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Purgatório

O purgatório é compreendido no catolicismo como um estado intermediário entre o céu e o inferno.

Relevo do Coração de Jesus e das almas do purgatório na igreja Herz Jesu.[1]
Relevo do Coração de Jesus e das almas do purgatório na igreja Herz Jesu.[1]
Crédito da Imagem: Shutterstock.com
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O purgatório é um estado intermediário entre o céu e o inferno, onde as almas em estado de graça, mas ainda imperfeitas, passam por uma purificação necessária para alcançar a santidade, segundo o catolicismo. Embora não explicitamente mencionado na Bíblia, passagens como 2 Macabeus 12:46 e 1 Coríntios 3:13-15 são interpretadas como base para essa doutrina, que foi formalizada no Concílio de Trento.

O purgatório é temporário, distinto do inferno por ser marcado pela esperança da salvação, e recebe auxílio das orações e boas obras dos vivos. Diferente do céu e do inferno, ele é descrito como um estado espiritual e não um local físico.

Leia também: Inferno — o que se sabe sobre esse lugar de sofrimento eterno?

Tópicos deste artigo

Resumo sobre o purgatório

  • O purgatório é um estado intermediário entre o céu e o inferno, onde almas que morreram em estado de graça, mas ainda imperfeitas, passam por uma purificação necessária para alcançar a santidade e entrar na presença divina.
  • Embora a Bíblia não mencione explicitamente o purgatório, passagens como 2 Macabeus 12:46 e 1 Coríntios 3:13-15 são interpretadas como evidências de um processo de purificação após a morte, enfatizando a oração pelos mortos.
  • No catolicismo, o purgatório é uma doutrina central, formalizada no Concílio de Trento, que reflete a justiça e a misericórdia divina, permitindo a purificação das almas com ajuda das orações e boas obras dos vivos.
  • O purgatório destina-se às almas que morreram em estado de graça, mas que ainda precisam purificar pecados veniais ou reparar as consequências temporais de seus pecados antes de alcançar o céu.
  • Embora na Idade Média o purgatório fosse representado como um lugar físico, como em A Divina Comédia, a teologia moderna o descreve como um estado espiritual de purificação.
  • O céu é a comunhão plena com Deus, o inferno é a separação eterna, e o purgatório é o estado intermediário de purificação para almas que ainda não estão prontas para entrar no céu.

O que é o purgatório?

O purgatório é um conceito teológico que ocupa um lugar significativo na cosmologia cristã, especialmente na tradição católica. Trata-se de um estado intermediário entre o céu e o inferno, onde as almas de pessoas que morreram em estado de graça, mas ainda não totalmente purificadas, passam por um processo de expiação e purificação. Essa purificação é necessária para que possam alcançar a santidade e a perfeição exigidas para entrar na presença divina.

A ideia de purgatório evoluiu ao longo dos séculos como uma resposta à compreensão do pecado e da justiça divina. Ele reflete a crença na possibilidade de reconciliação e remissão após a morte, desde que a alma tenha morrido em amizade com Deus. O purgatório não é considerado um segundo destino final, mas uma etapa transitória para aqueles que, embora salvos, ainda precisam reparar os efeitos de seus pecados veniais ou de pecados já perdoados, mas cujas consequências temporais não foram plenamente resolvidas.

Na Idade Média, a concepção de purgatório foi integrada à prática religiosa e ao imaginário popular, sendo frequentemente representada em textos e obras de arte. Uma das representações mais influentes é encontrada na Divina Comédia de Dante Alighieri, onde o purgatório é descrito como uma montanha com diferentes níveis, cada um representando uma forma específica de purificação necessária para a alma.

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O que a Bíblia diz sobre o purgatório?

Embora o termo "purgatório" não apareça explicitamente na Bíblia, a base para sua concepção pode ser encontrada em diversas passagens que sugerem a necessidade de purificação após a morte.

Um exemplo importante é 2 Macabeus 12:46, onde é mencionado que Judas Macabeu orou pelos mortos para que fossem libertos de seus pecados. Esse texto enfatiza a importância das orações e sacrifícios em favor das almas dos falecidos, uma prática que influenciou profundamente a doutrina católica.

Outras passagens frequentemente citadas incluem 1 Coríntios 3:13-15, onde Paulo fala de um julgamento através do fogo que testará a qualidade das obras de cada pessoa, e Mateus 12:32, que menciona a possibilidade de perdão em "outra vida". Esses versículos são interpretados como evidências de um processo de purificação que ocorre após a morte para aqueles que não estão completamente preparados para entrar no céu.

