 12 - Machismo na história
Resumo sobre machismo
- Machismo é um sistema de crenças que promove a suposta superioridade masculina e tenta justificar a desigualdade de poder entre os gêneros.
- O machismo perpetua a subordinação das mulheres por meio de normas culturais e sociais que favorecem a hegemonia masculina.
- Violência doméstica, assédio sexual e desvalorização do trabalho feminino são algumas formas de manifestação de machismo.
- O machismo pode ser estrutural, cultural e institucional.
- O machismo estrutural está enraizado nas instituições e estruturas sociais, criando desigualdades de gênero.
- O machismo cultural está relacionado a normas, valores e práticas culturais que promovem a superioridade masculina.
- O machismo institucional diz respeito a políticas e práticas das instituições, como empresas, escolas e governos, que mantêm a desigualdade de gênero.
- Mulheres também podem reproduzir atitudes machistas devido à internalização das normas patriarcais que afetam a todos.
- O machismo é prejudicial aos homens, pois impõe padrões rígidos de masculinidade que limitam suas expressões emocionais.
- Afeta negativamente a sociedade, pois resulta em discriminação, violência de gênero, repressão emocional dos homens e perpetuação de desigualdades sociais.
- A sociedade patriarcal é um sistema social em que os homens detêm a maior parte do poder, mantendo mulheres em posição de subordinação.
- Machismo, sexismo e misoginia são fenômenos interligados, mas têm significados distintos.
- O machismo promove a suposta superioridade masculina, o sexismo discrimina com base no gênero, e a misoginia expressa ódio às mulheres.
- O feminismo luta pela igualdade de direitos entre os gêneros e pelo fim da exploração sexista.
O que é machismo?
Machismo é um conjunto de crenças, atitudes e comportamentos que promovem a ideia de que os homens são supostamente superiores às mulheres e que, consequentemente, tentam justificar a desigualdade de poder entre os gêneros. Esse conceito se fundamenta na construção social e cultural de papéis de gênero rígidos, que limitam tanto as mulheres quanto os homens a padrões predeterminados.
Simone de Beauvoir, em sua obra clássica O segundo sexo (1949), argumenta que o machismo é uma das formas pelas quais as mulheres são reduzidas ao status de “outras”, sendo definidas em relação aos homens e não como sujeitos autônomos. Beauvoir analisa como a opressão das mulheres é naturalizada pela cultura e pelas instituições, perpetuando a desigualdade de gênero.
Outro autor relevante é Pierre Bourdieu, que, em A dominação masculina (1998), explora como o machismo está entranhado nas estruturas sociais e se manifesta em diversos níveis, desde o inconsciente coletivo até as práticas cotidianas. Bourdieu explica que a dominação masculina é mantida por meio de mecanismos simbólicos que normalizam a subordinação das mulheres e a hegemonia masculina.
Tipos de machismo
O machismo se manifesta de diversas formas, refletindo a complexidade das relações de gênero e as particularidades das sociedades nas quais essas relações se desenvolvem. Aqui estão alguns tipos principais de machismo:
→ Machismo estrutural
Refere-se à forma como o machismo está enraizado nas instituições e nas estruturas sociais, criando e perpetuando desigualdades entre homens e mulheres. Iris Marion Young, em seu ensaio “Cinco faces da opressão” (1990), descreve como a opressão sistêmica, incluindo o machismo estrutural, é mantida por práticas sociais que distribuem desigualmente poder, recursos e prestígio.
Young argumenta que o machismo estrutural não é resultado de ações individuais, mas sim de um sistema de normas e práticas que favorecem os homens em detrimento das mulheres.
→ Machismo cultural
Está relacionado a normas, valores e práticas culturais que promovem a suposta superioridade masculina. Raewyn Connell, em Masculinidades (1995), discute como a cultura contribui para a construção da masculinidade hegemônica, que define o que é considerado “normal” ou “ideal” em termos de comportamento masculino. Esse tipo de machismo se manifesta por meio de estereótipos de gênero e papéis tradicionais.
→ Machismo institucional
Diz respeito às políticas e práticas das instituições, como empresas, escolas e governos, que mantêm a desigualdade de gênero. Silvia Federici, em Calibã e a bruxa (2004), examina como as instituições, desde a Igreja até o Estado, desempenharam um papel central na consolidação das normas patriarcais que sustentam o machismo.
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Quais são as causas do machismo?
As causas do machismo são diversas e complexas, enraizadas em fatores históricos, culturais, sociais e psicológicos. Judith Butler, em Problemas de gênero (1990), propõe que o machismo surge da repetição normativa de atos e discursos que consolidam o binário de gênero e a hierarquia sexual. Butler argumenta que essas normas de gênero são performativas, ou seja, elas são sustentadas pela repetição e pela internalização das expectativas sociais.