A ausência de uma definição clara e unificada na Bíblia gerou debates ao longo dos séculos. Enquanto a Igreja Católica desenvolveu uma doutrina detalhada sobre o purgatório, outras tradições cristãs, como o protestantismo, rejeitam a ideia, argumentando que não há suporte bíblico suficiente.

Leia também: Pecados capitais — compilado dos sete vícios considerados a raiz de todos os males

Catolicismo e o purgatório

No catolicismo, o purgatório é uma doutrina central que reforça a interconexão entre vivos e mortos no processo de salvação. Ele foi formalmente definido no Concílio de Trento (1545-1563), embora sua concepção já existisse desde os primeiros séculos do cristianismo. Os Padres da Igreja, como Agostinho e Gregório Magno, mencionaram a possibilidade de uma purificação após a morte, e práticas como orações pelos mortos estavam amplamente difundidas na comunidade cristã primitiva.

A Igreja Católica ensina que as almas no purgatório podem ser ajudadas pelas orações, missas e boas obras realizadas pelos vivos. Essa crença levou ao desenvolvimento de práticas como indulgências, que se tornaram uma fonte significativa de debate durante a Reforma Protestante. Além disso, o purgatório é frequentemente apresentado como um estado de esperança, onde a alma, embora sofrendo, está segura de sua salvação final.

Os concílios e os documentos oficiais da Igreja, como o Catecismo da Igreja Católica, descrevem o purgatório como uma manifestação da justiça e misericórdia divina. Ele permite que as almas sejam purificadas, enquanto demonstra a possibilidade de reconciliação com Deus.

São Nicolau Tolentino, o santo católico protetor das almas do purgatório.
São Nicolau Tolentino, o santo católico protetor das almas do purgatório.

Quem vai para o purgatório?

O purgatório é destinado às almas que morreram em estado de graça, mas ainda não estão completamente livres das consequências temporais do pecado. Isso inclui pessoas que cometeram pecados veniais ou que não fizeram a devida reparação por seus pecados já perdoados. Essas almas não estão condenadas ao inferno, mas ainda precisam ser purificadas antes de entrarem no céu.

A doutrina enfatiza que o purgatório não é uma "segunda chance" para a salvação. Apenas aqueles que já estão destinados ao céu passam por esse estado. A distinção entre pecado mortal e venial é fundamental nesse contexto. Pecados mortais, que resultam na separação completa de Deus, levam ao inferno se não forem arrependidos antes da morte. Já os pecados veniais, embora enfraqueçam a relação com Deus, não a rompem completamente.

Como funciona o purgatório?

A Igreja Católica descreve o purgatório como um estado de purificação que envolve sofrimento espiritual, mas também esperança. A intensidade e a duração desse sofrimento não são especificadas oficialmente, mas acredita-se que estejam relacionadas à gravidade dos pecados e à necessidade de reparação.

No purgatório, a alma passa por um processo de "fogo purificador", uma metáfora que reflete a natureza transformadora dessa experiência. Esse fogo não é físico, mas espiritual, simbolizando o amor de Deus que purifica as imperfeições da alma. Esse processo é essencial para que a alma alcance a santidade necessária para entrar na presença de Deus.

Os vivos podem interceder pelas almas no purgatório através de orações, missas e atos de caridade. Essa intercessão é vista como uma expressão da comunhão dos santos, a união espiritual entre vivos e mortos na Igreja.

Representação da purificação das almas no purgatório.
Representação da purificação das almas no purgatório.

Diferenças entre inferno e purgatório

A principal diferença entre o inferno e o purgatório está na finalidade e na duração. O purgatório é um estado temporário destinado à purificação das almas que estão a caminho do céu. Já o inferno é um estado eterno de separação completa de Deus, reservado para aqueles que morreram em pecado mortal sem arrependimento.

Enquanto o purgatório é caracterizado pela esperança e pela certeza da salvação, o inferno é marcado pelo desespero e pela ausência de qualquer possibilidade de redenção. Essa distinção reflete a compreensão católica da justiça divina, que é ao mesmo tempo punitiva e restauradora.

Onde fica o purgatório?

A localização do purgatório foi amplamente debatida na teologia medieval, muitas vezes representada como um lugar físico. Textos como a Divina Comédia de Dante ilustraram o purgatório como uma montanha em direção ao céu, um local onde as almas passam por diferentes níveis de purificação.

No entanto, a teologia moderna tende a enfatizar que o purgatório não é um lugar físico, mas um estado espiritual. Essa abordagem reflete uma compreensão mais ampla da natureza da existência após a morte, onde as categorias de tempo e espaço são diferentes das que conhecemos na vida terrena.