Antonio Gramsci, com sua teoria da hegemonia cultural, contribui para a compreensão de como o machismo é perpetuado pelas elites dominantes que controlam os aparelhos ideológicos do Estado, como a mídia e a educação, moldando as crenças e valores da sociedade em benefício da manutenção do status quo patriarcal.
Formas de machismo
O machismo pode se manifestar de diversas formas, desde as mais sutis até as mais explícitas. Aqui estão algumas formas comuns:
- Violência doméstica: uma das formas mais graves de machismo, em que o poder físico é utilizado para controlar e subjugar as mulheres. bell hooks, em O desejo de mudar: homens, masculinidade e amor (2004), discute como a violência é um produto da masculinidade tóxica, que ensina os homens a expressarem poder e controle por meio da agressão.
- Assédio sexual: comportamento indesejado de natureza sexual que pode ocorrer em espaços públicos ou privados. Catharine MacKinnon, em Assédio sexual de mulheres trabalhadoras (1979), argumenta que o assédio sexual é uma forma de discriminação de gênero que reforça a subordinação das mulheres no local de trabalho e na sociedade em geral.
- Desvalorização do trabalho feminino: o trabalho das mulheres, especialmente o trabalho doméstico e de cuidado, muitas vezes não é reconhecido ou é subvalorizado. Nancy Fraser, em Fortunas do feminismo (2013), analisa como o capitalismo se beneficia da desvalorização do trabalho reprodutivo realizado pelas mulheres, perpetuando a desigualdade de gênero.
Mulheres podem ser machistas?
Mulheres podem reproduzir atitudes e comportamentos machistas, mesmo que estejam em posição de desvantagem em relação ao patriarcado. Isso ocorre porque o machismo é uma construção social que afeta a todos, independentemente do gênero.
Bourdieu, em A dominação masculina, argumenta que as normas patriarcais são tão profundamente internalizadas que tanto homens quanto mulheres podem reproduzi-las, muitas vezes de maneira inconsciente.
Joan Scott, em Gênero e a política da história (1988), discute como a internalização das normas de gênero pode levar as mulheres a perpetuarem práticas machistas, especialmente em contextos nos quais essas normas são vistas como naturais ou inevitáveis.
Como o machismo afeta os homens?
O machismo afeta negativamente os homens ao impor padrões rígidos de masculinidade, que limitam suas expressões emocionais e os pressionam a agir de acordo com expectativas tradicionais.
Michael Kimmel, em O mundo dos homens (2008), explora como os jovens homens são socializados em um ambiente de competição, agressividade e repressão emocional, o que pode levar a problemas de saúde mental, violência e dificuldades em estabelecer relacionamentos saudáveis.
Esses padrões de masculinidade também podem alienar os homens de suas próprias vulnerabilidades e necessidades, criando uma barreira para que eles busquem ajuda ou expressem seus sentimentos de maneira saudável.
A sociedade patriarcal
A sociedade patriarcal é um sistema social no qual os homens detêm a maior parte do poder e dos recursos, enquanto as mulheres são sistematicamente subordinadas. Gerda Lerner, em A criação do patriarcado (1986), analisa como o patriarcado se desenvolveu historicamente, enraizado em práticas de controle social e econômico que beneficiam os homens.
Lerner argumenta que o patriarcado não é apenas uma característica de sociedades antigas, mas continua a moldar as estruturas sociais contemporâneas, perpetuando a desigualdade de gênero e o machismo.
Machismo x sexismo x misoginia
Embora estejam interligados, machismo, sexismo e misoginia têm significados distintos. O machismo refere-se à crença na superioridade masculina e à prática de subordinar as mulheres. Sexismo é a discriminação baseada no sexo ou gênero, que pode se manifestar tanto em atitudes como em políticas. Misoginia, por sua vez, é o ódio ou desprezo pelas mulheres.
Kate Manne, em A mulher para baixo (2017), argumenta que a misoginia é uma ferramenta usada para manter as mulheres “em seus lugares”, reprimindo aquelas que desafiam a ordem patriarcal. Manne distingue misoginia de sexismo, sugerindo que o sexismo procura justificar a desigualdade de gênero enquanto a misoginia pune as mulheres que tentam subvertê-la.
Diferenças entre machismo e feminismo
Machismo e feminismo representam concepções opostas sobre as relações de gênero. Enquanto o machismo defende a superioridade masculina e a manutenção de papéis de gênero tradicionais, o feminismo luta pela igualdade de direitos e oportunidades entre os gêneros.
bell hooks, em O feminismo é para todo mundo (2000), define o feminismo como um movimento para acabar com o sexismo, a exploração sexista e a opressão. hooks argumenta que o feminismo não é sobre odiar os homens, mas sim sobre desafiar as estruturas que perpetuam a desigualdade de gênero, incluindo o machismo.
Consequências do machismo
As consequências do machismo são vastas e afetam a sociedade como um todo. Para as mulheres, o machismo resulta em discriminação, violência, e limitações nas oportunidades econômicas e sociais. Para os homens, o machismo pode levar a uma repressão emocional e a comportamentos autodestrutivos.
Na sociedade, o machismo contribui para a perpetuação de desigualdades sociais e econômicas, impede o desenvolvimento pleno das capacidades humanas e mantém a violência de gênero como uma constante. Adrienne Rich, em Nascida de mulher (1976), explora como o machismo afeta profundamente a maternidade e as relações familiares, perpetuando ciclos de opressão e sofrimento.
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Machismo na história
O machismo, que pode ser descrito como a crença na suposta superioridade dos homens sobre as mulheres e a prática de subordiná-las, está intrinsecamente ligado à misoginia, mas tem suas próprias manifestações e impactos históricos. Assim como a misoginia, o machismo tem moldado sociedades ao longo da história, estabelecendo e perpetuando estruturas patriarcais que colocam os homens em posições de poder e autoridade, enquanto relegam as mulheres a papéis secundários.
Na Roma Antiga, por exemplo, o machismo era evidente na estrutura familiar e legal. O paterfamilias, ou “chefe de família”, tinha autoridade absoluta sobre todos os membros da família, incluindo as mulheres.
As mulheres eram legalmente consideradas propriedades de seus maridos ou pais e tinham muito pouca autonomia. A lei romana permitia que os homens exercessem controle quase total sobre suas esposas, filhas e outras mulheres sob sua tutela, incluindo o poder de decidir sobre seus casamentos e até de punir fisicamente ou matar em casos de desobediência.
Durante o renascimento, entre os séculos XV e XVI, o machismo foi reforçado por meio de ideais de masculinidade que exaltavam a força, a autoridade e a dominação masculina. Embora o renascimento tenha sido um período de grande progresso cultural e intelectual, esse progresso era quase exclusivamente reservado aos homens.
As mulheres eram amplamente excluídas das oportunidades educacionais e culturais que floresciam na época, e aquelas que buscavam participar desse renascimento intelectual eram frequentemente desencorajadas ou enfrentavam ostracismo social.
No século XVIII, durante a Revolução Francesa, o machismo se manifestou na exclusão das mulheres dos direitos recém-conquistados de “liberdade, igualdade e fraternidade”. Apesar da participação ativa de muitas mulheres na revolução, como as sans-culottes e as mulheres que marcharam sobre Versalhes, a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, de 1789, ignorou completamente as mulheres, não lhes conferindo os mesmos direitos que aos homens.
Olympe de Gouges, uma das vozes feministas mais proeminentes da época, tentou desafiar essa exclusão com a publicação da Declaração dos Direitos da Mulher e da Cidadã, em 1791, mas foi ignorada e, eventualmente, guilhotinada, um reflexo extremo da repressão machista da época.
No século XX, o machismo continuou a ser uma força poderosa, especialmente nas décadas iniciais. Mesmo após a concessão do direito ao voto para as mulheres em muitos países, elas continuaram a enfrentar discriminação sistêmica e barreiras significativas no mercado de trabalho e na vida pública.
O machismo era evidente nas expectativas sociais de que as mulheres deveriam se concentrar na criação dos filhos e nos cuidados domésticos, enquanto os homens deveriam ser os provedores. Movimentos como o das Donas de Casa Felizes, na década de 1950, nos Estados Unidos, reforçaram essa visão, promovendo a ideia de que a verdadeira realização das mulheres estava no lar, servindo às necessidades de seus maridos e filhos.
No Brasil, o machismo histórico é evidente nas leis e práticas que relegaram as mulheres a uma posição subordinada por muitos anos. A própria Constituição de 1891 não reconhecia o direito ao voto feminino, e as mulheres só conquistaram esse direito em 1932, durante o governo de Getúlio Vargas, após intensa luta do movimento sufragista.
Mesmo após a conquista do voto, o Código Civil de 1916 ainda tratava as mulheres como relativamente incapazes, equiparando-as a menores de idade e obrigando-as a obter autorização do marido para trabalhar ou gerir seus bens.
Créditos da imagem
Fontes
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HOOKS, B. O desejo de mudar: homens, masculinidade e amor. 1. ed. São Paulo: Elefante, 2017.
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