Leia também: Quais são as doutrinas do espiritismo?

Céu, inferno e purgatório

O céu, o inferno e o purgatório formam a tríade dos destinos possíveis após a morte, segundo a tradição cristã. O céu é o estado de comunhão plena com Deus, onde as almas dos justos experimentam a bem-aventurança eterna. O inferno é o oposto, marcado pela separação completa de Deus e pelo sofrimento eterno.

O purgatório ocupa um lugar intermediário, servindo como um processo de preparação para o céu. Essa estrutura reflete a visão cristã da justiça divina, em que as ações humanas têm consequências eternas, mas também há espaço para a misericórdia e a purificação.

Purgatório na Igreja Ortodoxa

A Igreja Ortodoxa não adota a doutrina do purgatório como definida pelo catolicismo, mas possui crenças similares sobre a purificação após a morte. Orações pelos mortos são comuns na tradição ortodoxa, baseadas na ideia de que as almas podem ser ajudadas em seu caminho para a salvação.

No entanto, a teologia ortodoxa evita definir o processo de purificação em termos tão detalhados quanto a doutrina católica do purgatório. Em vez disso, enfatiza o mistério da vida após a morte e a importância da oração e da liturgia como formas de interceder pelos mortos.

Purgatório nas Igrejas Orientais

As Igrejas Orientais Católicas, em comunhão com Roma, aceitam a doutrina do purgatório, embora possam ter diferenças culturais na maneira como a entendem e a praticam. Outras Igrejas Orientais, como as Ortodoxas Orientais, compartilham crenças sobre a purificação pós-morte, mas frequentemente rejeitam o termo "purgatório" e os detalhes associados a ele na teologia ocidental.

Purgatório nas igrejas protestantes

A maioria das igrejas protestantes rejeita a doutrina do purgatório, argumentando que ela não tem base bíblica clara. A teologia protestante enfatiza que a salvação é alcançada exclusivamente pela graça, por meio da fé em Jesus Cristo, e que não há necessidade de purificação adicional após a morte.

Purgatório em outras religiões

Embora o conceito de purgatório seja distintamente cristão, ideias semelhantes de purificação após a morte existem em outras religiões. No hinduísmo e no budismo, por exemplo, o ciclo de reencarnação e o conceito de carma refletem a crença em um processo de refinamento espiritual. Essas tradições enfatizam que as ações de uma pessoa têm consequências que podem se manifestar em vidas futuras, um paralelo interessante com a ideia cristã de purificação pós-morte.

Assim, o purgatório, apesar de ser uma doutrina cristã específica, encontra ressonâncias em outras tradições religiosas, mostrando como a humanidade, em diferentes contextos, busca respostas para o mistério da vida após a morte.

Créditos da imagem

[1] Renata Sedmakova / Shutterstock

Fontes:

ALVES, Daniel Vecchio. Morte e vida peregrina: as representações do paraíso terreno e do purgatório na baixa Idade Média. Revista de Estudos de Cultura, v. 7, n. 18, p. 119-132, 2021. Disponível em: https://seer.ufs.br/index.php/revec. Acesso em: 3 dez. 2024.

CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA. Catecismo da Igreja Católica. Redigido após o Concílio Vaticano II. São Paulo: Editora Loyola, 1992.

DUMSDAY, Travis. Purgatory. Philosophy Compass, v. 9, n. 10, p. 732-740, 2014. Disponível em: https://compass.onlinelibrary.wiley.com. Acesso em: 3 dez. 2024.

OLIVEIRAI, Elane da Costa. Um terceiro lugar entre o céu e o inferno: o purgatório. Artigo apresentado à ABHR. Microsoft Word - 1335832991_ARQUIVO_ArtigoElaneABHR.doc, 2021.

TRUE CATHOLIC. What is Purgatory? The Catholic Layman, v. 1, n. 8, p. 95, 1852. Disponível em: https://www.jstor.org/stable/30065057. Acesso em: 3 dez. 2024.

VIEIRA, Laurinda Abreu. Uma outra visão do purgatório: uma primeira abordagem aos breves de perdão e de perdão. Departamento de História da Universidade de Évora, 1999.

Escritor do artigo
Escrito por: Tiago Soares Campos Bacharel, licenciado e doutorando em História pela USP. Bacharel em Direito e pós-graduado em Direito pela PUC. É professor de História e autor de materiais didáticos há mais de 15 anos.

Gostaria de fazer a referência deste texto em um trabalho escolar ou acadêmico? Veja:

CAMPOS, Tiago Soares. "Purgatório"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/religiao/a-concepcao-purgatorio.htm. Acesso em 21 de dezembro de 2024.

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